quinta-feira, 27 de novembro de 2008

"Primeira cavadela, minhoca!..."

Esta é uma expressão "popular" que in illo tempore se utilizava para designar que a primeira acção ou as primeiras palavras de um qualquer "discurso" era(m) asneira... Em vez de encontrar o procurado ouro o "cavador" só encontrava minhocas...

Foi a expressão que me veio à ideia quando comecei a ler o texto do Pedro Rosa Mendes de que tanto se fala. Porquê? Ora vejam a primeira frase: "Em nove anos de liberdade, Timor-Leste não conseguiu assegurar água, luz e esgotos para a sua pequena capital."
Saberá o autor que a "pequena" Dili tem, provavelmente, tanta ou mais população que a "grande" Coimbra ou a igualmente "grande" Setúbal ou qualquer outra cidade de média dimensão de Portugal? E que devido ao tipo de urbanização a sua área é maior que a destas cidades?
Se nelas se partisse do zero para criar uma rede de esgotos quantos anos levaria a completar? E se a isso juntarmos uma rede de água e de electricidade "como deve ser" quantos mais anos levaria?
E será que sabe que a Independência --- ou a "restauração", como queiram... --- tem sete anos e não nove e que durante o consulado da ONU esta não fez nadica de nada (ou pouco mais) nestas áreas? E que com orçamentos de cerca de 100-120 milhões de USD como os do início da independência pouco mais se faz que fritar um ovo e que não dá para fazer uma omelete? E que só há dinheiro para mais ovos há cerca de 2 anos, quando o preço do petróleo começou a "disparar" e a encher os cofres do Fundo Petrolífero?

Usar aquela frase é um verdadeiro exemplo de que "primeira cavadela, minhoca"! É claro que em nove anos não se faz aquilo que o jornalista "queria" que se fizesse. Nem lá, nem aqui, nem na China!...

O curioso é que parece que o próprio jornal ficou entusiasmadíssimo com o texto que publicou, achando que era uma "nódoa" suficiente para manchar a "toalha" de visita do Primeiro-Ministro Xanana Gusmão. As loas que teceu ao "ensaio", numa manifestação de "autoelogio" um bocado saloio, parecem-me deslocadas. Até porque muito do que lá está não é novidade para ninguém minimamente informado sobre o que se passa em Timor Leste e das dificuldades do "nascer dos dentes" do país. Mas julgar a situação pelos olhos da "civilização cristã e ocidental" não me parece a melhor prática. E se alguns, direi mesmo muitos, estão desiludidos com o fim do "sonho" mais ou menos "romântico" que tiveram sobre Timor, qual é a novidade? Os sonhos são isso mesmo! Por isso são sonhos! Senão seriam farófias!... :-) Ou pesadelos.
O problema é da realidade ou do sonho e do sonhador? Porque não tomou um Valium para dormir profundamente e sem sonhos?
Ná... Ainda não foi desta que encontraram o ouro... Podem continuar a "ensaiar" (quem escreve ensaios ensaia? É um ensaiador? Boa pergunta... Vou espreitar o dicionário e já volto...)

1 comentário:

Anónimo disse...

Caro Professor,

Correcção: Xanana é Primeiro-Ministro e não presidente.

Cumprimentos.