Quer aqui quer, principalmente, no blog Timor Lorosae Nação (que fez o favor de me citar e remeter para o meu escrito) houve alguns comentários ao que escrevi na entrada anterior sobre declarações da Ministra das Finanças.
Não sendo este o local para responder a todos os comentários --- um ou outro precisaria, provavelmente, de um "relambório" de muitas páginas... ---, aqui ficam algumas notas, as primeiras das quais copiadas de uma resposta que escrevi nos comentários do TLN.
1) Nestas coisas como em muitas outras há um "deve" e um "haver", as despesas e as receitas. O Dr. António Franco, ilustre economista moçambicano que dirige a delegação do Banco Mundial em Timor Leste, falou apenas de despesas e sabendo-se que houve uma queda significativa do preço do petróleo (importado) e do arroz (importado) é fácil concordar com ele de que Timor vai pagar menos pela mesma quantidade (ou até uma maior) destas importações; já não tenho a certeza que que TODAS as importações sofram o mesmo "destino", nomeadamente as destinadas aos grandes projectos --- até porque eles estão sujeitos a contratos aparentemente já assinados e que estipulam um preço que não será, previsivelmente, alterado seja qual for a conjuntura internacional. Mas nisto o que interessa realçar é o SALDO LÍQUIDO entre as despesas e as receitas e era a este saldo que eu me referia como não justificando "embandeirar em arco". Disse e repito... Moral da história: temos ambos razão naquilo que dizemos; só que não estamos a falar da mesma coisa --- um fala de alhos e outro de bugalhos... Como eu penso que se deve falar principalmente do saldo líquido dos dois lados do balanço e não de um só, penso que tenho mais razão que o meu amigo António Franco :-). Mas, provavelmente, se ele tivesse falado do mesmo que eu talvez (ele é que sabe e eu não o comprometo...) tivesse dito o mesmo que eu disse... Entendidos?
2) quanto ao acerto ou desacerto das previsões do Banco Mundial (e do FMI --- e, até minhas) aconselho os leitores a não serem tão crédulos. O Banco Mundial erra tanto como os outros porque é esse o malfadado destino de quem faz previsões. Se quiserem faço-lhe o historial recente das previsões do FMI em relação à evolução do produto mundial. Mas talvez baste recordar que em Novembro ele estimava que o preço médio do petróleo em 2009 seria de 68 USD/barril e dois meses depois já estimava que seria de 50 USD/barril --- apesar de dois meses antes já haver quem estimasse os mesmos 50 USD... Nestas coisas não há "bruxos" e infalíveis. E não me parece que nem o FMI nem o BM se possam gabar de serem infalíveis. Já vi o FMI prever uma taxa de crescimento para Timor Leste de +3% e depois reconhecer que afinal foi de... -6% ou lá perto... Portanto, já sabem: acreditar na Bíblia é uma questão de fé e não me parece que nem o BM, nem o FMI nem eu tenhamos o dom de acertar tudo sempre. "Defeito" de a Economia ser uma das Ciências Sociais e não um ramo das ciências exactas... É fundamental, pois, que as pessoas ponham de parte a ideia de que o que o BM ou o FMI ou outra instituição internacional de nomeada dizem é a verdade absoluta. Não é e têm de se habituar (as instituições e nós...) de que é assim.
3) (pelo menos) um dos comentários dá a entender que a política económica de Timor é uma resposta à crise económica mundial. É (para mim...) evidente que não é (ou, pelo menos, não o é principalmente; nem tinha de ser): a crise, com origem nos Estados Unidos, espalhou-se pelo mundo nomeadamente porque "de repente" quase deixou de haver dinheiro para financiar a actividade económica corrente, o que levou à queda da produção e, com ela, das importações. E se diminuem as importações de uns países isso significa que baixam as exportações de outros, o que vai produzir efeitos negativos nas economias exportadoras, desde as europeias às de vários países em desenvolvimento --- até a China está cofiando a barba a pensar se a deve pôr ou não de molho. Por isso "a coisa está preta" para tantos países: a queda de uma carta no "castelo de cartas" fez ruir este!
Ora os principais mecanismos de transmissão da crise para Timor passam pela queda dos preços do petróleo e pela queda da taxa de juros pois, para além do petróleo, Timor não exporta quase nada (é, como referiu a Ministra Emília Pires, uma economia importadora --- porque tem o dinheiro do petróleo para o fazer; lembro aqui a "minha" "teoria da banheira" referida algures lá para trás... ). Como, porém (e bem) a Lei do Fundo Petrolífero instituiu este não só para servir de poupança para as gerações futuras mas também --- e há muitos que esquecem este pormenor importante --- para servir de "tampão" entre as oscilações do preço internacional do petróleo e a economia nacional, os reflexos das alterações deste preço fazem-se sentir principalmente e em primeiro lugar no Fundo mas não necessariamente na economia pois a ligação entre o dinheiro do petróleo (e a economia mundial) e a economia nacional é o Orçamento de Estado e seu financiamento pelo Fundo. Como este E, PRINCIPALMENTE, A SUA EXECUÇÃO não foi/não será (?) significativamente afectado/a pela queda do preço do petróleo --- bem mais importante que ele é a capacidade de execução dos projectos, onde há MUITO a melhorar ---, a economia de Timor acaba por ficar relativamente "isolada" da crise. "Apenas" (e não é pouco...) o Fundo será afectado. Este "isolamento" é, neste caso, bom para o processo de crescimento.
4) Finalmente, um dos leitores diz que, do que escrevi, não compreende bem o que penso sobre a política económica de Timor Leste. Não fique triste por não ter compreendido... :-) Não compreendeu nem tinha de compreender... porque eu não falei do assunto! Se estiver atento ao que escrevi (está tudo aqui desde o início do blog...) e ao que virei a escrever é fácil deduzir o que penso: penso bem de umas coisas (p.ex., a decisão de ter acabado com os carry over e substitui-los pela necessária re-orçamentação sempre que seja necessário) e penso não muito bem (eu sou um diplomata a dizer as coisas... :-) ) de outras (por exemplo, a decisão em relação às centrais eléctricas --- penso que haverá alternativas melhores à decisão tomada sem colocar em risco o objectivo dela --- e a forma como feito o pagamento de várias subvenções no ano passado --- repito: a forma, não o conteúdo...).
Mas ainda aqui devo chamar a atenção para uma coisa: as análises das políticas económicas podem/devem ser feitas "antes" de elas serem implementadas mas devem, com maiores bases, ser feitas depois de o serem e em função dos resultados alcançados. Prometer (nomeadamente nos Orçamentos) é fácil; fazer, e principalmente de uma forma sustentada, é que é mais difícil. Em Timor ou em Portugal ou noutro país qualquer. Ou não se lembram da "estória" da criação de 150 mil novos empregos prometida pelo actual governo português. Lições: a) confiar desconfiando; b) no final a gente conversa...
5) tenho dito... :-)
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