quarta-feira, 4 de fevereiro de 2009

Quem sabe a resposta?

A propósito da 'entrada' anterior lembrei-me de um aspecto que sempre me fez alguma "espécie": havendo tantos animais em Timor Leste (karaus, bois de Bali, bois de Timor, kudas), porque é que nunca vi uma única "carroça de bois" (oxcart) em nenhuma das estradas por onde tenho andado? E isto apesar de na maioria dos outros países do Sudeste Asiático o uso da tracção animal quer para as tarefas agrícolas quer para transporte de pessoas e bens ser relativamente vulgar.


Admito que uma das razões para a não utilização de karaus seja o facto de eles serem vistos fundamentalmente como um "stock de riqueza" (nomeadamente ligado ao barlaque) e não como um "fluxo de rendimento" (desculpem a linguagem de economista mas é assim mesmo...). E isto apesar de eles serem utilizados por vezes para pisotear (pisar e revolver) os terrenos de cultivo de arroz --- caso de Manatuto, por exemplo, onde já os vi desempenhando essa tarefa (vd foto abaixo).


Mas mesmo sendo um "stock" não se compreende porque não é utilizado.
Será que o mau estado das estradas tem influência nisso? Tal como na utilização dos outros animais?
A utilização de animais puxando uma carroça para transporte de carga e de pessoas seria uma boa contribuição para a circulação de pessoas e bens em Timor Leste, principalmente nas zonas rurais.
Além disso, a tecnolgia para a construção das carroças é simples e perfeitamente à altura de uns quantos "jeitosos" que se dediquem a esse trabalho, aumentando e diversificando o emprego nas zonas rurais.


Mais, contrariamente a outros meios de transporte, a sua utilização não implicaria a necessidade de importar materiais já que quase todos eles podem ser encontrados com facilidade no país. O que não faltam são rodas e pneus "salvados" de automóveis, mikroletes e outros que podem ser reciclados para uso nestes meios de tracção animal. Tal como não falta madeira.
Por outro lado, as necessidades de importar motos e gasolina diminuiriam.

E por falar em motos e gasolina: não me admirava nada que a prática de preços subsidiados dos combustíveis no tempo da administração indonésia tenha desempenhado um papel no desincentivo ao uso da tracção animal. Está na hora de começar a corrigir isso.
Uma forma de o fazer, seguindo a (boa) tradição de Singapura de fazer "campanhas para isto" e "campanhas para aquilo", seria o Governo fazer uma campanha para incentivar o uso da tracção animal para o transporte de pessoas e bens e, porque não e em alguns casos, para lavrar a terra?
Dessa campanha poderia fazer parte a entrega de algumas "carroças" "made in Timor" aos camponeses...
Para facilitar o transporte poderiam também ser oferecidos ou vendidos a preço convidativo atrelados metálicos para serem puxados por motoretas. Estou-me a lembrar, por exemplo, das "moto taxi" que se vêm a circular em algumas zonas do país; eu vi-as em Atabae. Com um atrelado apropriado, de tecnologia simples, poderiam transportar carga e passageiros. Já viram os que os vendedores ambulantes chineses que agora há em Timor utilizam?

Isto é: o segredo está, creio, em encontrar algumas soluções (tecnologicamente) relativamente simples mas que são de grande utilidade. É que, nomeadamente nas montanhas, custa-me ver as pessoas subindo, subindo, a passo de caracol, levando 2 e 3 horas para percorrerem escassos quilómetros.

Enfim: se houver por aí alguém que ajude a explicar o mistério da não utilização da tracção animal em Timor Leste e que tenha sugestões para a incentivar, faça favor... A palavra é sua!

6 comentários:

Anónimo disse...

Eu sei a resposta senhor professor Serra:(responde o menino Carlinhos).

E que em Timor os bois sao todos membros do partido mais acerrimo defensor do povo, a fretilin!
Por isso eles tornaram-se rai nain.

Ze da labia

Anónimo disse...

Pura e simplesmente vergonha.

E também um pouco porque nem os Indonésios utilizam esse sistema de transporte bovino (STB). Já fui a várias das ilhas indonésias (Java, Sumatra, Bali, Kalimantan) e raramente é utilizado como transporte. Uma vez que da experiência deles vem dos Indonésios e dos Portugueses e nenhum deles utilizada o STB eles também não o utilizam.

E agora com tantos carros a serem distribuídos muito menos.

Status conta e quem anda de STB nunca poderia ter um status muito elevado.

Pela mesma razão lhe pergunto, porque é que não há ninguém para engraxar sapatos em Díli? Com tantas poeiras e tantos malaes trabalho não faltaria. Mas a vergonha é muita.

Assim anda Timor

Anónimo disse...

Engraxar sapatos!

Uma boa ideia para que tem de ser legislada, para que os ex-ministros e demais tenham o seu tempo ocupado.
Ja vejo uns slogans!
"Engraxa sapato ex-primeiro ministro style, $10 dollares"

"Engraxa pata descalca, povo style,
$1 dollar"

"Engraxa sapato, PRM style, 1 bufalo"

"Engraxa sapato Dr.Rosa style, 1 pontape no cu.

Ze da Labia

Anónimo disse...

Caro anónimo da 1:13h: muito obrigado pela sua útil contribuição.
Não o mencionei no meu texto mas por vezes tenho colocado essa hipótese mas, principalmente, a "contrária": i.e., não era apenas um caso de "status" do homem mas (mais?) uma questão de status do animal. Tendo os karaus e os kudas um papel tão importante no imaginário das populações (nomeadamente como símbolos de riqueza), é possível que os donos não queiram "degradar" o estatuto dos animais porque, indirectamente, isso será uma forma "degradar" o seu próprio estatuto. Fará esta hipótese algum sentido?
Mais uma vez, muito obrigado pelo seu comentário.
A. Serra

Anónimo disse...

"Ze da Labia",

Neste blog tratamos, com seriedade e educação, de assuntos sérios. Se não for capaz de obedecer a estes dois critérios cumulativamente serei obrigado a introduzir o "controlo de comentários" para evitar que pessoas com demasiada lábia "infestem" este blog como já infestaram outros.
Se tiver comentários de natureza económica a fazer e que ajudem todos os leitores, será bem vindo! Caso contrário, nomeadamente se pretender fazer comentários ordinários de natureza política --- seja de que cor forem --- gostaria que compreendesse que não tem lugar aqui.
Muito obrigado
A. Serra

Anónimo disse...

YES SIR!

Ze Sem Labia No More