quarta-feira, 1 de outubro de 2008

O zero à esquerda

Toda a gente anda preocupadíssima com a crise financeira dos Estados Unidos devido aos efeitos de contágio que ela poderá ter quer para os sistemas financeiros de outros países --- principalmente da Europa e do Japão --- quer pelos efeitos que, mais tarde ou mais cedo, ela não deixará de ter sobre a chamada "economia real", i.e., o emprego, a produção e o consumo das populações de quase todo o mundo, ainda que com intensidades diferentes.
Ora, o que tenho achado curioso é que a instituição internacional que foi criada para vigiar o sistema financeiro internacional, o FMI, tem estado quase calado --- ou, pelo menos, ninguém dá importância ao que ele diz ou deixa de dizer. É o autêntico "zero à esquerda"! Não aquece nem arrefece...

Curioso é também o facto de este acaba por ser mais um "prego no caixão" de uma instituição que tem feito tudo para se descredibilizar a ela própria ao longo dos anos, principalmente dos últimos dez verdadeiros "anos horribilis" para ela.
Depois de ter atingido o pico da sua importância na década de 80 do século passado, quando foi necessário "apagar fogos" nos países que se tinham deixado enredar na armadilha da excessiva dívida externa, as coisas começaram a correr mal com a crise asiática de 1997-98.
A primeira "machadada" foi dada pelo "impertinente" Mahatir Mohamad, primeiro ministro da Malásia, ao recusar aplicar um programa de estabilização sugerido pelo Fundo e... "ousar" ter sucesso, com muitos menos custos sociais do que os que tiveram de suportar países como a Indonésia, que aplicaram o "pacote do Fundo" de políticas económicas. Mais tarde o próprio FMI veio a reconhecer que a sua gestão daquela crise tinha sido errada.
Depois foi a chamada "crise argentina", desencadeada por um Ministro das Finanças do país ("o cavalo do Cavallo") que, ex-colaborador do Fundo, resolveu "ser mais papista que o papa" e arrastou o seu país para uma situação de profunda crise de que entretanto está a sair --- em boa parte por estar a aplicar políticas bem diferentes das sugeridas pelo Fundo...
Depois foi a queda significativa dos rendimentos da própria instituição em resultado da queda dos empréstimos que concede --- em parte porque não são necessários, em parte porque países como a China e a Venezuela estão a "dar cabo do negócio" ao emprestarem aos países necessitados com condições muito melhores que as impostas pelo Fundo nos empréstimos que concede.
Finalmente, esta crise que, tal como a de 1997, não foi verdadeiramente antevista pelo FMI e perante a qual ninguém se preocupa em saber o que ele pensa ou não. Por isso anda por aí muita gente a perguntar "e não se pode exterminá-lo"?
Há dias em que não se pode sair de casa...

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