Não, não houve nenhuma declaração no passado --- muito "passado" ou pouco "passado"... --- de Paul Krugman sobre Timor Leste. Mas confesso que ao ler um artigo de jornal sobre a sua obra não pude deixar de pensar em algumas medidas que foram tomadas não há muito tempo pelo actual Governo.
Refiro-me, em particular, à decisão de baixar significativamente as tarifas alfandegárias a partir de 1 de Julho passado. É sabido, aliás e por declarações do próprio, que o actual PR desejava mesmo acabar com elas...
Atrevo-me a sugerir que o leitor dê uma olhadela no referido artigo aqui, da autoria de Kevin Gallagher, antes de continuar a ler a minha prosa. Atenção: está em inglês porque foi publicado hoje no jornal inglês The Guardian e não deu para traduzir.
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Já está? Então vejamos.
No essencial o autor salienta que Krugman desconfia da globalização tal como está a decorrer --- com (excessivo?) liberalismo nas trocas comeciais internacionais --- e afirma a necessidade de, particularmente os países em desenvolvimento, adoptarem uma atitude mais cautelosa através, nomeadamente, da adopção de uma "política estratégica de comércio [internacional]". Citando (mesmo em inglês):
"Among Krugman's achievements in the field of international trade is "strategic trade policy". In this work Krugman (and others) showed that tariffs and subsidies to domestic industries can divert profits away from highly concentrated foreign firms and increase a nation's income. "
E mais adiante:
"In another classic book, Development, Geography, and Economic Theory, Krugman argued that the government should also play a role in connecting beneficiaries of strategic trade policy to the overall economy. Evoking the work of economists such as Albert O Hirschman and Paul Rosenstein Rodan, Krugman argued that developing countries often needed a "big push" of coordinated government investments to help strategic industries get off the ground and to link the growth of such industry to the economy as a whole."
Isto é: Krugman, insuspeito de tendências socialistas e menos ainda "comunistas", reconhece que o mercado não é perfeito e que cabe ao Estado um papel de controlo que evite os seus desvarios e, mesmo, alguns dos seus efeitos negativos. De entre eles refira-se a dificuldade em criar uma indústria nacional sem algum tipo de protecção --- como no caso das "indústrias nascentes".
Significará que a atribuição do Prémio Nobel a um autor que defende estas ideias é o último prego no "caixão" de um certo liberalismo que a actual crise veio condenar? É possível que sim mas não é isso que me preocupa aqui.
O que me preocupa é que a já mencionada reforma aduaneira introduzida há meses atrás veio, como já referi noutras ocasiões, limitar a possibilidade de desenvolver uma indústria nacional em vez de, como pretendiam alguns dos seus mentores, a incentivar. "O que faz falta" é... "animar a malta" com uma política industrial e de comércio internacional que ajude ao desenvolvimento industrial --- sempre relativamente limitado, quase de certeza --- em vez de ajudar ao aumento da dependência das importações vindas dos vizinhos (uns mais próximos que outros).
Tá?
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