Toda a gente fala da crise, que a crise que nasceu como "apenas" financeira está já a converter-se em crise económica, que a crise vai durar 1 ou 2 anos ou, mesmo, mais (hoje alguém dizia que ela vai durar até 2011...).
Não sei --- ninguém sabe... --- quanto tempo ela vai durar ("ela" significa a crise económica, traduzida em abrandamento do ritmo do crescimento económico que, em alguns países, até pode ser negativo). Na verdade, ninguém sabe muito bem quanto tempo vai durar porque ninguém sabe exactamente o tamanho do "buraco" financeiro que os especuladores geraram na economia com a complacência de muitos governos e bancos centrais.
Na teoria económica quando se fala de crises é usual dizer que a sua duração pode ser representada por um "V", por um "U" ou por um "L", conforme a recuperação do ritmo de crescimento "usual" seja mais rápida ou mais lenta.
A imagem abaixo ilustra o que dizemos.
O curioso é que aquando da crise económica que afectou a Ásia Oriental em 1997-98 também toda a gente deitou as mãos à cabeça porque ela tinha vindo "para ficar" e os países da região levariam anos e anos a recuperarem os ritmos de crescimento anteriores. Afinal, a crise foi recuperada, na maior parte dos países, em pouco mais de um ano (crise em "V"). E olhem que ela foi bem mais "braba" que a actual: a Tailândia e a Malásia tiveram taxas negativas de crescimento de cerca de -8% entre 1997 e 1998 e a Indonésia bateu o recorde com -13%!...
Na ocasião também de verificou uma grande convulsão nos sistemas financeiros dos vários países que levaram à falência de alguns bancos e à fusão de outros. Tudo resultando, com a "ajuda" dos programas de estabilização conjuntural financiados/impostos pelo FMI, em fortes reduções do crédito à economia --- o que, reconhece hoje o próprio Fundo, produziu uma contracção económica mais forte do que o "necessário" para "endireitar" a economia real.
As medidas que têm vindo a ser tomadas nos países mais desenvolvidos têm vários pontos de contacto com as que então foram adoptadas na Ásia e beneficiam do facto de terem sido tomadas mais cedo do que naqueles países.
Tudo isto para chegar a que conclusão? À de que estou muito menos pessimista quanto à capacidade de recuperação das "economias reais" do que muitos observadores. Ingenuidade minha? Talvez. Mas a esperança tem que ser a última a morrer e fazem-me muita impressão os discursos dos profetas da catástrofe ao virar da esquina. É que pensamentos negativos atraem o mau olhado!... Virem essa boca p'ra lá!...
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