Tal como todos, tenho ouvido muitos "expertos" falarem da actual crise financeira --- que vai ser também económica, sim! --- culpando, nomeadamente, a "desregularização" dos mercados e a sua "liberalização" como sendo uma das principais causas da dita cuja...
Ora, só se "desregulariza" o que está regulado e só se liberaliza o que está controlado. Os termos, quando a mim, não são os mais apropriados.
Na verdade parece-me que o que se passou foi mais ou menos semelhante ao que se passa na velha luta entre bandidos e polícias: aqueles parece estarem sempre um passo à frente destes, inventando "criativamente" métodos cada vez mais sofisticados para "gamarem" o que não lhes pertence e escaparem à prisão (porque é que me lembrei de um certo senhor, verdadeiro "olhos de águia", que anda por Londres no "bem bom"?)
No caso da banca ter-se-á passado algo de semelhante: os bancos comerciais e outros agentes financeiros foram progressivamente inventando novos métodos para fazerem mais dinheiro a partir do (quase) nada... Era como se os "papéis" (títulos) tivessem valor porque alguém se lembrava de dizer que tinham, sem grande necessidade de o demonstrar com valores reais.
Ora, a maior parte dos bancos centrais e entidades reguladoras dos sistemas financeiros não tiveram a "manha" (e a maioria também a vontade...) suficiente para irem acompanhando a "criatividade" do sistema bancário e manter sob controlo os mais "criativos", os tais que quase só se limitavam a dizer que os "papéis" eram óptimos... (A propósito disto vale a pena rir-se com este filme).
(Excessivamente) Obcecados com o que é usualmente apresentado como sendo o objectivo central de um banco central --- o controlo da taxa de inflação a níveis relativamente baixos ---, "deixaram andar" o sistema... Enquanto todos iam ganhando e não havia grandes distúrbios no seu funcionamento estava "tudo bem" e não se viam razões para intervir.
Mas no caso da famosa "D. Branca" (em Portugal) também foi assim: tudo estava bem enquanto havia dinheiro fresco a alimentar o "esquema". O "busilis" aconteceu quando alguém se lembrou de colocar o seu dinheiro a salvo e começaram os levantamentos a serem (muito) maiores que as novas entradas de dinheiro. E a "bolha" estourou! Agora é mais ou menos o mesmo...
Cada nota de banco foi "desdobrada" "criativamente" até à exaustão e quando se começou a deitar contas à vida verificou-se que não havia dinheiro suficiente para safistazer todos os compromissos que tinham sido "criativamente" assumidos em torno daquela notinha... Era quase tudo "papel", que não tinha verdadeiro suporte económico-financeiro.
E aí concluiu-se o que o já todos deveriam saber: que os lençóis não esticam... E que quando se puxa um lençol curto para tapar a cabeça descobrem-se os pés. E pés frios "dão" constipação... E depois gripe. E muita sorte temos se desta não se passar à pneumonia. Que pode ser fatal...
Conclusão: "cuidados e caldos de galinha nunca fizeram mal a ninguém"! Mas parece que os bancos centrais não sabiam disso e deixaram os "bandidos" à solta, exercendo a sua "criatividade" "ao Deus dará"!...
Por tudo isto é que penso que uma lição fundamental a retirar desta crise é a de que os bancos centrais (os "polícias" do sistema financeiro) têm de estar um passo à frente dos "bandidos" e não um (ou três...) passos atrás como até agora. Isto implica, provavelmente, um melhor rebalanceamento entre aqueles que são os dois verdadeiros objectivos da sua actividade: assegurar um sistema financeiro (particularmente bancário) saudável e confiável e procurar assegurar o controlo da taxa de inflação.
Parece que já aprenderam (quase) tudo sobre este último objectivo; agora é altura de se aplicarem mais na prossecução do outro e que É TÃO IMPORTANTE QUANTO O PRIMEIRO.
E isto faz-se com, finalmente, regulação da actividade dos agentes financeiros de modo a proteger os "consumidores" que somos todos nós, seja na qualidade de depositantes seja na de investidores através dos bancos.
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