As estatísticas (económicas) são para os economistas o que o estetoscópio é para os médicos: é com elas (mas não só) que eles "auscultam" as economias dos países e fazem o diagnóstico das suas "maleitas" --- primeiro passo para as atacar e curar. Daí a GRANDE importância em ter um bom "estetoscópio" --- leia-se um bom aparelho estatístico, com informações dignas de confiança sobre a evolução de várias variáveis económicas.
Vem isto a propósito das últimas informações conhecidas sobre o comércio externo de Timor Leste, recolhidas em primeira mão pelos serviços alfandegários do país e depois trabalhadas e divulgadas pela Direcção Nacional de Estatística. Esta tem feito um grande esforço para produzir informações de qualidade mas admitimos que aqui e ali haja algumas falhas, nem sempre por culpa própria.
É o caso, por exemplo, das estatísticas do comércio externo pois, devido às circunstâncias em que decorreu a vida em Timor Leste em 2006 e 2007, as Alfândegas do país não foram capazes de disponibilizar dados completos sobre os movimentos de mercadorias (exportações e importações) nesses anos --- no último devido ao incêndio que devastou as suas instalações centrais em Dili.
Isto, além de nos deixar sem um boa informação relativamente ao que ocorreu no comércio externo do país naqueles anos, torna impossível um estudo da evolução ao longo do tempo desse comércio.
A título de exemplo, não há dados para os cinco últimos meses de 2007; quase meio-ano. Em relação a 2006 também não há informações completas. Isto faz com que os dados destes dois anos estejam incompletos.
Para colmatar esta falha de informação, o FMI procurou estimar os valores do comércio do país em 2006 e 2007 e na sua última publicação com dados estatísticos de Timor Leste diz que as importações e exportações nos dois anos referidos terão sido, respectivamente, 123 milhões de USD e 200 milhões para o caso das importações (2006 e 2007) e de 9 e 8 milhões, no caso das exportações (quase exclusivamente de café).
Note-se que as estatísticas oficiais registam, para as importações nos 10 meses de 2006 para que há valores disponíveis, um valor de cerca de 88 milhões. Se fizermos uma extrapolação destes valores para os 12 meses do ano, as importações poderão ter sido, segundo esta estimativa baseada nos dados oficiais, de cerca de 105 a 110 milhões de USD --- cerca de 10% menos que o estimado pelo Fundo.
Os dados estatísticos oficiais disponíveis para 2007 são relativos apenas a 5 meses, durante os quais se terá verificado uma média mensal de cerca de 17 milhões USD de importações. Uma extrapolação de valores permitirá "estimar" (muito grosseiramente) as importações totais em 2007 em cerca de 200 milhões, exactamente o valor estimado pelo Fundo Monetário Internacional.
E em 2008?
Os dados oficiais disponíveis (clique no quadro abaixo) permitem concluir que terá havido um total de cerca de 238 milhões de USD de importações de mercadorias (note-se que as destinadas a uso pela ONU e as forças militares internacionais não são aqui contabilizadas).
Quanto às exportações, elas terão atingido cerca de 12 milhões de USD --- mais uma vez quase só de café.
Note-se que o valor das importações constantes das estatísticas oficiais (para o ano de 2008 completo) está significativamente abaixo do valor que tinha sido estimado pelo Fundo: 309 milhões de USD. Esta estimativa ultrapassou em 70 milhões de USD os valores efectivamente verificados segundo os dados oficiais, o que constitui um "erro" de 30% em relação a estes.
É provável que a forte descida de determinados preços de bens importados durante o segundo semestre de 2008 (nomeadamente o petróleo e o arroz) e, eventualmente, um nível de actividade económica menor que o inicialmente previsto --- nomeadamente a uma despesa pública menor devido a dificuldades de execução do Orçamento --- sejam duas das principais razões para o desfasamento entre a estimativa do Fundo e a realidade observada.
Salientemos finalmente (por agora) um aspecto relativo às importações: as médias mensais em cada um dos trimestres foram sempre aumentando ao longo do ano, atingindo a do último trimestre quase o dobro da que se tinha registado no primeiro trimestre.
Mais uma vez, o facto de os preços médios no final do ano terem sido superiores aos do início é parte da explicação mas não é a única, certamente. Aparentemente está mesmo a verificar-se uma situação que não nos parece muito saudável sob o ponto de vista económico: o país está cada vez a importar proporcionalmente mais, gastando assim uma parte dos seus recursos em consumos não necessariamente reprodutivos no médio prazo.
Veremos se no futuro próximo esta tendência se mantém ou se é (pelo menos parcialmente) corrigida. Caso contrário poderá vir a intensificar-se a tendência a que o que entra na "banheira" graças à "torneira" dos recusos do Mar de Timor saia pelo "ralo" das importações sem que isso represente uma melhoria do sistema produtivo não-petrolífero do país. Para isso é importante que seja possível implementar efectivamente os projectos de investimento em infraestruturas e no aparelho produtivo nacional que estão previstos.
Mais para uma próxima 'entrada'...
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