quinta-feira, 1 de janeiro de 2009

Ó se faz favor! Pode explicar isto da electricidade em TL?!...

Este ano foi definido pelo Governo como o "ano das infraestruturas". Nesse sentido orçamentaram-se quase 180 milhões USD (num total de despesas de 681 milhões) para "capital de desenvolvimento" --- "curiosamente" uma verba praticamente igual ao "excedente" do Fundo Petrolífero que se quer utilizar.
Destas despesas de capital 12,8 milhões correspondem a obras a decorrer no âmbito do Ministério da Educação, essencialmente construção ou reabilitação de escolas. São obras espalhadas um pouco por todo o país e, na sua esmagadora maioria, de pequena/média dimensão, ao alcance das pequenas e médias empresas de construção civil de Timor Leste, o que constitui uma boa ajuda para o desenvolvimento destas empresas. Clap! Clap! Clap!...
Mas, como seria de esperar, o principal "bolo" vai para o Ministério das Infraestrutras, com cerca de 117 milhões de USD. Muito deste dinheiro vai também ser espalhado um pouco por todo o país na reabilitação de vias de comunicação. O rigor da actual época das chuvas pode tornar a verba prevista para estas obras relativamente "curta".
Mas o "el gordo" --- nome corrente do maior prémio da lotaria espanhola do Natal --- vai para a construção de infraestruturas de produção e de distribuição de electricidade. Curiosamente e sem se perceber bem porquê, o Orçamento não discrimina entre estas duas tarefas. No entanto, no Orçamento rectificado de 2008 essa discriminação existia e para 2009 previam-se 35 milhões para construção e 95 para a distribuição através da rede eléctrica a montar (note-se que a soma destas verbas para 2009, que era de 130 milhões, vem agora reduzida para 85 milhões).

A produção de energia será feita por duas centrais que vão usar "óleos pesados", importados, a construir em Manatuto (120 Megawatts) e na costa sul (60 megawatts). As duas centrais estarão operacionais, previsivelmente, em 2011 (data dos últimos pagamentos reportados no OGE2009).
Acrescente-se que os 180 megawatts a instalar ultrapassam significativamente os cerca de 110 megawatts que um estudo do Banco Mundial previu como consumo em... 2025!
Mesmo que o estudo tenha deficiências e esteja desactualizado, parece, à partida, difícil que o erro seja tão grande quanto o que teria de ser para justificar dispor, dentro de cerca de dois anos e meio, de uma capacidade de produção de 180 megawatts.
Isto significa que as centrais a construir estarão, aparentemente, sobredimensionadas durante vários anos. A não ser que se concretize a aspiração do Governo de entretanto ser possível arrancar com um processo de insdustrialização do país em torno, nomeadamente, das actividades ligadas à fábrica a instalar (?) para liquefazer o gás do Greater Sunrise.

Mas o que mais me preocupa nem é este aspecto. Na verdade, o que me parece preocupante é:
1) o facto de (mais uma vez...) se ter optado por um projecto altamente dependente de importações quer na fase da sua construção quer na do seu funcionamento, num "corre-corre" que não parece ser facilmente justificável nem com as conhecidas falhas de produção e de abastecimento de energia a Dili, por exemplo;
2) o facto de se ter optado por um projecto que arrepia os cabelos a qualquer pessoa com um mínimo de preocupação com as questões ambientais; e
c) ligado com o primeiro ponto, se ter optado por um projecto que, na prática, torna virtualmente desnecessário o projecto hidroeléctrico de Iralalara (veja-se a nossa 'entrada' sobre o assunto aqui) e que tem duas vantagens fundamentais: é muito menos poluente e, não pouco importante, usa quase exclusivamente "combustível" nacional: a água!

Ora tudo isto é feito apesar de existir uma deliberação do Conselho de Ministros (de 22 de Novembro de 2006), ao tempo presidido pelo actual Presidente da República, que aprova o projecto de Iralalara e decide inscrever as verbas necessárias no Orçamento de Estado:

Afinal em que ficamos? Iralalara vai para a frente ou não? E como se articula com o projecto agora aprovado e orçamentado (e que até já tem a sua construção adjudicada a uma empresa chinesa)? Quais são as vantagens e desvantagens relativas de ambos os projectos? Porque não se optou por uma solução mais "imediata" para o abastecimento de electricidade a Dili e outras cidades principais e se acelerou o projecto de Iralalara para que ele começasse a produzir o mais cedo possível?
Desculpem-me mas "num entendi"!... Alguém pode explicar o que se passa?

Sem comentários: