segunda-feira, 31 de agosto de 2009

"Tudo vale a pena quando a alma não é pequena!...

Por isso não faz sentido perguntar se valeu a pena a data que se comemorou ontem.
Mas, como alguém também disse, "só teremos de chorar os mortos" no dia 4/Set (e nos outros dias) "se os vivos os não merecerem".
Têm de merecer!... De preferência mais cedo que mais tarde.

segunda-feira, 24 de agosto de 2009

Variações sobre o mesmo tema...

A 'entrada' anterior suscitou alguns comentários MUITO interessantes dos leitores (que agradeço) e cuja leitura recomento vivamente. Há, em particular, dois mais extensos que são contribuições preciosas para o tema.
Tal como o é o do leitor que chama a atenção para o facto de estarmos perante usos e costumes muito enraizados na "tradição" timorense e que, por isso, levarão muito tempo até serem alterados significativamente.
Claro que estamos conscientes disso e por isso mesmo é que pensamos que quanto mais cedo se começar a alterar a situação, melhor. O poder político (este ou outro qualquer) e a Igreja bem poderiam começar, mesmo que lentamente, a chamar a atenção para a situação e o "absurdo" que ela representa --- as aspas são, claro, para salientar que não se trata de um verdadeiro absurdo mas sim algo que respeitamos mas que, no entanto, pensamos que deve ser alterado sem esperar que a História faça o seu caminho. Um "empurrãozinho" na História será útil...

O que me espanta --- sem, verdadeiramente, me espantar ... --- é que pessoas que, pela sua vivência (por vezes no exterior do país) estariam aparentemente mais propensas a fugir ao ciclo de "investimentos sociais" que referimos, acabam por se verem também enredadas no processo, tendo dificuldade em romper com os hábitos do passado que tornam as pessoas eternamente "empenhadas até ao pescoço" junto dos seus parentes da família alargada.

Que nem de propósito, chegou recentemente ao meu conhecimento um caso de uma família que vai proceder ao levantamento das ossadas de um pai e de um filho a fim de os colocarem no mesmo terreno e em campas novas.
O "orçamento preliminar" para as cerimónias previstas já vai nos 7000 (sim! Sete mil!) USD. Recordo que o rendimento anual per capita, durante um ano, de cada timorense é, segundo os dados disponíveis, de cerca de 380 USD. Isto é: os custos referidos acima equivalem ao rendimento actual anual de cerca de 18 timorenses... Ou, se o rendimento per capita não variar em termos reais, ao rendimento de um timorense durante 18 anos!

Sem palavras!... Porque estou speechless...

quinta-feira, 20 de agosto de 2009

Investimento "social"; investimento "económico"; família alargada; família nuclear

Um aspecto que sempre despertou a minha atenção no comportamento da sociedade timorense é o de que, sendo ainda extremamente forte o sentido de "grupo" e de pertença a uma família "alargada" (em contraposição com o conceito de família "nuclear", base da organização dos países ditos "mais avançados"), aquilo que é de um é, normalmente, entendido como sendo de todos.
Assim, os rendimentos de um membro da família, nomeadamente se saírem mais um pouco do "normal", acabam por serem entendidos como sendo, de alguma forma, o rendimento de todos... Um(a) ex-ministro(a) dizia-me que só soube que tinha tantos primos e primas depois de ter recebido os primeiros ordenados... Outro(a) amigo(a) quase se "auto-exilou" para que não tivesse de suportar a pressão de tantos familiares a baterem-lhe à porta...

Esta lógica (re)distributiva está presente, quantas vezes contra a vontade dos mesmos, em muitas situações e o pagamento de barlaque e as festas "de arromba" que se dão em determinados momentos não são mais que um processo criado pela sociedade para assegurar essa (re)distribuição. É uma forma de investimento "social", muito comum em sociedades menos "evoluídas", e que é usual também noutros locais, como em África.

Lembro-me, por exemplo, de um amigo "antropófago" (antropólogo mas ele adorava dizer que era "antropófago"...), especialista na sociedade rural do sul de Moçambique (habitado por xanganas), me explicar como a estratégia de sobrevivência num ambiente natural relativamente hostil (devido, nomeadamente, às secas e à pouca produtividade da terra), tinha condicionado até as estratégias de casamento das famílias levando estas a procurar parceiros(-as) para os seus membros casadoiros em zonas afastadas do local de residência de modo a aumentarem a probabilidade de nesses locais a seca não afectar a disponibilidade de comida que seria, assim, (re)distribuída dentro de uma família (agora ainda mais alargada) espalhada por uma ampla região.

Em Timor as formas de investimento "social" existentes não fugirão muito a esta lógica de assegurar a sobrevivência do maior número possível de membros num ambiente que não é, em muitos casos, o mais fácil. A própria "decisão" de ter muitos filhos poderá ser explicada à sombra desta lógica: os pais assegurarem que quando forem velhos terão descendentes suficientes para cuidarem deles.

O pior é que temo que, mais vezes do que se possa pensar, as pessoas não têm mesmo os recursos suficientes para participarem neste esquema de investimento "social", acabando por ficar endividadas perante outros membros da família e até, eventualmente, perante terceiros. Aliás, esta lógica de criar eternos devedores é, ela própria, uma estratégia de assegurar de que ninguém "salta fora" do esquema de (re)distribuição.

Esta lógica tenderá, com o tempo e com o aumento dos níveis de desenvolvimento, a diminuir significativamente mas até lá...

Não há, que eu saiba, um estudo minimamente aprofundado sobre os processos de formação e de (re)distribuição da poupança em Timor Leste mas seria interessante se se estudasse a situação.
É que a (evidente) fraqueza do investimento "económico" privado no país --- não o de maior escala mas a um nível mais baixo mas também ele essencial --- está, creio, a ser fortemente penalizado por estas práticas de investimento "social" que, por vezes, deixam as pessoas "enterradas até ao pescoço" em dívidas que terão de pagar sob pena de "o céu lhes cair em cima".

Num domínio muito específico e por exemplo, mais cedo ou mais tarde (antes mais cedo que mais tarde...) as pessoas compreenderão que a melhor estratégia para assegurarem a sua sobrevivência no futuro não é ter 7-8 filhos mais ou menos analfabetos mas sim terem 3-4 (e já é muito... :-) ) em quem possam "investir" dando-lhes acesso a mais e melhor educação, que lhes proporcionará, mais tarde, maiores rendimentos que poderão colocar ao serviço da sobrevivência da sua família... nuclear.

Serão bem vindos os comentários sobre estes aspectos...

segunda-feira, 17 de agosto de 2009

"Perguntando aos números" ou "sabia que?!..."

Numa aula que dei em Timor Leste comecei por escrever no quadro que "o principal ponto na Universdade é o ponto de interrogação". Por outro lado, tenho insistido sempre com os colegas com quem trabalho de que é essencial "fazer perguntas aos números". Isto é, às estatísticas ou a qualquer outra informação quantitativa.

É o que, ainda que de forma limitada, me proponho fazer agora.

Dis dos dados disponíveis a qualquer um mais interessado por estas coisas são os dos salários da Função Pública, por um lado, e os índices de preços e taxas de inflação, por outro.
Sabendo que houve no ano passado uma (mais que justa) revisão da grelha salarial que vinha do tempo da UNTAET, uma das perguntas que podemos fazer aos números é se os aumentos concedidos em 2008 cobrem ou não a evolução do custo de vida ocorrida desde 2001.
A base do Índice de Preços no Consumidor em vigor é a dos preços de Dezembro de 2001 e até Dezembro de 2008 o IPC aumentou, nos sete anos, 46,6%. De facto, o índice de Dez/08 com base em Dez/01=100 é exactamente 146,6.
Ora, se aplicarmos este valor multiplicando por 1,466 o salário mínimo da Função Pública em 2001 (85 USD) obtemos 124,61. Isto é: os 85 USD de 2001 equivalem a 124,61 USD em Dezembro de 2008. Como o salário mínimo fixado em 2008 foi de 115 USD isso significa que os (poucos?) trabalhadores que recebem (ainda) esse salário perderam poder de compra. Pouco, mas perderam. A grande maioria, felizmente, terá recuperado o poder de compra perdido (os tais 46,6%) e terão, até, melhorado um pouco a sua situação.

Outra "pergunta aos números" pode ser feita quando sabemos que em Dezembro de 2001 e a acreditar nos números então recolhidos pela "Estatística" do país, o arroz importado custava, por quilo e em média, 3333 rupias (sim. Na época ainda se "funcionava" em rupias). Utilizando a taxa de câmbio média de Dezembro de 2001 (10273 rupias por USD), isto equivalia a, contas redondas, 32 centavos por quilo.
O arroz então predominante nos mercados era o importado e o preço acima diz respeito a ele. Actualmente o arroz importado quase desapareceu dos mercados mais tradicionais e foi "substituído" pelo "arroz do Governo", que custa actualmente cerca de 34 centavos por quilo (12 USD/saca de 35kgs).
Isto é: graças ao subsídio pago pelo Governo ao arroz os consumidores viram o custo deste aumentar apenas 2-centavos-2 em 7 anos. Peanuts!... Principalmente se comparados com os aumentos de rendimentos entretanto verificados.
Por exemplo: se uma família tiver de comprar 50 kgs de arroz por mês e se o seu consumo não tiver aumentado entre 2001 e 2008, o seu gasto terá aumentado apenas de 16,2 USD em 2001 para 17 USD em 2008.
Estes valores significam que uma família que recebesse apenas um salário mínimo em 2001 dispendia 19% do mesmo na compra do alimento essencial da maioria dos timorenses urbanizados. Hoje essa percentagem terá baixado para cerca de 15%. Claro que, como a média dos rendimentos terá aumentado mais, esta percentagem terá diminuído ainda mais.

Outra "pergunta aos números": olhando para os preços do arroz "local", produzido em Timor Leste, e do arroz importado a diferença era, em 2001 e mais uma vez a acreditar nas estatísticas de então, mínima: 32 centavos para o importado e 34 para o "local" ou nacional.
Hoje em dia a diferença é muito maior, com o arroz local a atingir preços significativamente mais altos que o arroz importado. Ainda que nos últimos tempos se tenha vindo a assistir, por pressão do preço do arroz importado pelo Governo, a uma tendência para um certo reaproximar dos preços.

Enfim. Há tantas perguntas que se podem fazer aos números...

Ainda o Fundo Petrolífero

No site da Autoridade Bancária e de Pagamentos de Timor Leste é possível consultar todos os relatórios trimestrais sobre a gestão do Fundo Petrolífero publicados desde o início deste, em Setembro de 2005.
A consulta dos balanços trimestrais permite construir o gráfico abaixo, onde figuram as receitas e as saídas de dinheiro para os cofres do Estado para financiar o Orçamento Geral do Estado (OGE).

Estas saídas totalizaram até ao momento quase 900 milhões de USD.
Note-se também o "salto" significativo dos valores das receitas entre 2005 e 2006, por um lado, e 2007, primeiro, e 2008, depois. A partir do terceito trimestre de 2008 os valores das receitas mensais começaram a diminuir devido à queda dos preços internacionais do petróleo a partir de Julho desse ano.

sexta-feira, 14 de agosto de 2009

4900 milhões de USD acumulados no Fundo Petrolífero até Junho passado

A Autoridade Bancária e de Pagamentos acaba de divulgar um "comunicado de imprensa" em que dá conta dos resultados da gestão do Fundo Petrolífero até 30 de Junho passado.
Nele se indica que o valor do Fundo era então de cerca de 4900 milhões de USD e que uma parte desses recursos (cerca de mil milhões) estão agora a ser geridos pelo Banco de Pagamentos Internacionais (conhecido nos meios financeiros pelo seu acrónimo em inglês, "BIS") , uma organização financeira internacional com sede em Basileia, na Suiça.
Inovador é também o facto de uma percentagem (até 20%) dos recursos geridos pelo BIS poderem ser representados por instrumentos financeiros (depósitos e Títulos do Tesouro) denominados em outras moedas que não o USD. É o caso do dólar australiano, da libra inglesa, do euro e do iene japonês. Isto é: do valor total do capital, apenas cerca de 200 milhões (em 4900) podem ser aplicados nestas moedas, numa diversificação da carteira de títulos já prevista (mas nunca implementada até agora) na Lei do Fundo Petrolífero.

quinta-feira, 13 de agosto de 2009

Não! Não vou falar de Timor!... (ou vou?!...)

Voltei a receber há dias um conhecido discurso do ainda mais conhecido escritor moçambicano Mia Couto aquando da abertura do ano lectivo numa Universidade moçambicana em 2005. O texto aparece com o título "Os sete sapatos sujos".
Peça brilhante pelas ideias que transmite e, principalmente, pelo que nos faz pensar --- afinal é verdade que "o principal ponto numa Universidade é o ponto de interrogação"... ---, diz a dado passo sobre o seu Moçambique natal:

"Ter futuro custa muito dinheiro. Mas é muito mais caro só ter passado. Antes da Independência, para os camponeses zambianos não havia futuro. Hoje o único tempo que para eles existe é o futuro dos outros.

Os desafios são maiores que a esperança? Mas nós não podemos senão ser optimistas e fazer aquilo que os brasileiros chamam de levantar, sacudir a poeira e dar a volta por cima. O pessimismo é um luxo para os ricos.

A pergunta crucial é esta: o que é que nos separa desse futuro que todos queremos? Alguns acreditam que o que falta são mais quadros, mais escolas, mais hospitais. Outros acreditam que precisamos de mais investidores, mais projectos económicos. Tudo isso é necessário, tudo isso é imprescindível.
Mas para mim, há uma outra coisa que é ainda mais importante. Essa coisa tem
um nome: é uma nova atitude. Se não mudarmos de atitude não conquistaremos uma condição melhor. Poderemos ter mais técnicos, mais hospitais, mais escolas, mas não seremos construtores de futuro.

Falo de uma nova atitude mas a palavra deve ser pronunciada no plural, pois ela compõe um conjunto vasto de posturas, crenças, conceitos e preconceitos.
Há muito que venho defendendo que o maior factor de atraso em Moçambique não se localiza na economia mas na incapacidade de gerarmos um pensamento produtivo, ousado e inovador. Um pensamento que não resulte da repetição de lugares comuns, de fórmulas e de receitas já pensadas pelos outros. "

Falei de Timor?

segunda-feira, 10 de agosto de 2009

Assistência internacional a Timor Leste

A balança de pagamentos publicada no relatório do FMI recentemente publicado e relativo à sua missão de avaliação da economia de Timor Leste no âmbito do Artº IV dos seus Estatutos refere os dados relativos à assistência internacional ao país nos últimos anos.
São eles os seguintes, por ano:

2004: 215 milhões de USD
2005: 133 " "
2006: 184 " "
2007: 281 " "
2008: 355 " "

São valores muito importantes, nomeadamente se comparados com o produto nacional: em 2007 e 2008 a assistência terá sido equivalente a 70% do PIB não-petrolífero.
Isto significa uma ajuda externa de cerca de 325 USD per capita, valor que pode ser comparado com os 379 USD per capita do produto não-petrolífero.

domingo, 9 de agosto de 2009

Evolução da taxa de juro média dos empréstimos

É sabido que o sistema bancário de Timor Leste é constituído basicamente pelas agências de três bancos estrangeiros (um português, um australiano e outro indonésio) e pela Instituição de Micro-Finanças, um "quase-banco" dedicado ao sector específico do micro-crédito.
Curiosamente, apenas uma das agências bancárias --- que na prática têm um funcionamento que nos permite usar para eles a designação corrente de "bancos" --- pratica uma política de taxa de juro para os empréstimos que concede que fazem esta evoluir ao longo do tempo. De facto, a uma componente fixa o banco adiciona uma outra móvel que corresponde actualmente à taxa de juro LIBOR a 3 meses, que actualmente não chega aos 2%. Os outros "bancos" fixaram uma taxa de juro activa aquando da sua instalação e têm-na mantido inalterável ao longo dos anos.
Isto demonstra que as taxas de juro são essencialmente influenciadas por factores quase todos eles externos ao funcionamento da economia nacional, nomeadamente a taxa de inflação. Note-se, no entanto, que um dos principais determinantes da taxa de juro, o risco-país, não pode deixar de ser considerado como estando relacionado com a evolução da situação económica (mas também política) do país.

Apesar da rigidez da componente fixa da taxa de juro nos vários bancos, a taxa média de juro, resultante da ponderação da taxa praticada por cada um pelo peso do respectivo banco no total do crédito concedido à economia, tem evoluído desde o início de 2007 de acordo com o gráfico abaixo.


A descida verificada está relacionada com a queda da taxa de juro na maior parte dos mercados internacionais, nomeadamente desde que os Estados Unidos e a Zona Euro decidiram fazer baixar significativametne as taxas de juro nos respectivos mercados como forma de combaterem a crise económica que defrontam. A evolução não resulta, assim, de uma política deliberada de actuação do banco central de Timor Leste, a Autoridade Bancária e de Pagamentos, já que esta, por não emitir moeda nacional, não dispõe de instrumentos de política monetária suficientemente eficazes para influenciar as taxas de juro. Porém e como se verifica, isso não tem impedido que elas desçam de forma notória.

De acordo com a política comercial do próprio banco e a avaliação que faz da "saúde financeira" dos seus clientes, cada um pratica taxas diferenciadas, mais baixas, para os seus melhores clientes, rondando a prime rate para eles os cerca de 8-9%.

quarta-feira, 5 de agosto de 2009

Estatísticas sobre Timor Leste no 'site' do ADB

O ADB (o Banco Asiático de Desenvolvimento) tem disponíveis no seu 'site' um conjunto vasto de estatísticas sobre Timor Leste. Há dois ficheiros: um em PDF e outro em Excel (xls).
Alguns dos dados começam em 1990 e prolongam-se até 2007, o último ano para que estão disponíveis informações nesta publicação.