sábado, 3 de janeiro de 2009

Ainda a questão da geração de electricidade

Nas discussões sobre o tema vem sempre "à baila" o relatório realizado pelo Banco Asiático de Desenvolvimento em 2004 sobre a produção de energia no país. Esse relatório pode ser encontrado aqui, no site do ADB. Aí se podem ver também várias considerações sobre o assunto e, em particular, sobre a construção das duas centrais a "óleo pesado" previstas pelo actual Governo.
A informação essencial sobre as perspectivas que então (2004) se colocavam em relação às necessidades futuras de electricidade de Timor Leste é a que segue abaixo:


Por outro lado, a informação essencial sobre Iralalara é a seguinte:

Há, pois, uma enooooorme diferença entre as estimativas do plano de 2004 --- que poderão estar ultrapassadas; who knows? ---, a capacidade de produção a instalar em Iralalara (28 MW, o mesmo que o previsto como consumo no plano para 2010) e a capacidade produtiva a instalar nas duas centrais (180 MW) aparentemente até 2011.
Daqui parece resultar que Iralalara poderia fazer face à procura actual de energia e à procura nos anos mais próximos mas que não seria suficiente se as necessidades aumentassem significativamente, "acelerando" o calendário do estudo de 2004.

À falta de mais informação sobre o assunto parece que "tudo" se resume a:

a) saber quais vão ser, de facto, as necessidades a médio e longo prazo. Aparentemente o Governo acredita que elas vão crescer muito rapidamente em resultado de uma intensificação do consumo doméstico --- resultante da política de tentar, "rapidamente e em força", levar electricidade a todos os cantos do país --- e do consumo comercial e industrial, resultante da expansão da actividade comercial (nomeadamente de instalações turísticas) e industrial (indústria petrolífera, etc). Se as expectativas do Governo não se vieram a concretizar, as duas centrais poderão ser uma versão timorense dos chamados "elefantes brancos" (de que os países em desenvolvimento estão cheios e de que a versão portuguesa foi/é, durante muito tempo, o complexo petroquímico de Sines);

b) em parte dependendo da concretização ou não das expectativas referidas acima, saber se seria possível ou não uma solução "intermédia" que passasse pela concretização de Iralalara e de uma das centrais agora previstas (mas de menor dimensão?) ou, mesmo, uma terceira (ou uma quarta) solução em que, eventualmente não dispensando a construção de uma das centrais (com capacidade a definir), se combinassem estas fontes de energia com outras menos poluentes e que se mostrassem adaptadas às circunstâncias específicas do país. Admite-se, por exemplo, que a energia eólica e/ou solar (principalmente a primeira) sejam solução para a geração de electricidade em povoações de menor dimensão, em que a sua ligação à rede eléctrica nacional seja muito cara.

Enfim, daqui a 5-10 anos veremos... Nesta fase do campeonato parece que qualquer solução tenderá a basear-se mais na "fézada" de cada um do que em grandes certezas certezinhas...

PS - espreite aqui para saber a origem da expressão "elefante branco"

1 comentário:

Anónimo disse...

Bravo!

É espantoso como podem outros defender o desperdício puro e simples de Iralalara, uma fonte de energia que é gratuita!

As duas centrais, além de serem altamente perniciosas para o ambiente e para a saúde, são um suicídio, pois podem tornar-se facilmente os tais elefantes brancos.

A minha convicção sai reforçada depois de ter lido que as "previsões" que estão por trás da decisão de as construir se baseiam essencialmente numa suposta explosão do mercado doméstico.

Ora, só um louco poderá acreditar que em meia-dúzia de anos os lares timorenses vão estar cheios de eletrodomésticos - e de poder de compra para os sustentar. E basta ver como o povoamento em Timor é disperso, consistindo maioritariamente em pequenas knuas, para imaginar como será fácil derreter todo o fundo de petróleo com a despesa brutal de levar a energia dessas duas centrais a essas pequenas knuas com meia-dúzia de casas. Já para não falar da pesadíssima manutenção de tal sistema, impossível de amortizar pelos pobres timorenses. Quem irá pagar a eletricidade?

Este raciocínio é pertinente, principalmente se considerarmos a orografia respeitável de Timor - aliás, este mesmo problema coloca-se em relação ao custo brutal de instalação de um sistema nacional de telecomunicações - algo que muitos não veem ou não querem ver.

Por isso, concordo que a solução mais barata a longo prazo - e também a mais limpa - é o apetrechamento dessas knuas ou pelo menos sub-distritos com painéis solares/fotovoltaicos e/ou eólicas. Isso iria garantir praticamente a auto-suficiência desses pequenos aglomerados, utilizando fontes de energia gratuitas e renováveis. Para além disso, é importante estudar o recurso ao gás natural, de que Timor é produtor, em detrimento do óleo pesado.