Acabei de ler as declarações prestadas (em Lisboa) por Zacarias da Costa à agência LUSA.
Habituei-me já há alguns anos a admirá-lo e estas declarações, independentemente de concordar ou discordar do seu conteúdo e, particularmente, da(s) política(s) que fazem transparecer, são a confirmação de que estamos perante um homem equilibrado e com um "fio condutor" do raciocínio que não é fácil encontrar em muitos outros políticos do país. Um 'gentleman', parece ser "o homem certo no lugar certo".
O "tom" (e, em parte, o conteúdo) das suas palavras demonstram que o país dispõe, na geração mais nova relativamente à que está ao "leme", um conjunto de políticos e de técnicos com que há que contar no futuro.
Quanto às declarações do MNE de Timor, saliento a sinceridade da sua confissão de que "tivemos que utilizar o princípio de comprar a paz. Muitas das famílias que estavam nos campos de deslocados receberam uma boa quantia de dinheiro para poderem reintegrar-se nas suas comunidades".
Daí os muitos milhões que tiveram de, sob vários pretextos, ser transferidos para alguns milhares de famílias.
Uma das críticas que se podem fazer a esta política é o de que a ela teria sido preferível uma em que essas verbas fossem transferidas gradualmente e não todas de "uma assentada". Temo (muitos o temem) que o dinheiro transferido não venha a ter a melhor das utilizações e não ajude a resolver, de facto, os problemas existentes, nomeadamente o da inserção dos "deslocados internos" nas suas comunidades, objectivo declarado da política seguida.
Um indicador indirecto do que poderá ter sido uma das grandes utilizações do dinheiro é a evolução do número de registos de motorizadas ao longo de 2008. Depois de uma fase mais "calma" até à queda das tarifas alfandegárias, em Julho, esses registos "dispararam", tendo duplicado do segundo para o terceiro trimestre. O registo de automóveis, por sua vez, terá aumentado cerca de 50% de um trimestre para o outro. Isto não invalida que muitos tivessem usado também o dinheiro para inciar o processo de "mudar de vida" reconstruindo as suas habitações. É necessário, urgentemente, indagar do que está, de facto, a acontecer. Aí está um bom projecto de investigação para quem de direito na Universidade Nasional Timor-Lorosae ou outra entidade com qualificações para o fazer.
A esta política de tudo pagar "à cabeça", de uma vez só, teria sido preferível uma política de transferências mais espaçadas no tempo ou, por exemplo, uma que incluísse uma transferência inicial de, por exemplo, 50% do total e o restante distribuído ao longo de vários meses, senão mesmo um ano, por exemplo? Creio que, em princípio, teria sido uma alternativa mais aconselhável, nomeadamente se estivesse ligada a uma política de concessão de crédito bonificado para a reconstrução de habitações. Além disso permitiria alguma monitorização da evolução da situação, eventualmente condicionando o pagamento da totalidade da verba ao cumprimento de algumas condições.
Ao que me foi possível apurar a possibilidade de distribuir no tempo o pagamento dos subsídios --- coisa que seria mais aconselhável também para reduzir o impacto sobre a inflação --- chegou a ser equacionada e proposta aos "deslocados internos" mas estes não a aceitaram, não tendo havido, pelos vistos, a força política suficiente para impor outra solução que não a que veio a ser adoptada. Foi o preço da paz... E de tirar os deslocados das três principais "salas de visita" do país/Dili: o aeroporto, o jardim frente ao Hotel Timor e o espaço frente às "Obrigado Barracks"!...
Assim falou Zacarias!...
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