quinta-feira, 23 de dezembro de 2010

Cuidadinho, muito cuidadinho!...

Nota preliminar: o que se segue tem que ver, em parte, com o sistema bancário de Timor Leste MAS É ABSOLUTAMENTE INDEPENDENTE DA MINHA RELAÇÃO PROFISSIONAL COM O "BANCO CENTRAL" DO PAÍS. O que ficar escrito envolve-me, como de costume, só a mim e mais ninguém (pessoal ou colectivo) enquanto economista e observador da realidade económica de Timor Leste. Aliás, como é fácil de compreender, o banco central, no fundo, nada tem a ver com esta questão, que interessa apenas ao triângulo Estado-empresários-banca comercial.

Vi ontem uma referência a declarações do Ministro Gil Alves sobre a possibilidade de o Estado poder ser "fiador" de empresários timorenses nos seus pedidos de crédito junto da banca comercial actuando em Timor Leste. Não será o caso mais normal mas não será, certamente, caso virgem.
Mas as questões a colocar são, 1) saber se a existência ou não de uma garantia (do Estado) é a limitação mais importante para a concessão de crédito no país; e 2) quais as condições que os empresários terão de preencher para se poderem candidatar a uma garantia por parte do Estado. Estes é que são o "busilis" da questão.

Tenho para mim que a principal barreira que dificulta a concessão de crédito é a de natureza essencialmente institucional: a nível microeconómico, a falta de organização apropriada, interna, das empresas; e a nível macrosocial, o quadro jurídico para que os bancos possam obter dos empresários garantias reais apropriadas e que possam ser, atempadamente, executadas através do sistema judicial.
Ora, a não ser que ambas estas situações se alterem profundamente em relação ao quadro actual, a continuação de umas e de outras e a concessão de garantias reais pelo Estado vai apenas (?) transferir os riscos da concessão de empréstimos da banca para o Estado. Senão totalmente, pelo menos significativamente. Isso até pode desbloquear uns quantos empréstimos e fazer baixar (?) a taxa de juro cobrada mas o problema de fundo não fica resolvido. Como o quadro legal é "impróprio para consumo" o resultado vai ser, muito provavelmente, que quem vai "ficar a arder" com o seu dinheiro se os emrpesários não pagarem --- COMO VÁRIOS NÃO PAGAM E ALGUNS QUASE SE ORGULHAM DISSO!... --- é o Estado timorense. Isto é: é o povo timorense... "Na tá certo, irmão!..."

E aqui lembro-me das recentes declarações do Primeiro Ministro numa festa com os empresários e a propósito da execução do "plano do referendo": o "chefe" destes tecendo grandes encómios ao projecto e o PM dizendo que em muitos casos o Estado esteve a pagar gato por lebre, pagando muito dinheiro por uma qualidade por vezes mais que duvidosa e a preços inflacionados, indo muito dinheiro para carros de luxo-luxo e para férias em Bali. Ele lá saberá... Isto anda tudo ligado!...

Daí a recomendação inicial: cuidadinho, muito cuidadinho!...

1 comentário:

Anónimo disse...

DOUTOR,

Obrigado pela observacao. Na sua qualidade como economista profissional e acessor do BPA:

Primeiro: gostaria de ver o que o doutor possa fazer a ajudar o governo Timorense sair desta "situacao".

Segundo, peco para que o doutor possa alterar profundamente ambas as situações em relação ao quadro actual, a continuação de umas e de outras e a concessão de garantias reais pelo Estado no fim de evitar isto a ser apenas transferencias cos riscos da concessão de empréstimos da banca para o Estado.

Terceiro, ajude bloquear os empréstimos no fim de aumentar a taxa de juro cobrada para aumentar o rendimento to estado;

Quarto, sugere-se tambem para poder estabelecer um quadro legal que é "próprio para consumo" e para OBRIGAR os emrpesários a pagarem os seus juros e emprestimos segundo as regras em vigor.

Um Abraco
NIKITA KABLAKI