Blog sobre Economia e Política Económica do Desenvolvimento, em particular sobre a economia de Timor Leste e aquilo que naquelas pode ser útil ao desenvolvimento económico deste país
quinta-feira, 30 de dezembro de 2010
Espectáculo!...
Trata-se de uma apresentação multimedia preparada por Hans Roslings e sua equipa sobre a evolução do rendimento per capita dos países do mundo ao longo do tempo. Um espectáculo!... 4 minutos de puro prazer visual dada a qualidade e imaginação colocadas ao serviço da informação económica e social. Aparentemente simples mas muito eficaz no seu efeito final!
Este é mais um trabalho da organização Gapminder, uma fundação sueca por ele criada. No seu "sítio" pode ver-se um apreciável número de outras apresentações de elevadíssima qualidade e que recomendo vivamente.
Note-se que é possível fazer, entre o de outros documentos muito interessantes, o "download" do Gapminder desktop, uma recolha de imensa informação que assim fica disponível no seu computador sem necessitar de, a cada momento, se ligar à internet.
Experimente e fica fã!... Que bela prenda para terminar 2010!
A propósito:
tenha um 2011 muito feliz. Se faz favor!... Tá?!...
quinta-feira, 23 de dezembro de 2010
Cuidadinho, muito cuidadinho!...
Vi ontem uma referência a declarações do Ministro Gil Alves sobre a possibilidade de o Estado poder ser "fiador" de empresários timorenses nos seus pedidos de crédito junto da banca comercial actuando em Timor Leste. Não será o caso mais normal mas não será, certamente, caso virgem.
Mas as questões a colocar são, 1) saber se a existência ou não de uma garantia (do Estado) é a limitação mais importante para a concessão de crédito no país; e 2) quais as condições que os empresários terão de preencher para se poderem candidatar a uma garantia por parte do Estado. Estes é que são o "busilis" da questão.
Tenho para mim que a principal barreira que dificulta a concessão de crédito é a de natureza essencialmente institucional: a nível microeconómico, a falta de organização apropriada, interna, das empresas; e a nível macrosocial, o quadro jurídico para que os bancos possam obter dos empresários garantias reais apropriadas e que possam ser, atempadamente, executadas através do sistema judicial.
Ora, a não ser que ambas estas situações se alterem profundamente em relação ao quadro actual, a continuação de umas e de outras e a concessão de garantias reais pelo Estado vai apenas (?) transferir os riscos da concessão de empréstimos da banca para o Estado. Senão totalmente, pelo menos significativamente. Isso até pode desbloquear uns quantos empréstimos e fazer baixar (?) a taxa de juro cobrada mas o problema de fundo não fica resolvido. Como o quadro legal é "impróprio para consumo" o resultado vai ser, muito provavelmente, que quem vai "ficar a arder" com o seu dinheiro se os emrpesários não pagarem --- COMO VÁRIOS NÃO PAGAM E ALGUNS QUASE SE ORGULHAM DISSO!... --- é o Estado timorense. Isto é: é o povo timorense... "Na tá certo, irmão!..."
E aqui lembro-me das recentes declarações do Primeiro Ministro numa festa com os empresários e a propósito da execução do "plano do referendo": o "chefe" destes tecendo grandes encómios ao projecto e o PM dizendo que em muitos casos o Estado esteve a pagar gato por lebre, pagando muito dinheiro por uma qualidade por vezes mais que duvidosa e a preços inflacionados, indo muito dinheiro para carros de luxo-luxo e para férias em Bali. Ele lá saberá... Isto anda tudo ligado!...
Daí a recomendação inicial: cuidadinho, muito cuidadinho!...
quarta-feira, 22 de dezembro de 2010
Umas continhas de somar e de sumir...
Por outro lado o relatório mensal de Outubro (todos os relatórios estão disponiveis no 'sitio' da Autoridade Bancária e de Pagamentos de Timor Leste em http://www.bancocentral.tl/ ) diz-nos que nesse mês o Governo pediu (e foi efectuada) a transferência de mais 75 milhões, perfazendo um total de 450 milhões de USD para os 10 primeiros meses de 2010.
Ora, o OGE de 2010 aprovado pelo Parlamento Nacional previu a transferência de 502 milhões de USD como "rendimento sustentável" e de um excedente de 309 milhões, num toral de 811 milhões de USD.
Isto significa que nos dois últimos meses o Governo pode ainda pedir a transferência de 811-450=361 milhões USD. É muito dinheiro!
O que será que o Governo vai fazer? Aparentemente irá pedir pelo menos uma (boa?) parte do que pode ainda pedir. Parte dela destinar-se-á a pagamentos que terá de efectuar por conta do OGE deste ano e uma parte, que pode vir a ser substancial, ficará em caixa como "reserva" para o OGE de 2011. A ver vamos...
sábado, 18 de dezembro de 2010
Relatório mensal do Fundo Petrolífero (Out/2010)
sexta-feira, 17 de dezembro de 2010
Sumário Executivo do relatório da Bonifica sobre as centrais eléctricas
Abaixo pode ver-se parte do sumário executivo.
Rigor, sff! Please!...
"Hardly any Timorese workers are employed. In January 2009, the Prime Minister told Parliament that “this project will in itself create over 20,000 jobs already in 2009,” but by 28 May 2010, CNI22 had hired only 155 Timorese workers."
O que me despertou a atenção foi a referência à afirmação de que o projecto permitiria criar, ainda em 2009, 20.000-vinte mil-20.000 empregos ("jobs").
Referências deste tipo são useiras e vezeiras em documentos sobre investimentos públicos. Foi o caso, por exemplo, do chamado "pacote referendo", cujo relatório final declarou, alto e bom som, que ele teria criado nada mais nada menos que 84.684 empregos. Nem mais, nem menos!
O problema é que o conceito de "emprego" não é definido. Emprego com que duração? Dias? Meses? Um ano? Empregos temporários? Mais ou menos permanentes? Fica-se sem se saber. Serão, neste último caso, 84.684 homens/dia de trabalho? Serão homens/mês? Népia! Não se sabe!...
Repare-se que este valor corresponderá, sensivelmente, ao volume da mão-de-obra que entra no mercado de trabalho de Timor Leste ao longo de cerca de 4 anos... Não podem ser, portanto, empregos mais ou menos permanentes. Se assim fosse o país estaria face a uma grave crise de falta de mão de obra e seria um paraíso para os potenciais emigrantes na região.
O mesmo, na dimensão equivalente, se pode dizer da pretensão de que a construção das centrais iria proporcionar 20 mil postos de trabalho.
Porque não são rigorosos no que pretendem dizer? Digam 20 mil homens/mês ou outra qualquer medida. Dizer apenas "20 mil postos de trabalho" é o mesmo que nada! Rigor, sff! Please! Ok?!...
segunda-feira, 29 de novembro de 2010
Fundo Petrolífero: os dados de fins de Setembro/2010
Vejam-se abaixo as informações fundamentais tal como constam desse relatório.
quinta-feira, 25 de novembro de 2010
Despesas do OGE
terça-feira, 23 de novembro de 2010
O Rendimento Sustentável Estimado e o financiamento do OGE
Este aumento deriva, como esclarece a própria proposta de Orçamento, da mudança do método de cálculo utilizado.
"The Estimated Sustainable Income (ESI) is calculated at $734 million for 2011, which is an increase of $232 million from 2010. The main reason for the increase is a change of methodology of the ESI calculation. While Energy Information Administration‟s (EIA) Low Case has been used as the West Texas Intermediate (WTI) oil price forecast in the past, the average of EIA‟s Low and Reference Case is now used as the long term oil price forecast in the ESI calculation for 2011. The WTI oil price forecast for 2011 and 2012 is $68 and $71 per barrel, respectively and increases to $110 in 2024."
Taxa de inflação? Mas... qual delas?
Abordaremos aqui as três pricipais: a mensal, a homóloga e a taxa média anual.
Comecemos por esclarecer que a taxa de inflação, qualquer que ela seja, é medida a partir dos dados do chamdo Índice de Preços no Consumidor (IPC). No caso de Timor Leste este índice tem como base os preços em Dezembro de 2001. E não só os preços: também a estrutura do consumo, i.e, a proporção do que, em média, as famílias gastavam na compra de uma vasta lista de produtos (cerca de 200) relativamente ao total das suas despesas. Por exemplo, estimou-se então que as famílias gastavam cerca de 56,7% na compra de produtos alimentares, sendo 13,1% em "cereais [principalmente arroz], raízes e seus produtos". O arroz, só por si, representava 10,9% do consumo total das famílias.
Uma das questões que se coloca actualmente é saber se esta estrutura do consumo, com cerca de 9 anos, corresponde à actual. Cremos que muita coisa mudou. Por exemplo: em 2001 a gasolina representava cerca de 1,46% dos gastos médios das famílias. Será que hoje, com a proliferação de carros e de motoretas, esta percentagem continua a ser a mesma? Não terá aumentado? Provavelmente sim.
Daí que um trabalho urgente a fazer é actualizar o "cabaz de compras" em termos de produtos mas, principalmente, em termos dos pesos destes no total. Sabemos que se desenvolvem esforços nesse sentido tentanto aproveitar o inquérito à situação económica e social realizado em 2007 mas perguntamo-nos se mesmo estes dados não estarão já algo desactualizados. Talvez valha a pena realizar um inquérito por amostragem para ver se houve ou não alterações significativas.
Mas vamos então à questão das taxas de inflação.
Como será fácil imaginar, a taxa mensal é a variação do IPC entre dois meses consecutivos. Por exemplo, como o índice foi de 157,1 e 157,6 em Agosto e Setembro passados, pode-se dizer que a taxa de inflação mensal em Setembro (quanto subiram os preços entre Agosto e Setembro) foi de 0,3%. Note-se que aqueles valores do IPC significam que desde Dezembro de 2001 até à actualidade os preços subiram, em média, cerca de 57%.
A taxa homóloga de inflação, por sua vez, é a variação verificada entre dois meses homólogos de dois anos consecutivos. Por exemplo, qual foi a taxa homóloga de inflação --- que os anglófonos designam por year-on-year, i.e., y-o-y --- entre Setembro de 2009 e Setembro de 2010. Como o IPC de Setembro de 2009 foi de 146,7, temos que a variação para os 157,6 de Setembro passado foi de 7,4%.
Finalmente, aquela que será a "raínha" das taxas de inflação: a taxa média anual. Ela é calculada normalmente comparando a média dos IPC de um período de 12 meses (p.ex., Outubro de 2009 a Setembro de 2010, incluindo ambos os extremos) com a média dos 12 meses precedentes (neste caso será de Outubro de 2008 a Setembro de 2009).
No caso de Timor Leste a média dos IPC dos 12 meses mais antigos foi de 146,6 e a média dos 12 meses mais recentes foi de 153,3. A variação foi, pois, de 4,6% (valor arredondado). É esta taxa que deve ser comparada com a estimada pelo FMI e pelo Governo para todo o ano de 2010 e que é de 4%. No final do ano, quando for possível fazer as contas, se verá qual a taxa efectiva.
sexta-feira, 19 de novembro de 2010
Execução orçamental em meados de Novembro/10
Os pagamentos realmente efectuados correspondiam apenas a 54% do orçamentado. A manter-se o ritmo de pagamentos no final do ano eles serão cerca de 62-65% do total orçamentado. O restante para pagamento dos compromissos assumidos em 2010 deve ser pago nos primeiros meses de 2011.
A César o que é de César...
Mas... porque é que me lembrei disto?!...
Ah! Já sei! Foi por causa das notícias sobre a compra de dívida portuguesa pelo Fundo Petrolífero de Timor Leste por "sugestão" de entidades políticas.
A César o que é de César...
domingo, 7 de novembro de 2010
Esclarecimento (adenda à mensagem anterior)
Recordamos que os rendimentos anuais da exploração do Mar de Timor, acumulados no Fundo Petrolífero, só fazem parte do PIB na parte que é utilizada para financiar o Orçamento de Estado e é por este gasta efectivamente. No entanto são incluídos no Rendimento Nacional que agora passou a ser utilizado pelo PNUD no cálculo do IDH.
Não concordamos mas...
sábado, 6 de novembro de 2010
Índice de Desenvolvimento Humano de Timor Leste: subida de 11 lugares. Mas...
quinta-feira, 4 de novembro de 2010
Revista a série do PIB de Timor Leste
Como se pode verificar pelo quadro abaixo, cuja fonte é a base de dados estatísticos que acompanha a publicação do Fundo designada por World Economic Oulook (ver em http://www.imf.org/external/pubs/ft/weo/2010/02/weodata/index.aspx), os valores anteriores foram revistos em baixa na série publicada no início de Outubro passado, juntamente com a edição do Outonno daquela publicação.
A redução, para todos os anos desde 2002, foi de cerca de 9% em relação aos valores anteriores e que constavam ainda da base de dados publicada em Abril passado.
A causa principal desta revisão em baixa foi a revisão efectuada aos valores da produção dos sectores primário (agricultura, etc) e secundário e terciário (indústria e serviços).
A primeira viu os seus valores baixarem, em geral, cerca de 9-10% enquanto que a indústria e serviços viu a sua produção reavaliada em cerca de -15% em cada ano.
Estas diferenças devem-se ao uso, agora, de metodologia mais apropriada ao cálculo das Contas Nacionais, procurando usar o mais possível o valor acrescentado em cada sector ou, pelo menos, estimativas mais correctas do mesmo.
A preços constantes de 2000 o valor do PIB global era, em 2009, de cerca de 364 milhões de USD. Como a população deveria rondar o milhão de habitantes, o PIB per capita deveria ser de cerca de 365 USD,
terça-feira, 26 de outubro de 2010
Será o Estado timorense um Estado "malae"?
Mas todos sabemos que em Timor Leste há alguns comerciantes que praticam para os "malaes" [estrangeiros, supostamente mais endinheirados que o comum dos timorenses] preços mais altos do que para os seus conterrâneos.
O que quero dizer é, portanto, que tenho a sensação, compartilhada por muitas pessoas com quem tenho falado, de que o Estado timorense paga muitos (?) dos bens e serviços que adquire a um preço mais alto do que eles efectivamente valem. Um projecto de reconstrução de uma estrada pode, assim, ser mais caro do que deveria ser pois não há, verdadeiramente, uma perfeita consciência, por parte do Estado, do que poderá custar o projecto "A" ou "B". Uma amiga minha ligada a estas coisas das finanças públicas dizia-me mesmo que por vezes o Estado paga o dobro "ou mais" do que devria pagar...
Esta é, afinal, uma consequência de vários factores, nomeadamente a conhecida "desgraça do petróleo", que faz com que os Estados com este tipo de riqueza, porque são mais ricos, acabam por pagar mais caro que o comum dos mortais o que adquirem.
Numa altura em que se discute o Orçamento de Estado para 2011 e se discute também a revisão da Lei do Fundo Petrolífero era bom que se pensasse que num orçamento há dois "lados": o das receitas e o das despesas... Será que mostrar muito dinheiro fora das algibeiras não suscita a cobiça dos vendedores que tenderão a aproveitar-se da situação para ganharem um "dinheiro" extra? O "preço para malae" que muitos praticam parece indicar que sim. Por isso há que ter muito cuidado com o que se compra, procurando não pagar mais do que o preço justo. O "preço certo". Nem que para isso seja necessário, nos primeiros tempos, "importar" um grupo de "medidores-orçamentistas" que procurem avaliar o que custa, realmente, cada um dos projectos de modo a que se baixem as "expectativas (ir)racionais" de alguns que querem, à custa do Estado, ganhar num ano ou dois o que deveriam ganhar em 5 ou 6... Ou mais.
Fazer orçamentos (excessivamente?) "avantajados" não transmitirá uma mensagem errada aos mercados, dando a entender que "há ali dinheiro fácil" que há que agarrar?!...
Parece, pois, que é preciso encontrar mecanismos eficazes para que o Estado timorense não esteja (demasiadas vezes) a pagar "preço de malae" pelo que compra...
segunda-feira, 25 de outubro de 2010
Taxa homóloga de inflação (Dili) em Setembro/10: 7,4%
Admite-se que, a manter-se no último trimestre de 2010 o ritmo de variação mensal dos preços registado ultimamente, a taxa homóloga de Dezembro (correspondente, grosso modo, à taxa de inflação de 2010) poderá vir a situar-se nos cerca de 6,6%. Se, como sucede por vezes no último trimestre do ano devido a queda da produção agrícola no início da época das chuvas e ao maior consumo no período de Natal, aquele ritmo mensal de variação dos preços aumentar um pouco é possível que a taxa de inflação anual venha a ficar perto dos 7%.
Para a subida da taxa de inflação terá contribuído, nomeadamente, o quase desaparecimento do mercado do "arroz do MTCI", subsidiado, sendo substituido por arroz importado comercialmente. Por exemplo, a taxa homóloga de inflação dos "cereais, raízes e seus produtos" --- onde se inclui o arroz e que representa 13,1% do cabaz do IPC --- foi, nos meses de Junho a Setembro, respectivamente de 14,1%, 16%, 11,1% e 11,3%.
Recorde-se mais uma vez que o IPC se baseia num cabaz de compras estabelecido em 2001, o qual se acredita estar algo desactualizado, sendo possível que os valores do IPC não retratem com rigor a variação dos preços que se verifica actualmente. A ser assim, é possível que a taxa de inflação "verdadeira" seja (ligeiramente?) superior à medida pelo IPC com base em Dezº/2001.
sábado, 23 de outubro de 2010
sexta-feira, 15 de outubro de 2010
Como se forma um preço em Timor Leste... :-)
Será culpa de os donos acharem que é mais fácil lidar com moedas de 50 centavos do que com moedas de 10 ou, mesmo, de 25 centavos? E não há uma autoridade qualquer que se debruce sobre o assunto?
O que vale é que a "bica" daquele café não faz parte do cabaz de compras para determinação do Índice de Preços no Consumidor e da taxa de inflação.
Num ambiente em que os clientes "comem e calam", situações destas são fáceis de acontecer. Mas não deviam!
Fim (anunciado) do subsídio ao arroz
Outras notícias dão conta de diligências que o Ministério do Turismo, Comércio e Indústria (MTCI) terá feito junto da Igreja Católica de Timor Leste no sentido de esta se encarregar da distribuição do cereal, em condições a combinar, aos efectivamente necessitados. Estas notícias fram desmentidas por membro do clero.
Note-se que este fim da política de subsidiar o arroz já era previsível face ao facto de serem frequentes as queixas de que os vendedores não obedeciam aos preços tabelados, chegando a vender o cereal 50% acima do tabelado (9 USD para as sacas de 25 kgs e 12 para as de 35 kgs), e ao facto de, nomeadamente em Dili mas não só, ser cada vez mais abundante o arroz importado comercialmente e vendido a cerca de 18 USD/saca de 35 kgs. Naturalmente que os importadores não se atreveriam a fazer tais importações se não soubessem de antemão a intenção do Governo em acabar com a venda de arroz subsidiado.
Resta agora encontrar um mecanismo alternativo de minorar os custos desta medida para os que, mais pobres, não têm rendimentos para fazerem face ao aumento do custo de uma das principais bases de alimentação dos timorenses.
Será interessante também seguir a evolução do preço do arroz nacional e ver se ele vai tender a subir para manter a tradicional margem que mantém acima do preço do arroz importado ou se essa margem vai diminuir significativamente.
sábado, 2 de outubro de 2010
Execução Orçamental a 30 de Junho de 2010
Do quadro salientem-se dois dados: o da execução do total das despesas correntes e de capital, de 30%, e o da execução das despesas de capital, que é de 10%. A taxa de execução das despesas correntes era de 40%.
"Teoricamente" as taxas deveriam rondar os 50% embora seja usual que, em Timor como noutros países, a taxa de execução do primeiro semestre seja inferior a esse limite, aumentando no segundo semestre, particularmente no último trimestre.
Taxa (homóloga) de inflação de Agosto de 2010 em Dili: 7,6%
Verificou-se, portanto, uma significativa aceleração da inflação.
Veremos qual o comportamento dos preços nos últimos meses do ano mas devido ao início da época das chuvas e ao período natalício costuma haver alguma pressão sobre os preços no sentido da sua subida.
sexta-feira, 17 de setembro de 2010
"Urban bias"
Enviesamento da política, da política económica e não só. Significa ele, como facilmente se deduz do nome, que ao longo do processo de desenvolvimento há a tendência a os benefícios para as zonas urbanas crescerem muito mais rapidamente do que os das zonas rurais.
Este enviesamento está também presente em Timor Leste e manifesta-se de diversas formas que não vale a pena especificar aqui e agora. É um processo, em parte, "natural", para o qual a política (económica e não só) tem de estar muito atento para o contrariar e não deixar que o fosso cidade-campo aumente exageradamente, contribuindo para que parte da população rural "desça" para a cidade capital.
Uma forma visível desse enviesamento é a evolução dos preços dos produtos agrícolas comparada com a dos preços não agrícolas e com os preços em geral.
Por exemplo, o IPC (Índice de Preços no Consumidor) no fim de 2009 era de 149,2 (Dez2001=100). Isto quer dizer que o custo da 'mostarda verde', que era de 40 centavos em Dezembro de 2001, deveria ser, em fins de 2009 e para manter o mesmo valor real daquele mês, de cerca de 0,6 USD (60 cêntimos = 1,492 * 40 ¢) e não exactamente os mesmos 40 centavos de 8 anos antes!
No mesmo sentido, o preço do vulgar "cancun", deveria ser 67 centavos e não 50, o seu preço em DEZ09 --- apenas mais 5 centavos que 8 anos antes.
Estes valores dão ideia da enorme perda de poder de compra dos respectivos produtores ao longo dos anos. O caso mais flagrante é do do repolho, cujo preço deveria ser actualmente de cerca de 90 cêntimos e é 1/3 disto.
Esta enorme rigidez dos preços de muitos produtos agrícolas deve ter várias explicações, umas eventualmente mais complexas que outras. Vou continuar a "matutar" no assunto... :-) Alguém quer "matutar" comigo?
quinta-feira, 16 de setembro de 2010
Mais sobre o preço do arroz
Vendido a 12 dólares cada saca de 35kg (preço oficial), havia arroz "para dar e vender". Alguns comerciantes chegavam mesmo a fazer algum desconto e vende-lo a 11 usd/saca, como detectei em Becora no ano passado.
O (aparente) esgotamento das reservas oficiais de arroz importado em fins de 2008 e no início de 2009 levou ao reaparecimento no mercado, "em força", do arroz "Globus", importado pelos circuitos normais de importação e comercialiazado ao preço de mercado de 17-18 USD/saca (de 30 kgs).
Entretanto e depois de algumas "incursões" da polícia para apreender o arroz "do Governo" que aparecia à venda a preço superior ao oficial (normalmente cerca de 14-15 USD/saca em vez dos oficiais 12 USD/saca), este arroz quase desapareceu do mercado. Apenas ontem, numa ronda mensal pelos mercados, fui descobrir algumas sacas à venda não longe do mercado de Comoro. Preço: 13,5 USD/saca. O curioso é que cerca de 80-100 metros adiante estavam dois vendedores que o vendiam a 15 USD/kg. Mas ao preço oficial... "la hia"...
Entretanto, no cais vê-se um navio a descarregar sacas e sacas de arroz "Globus", enquanto que há dias se desembarcava arroz com a chancela do MTCI mas que aparentemente ainda não começou a aparecer, de forma significativa, no mercado.
Esperemos para ver o que vai acontecer ao mercado de arroz. Mas a subida dos preços internacionais registada no último mês prenuncia que este acabará, eventualmente, por subir no mercado interno.
Entretanto, o arroz produzido internamente parece não constituir alternativa já que, algo estranhamente, o seu preço é mais alto que o do arroz importado: em alguns tipos chega a custar mais do dobro!
Este fenómeno e o da estabilidade ao longo de muitos anos dos preços de alguns produtos agrícolas é ainda um mistério para mim. Note-se que, face a uma subida do índice de preços global em mais de 50% desde Dez01, os preços de muitos produtos agrícolas têm-se mantido quase ao mesmo nível nos últimos dez anos, traduzindo uma significativa perda do poder de compra dos camponeses face aos produtores/comerciantes de outros produtos.
Isto é, os "termos de troca internos" têm vido a evoluir de forma muito desfavorável à agricultura. Afinal, nada de novo em relação a outros locais e outros momentos da história de outros países (urban bias).
Voltaremos a este assunto.
sábado, 11 de setembro de 2010
O preço do arroz em Timor Leste
Resultado, há uma semana atrás vi em Manatuto sacas de 25 kgs de arroz "do Governo", cujo preço oficial é de 9 USD/saca, à venda por... 13 USD/saca. Um aumento de quase 50%...
Não foi fenómeno único. A saca de 35 kgs, cujo preço oficial é de 12 USD, aparecia à venda por 15 ou 16 USD.
A chegada recente de navios com arroz importado do Vietname e o recomeço da sua distribuição fará a situação, segundo se espera, voltar ao normal.
quinta-feira, 19 de agosto de 2010
O preço do arroz no mercado internacional e as importações timorenses
O preço do arroz importado terá rondado, segundo as informações disponíveis sobre os preços no mercado internacional, cerca de 500 USD por tonelada. Isto significa que, contas redondas, terão sido importadas cerca de 60 mil toneladas. Calculamos, também grosseiramente, que as necessidades internas totais serão de cerca de 100 mil tons/ano (consumo estimado de 90 kgs/habitante e uma população de cerca de 1,1 milhões de habitantes).
A quantidade importada e a (aparentemente, pelo menos) grande colheita interna (cerca de 70 mil tons?)permitiram que desde então até agora as importações tivessem sido quase nulas.
Só agora se estão a fazer novas compras no mercado internacional (mais uma vez no Vietname). O actual preço internacional do tipo de arroz importado por Timor Leste (com 15% de grãos partidos) ronda os cerca de 410 USD/Ton, com o arroz já ensacado e colocado a bordo dos navios prontos a deixarem os portos do país (preço FOB-Free on bord).
Um documento recente do departamento de agricultura americano diz o seguinte (pg 19) sobre a evolução recente do preço do arroz do Vietname no mercado internacional:
"In contrast, Vietnam’s price quotes have risen over the past month based on substantial export shipments. Price quotes for 5-percent brokens rose to $400 for the week ending August 10, up 11 percent from the week ending July 6. This rise in Vietnam’s price quotes has reduced the premium of Thai rice to $66 over Vietnam, well below a difference of $112 one month ago."
quinta-feira, 5 de agosto de 2010
Inflação anual medida em Junho passado: 6,6%
A tendência recente parece ser de uma certa estabilização do valor da inflação, havendo estimativas de que no conjunto do ano de 2010 ela se ficará pelos cerca de 4%.
segunda-feira, 2 de agosto de 2010
quinta-feira, 29 de julho de 2010
A economia de Timor Leste pelos olhos do ANZ
quinta-feira, 1 de julho de 2010
Situação actual em Timor Leste pelos olhos da La'o Hamutuk
domingo, 27 de junho de 2010
Ainda o acordo com a Millenium Challenge Corporation
sábado, 26 de junho de 2010
"Millenium Challenge Corporation"
A La'o Hamutuk criou hoje uma página na web para divulgar informações sobre este projecto de ajuda americana a Timor Leste. Veja-o aqui, sff.
Aprovado o Orçamento rectificado para 2010
"O Parlamento de Timor-Leste aprovou em 26 de Junho, por 39 votos a favor, 21 contra e quatro abstenções, o Orçamento Retificativo proposto pelo governo, que prevê um aumento de quase 178 milhões de dólares (145 milhões de euros)."
sexta-feira, 25 de junho de 2010
Parecer da Comissão C (Economia) do Parlamento Nacional sobre o Orçamento Rectificado
As principais recomendações são sintetizadas no relatório desta forma:
"Assim a Comissão é de parecer que não se iustifica uma retirada adicional de 309
milhões de dólares do Fundo Petrolífero, por se considerar que:
1. Financeiramente tal não se encontra justificado tendo em consideracão os
custos previstos e as receitas disponíveis ($759 258 milhões de receita para
$698,6 milhões de despesa).
2. Os levantamentos do Fundo Petrolífero apenas devem ser utilizados em casos
de manifesto interesse para Timor-Leste a longo prazo, o que não parece à
Comissão ser o caso."
domingo, 13 de junho de 2010
Revisão da Lei do Fundo Petrolífero
O La'o Hamutuk tem dedicado muita atenção a esta questão e aqui apresenta uma série de documentos que ajudam a formar uma opinião sobre o assunto. À atenção do leitor.
Ainda o OGE rectificado
O primeiro diz respeito às despesas previstas. Ao quadro inicial acrescentei algumas colunas que nos permitem "ler" melhor a informação já que nos dão as diferenças entre um orçamento (o inicial) e outro (o rectificado) quer em valores (milhões de USD) quer em percentagem, além de comparar a estrutura das despesas num e noutro para ver quem "ganha" e quem "perde".
Quem "ganha" (mais) é a rubrica das transferências que, com um aumento de 75% face ao valor inicial, faz "saltar" o seu peso no OGE de 16% para 22% --- 6 pontos percentuais.
E quem "perde" mais? Se exceptuarmos o caso dos salários --- a rubrica mais rígida e que, por isso, tem, naturalmente, o menor aumento ---, o menor aumento dá-se nas despesas de capital. Estas têm um aumento de 15,8% enquanto que as despesas em bens e serviços aumentam 27,8%.
Estes aumentos fazem as despesas de capital baixarem o seu "peso" na estrutura de 37,4% para 34,1%, nomeadamente à custa da queda de importância relativa das despesas de desenvolvimento em 2,8 pontos percentuais.
A alteração agora introduzida no OGE reforça, pois, o peso das transferências e reduz o peso das despesas de desenvolvimento. É, para mim, uma evolução, no mínimo, "inesperada" pois esperaria que os eventuais reforços de verbas privilegiassem as despesas que beneficiam o esforço de desenvolvimento do país e não o consumo imediato.
Diga-se, aliás, que temo que o Estado esteja a assumir demasiadas obrigações neste domínio que, a prazo --- não de 3 ou 4 anos mas de 30 ou 40 ---, podem ser difíceis de sustentar.
As informações sobre o Fundo Petrolífero também são relevantes. A primeira é a de que o preço médio do petróleo que serviu de base ao cálculo inicial do rendimento sustentável foi, tendo em conta as alterações entretanto verificadas no mercado internacional, alterado dos 62 para os 68 dólares por barril. Pena é que não se apresente o valor do "rendimento sustentável" calculado com o novo preço médio para melhor se ver qual a diferença entre o que agora se solicita ao FP e o novo valor do "rendimento sustentável".
De notar, como o La'o Hamutuk já tinha feito, que o acréscimo de transferências que agora se solicita ao Fundo excede, em muito (+309 milhões contra +178 milhões), o acréscimo previsto para as despesas.
Documentação sobre o Orçamento Rectificado
quinta-feira, 10 de junho de 2010
Post scriptum à "postagem" anterior
Adivinhem qual o único país que não se fez representar apesar de todas as tentativas feitas, por vários canais, para trazer cá um seu representante (com tudo pago): pois é! "Esse" mesmo!... Ninguém tugiu nem mugiu onde "o sol, em nascendo, vê primeiro"!...
quarta-feira, 9 de junho de 2010
Qualidade, qualidade, qualidade!... Sabem o que é?!...
sexta-feira, 4 de junho de 2010
O comércio externo de Timor Leste
As importações de cereais --- leia-se, na prática, arroz --- custaram ao país cerca de 25 milhões de USD em 2008 e 35 milhões em 2009. A quase totalidade foram pagos ao Vietname, o grande fornecedor do produto a Timor Leste e um dos principais exportadores mundiais.
Finalmente, uma palavra para as exportações: a boa colheita de café registada em 2008 possibilitou que o país exportasse nesse ano cerca de 13 milhões de USD. Como, quanto ao café, a uma boa colheita se segue uma má (no ano seguinte), o valor global em 2009 baixou para 8,5 milhões.
Comparando os valores do comércio internacional de 2008 com o de 2009 podemos verificar que o saldo NEGATIVO do mesmo foi de 245 milhões de USD em 2008 e de 280 milhões em 2009.
O enorme desequilíbrio das contas externas (as exportações de 2009 foram apenas 3% das importações no mesmo ano) só é possível graças ao seu financiamento pelos recursos petrolíferos do país. O (ou, pelo menos, um dos) principal desafio que se coloca a Timor Leste é o de passar a ter uma produção e exportação próprias que o torne menos dependente das receitas da exploração do Mar de Timor.
quinta-feira, 3 de junho de 2010
Comunicado do Conselho de Ministros com informações sobre o Orçamento Rectificado
in http://www.laohamutuk.org/econ/OR10/10OR2010.htm
Ver aqui e, numa versão também integral mas editada, abaixo:
Evolução dos preços entre Janeiro de 2009 e Março de 2010
sábado, 29 de maio de 2010
Um banco de desenvolvimento para Timor Leste
Este facto dá, desde já e pelo menos aparentemente, um sinal sobre a principal linha de actuação do novo banco. De facto e segundo a webpage do banco indonésio (em inglês), a visão e principais missões deste são
"Vision
Bank Rakyat Indonesia’s vision is to become a leading commercial bank that always prioritizes customer satisfaction
Missions
To achieve the vision, BRI has decided on trhree missions that have to be undertaken, namely:
1.BRI provides the best banking operation by prioritizing services for Micro, Small, and Medium Businesses in order to support people’s economy [itálico acrescentado].
2. BRI offers sevices to customers through a network that are spread all over Indonesia and supported by professional human resources who implement the Good Corporate Governance practices
3. BRI creates values and produce optimal benefits to all stakeholders"
Isto, como dissemos, dá a entender que o objectivo principal do novo banco (controlado, no essencial, pelo Estado timorense) será o de apoiar as "micro, pequenas e médias empresas".
Desde que gerido de forma profissional e sem interferência política --- a não ser quanto às suas grandes linhas de orientação, como decorre do facto de ser um banco com forte intervenção do Estado ---, este pode ser um instrumento privilegiado de apoio ao desenvolvimento económico do país.
Será necessário, porém, estar bem alerta contra as tendências, muitas vezes existentes em outros quadrantes geográficos, para bancos deste tipo serem usados como instrumento do (mau) uso do poder político sobre a comunidade empresarial do país e, mesmo, serem geridos de forma desastrosa, sendo uma fonte a desperdício de recursos do Estado, visto na necessidade de o apoiar financeiramente para não o "deixar cair".
A participação de um banco estrangeiro na sua gestão pode ser vista quer sob o ponto de vista da necessidade de formar pessoal timorense na gestão de uma entidade bancária quer como um instrumento para dar ao banco a independência de decisão sobre projectos que deve ter.
Estes deverão ser financiados ou não em função dos seus méritos próprios (e para a economia nacional) e da sua rentabilidade e não em função dos "nomes" que estão por detrás deles, tornando-o numa forma indirecta de financiamento de alguns grupos económicos especialmente bem relacionados com o poder político.
Este pode ser um instrumento importante para conceder crédito a determinados projectos de maior interesse nacional assegundo-lhes, numa linha semelhante ao que foi feito pela Coreia do Sul durante o período da aceleraçãoo do seu crescimento, o acesso a crédito com taxas de juro binificadas, enquanto outros projectos ficavam sem crédito ou, pelo menos, sem crédito binificado.
É nesta luta por acesso a crédito mais barato que podem surgir atitudes de algum conluio entre decisores da banca e dos investimentos (privado).
Bem vindo "banco nacional de desenvolvimento"!...
sexta-feira, 21 de maio de 2010
Última aula!...
Mas o que é que isto tem que ver com a economia de Timor Leste? É que
1) aproveitando o facto de se comemorar a data da restauração da Independência do país, resolvi falar com os alunos sobre a economia de Timor Leste, particularmente os quês e porquês da vantagem de o país continuar, pelo menos para já, a usar o dólar americano como moeda nacional; e
2) inspirado pela situação do país fiz algumas considerações gerais sobre uma linha de força que deve ser reforçada nas "políticas económicas e sociais de desenvolvimento" --- nome da disciplina do Mestrado em Desenvolvimento e Cooperação Internacional que lecciono e com que terminei a minha carreira docente oficial no ISEG --- da grande maioria dos países em desenvolvimento: a necessidade de reforçar o conjunto "políticas de desenvolvimento rural + políticas de desenvolvimento regional". Sem este reforço não vai ser fácil melhorar significativamente a situação da maior parte das pessoas, habitantes das zonas rurais.
Quanto ao tema específico de Timor Leste, trata-se de uma investigação que com uma colega tenho estado a fazer há algum tempo e que, no essencial, não encontra razões suficientemente fortes para alterar o actual statuo quo no país quanto à moeda corrente. Os perigos de alterar a situação pasando a emitir uma moeda nacional são bem maiores que as vantagens que poderiam, eventual mas não seguramente, advir po se passar a ter uma moeda emitida pelo banco central do país.
E assim, conversando sobre coisas sérias, cheguei às 19h25m de 19 de Maio de 2010... Ora oficial de encerramento da última aula...
quinta-feira, 13 de maio de 2010
Turismo e "nova" arquitectura em Dili
O que me deixou "estarrecido" foi o completo desrespeito --- "esmagadoramente" maior no primeiro caso que no segundo, é certo --- pela arquitectura inicial das habitações. No caso da de Dili não é só desrespeito pela arquitectura de uma determinada casa mas sim pela de todo um conjunto arquitectonicamente (mais ou menos) homogéneo como é o Bairro.
Claro que não falo como especialista da área, que manifestamente não sou, mas sim a dois outros títulos: primeiro, como pessoa com alguma sensibilidade "proto-artística" --- que raio de palavra fui inventar agora mesmo?!... --- provavelmente herdado, por linha materna, de pelo menos 2 ou 3 gerações de artistas; segundo e no caso principalmente, como economista.
Eu "expilico"...
Independentemente do que venha a ser o futuro da economia de Timor Leste, todos concordam que nele se inclui, em lugar cimeiro, o turismo.
Ora, turismo não são só, mesmo na região em que se insere o país, praias, pôr-do-sol de tirar a respiração, "tais", artesanato de "prata timorense", montanhas, ver o nascer do sol no Ramelau, a praia de Baucau, etc.
Turismo é também o património cultural e o património arquitectónico. Ora, é sabido que devido às vicissitudes da História do país, este último não é, em Timor, muito rico. As principais peças são de origem portuguesa já que a ocupação indonésia deixou poucas obras dignas de registo, tendo muitas delas sido destruídas na loucura de 1999 ao abrigo da política de "fomos nós que construímos e por isso fazemos delas o que quisermos". E quiseram queimar...
Creio que se Timor quiser desenvolver o seu turismo tem de preservar a sua própria "memória histórica" construída. E essa, quer queiramos quer não, é de traça portuguesa. Diria exactamente a mesma coisa se a origem fosse diferente (por exemplo, acho lamentável que o templo balinês de Taibessi --- quantos o conhecem?!... --- esteja mais ou menos votado ao abandono. Quem lhe acode?).
Assim sendo, tudo o que seja desvirtuar essa herança é um atentado não só contra a História passada do país --- goste-se dela ou não ela foi a que foi --- mas principalmente CONTRA O FUTURO DO PAÍS!
Ponham os olhos em Macau. Ponham os olhos em Singapura. A cidade-estado do Sudeste asiático podia ter optado por destruir a "Little India" e a Chinatown para construir arranhacéus ou, até, simpelsmente para edificar construções mais modernas.
Macau, mesmo já sob a administração chinesa, tudo tem feito para preservar a herança arquitectónica portuguesa quer do centro da cidade e do Tap Seac quer da ilha da Taipa (as conhecidas casas de arquitectura colonial portuguesa da Vila da Taipa).
E porquê? Porque em ambos os casos as autoridades sabem que a preservação do património histórico e de um certo "ambiente" do passado é das coisas que melhor se "vende" em termos de turismo!
Até em Goa: a cidade de Pangim, nomeadamente na zona central e mais antiga da cidade, foi preservada --- por acaso é pena não ser um bocadinho recuperada mantendo o traço arquitectónico local, nomeadamente nas Fontainhas --- porque sabem que isso é essencial para manter a atmosfera "europeia" da cidade. Goa é o destino preferido de muitos indianos, nomeadamente dos que, não podendo vir de lua de mel à Europa-a-sério, vão ver o que de mais parecido têm dentro de portas.
Por isso me dói a alma ao ver os atentados arquitectónicos que se estão a fazer em Dili (e, em muito menor escala, em Maubara) EM RELAÇÃO AO FUTURO (tanto ou mais que em relação ao passado).
Não há por aí alguém que mande "parar, escutar e olhar" e evitar a deformação de um ambiente arquitectónico tão característico como é o do conjunto do Bairro do Farol (que deve ser visto como uma entidade única e não como um mero amontoado de casas) e de algumas das construções mais típicas do país, de que a residência do antigo administrador de Maubara é um exemplo? Só falta "deitarem a mão" à residência do administrador de Liquiçá, peça ímpar no contexto do país, e rodeá-la de muros altos e acrescentarem-lhe uns poucos anexos com telhado de zinco... E porque não, também, uma galeria envidraçada à volta...
Se quiserem não pensem no passado mas, por favor, não deitem fora, agora, o futuro! Respeitem a traça original do vosso património construído, timorenses! Só vão lucrar com isso!
"Pelo sonho é que vamos!"
Comovidos e mudos.
Chegamos? Não chegamos?
Haja ou não frutos,
Pelo Sonho é que vamos
Assim reza a primeira estrofe do poema "O sonho" do poeta da "Serra-Mãe", a Arrábida, o meu "vizinho" Sebastião da Gama.
Mas a que propósito me lembrei da expressão "pelo sonho é que vamos"?
Ela surgiu-me ao ler muitas das previsões do Plano Estratégico de Desenvolvimento recentemente apresentado, ainda nas suas linhas gerais, pelo actual Governo de Timor Leste.
Ela surgiu-me, paticularmente, ao ler a parte sobre a evolução prevista para a produtividade da agricultura até 2016. No texto do draft do Plano divulgado pela La'o Hamutuk figura, na página 2-17, um gráfico sobre da referida produtividade em USD por agricultor ao longo do período 2001 a 2016. Até 2009 trata-se, naturalmente, dos dados observados efectivamente e de 2010 até 2016 trata-se de projecções dos planificadores.
Os números são, no essencial, os seguintes: em 2002 o rendimento dos agricultores terá sido de 228 USD/agricultor, em 2010 estima-se que venha a ser de 265 USD per capita e a estimativa é de que em 2016 seja de 703 USD por agricultor.
Isto é: entre 2002 e 2010 a taxa de crescimento médio anual foi de 1,9%/ano mas prevê-se que nos 6 anos até 2016 ela passe deste valor para 17,7%/ano. Uma taxa 9,3 vezes maior! E isto partindo da base que todos conhecemos e que também é reconhecida pelo Plano: o de uma agricultura familiar de subsistência. Huuummmmm!... Não será sonhar demasiado alto?
Na sua análise preliminar ao Plano a La'o Hamutuk diz (e bem):
"La'o Hamutuk agrees that Timor-Leste's leaders should project an optimistic vision for this nation's future. However, that vision, especially when it is described by a national plan offered as a "Bible" for current and future governments, needs to be grounded in reality. If we confuse analysis with public relations, future generations will suffer from broken promises, built on sand."
Eu não diria melhor!
Pelo sonho é que vamos,
Comovidos e mudos.
Chegamos? Não chegamos?
Haja ou não frutos,
Pelo Sonho é que vamos
terça-feira, 11 de maio de 2010
Conversando com o leitor
Mas então sobre que conversamos?
Na sequência de um comentário de um anónimo ao meu "post scriptum" abaixo e de uma réplica minha, a última réplica do leitor termina assim:
"Concordo com o sr Prof que "Há, portanto, que estabelecer o justo equilíbrio entre os interesses dos curto, do médio, do longo... e do muito longo prazos.", mas acredito que os interesses dos "muito longo prazos" serao melhor servidos pelos interesses dos curtos e medios prazos no que diz respeito a criacao das condicoes necessarias para o florescimento do sector privado. Eh assim que digo que os 3% do rendimento sustentavel nao proporciona o balanco ideal e necessario para as actuais cirncunstancias Timorenses."
O problema parece estar, portanto, no limite dos 3% impostos para a definição do rendimento sustentável. Curioso que na definição dos défices do Estado como critério de Maastrich no âmbito da criação do Euro se imponha também o limite de 3%. De onde saíu este número? Será porque "três é a conta que Deus fez"? Não é, com certeza, mas agora também não adianta muito explicar a base económica do dito cujo.
O que é certo é que pessoalmente nunca me revi de uma forma muito rígida neste número, antes preferindo regras mais qualitativas do tipo "gastar onde for necessário e for possível assegurar a eficiência dos investimentos".
Assim como nunca me revi na norma de não impor nenhum limite ao tipo utilizações do dinheiro retirado do Fundo Petrolífero.
A ela sempre preferi uma norma que impusesse um limite (relativamente curto) ao que pode ser gasto em despesas correntes (salários, bens e serviços) e obrigasse, portanto, a que a maior parte dos recursos fosse aplicada em "despesas de desenvolvimento" que beneficiassem quer as actuais quer as futuras gerações.
Estas incluiriam as despesas em infraestruturas físicas (estradas, portos, aeroportos), em ensino --- não é por deformação profissional que sou especialmente sensível a estas mas sim porque os estudos me ensinaram que o investimento em "capital humano" é o de efeitos (benéficos) mais profundos e duradouros para uma sociedade --- , em saúde e similares.
Isto é, embora me preocupe com a quantidade dos recursos a utilizar confesso que tenho uma especial sensibilidade à questão da qualidade das suas utilizações.
Mas esta discussão, relevante em si mesma, é, quanto ao famoso limite dos 3%, muito menos relevante quanto se possa pensar quando se olha para a Lei tal como está neste momento. Vejamos o texto abaixo (Artº 9 da Lei do Fundo Petrolífero):
Pela sua leitura concluo --- posso estar enganado mas penso que não --- que, mesmo no quadro legal actual, é perfeitamente possível "levantar" do Fundo mais que os 3% desde que se cumpram determinadas condições que --- "penso eu de que..." --- nem são muito limitativas...
Devo confessar que se tivesse sido eu a redigir a Lei teria sido mais exigente... Como? Retomando a ideia de que deve haver limites (percentuais) para os diferentes tipos de gastos a suportar pelo "rendimento sustentável", seria "impiedoso" quanto aos recursos a utilizar acima do referido limite de 3%, obrigando a que a totalidade do excedente fosse utilizada nas referidas "despesas de investimento".
Note-se que não digo isto por ser um "fundamentalista" da Lei existente --- nunca fui... --- e não querer --- como se eu tivesse "querer" neste domínio... --- que ela seja alterada. As leis são para ser cumpridas quando existem e para serem alteradas em conformidade com as necessidades/interesses da sociedade quando deixam de corresponder a esses interesses. Mas, como disse, parece-me ser perfeitamente possível gastar mais que os 3% desde que sejam cumpridas determinadas regras --- que até nem são muito rígidas....
Por tudo isto nunca compreendi muito bem todo o "barulho" que se faz em torno da questão dos 3%... Deve ser problema meu.
Agora que se aproxima o 13 de Maio...
segunda-feira, 10 de maio de 2010
Plano Estratégico de Desenvolvimento: versão provisória
Veja o documento aqui. Em inglês.