Blog sobre Economia e Política Económica do Desenvolvimento, em particular sobre a economia de Timor Leste e aquilo que naquelas pode ser útil ao desenvolvimento económico deste país
sábado, 28 de fevereiro de 2009
Análise da FAO sobre o mercado internacional do arroz
"Embora em queda, os preços mundiais do arroz continuam a exceder o seu nível de há um ano atrás principalmente por causa dos vários programas de apoio aos agricultores nacionais que estão a ser implementados na China Continental, na Tailândia, Paquistão e Vietname, todos eles dirigidos ao apoio aos preços aos produtores nacionais e aos preços de exportação. Ao mesmo tempo, a continuação de restrições às exportações na Índia e no Egipto têm contribuído também para impedir quedas maiores nos preços.
Estas políticas são parte importante da explicação para o facto de os preços internacionais do arroz não descerem mais comparativamente com o que se passa com os preços de outros cereais no mercado internacional, particularmente o trigo, o qual regressou praticamente aos níveis de preços prevalecentes antes das subidas verificadas a partir de 2007.
Apesar do referido acima, é questionável se os preços mundiais do arroz vão estabilizar a níveis próximos dos actuais. Considerando as perspectivas actuais quanto à oferta e à procura mundiais, o mais provável é que o mercado venha a encontrar o seu equilíbrio a níveis mais baixos de preços.
No entanto, considerando o aumento dos custos de produção e os níveis relativamente elevados de preços oferecidos pelos programas nacionais de incentivo à produção, preços internacionais muito inferiores a 400 USD/ton para as qualidades melhores resultariam em perdas significativas quer para os produtores quer para o sector público dos países exportadores ao mesmo tempo que poriam em dificuldade a prossecução das políticas de auto-suficiência implementadas por vários países importadores.
É neste contexto que o governo da Tailândia está a intensificar os esforços para reforçar a cooperação com outros países exportadores de modo a evitar a queda excessiva dos preços e propôs manter no seu país um nível adequado de stocks como parte da reserva de segurança alimentar da ASEAN.
Assim, depois de um 2008 difícil caracterizado pela subida significativa dos preços do arroz e de outros produtos primários — incluindo o petróleo e os fertilizantes — os governos estão, em 2009, a fazer face a circunstâncias diferentes mas talvez ainda mais exigentes que no passado. Se no ano passado tiveram de intervir em duas frentes de combate — estimular a produção interna mas manter os preços ao consumidor em níveis acessíveis aos consumidores —, este ano, no contexto da crise mundial, poderão agora ter de fazer face a maiores desafios no contexto da crise económica mundial.
De facto, embora a melhoria das condições do mercado de arroz [aumento da oferta] empurre os preços para baixo (o que é bom para os consumidores), a verdade é que o seu acesso ao arroz pode não aumentar devido à redução do rendimento e à crescente insegurança quanto ao emprego. Neste contexto, os governos poderão ter de vir a tomar novas medidas, desta vez para sustentar o preço nos produtores ao mesmo tempo que protegem o poder de compra das populações numa altura em os pedidos de ajuda provenientes de outros sectores estão a aumentar rapidamente."
sexta-feira, 27 de fevereiro de 2009
Mais outra espreitadela pela janela do vizinho (agora ao mercado de arroz)
“Para promover a auto-suficiência em arroz, o governo [da Indonésia] aumentou em 10% os seus preços de compra (...) para 4300 rupias por kilo (398 USD/ton) e estabeleceu uma meta de 3,8 milhões de toneladas para as compras a efectuar pelo BULOG, a agência oficial de comercialização do arroz. Este aumento dos preços destinou-se a compensar a descida de 28,7% dos subsídios ao fuel ocorrida em Maio de 2008.
Para incentivar o aumento da produção em 2009, o governo aumentou 7% os preços de compra a partir de 1 de Janeiro de 2009. (...) O financiamento aos subsídios para sementes foi aumentado, no total, de 33 para 35 triliões de rupias em 2009 (...).
No âmbito do programa “Arroz para os pobres”, iniciado em 1998, o Bulog tem vindo a distribuir uma ração de 10-15 kilos por mês a 19,1 milhões de famílias a um quarto do preço do mercado. Em Maio de 2008 estas famílias receberam um subsídio pecuniário suplementar no âmbito do programa de pagamentos em dinheiro.”
Aspectos a sublinhar:
a) O governo da Indonésia parece firmemente decidido a aumentar o grau de auto-suficiência do país em arroz, tornando-o menos dependente da importação do cereal e, por isso, das oscilações do preço do mesmo no mercado internacional e das próprias políticas de exportação dos países excedentários. Lembremos, a propósito, as fortes limitações à exportação de arroz impostas no início do ano passado pelo Vietname, a Tailândia e a Índia, o que afectou o mercado internacional e contribuiu para o “disparar” dos preços do cereal no mercado internacional, encarecendo significativamente (cerca de 3 vezes mais) o preço nos países importadores;
b) O preço pago actualmente (depois do aumento de Janeiro passado) pelo Bulog nas suas compras aos camponeses ronda os 425 USD/ton. Recorde-se que, segundo o boletim da FAO que citámos, o preço internacional do arroz “Vietnam 5%” (o de melhor qualidade do país) foi, em Janeiro, de 407 USD/ton (FOB, i.e., colocado dentro do navio, no Vietname, pronto para largar para o seu destino); o preço pago aos agricultores indonésios é, pois, apenas ligeiramente superior ao preço do arroz importado --- do Vietname.
c) O governo concede um subsídio para a compra de sementes de arroz. O aumento da verba orçamentada para este efeito foi, no entanto, muito pequeno, pressupondo-se que não terá havido aumento do seu valor por quilo --- recorde-se que o aumento do valor é quase só equivalente à taxa de inflação verificada.
d) O programa de distribuição de arroz às famílias pobres não prevê a oferta de arroz mas sim a sua venda a um preço que é apenas um quarto do de mercado; além disso é um programa que atinge apenas as famílias que foram consideradas como pobres e não um programa “universal” de venda de arroz a preço bonificado.
e) Finalmente, recorde-se que o arroz nacional é actualmente vendido no mercado ao equivalente a 50 centavos (o arroz importado vende-se ao dobro deste preço). Isto é, o Bulog compra o arroz nacional a cerca de 42,5 centavos o kilo e vende-o a 50 centavos.
quinta-feira, 26 de fevereiro de 2009
Uma espreitadela pela janela do vizinho...
As imagens abaixo (clicar para aumentar) são das páginas em que, na sua publicação Emerging Asia Economics Montlhly - February 2009, o ANZ analisa o comportamento recente da economia indonésia e faz algumas estimativas em relação ao futuro próximo.
Dos dados que aqui ficam sublinhamos:
a) a estimativa de que a taxa de crescimento do produto se deverá situar nos cerca de 5% em 2009, uma taxa um pouco melhor que as de outros países da região mas que é uma degradação da situação económica do país face à taxa anual de Set2008 (face ao mesmo mês do ano anterior) de 6,1%;
b) a constatação de que a taxa homóloga de inflação em Dezembro passado (Dez2008 sobre Dez2007) foi de 11,1% e que, graças nomeadamente a cortes nos preços (administrados pelo Estado) da electricidade e do petróleo, se espera conseguir alcançar em 2009 a taxa de 6% que foi fixada pelo Banco Central do país como a meta a alcançar. Esta redução da taxa de inflação é uma boa notícia para Timor Leste já que cerca de 40% das suas importações são provenientes da Indonésia;
c) a previsão de que se irá verificar uma gradual (e ligeira) desvalorização da IDR (rupia indonésia) dos actuais cerca de 11400 IDR por USD até aos cerca de 11900 IDR por USD em Setembro próximo; depois dessa data espera-se uma revalorização da rupia até atingir os cerca de 11300 IDR/USD em Junho do próximo ano. A desvalorização referida é também uma boa notícia para Timor Leste e, em conjunto com a evolução (favorável) da taxa de inflação, pode ajudar a exercer menor pressão sobre os preços em Timor.
sábado, 21 de fevereiro de 2009
Um comentário à 'entrada' abaixo
"É interessante verificar que os picos de importações estão relacionados [com] o período orçamental.
Logo a seguir ao Orçamento Rectificativo e antes do fim do ano fiscal. Sobretudo com a decisão do Governo de não transitar verbas de um ano para o outro, é visível uma grande subida nos últimos dois meses do ano. Finalizar os contractos presumo. Sendo que o país cuja importação é mais estável é a Indonésia, pois também está muito ligada ao sector privado. Enquanto que é o Estado a fazer a maior parte das importações dos outros países."
Infelizmente não há estatísticas que confirmem ou infirmem inequivocamente o comentário mas parece-me que há nele alguma razão de ser. Mesmo que não tenhamos a certeza de que as importações de outros países que não a Indonésia sejam, como reivindicado, maioritariamente efectuadas pelo Estado (ou para ele).
O mesmo comentarista anónimo (será? Pelo 'tom' parece que sim) deixou noutra 'entrada' outro comentário de que transcrevemos apenas uma parte, a que julgamos ser mais "substantiva":
"A compra de arroz não foi planeada com a atenção devida pois muito do arroz importado está a estragar-se nos armazéns.
E nos jornais, os produtores locais, queixam-se que ninguém quer comprar o arroz deles. Pois o arroz "MTCI" é bem mais barato do que eles produzem.
A Indonésia pela primeira vez em 2008, passou a ser um país exportador de arroz. Uma das prioridades do Susilo Bambang Yudhoyono (SBY) era que a Indonésia deixasse de estar dependente de outros países em relação ao arroz. Espero que Timor copie o exemplo."
Não sei se se confirma completamente o que alega sobre o estado de conservação do arroz nos armazéns e se se trata de um fenómeno pontual ou mais generalizado.
Mas já quanto ao resto do comentário não há dúvida que um dos resultados da subsidiação do arroz importado foi a queda da venda de arroz nacional com consequente desincentivo à sua produção.
Aparentemente alerta ao problema, o Governo pretendeu "emendar a mão" (parcialmente) através da distribuição de motocultivadores e de tractores. Porém, num contexto de falta de pontos de apoio técnico e de reparação desses equipamentos, estes podem vir a ter uma vida útil muito curta. Isto significa que a doação destes equipamentos NÃO me parece que seja alternativa à política de preços do arroz que tem vindo a ser seguida e que, creio, haveria vantagem em rever. Agora que o preço do arroz no mercado internacional é bem mais baixo que em meados do ano passado, parece-me a altura de o fazer.
Note-se que aqueles "insumos" técnicos se destinam a aumentar a produtividade por hectare e a produção total. Mas os rizicultores podem colocar-se a questão de saber para quê aumentar a produção se a não conseguem escoar? O que levanta a questão da congruência entre uma política de distribuição de apoios técnicos e uma de continuar a subsidiar mais ou menos fortemente o preço do arroz importado.
Por outro lado, nunca compreendi muito bem --- e creio que a Economia não consegue compreender muito bem... :-) --- porque é que o preço do arroz nacional tem sido sistematicamente muito superior ao preço do arroz importado.
Creio que há neste comportamento dos agricultores nacionais uma certa "herança do passado" que não lhes permitiu, deixando vir ao de cima o "homo oeconomicus" que existe neles, adaptarem-se completamente aos "tempos modernos", baixando o preço do seu arroz de modo a que ele se torne competitivo com o arroz importado. Se isto é verdade, como resolver a questão?
Mais cedo ou mais tarde a pressão do mercado virá (?) a ditar a sua lei mas como fazer que isso ocorra mais cedo em vez de mais tarde?
Por fim, a política (que chegou a ser anunciada) de passar a comprar arroz a subsidiar apenas em Timor Leste não nos parece exequível a curto-médio prazo devido ao diferencial existente entre a quantidade procurada e a produzida. Subsidiar (parcialmente) a produção nacional será uma alternativa. Veja-se o que neste domínio está a fazer a Indonésia, diferenciando significativamente os preços internos dos de importação (bem mais altos) mas é necessário ter atenção que a capacidade de aumentar a produção no país vizinho parece ser bem maior que a existente em Timor Leste.
quinta-feira, 19 de fevereiro de 2009
Importações: evolução mensal por países
É fácil de verificar que ao longo do ano se verificou progressivamente um aumento do valor mensal das importações e que esta tendência geral se manifesta, grosso modo, em todos os países representados --- ainda que de uma forma mais nítida no principal fornecedor do país, a Indonésia.
Repare-se igualmente na evolução das importações do Vietname, muito marcadas pelas importações de arroz. Infelizmente as Alfândegas e a Direcção Nacional de Estatística não divulgam informações cruzando a origem das importações e o tipo de produtos importados. Mas em relação ao Vietname não há grandes dúvidas sobre "de onde vem o quê"...
Em relação a este produto seria interessante dispor do preço por tonelada importada em cada mês --- particularmente o preço pago pelo importadores de "arroz do Governo" --- a fim de o comparar com o preço estipulado nos contratos entre o Governo e alguns importadores.
Sabendo-se, por outro lado, que o quilo de arroz nacional (da Indonésia) no país vizinho é de 50 centavos/kilo e que o preço do arroz importado é de 1 USD/kg, há que investigar se não estará a haver alguma reexportação --- via fronteira terrestre mas não só --- de arroz importado e subsidiado pelo Governo de Timor Leste para Timor Ocidental, por exemplo.
Estrutura da origem (países) das importações em 2008
Repare-se que a Indonésia fornece 42% das importações do país, seguida de Singapura, com 17% e a Austrália, com 14%.
A importância desta última encontra alguma justificação na forte presença de "internacionais" no país, que consomem produtos de uma qualidade média superior aos que vêm da Indonésia.
Responsável principal da importância desta no comércio externo é a factura petrolífera paga pelo país, assim como a importância significativa das importações de veículos têm reflexo parcial na importância dos fornecimentos de Singapura ao país.
Portugal representa apenas 1,2% das importações de Timor.
terça-feira, 17 de fevereiro de 2009
Uma simples continha de "sumir"...
O que não deixaria de ter fortes consequências sobre o valor global do Orçamento, que certamente veria comprometidos muitos dos projectos que dele constam.
Para se ter uma ideia da importância do impacto refira-se que a diferença de 150 milhões é bem mais que TODO o orçamento para este ano do Ministério das Infraestruturas (130 milhões USD).
Esta instabilidade deveria ser mais tomada em consideração na formulação dos Orçamentos, já que, aparentemente, o rendimento sustentável é apenas "mais ou menos sustentável"...
Não descurando as necessidades de desenvolvimento do país, terá de haver, no processo de formulação dos OGE anuais, um melhor enquadramento das capacidades de financiamento numa perspectiva de médio prazo (e não no curto prazo) e das próprias capacidades de execução orçamental.
É que por vezes fica-se com a sensação de que na formulação do orçamento se toma mais em consideração o que há HOJE na algibeira para gastar do que o que haverá na algibeira num período de cerca de 3 anos (p.ex.) e as despesas que somos capazes de efectuar. Mais olhos que barriga?
segunda-feira, 16 de fevereiro de 2009
Estatísticas monetárias de 2008: alguns elementos estatísticos
No gráfico abaixo representa-se a evolução de quatro desses agregados: as "disponibilidades líquidas sobre o exterior" (grosso modo os recursos financeiros de entidades com sede em Timor Leste depositados no estrangeiro), as "disponibilidade líquidas do Governo central" no sistema bancário do país --- principalmente no banco central, a própria ABP ---, os depósitos de particulares nos bancos comerciais e o volume de crédito ao sector privado concedido pela banca comercial (o Estado timorense não tem dívida pública interna ou externa).
Como se pode verificar as curvas representadas "casam" duas a duas.
A das disponibilidades líquidas sobre o exterior tem um comportamento ascendente a partir de meados do ano e, durante todo o ano, paralelo ao das disponibilidades líquidas do Governo Central. Isto porque elas correspondem essencialmente a depósitos da ABP no estrangeiro para garantir alguma rentabilidade dos recursos que o Governo tem nela depositados.
Uma alternativa (parcial) seria depositar parte destes recursos na banca comercial do país mas isso iria "encharcá-la" (ainda mais) de dinheiro. Como estes têm, eles próprios, acesso a depósitos do sector privado muito maiores do que os necessários ao financiamento dos empréstimos que concedem tenderiam usar esse excesso de liquidez para o depositarem no exterior.
O comportamento ao longo do tempo dos empréstimos também está representado no gráfico, sendo notória a grande estabilidade que eles conheceram no seu montante global.
Tal estabilidade, num país em desenvolvimento, não é bom sinal e traduz, aparentemente, uma atitude de "wait and see" por parte dos investidores e/ou uma atitude mais prudente por parte da banca na concessão de empréstimos --- não esquecer que os bancos que normalmente concedem crédito atravessaram um período difícil em 2006 e 2007 e estarão a tentar recompor-se dos níveis elevados de crédito mal-parado que têm nos seus activos.
Finalmente, saliente-se, no gráfico acima, que o segundo trimestre foi um período de elevado crescimento dos depósitos. É provável que o facto de estes terem sido meses de pagamento de muitas das indemnizações a vários grupos sociais do país tenha algo a ver com esta evolução.
sábado, 14 de fevereiro de 2009
Continuando...
Do gráfico abaixo percebe-se que o principal item quanto ao valor gasto na sua importação foi o "petróleo", designação genérica que abarca o conjunto dos produtos petrolíferos refinados importados. De facto, com 28,4% do total, ele fica bem à frente do "segundo classificado", os veículos (16,2% do total importado) e dos "cereais", de que o principal é o arroz (10,1%).
Repare-se que a soma dos valores dos dois primeiros items foi, só por si, de quase metade das importações (na verdade 44,6%), o que nos parece francamente excessivo mas justificado, em parte, pela subida significativa do preço do pretróleo durante o ano. De qualquer forma os números sugerem a necessidade de se pensar numa política energética e de importações de viaturas que faça descer esta (enorme) factura.
Os dois items seguintes em importância são as máquinas mecânicas e as eléctricas. Nestas últimas incluem-se muitos equipamentos de consumo (duradouro) --- máquinas para o lar, equipamentos de escritório, etc --- e isso deixa antever um esforço de equipamento "efectivamente produtivo" relativamente reduzido, o que não poderá deixar de ser considerado como preocupante numa perspectiva de desenvolvimento do país no médio-longo prazo. O que fica dito deve ser "qualified" já que, nomeadamente quanto aos equipamentos para escritório e para os vários hotéis/compounds entretanto abertos no país --- particularmente em Dili ---, parte deste material importado será, de facto, susceptível de ser considerado como produtivo.
Uma outra análise que se pode fazer dos valores da importação por produtos e do valor global das importações é o da sua ditribuição ao longo do tempo. É isso que é ilustrado no gráfico abaixo sobre a evolução mensal das importações.
Por ele se confirma que a subida significativa do valor do petróleo importado acompanhou, grosso modo, a evolução do preço internacional do crude e seus derivados, que subiram até Julho-Agosto, altura em que começaram a descer.
O gráfico permite também verificar a grande instabilidade das importações de "cereais" (leia-se: arroz). Infelizmente não dispomos de informação sobre a evolução dos preços médios da importação de arroz em cada mês de forma a poder compará-los com o preço do contrato de abastecimento assinado entre o Governo e duas empresas importadoras (900 USD/ton) e a evolução do preço do arroz no mercado internacional.
Essa informação é importate para determinar se o arroz importado ao abrigo do contrato referido terá sido, ou não, pago a um valor "justo" --- isto é, consentâneo com a evolução do preço no mercado internacional, em nítida queda desde meados do ano --- ou se, por ter sido assinado num momento em que os preços estavam no seu ponto mais alto, o Governo está a pagar mais do que pagaria se o arroz fosse comprado actualmente no mercado internacional a um preço próximo do deste mercado.
O gráfico permite também "visualizar" dois outros fenómenos:
a) o de que as importações mensais se mantiveram em valores relativamente estáveis nos primeiros meses do ano, tendo subido de valor de Junho em diante. Mais uma vez o preço do petróleo pode ser parte da justificação mas o referido comportamento tem de ter também outras justificações pois o preço do petróleo começou a descer mas o valor das importações foi aumentando, atingindo o record em Dezembro. Uma dessas outras explicações é a importação de veículos, cujo valor foi muito influenciado pela importação de viaturas para o Parlamento Nacional num processo de todos conhecido.
b) a importação de "veículos" terá sido, mesmo, a que teve uma subida mais consistente ao longo do ano. Acreditamos que a distribuição de dinheiro feita a vários grupos sociais em meados do ano e a redução significativa das taxas aduaneiras a partir de 1 de Juho de 2008 desempenharam um papel importante nesta evolução.
Isto faz-nos recordar o que dissemos --- e ouvimos outros, bem mais qualificados, dizer --- sobre a política de taxas alfandegárias (protecção aduaneira) então adoptada: ela corresponderá a uma liberalização das trocas externas "too much and too soon", que "ajuda" a economia nacional a, devido à disponibilidade de recursos para importar, quase "desistir" de produzir internamente alguns bens que, se houvesse alguma dose de protecção do mercado nacional, poderiam ser produzidos "dentro de portas" e ajudar a reduzir o problema do desemprego. Assim corre-se o risco de se instalar uma lógica de "para quê darmo-nos ao trabalho de produzir (mais caro?) cá dentro se podemos comprar (mais barato) lá fora e temos o dinheiro para o fazer?!...".
Esperemos para ver.
sexta-feira, 13 de fevereiro de 2009
Alguns dados estatísticos sobre o comércio externo de Timor Leste
Vem isto a propósito das últimas informações conhecidas sobre o comércio externo de Timor Leste, recolhidas em primeira mão pelos serviços alfandegários do país e depois trabalhadas e divulgadas pela Direcção Nacional de Estatística. Esta tem feito um grande esforço para produzir informações de qualidade mas admitimos que aqui e ali haja algumas falhas, nem sempre por culpa própria.
É o caso, por exemplo, das estatísticas do comércio externo pois, devido às circunstâncias em que decorreu a vida em Timor Leste em 2006 e 2007, as Alfândegas do país não foram capazes de disponibilizar dados completos sobre os movimentos de mercadorias (exportações e importações) nesses anos --- no último devido ao incêndio que devastou as suas instalações centrais em Dili.
Isto, além de nos deixar sem um boa informação relativamente ao que ocorreu no comércio externo do país naqueles anos, torna impossível um estudo da evolução ao longo do tempo desse comércio.
A título de exemplo, não há dados para os cinco últimos meses de 2007; quase meio-ano. Em relação a 2006 também não há informações completas. Isto faz com que os dados destes dois anos estejam incompletos.
Para colmatar esta falha de informação, o FMI procurou estimar os valores do comércio do país em 2006 e 2007 e na sua última publicação com dados estatísticos de Timor Leste diz que as importações e exportações nos dois anos referidos terão sido, respectivamente, 123 milhões de USD e 200 milhões para o caso das importações (2006 e 2007) e de 9 e 8 milhões, no caso das exportações (quase exclusivamente de café).
Note-se que as estatísticas oficiais registam, para as importações nos 10 meses de 2006 para que há valores disponíveis, um valor de cerca de 88 milhões. Se fizermos uma extrapolação destes valores para os 12 meses do ano, as importações poderão ter sido, segundo esta estimativa baseada nos dados oficiais, de cerca de 105 a 110 milhões de USD --- cerca de 10% menos que o estimado pelo Fundo.
Os dados estatísticos oficiais disponíveis para 2007 são relativos apenas a 5 meses, durante os quais se terá verificado uma média mensal de cerca de 17 milhões USD de importações. Uma extrapolação de valores permitirá "estimar" (muito grosseiramente) as importações totais em 2007 em cerca de 200 milhões, exactamente o valor estimado pelo Fundo Monetário Internacional.
E em 2008?
Os dados oficiais disponíveis (clique no quadro abaixo) permitem concluir que terá havido um total de cerca de 238 milhões de USD de importações de mercadorias (note-se que as destinadas a uso pela ONU e as forças militares internacionais não são aqui contabilizadas).
Quanto às exportações, elas terão atingido cerca de 12 milhões de USD --- mais uma vez quase só de café.
Note-se que o valor das importações constantes das estatísticas oficiais (para o ano de 2008 completo) está significativamente abaixo do valor que tinha sido estimado pelo Fundo: 309 milhões de USD. Esta estimativa ultrapassou em 70 milhões de USD os valores efectivamente verificados segundo os dados oficiais, o que constitui um "erro" de 30% em relação a estes.
É provável que a forte descida de determinados preços de bens importados durante o segundo semestre de 2008 (nomeadamente o petróleo e o arroz) e, eventualmente, um nível de actividade económica menor que o inicialmente previsto --- nomeadamente a uma despesa pública menor devido a dificuldades de execução do Orçamento --- sejam duas das principais razões para o desfasamento entre a estimativa do Fundo e a realidade observada.
Salientemos finalmente (por agora) um aspecto relativo às importações: as médias mensais em cada um dos trimestres foram sempre aumentando ao longo do ano, atingindo a do último trimestre quase o dobro da que se tinha registado no primeiro trimestre.
Mais uma vez, o facto de os preços médios no final do ano terem sido superiores aos do início é parte da explicação mas não é a única, certamente. Aparentemente está mesmo a verificar-se uma situação que não nos parece muito saudável sob o ponto de vista económico: o país está cada vez a importar proporcionalmente mais, gastando assim uma parte dos seus recursos em consumos não necessariamente reprodutivos no médio prazo.
Veremos se no futuro próximo esta tendência se mantém ou se é (pelo menos parcialmente) corrigida. Caso contrário poderá vir a intensificar-se a tendência a que o que entra na "banheira" graças à "torneira" dos recusos do Mar de Timor saia pelo "ralo" das importações sem que isso represente uma melhoria do sistema produtivo não-petrolífero do país. Para isso é importante que seja possível implementar efectivamente os projectos de investimento em infraestruturas e no aparelho produtivo nacional que estão previstos.
Mais para uma próxima 'entrada'...
terça-feira, 10 de fevereiro de 2009
Alteração do preço do petróleo e consequência sobre o "rendimento sustentável"
Para além de o FMI e outras entidades, agora é também a empresa de consultoria GCP que, em publicação de 28Jan passado vem dizer (veja-se imagem abaixo; enfases nossas) que o preço se situará, muito provavelmente, não nos 60 USD/barril estimados no Orçamento mas sim nos 50 USD/barril . E isto apesar de neste início de ano ele andar pelos cerca de 40 USD/barril e de ela admitir que na Primavera o preço pode, até, ser ainda mais baixo, na casa dos 30 e picos dólares.
O que fará o preço médio aumentar relativamente a estes últimos valores é o início do (lento) retomar da actividade económica em vários países mais afectados pela actual crise económica durante a segunda metade do ano e os cortes na produção que a OPEP já anunciou ir fazer no futuro.
Ora, que consequências é que esta evolução terá no recalcular do "rendimento sustentável" na já habitual revisão a meio do ano do Orçamento anual?
O próprio Orçamento de 2009 dá a resposta ao incluir um quadro sobre a sensibilidade desse "rendimento sustentável" às alterações dos pressupostos que permitiram o seu cálculo (veja-se o gráfico abaixo).
Da sua consulta resulta que se estima que uma redução de 10 USD/barril no preço médio do petróleo no mercado internacional provocará uma redução de 85 milhões de USD no valor global do referido "rendimento sustentável". Isto é: a confimar-se a descida de 60 para 50 USD/barril do preço médio do petróleo para 2009 o rendimento sustentável passará a ser de 323 milhões de USD em vez dos 408 actualmente previstos.
Curiosamente os 85 milhões de diferença são exactamente o que está orçamentado para este ano para a construção das duas centais eléctricas previstas e da rede de distribuição de energia --- num toal de 365 milhões a pagar até 2011.
Face a isto, será interessante ver qual será a estratégia do Governo aquando da revisão orçamental: irá reduzir o Orçamento global em conformidade com o valor de quebra do "rendimento sustentável"? Irá manter sensivelmente o valor global da despesa pública e pedir ao Parlamento Nacional que aprove uma retirada do Fundo para além daquele "rendimento" que compense a queda deste? E o que vai acontecer a estas "retiradas" extraordinárias? Será pedida a sua inconstitucionalidade tal como no ano passado? E se for? As alterações na composição do Tribunal de Recurso resultarão numa alteração da sua posição em relaçao ao passado recente?
O melhor é mesmo esperar para ver.
segunda-feira, 9 de fevereiro de 2009
Comentário aos comentários aos comentários... :-)
Há um conceito económico que é o de "termo de troca":
"Termo de troca (terms of trade) A taxa à qual as exportações são trocadas pelas importações; é dado pelo rácio entre o índice de preços das exportações (ou o valor médio unitário destas) e o índice de preços das importações (ou o seu valor unitário médio). Uma melhoria (degradação) dos termos de troca corresponde a um aumento (diminuição) deste rácio: um dado volume de exportações permite pagar um maior (menor) volume de importações" (vd um glossário de termos económicos criado por mim).
Se, como vamos fazer abaixo, calcularmos o rácio "ao contrário", trocando o denominador com o numerador, então uma subida do valor do rácio significa que a situação do país se degrada porque agora tem de exportar mais para obter a mesma quantidade do produto importado.
Vejamos um exemplo concreto:
o preço médio de cada tonelada de arroz (da melhor qualidade: Thai White 100% B second grade) em 2008 foi de 695 USD e o preço médio do barril de petróleo bruto foi de 98,24 USD. Dividindo o primeiro pelo segundo significa que cada tonelada de arroz "custou", no ano passado e em média, 7,07 barris de petróleo.
Por outro lado, os preços médios daqueles produtos em Janeiro deste ano foram, respectivamente, 385 USD/ton e 41,52 USD/barril; o rácio dá 9,27 barris de petróleo por tonelada de arroz.
Temos, pois, que, se medirmos o custo do arroz (importação de Timor Leste) em termos de barris de petróleo (exportação de TL), Timor tem agora de exportar mais barris de petróleo para comprar a mesma tonelada de arroz.
Conclusão? Apesar de as importações de Timor NÃO serem só de arroz e de as exportações serem quase só de petróleo, é provável que as contas acima dêem uma ideia aproximada dos ganhos e perdas relativas do país.
Fundo Petrolífero: os principais números em 31.Dezº.2008
Desse relatório reproduzimos abaixo o seu "Sumário Executivo":
"SUMÁRIO EXECUTIVO
O Fundo Petrolífero foi constituído pela entrada em vigor da Lei do Fundo Petrolífero, a qual foi promulgada em 3 de Agosto de 2005. A lei dá à ABP a responsabilidade pela gestão operacional do Fundo.
Este relatório refere-se ao período de 1 de Outubro a 31 de Dezembro de 2008.
Durante este período a ABP continuou a investir todos os fundos recebidos de acordo com o mandato acordado com o Ministério das Finanças em que se especifica uma benchmark de referência constituída por Títulos do Tesouro dos Estados Unidos com maturidade até cinco anos e em que são especificadas também determinadas medidas de desempenho da gestão dos fundos recebidos.
No decurso do trimestre o capital do Fundo cresceu de 3738,35 milhões de USD para 4196,97 milhões de USD, correspondentes a receitas brutas em dinheiro durante o trimestre de 585,81 milhões de USD, que incluem uma verba de 183,78 milhões de USD pagos pelos contribuintes a título de imposto e uma verba de 402,02 milhões USD correspondentes a “royalties”.
No trimestre verificou-se uma saída de dinheiro de 256,53 milhões de USD --- por uma transferência para o Orçamento de Estado de 256 milhões de USD e de uma taxa de gestão de 531,7 mil USD para a ABP --- enquanto que as entradas líquidas foram de 329,28 milhões de USD.
A carteira do Fundo Petrolífero rendeu no período 3,3% ou 330 pontos base enquanto que o rendimento da benchmark no trimestre foi de 3,36% ou 336 pontos base. O rendimento do Fundo Petrolífero foi, assim, 10 pontos base abaixo do da benchmark, o que o coloca dentro do intervalo de ±25 pontos base fixados como meta no seu mandato de gestão."
Com base nos relatórios trimestrais publicados desde o início do Fundo, em Setembro de 2005, construímos o quadro e o gráfico abaixo que sintetiza a principal informação sobre a sua vida.
Comentários aos comentários
Não sendo este o local para responder a todos os comentários --- um ou outro precisaria, provavelmente, de um "relambório" de muitas páginas... ---, aqui ficam algumas notas, as primeiras das quais copiadas de uma resposta que escrevi nos comentários do TLN.
1) Nestas coisas como em muitas outras há um "deve" e um "haver", as despesas e as receitas. O Dr. António Franco, ilustre economista moçambicano que dirige a delegação do Banco Mundial em Timor Leste, falou apenas de despesas e sabendo-se que houve uma queda significativa do preço do petróleo (importado) e do arroz (importado) é fácil concordar com ele de que Timor vai pagar menos pela mesma quantidade (ou até uma maior) destas importações; já não tenho a certeza que que TODAS as importações sofram o mesmo "destino", nomeadamente as destinadas aos grandes projectos --- até porque eles estão sujeitos a contratos aparentemente já assinados e que estipulam um preço que não será, previsivelmente, alterado seja qual for a conjuntura internacional. Mas nisto o que interessa realçar é o SALDO LÍQUIDO entre as despesas e as receitas e era a este saldo que eu me referia como não justificando "embandeirar em arco". Disse e repito... Moral da história: temos ambos razão naquilo que dizemos; só que não estamos a falar da mesma coisa --- um fala de alhos e outro de bugalhos... Como eu penso que se deve falar principalmente do saldo líquido dos dois lados do balanço e não de um só, penso que tenho mais razão que o meu amigo António Franco :-). Mas, provavelmente, se ele tivesse falado do mesmo que eu talvez (ele é que sabe e eu não o comprometo...) tivesse dito o mesmo que eu disse... Entendidos?
2) quanto ao acerto ou desacerto das previsões do Banco Mundial (e do FMI --- e, até minhas) aconselho os leitores a não serem tão crédulos. O Banco Mundial erra tanto como os outros porque é esse o malfadado destino de quem faz previsões. Se quiserem faço-lhe o historial recente das previsões do FMI em relação à evolução do produto mundial. Mas talvez baste recordar que em Novembro ele estimava que o preço médio do petróleo em 2009 seria de 68 USD/barril e dois meses depois já estimava que seria de 50 USD/barril --- apesar de dois meses antes já haver quem estimasse os mesmos 50 USD... Nestas coisas não há "bruxos" e infalíveis. E não me parece que nem o FMI nem o BM se possam gabar de serem infalíveis. Já vi o FMI prever uma taxa de crescimento para Timor Leste de +3% e depois reconhecer que afinal foi de... -6% ou lá perto... Portanto, já sabem: acreditar na Bíblia é uma questão de fé e não me parece que nem o BM, nem o FMI nem eu tenhamos o dom de acertar tudo sempre. "Defeito" de a Economia ser uma das Ciências Sociais e não um ramo das ciências exactas... É fundamental, pois, que as pessoas ponham de parte a ideia de que o que o BM ou o FMI ou outra instituição internacional de nomeada dizem é a verdade absoluta. Não é e têm de se habituar (as instituições e nós...) de que é assim.
3) (pelo menos) um dos comentários dá a entender que a política económica de Timor é uma resposta à crise económica mundial. É (para mim...) evidente que não é (ou, pelo menos, não o é principalmente; nem tinha de ser): a crise, com origem nos Estados Unidos, espalhou-se pelo mundo nomeadamente porque "de repente" quase deixou de haver dinheiro para financiar a actividade económica corrente, o que levou à queda da produção e, com ela, das importações. E se diminuem as importações de uns países isso significa que baixam as exportações de outros, o que vai produzir efeitos negativos nas economias exportadoras, desde as europeias às de vários países em desenvolvimento --- até a China está cofiando a barba a pensar se a deve pôr ou não de molho. Por isso "a coisa está preta" para tantos países: a queda de uma carta no "castelo de cartas" fez ruir este!
Ora os principais mecanismos de transmissão da crise para Timor passam pela queda dos preços do petróleo e pela queda da taxa de juros pois, para além do petróleo, Timor não exporta quase nada (é, como referiu a Ministra Emília Pires, uma economia importadora --- porque tem o dinheiro do petróleo para o fazer; lembro aqui a "minha" "teoria da banheira" referida algures lá para trás... ). Como, porém (e bem) a Lei do Fundo Petrolífero instituiu este não só para servir de poupança para as gerações futuras mas também --- e há muitos que esquecem este pormenor importante --- para servir de "tampão" entre as oscilações do preço internacional do petróleo e a economia nacional, os reflexos das alterações deste preço fazem-se sentir principalmente e em primeiro lugar no Fundo mas não necessariamente na economia pois a ligação entre o dinheiro do petróleo (e a economia mundial) e a economia nacional é o Orçamento de Estado e seu financiamento pelo Fundo. Como este E, PRINCIPALMENTE, A SUA EXECUÇÃO não foi/não será (?) significativamente afectado/a pela queda do preço do petróleo --- bem mais importante que ele é a capacidade de execução dos projectos, onde há MUITO a melhorar ---, a economia de Timor acaba por ficar relativamente "isolada" da crise. "Apenas" (e não é pouco...) o Fundo será afectado. Este "isolamento" é, neste caso, bom para o processo de crescimento.
4) Finalmente, um dos leitores diz que, do que escrevi, não compreende bem o que penso sobre a política económica de Timor Leste. Não fique triste por não ter compreendido... :-) Não compreendeu nem tinha de compreender... porque eu não falei do assunto! Se estiver atento ao que escrevi (está tudo aqui desde o início do blog...) e ao que virei a escrever é fácil deduzir o que penso: penso bem de umas coisas (p.ex., a decisão de ter acabado com os carry over e substitui-los pela necessária re-orçamentação sempre que seja necessário) e penso não muito bem (eu sou um diplomata a dizer as coisas... :-) ) de outras (por exemplo, a decisão em relação às centrais eléctricas --- penso que haverá alternativas melhores à decisão tomada sem colocar em risco o objectivo dela --- e a forma como feito o pagamento de várias subvenções no ano passado --- repito: a forma, não o conteúdo...).
Mas ainda aqui devo chamar a atenção para uma coisa: as análises das políticas económicas podem/devem ser feitas "antes" de elas serem implementadas mas devem, com maiores bases, ser feitas depois de o serem e em função dos resultados alcançados. Prometer (nomeadamente nos Orçamentos) é fácil; fazer, e principalmente de uma forma sustentada, é que é mais difícil. Em Timor ou em Portugal ou noutro país qualquer. Ou não se lembram da "estória" da criação de 150 mil novos empregos prometida pelo actual governo português. Lições: a) confiar desconfiando; b) no final a gente conversa...
5) tenho dito... :-)
sexta-feira, 6 de fevereiro de 2009
"Olhe que não, Drª! Olhe que não!..."
Lembrei-me desta frase a propósito do que alguns media relatam como tendo sido afirmações da Ministra das Finanças da RDTL, Drª Emília Pires, numa conferência de imprensa no rescaldo da aprovação do OGE2009.
Segundo essas fontes ela terá dito
“Como país que importa quase tudo e tem falta de infra-estruturas básicas, o colapso dos preços a nível global são uma dádiva do céu.”
“A Ministra de Finanças disse que na actual crise económica mundial, a desgraça de todos os outros tem sido uma "boa oportunidade" para Timor Leste...”
Sinceramente, não vejo como sustentar estas afirmações. Daí o "olhe que não, Drª!... Olhe que não!"
Vejamos uma das afirmações e que parece desempenhar um papel central na argumentação da Ministra: "o colapso generalizado dos preços".
Abaixo podemos ver os gráficos das estimativas mais recentes do FMI (Jan/09) sobre a evolução das taxas de inflação em 2009 e 2010 no conjunto das economias mais desenvolvidas e nas economias em desenvolvimento:
Deste gráfico pode deduzir-se que vai haver, de facto, uma forte redução da taxa de inflação mas que esta, nos países em desenvolvimento, vai apenas e quase no sentido de retomar as taxas anteriores à forte subida dos preços dos combustíveis (e algumas outras matérias primas) iniciada em 2005-06.
Quanto às economias mais avançadas a queda é para níveis historicamente muito baixos (cerca de 0,3% em vez dos anteriores 2,1% em 2007 e 3,5% em 2008) mas, tal como no caso dos países em desenvolvimento, deve-se à conjugação de uma forte queda do preço das matérias primas (principalmente o petróleo) e da queda da procura a nível mundial devido à falta de dinheiro disponível no mercado.
Mas será esta "desgraça dos outros" suficientemente forte para justificar que se diga que isso é "uma boa oportunidade para Timor"? Repare-se que os preços vão continuar a subir --- e não a baixar; o seu ritmo de subida é que vai abrandar um bom bocado... O que não é bem a mesma coisa... Terá havido aqui algum "tomar a nuvem por Juno", isto é confundir queda da taxa de inflação com queda dos preços. O que vai acontecer é que os preços --- em média mundial --- vão passar de 100 para 102,5 em vez de para 105, p.ex; eles NÃO vão baixar para 95! A não ser uns quantos, como se vê adiante). Onde está, então, o "colapso dos preços"?
Isto é: a queda dos preços (em geral) NÃO se vai verificar apesar da forte queda do ritmo da sua subida. Por isso não me parece que seja de se "embandeirar em arco" até porque... há preços e preços...
De facto, dos preços que interessam a Timor o preço que mais vai descer em relação ao passado recente é o do petróleo --- mas este é exactamente o preço que interessava a Timor Leste que se mantivesse mais alto para maximizar as receitas petrolíferas, o capital do Fundo Petrolífero e... o rendimento deste transferível para financiar o Orçamento do país.
Não vejo, portanto, em que é que isto beneficia o Timor Leste. Antes pelo contrário já que as poupanças que se fazem na importação dos derivados (destilados) do petróleo não compensam o que se perde na exportação do petróleo bruto. É bom não esquecer que as estimativas actuais são de que o preço médio do petróleo em 2009 será de 50 USD, contra os cerca de 100 no ano passado --- uma queda para metade! Hoje está nos cerca de 40 USD/barril.
Dois outros preços muito importantes para Timor Leste são o do arroz e o do café. Do primeiro porque a população depende significativamente, para a sua alimentação, do arroz importado --- mais "as cidades [do qu]e as serras".
Aqui não há dúvida: o país vai beneficiar (proporcionalmente mais o governo do que as pessoas porque aquele vai ver baixar significativamente (?) o nível do subsídio a conceder na venda de arroz).Quanto ao café, porque ele é praticamente o único produto não-petrolífero exportado pelo país, a possível queda do seu preço prejudica o país e, em particular, os cultivadores timorenses.
Até agora, portanto, parece-nos que não há nada que justifique o entusiasmo da Ministra das Finanças.
Mas então em que estava ela a pensar quando disse o que disse --- e, na minha opinião, não devia ter dito... Mas disse e está dito não advindo daí grande mal ao mundo. Como um colega meu explicava ao professor de Português por se rir quando já todos estavam calados: "saíu-lhe pela boca"...
O raciocínio parece ser simples --- mesmo simplista... --- e ser do tipo: compramos quase tudo no exterior e vamos comprar tudo mais barato! Claro que o "tudo" aqui é uma força de expressão. Timor Leste é, de facto, principalmente importador (comprador no mercado internacional) mas a verdade é que também é exportador. Principalmente de petróleo e gás natural, cujos preços estão em forte queda, como vimos.
No que a Ministra estava também a pensar --- "penso seu de que", na versão Pinto da Costa --- é que a construção das tão apregoadas infraestruturas iria ser agora também mais barata. Mas isso não é necessariamente assim: é que boa parte delas serão contratadas no exterior e os preços a pagar não serão necessariamente mais baixos por causa da crise. Até porque haverá também que ter em atenção a evolução da taxa de câmbio do USD, que não permite grandes optimismos.
Finalmente, há que ter em consideração o que se passa quanto às taxas de inflação nos países vendedores. Sendo a Indonésia fornecedora de cerca de metade das importações de Timor Leste, interessa saber o que se vai passar neste país quanto à inflação. O gráfico abaixo ilustra a evolução recente da taxa de inflação na Indonésia
Depois de ter atingido os 12,1% em Setembro passado (relativamente a Setembro de 2007), a taxa de inflação começou a diminuir e em Janeiro passado estava nos 9,2% (face a Jan/08). A taxa meta estipulada pelo Bank Sentral Indonesia para 2009 é, no entanto, 4,5% (+/- 1%).
Mais uma vez não se trata de baixa dos preços mas sim de um menor ritmo de subida deles.
Moral da história: parece-me que não há, de facto, razões para grandes euforias. Embora se possa esfregar as mãos de contente por ir pagar um pouco menos do que se pensava vir a pagar... Mas será isso suficente para esquecer que as receitas (petrolíferas) vão ser muitoooo menores que no passado recente? Naaaaaa...
E isto para não falar de um aspecto já aqui referido noutras ocasiões: o de que as taxas de juro e o montante dos juros a receber pelo Fundo Petrolífero vão ser, no futuro próximo, muito mais baixos.
Onde está então a "boa oportunidade para Timor"? Pagar um bocadinho menos do que se julgava que se ía pagar com bem menos dinheiro vivo na algibeira? Bah!...
E para os mais dados a coisas mais "radicais"...
quinta-feira, 5 de fevereiro de 2009
Ainda a questão da tracção animal
"Pura e simplesmente vergonha.
E também um pouco porque nem os Indonésios utilizam esse sistema de transporte bovino (STB). Já fui a várias das ilhas indonésias (Java, Sumatra, Bali, Kalimantan) e raramente é utilizado como transporte. Uma vez que da experiência deles vem dos Indonésios e dos Portugueses e nenhum deles utilizada o STB eles também não o utilizam.
E agora com tantos carros a serem distribuídos muito menos.
Status conta e quem anda de STB nunca poderia ter um status muito elevado."
A isto eu respondi:
"Não o mencionei no meu texto [a questão da vergonha e do status] mas por vezes tenho colocado essa hipótese mas, principalmente, a "contrária": i.e., não é apenas um caso de "status" do homem mas (mais?) uma questão de status do animal. Tendo os karaus e os kudas um papel tão importante no imaginário das populações (nomeadamente como símbolos de riqueza), é possível que os donos não queiram "degradar" o estatuto dos animais porque, indirectamente, isso será uma forma "degradar" o seu próprio estatuto. Fará esta hipótese algum sentido?"
O que pensam disto? Quem sabe a resposta?
PS - Podem ver AQUI informações sobre a tracção animal nos países em desenvolvimento
quarta-feira, 4 de fevereiro de 2009
Quem sabe a resposta?
Admito que uma das razões para a não utilização de karaus seja o facto de eles serem vistos fundamentalmente como um "stock de riqueza" (nomeadamente ligado ao barlaque) e não como um "fluxo de rendimento" (desculpem a linguagem de economista mas é assim mesmo...). E isto apesar de eles serem utilizados por vezes para pisotear (pisar e revolver) os terrenos de cultivo de arroz --- caso de Manatuto, por exemplo, onde já os vi desempenhando essa tarefa (vd foto abaixo).
Mas mesmo sendo um "stock" não se compreende porque não é utilizado.
Será que o mau estado das estradas tem influência nisso? Tal como na utilização dos outros animais?
A utilização de animais puxando uma carroça para transporte de carga e de pessoas seria uma boa contribuição para a circulação de pessoas e bens em Timor Leste, principalmente nas zonas rurais.
Além disso, a tecnolgia para a construção das carroças é simples e perfeitamente à altura de uns quantos "jeitosos" que se dediquem a esse trabalho, aumentando e diversificando o emprego nas zonas rurais.
Mais, contrariamente a outros meios de transporte, a sua utilização não implicaria a necessidade de importar materiais já que quase todos eles podem ser encontrados com facilidade no país. O que não faltam são rodas e pneus "salvados" de automóveis, mikroletes e outros que podem ser reciclados para uso nestes meios de tracção animal. Tal como não falta madeira.
Por outro lado, as necessidades de importar motos e gasolina diminuiriam.
E por falar em motos e gasolina: não me admirava nada que a prática de preços subsidiados dos combustíveis no tempo da administração indonésia tenha desempenhado um papel no desincentivo ao uso da tracção animal. Está na hora de começar a corrigir isso.
Uma forma de o fazer, seguindo a (boa) tradição de Singapura de fazer "campanhas para isto" e "campanhas para aquilo", seria o Governo fazer uma campanha para incentivar o uso da tracção animal para o transporte de pessoas e bens e, porque não e em alguns casos, para lavrar a terra?
Dessa campanha poderia fazer parte a entrega de algumas "carroças" "made in Timor" aos camponeses...
Para facilitar o transporte poderiam também ser oferecidos ou vendidos a preço convidativo atrelados metálicos para serem puxados por motoretas. Estou-me a lembrar, por exemplo, das "moto taxi" que se vêm a circular em algumas zonas do país; eu vi-as em Atabae. Com um atrelado apropriado, de tecnologia simples, poderiam transportar carga e passageiros. Já viram os que os vendedores ambulantes chineses que agora há em Timor utilizam?
Isto é: o segredo está, creio, em encontrar algumas soluções (tecnologicamente) relativamente simples mas que são de grande utilidade. É que, nomeadamente nas montanhas, custa-me ver as pessoas subindo, subindo, a passo de caracol, levando 2 e 3 horas para percorrerem escassos quilómetros.
Enfim: se houver por aí alguém que ajude a explicar o mistério da não utilização da tracção animal em Timor Leste e que tenha sugestões para a incentivar, faça favor... A palavra é sua!
terça-feira, 3 de fevereiro de 2009
Tractores, motocultivadores e outros que tais...
Uma parte desse apoio passa (já está a passar) pela entrega de tractores e de motocultivadores.
Diz a experiência que é muito importante ser cuidadoso na distribuição deste tipo de máquinas. Na verdade, a experiência de outras paragens --- com que tive, inclusivé, contacto directo em Moçambique há já uns bons anos --- é de que, na falta de peças e de oficinas de reparação destes equipamentos, a sua vida útil acaba por ser muito curta porque qualquer avaria --- por vezes relativamente, simples ou, pelo menos, não muito complicada --- se torna numa dor de cabeça para os agricultores por não haver técnicos/oficinas preparados para a corrigir e, principalmente, por não haver peças sobressalentes facilmente disponíveis no mercado.
Assim, não é incomum que os primeiros tractores a "cairem para o lado" acabem por servir de fonte de peças para arranjar outros, sendo "canibalizados" rapidamente e condenando desde logo a sua eventual, futura, recuperação.
A não ser acautelada esta situação, a vida útil destes equipamentos pode reduzir-se significativamente. Veremos quantos deles estarão ainda operacionais dentro de, por exemplo, 3 anos. Lembram-se dos tractores e das arcas frigoríficas que a RPChina ofereceu há alguns anos atrás a Timor? Cadê eles? Quantos ainda sobrevivem?
segunda-feira, 2 de fevereiro de 2009
Alguns dados estatísticos sobre o petróleo no mundo de hoje
É o caso, pore xemplo, do seu Anuário Estatístico, o último dos quais se refere a 2007.
É daí que retirámos o conjunto de gráficos cuja imagem global se pode ver abaixo:
Há também um mapa interessante sobre o comércio mundial de petróleo ou, melhor, sobre as exportações dos países da Organização.