No período referido as importações "comerciais" totalizaram 200 milhões USD (mais exactamente 203 milhões). As "importações comerciais" excluem o valor das importações de bens para uso das Embaixadas e das forças militares estrangeiras bem como o dos bens importados pela UN e suas agências.
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Dos 203 milhões de USD das importações, 59,3 milhões (29%) foram de combustíveis e 31,7 milhões foram de veículos (15,6%). Quer um valor quer outro parecem-nos muito elevados para uma economia com o grau de desenvolvimento de Timor Leste mas o primeiro está justificado, em boa parte, pelo aumento do preço internacional dos combustíveis que se verificou na maior parte do ano. A descida que o gráfico ilustra em Setembro e nos meses posteriores justifica-se pela queda do preço dos combustíveis no mercado internacional.
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É o valor da importação de veículos que nos faz (e deve fazer-vos...) pensar. Note-se que a média mensal das importações do primeiro semestre foi de 2,2 milhões e a de Jul a Nov foi de... 3,7 milhões (mais 2/3...). Será que isto está ligado à política de grande distribuição de recursos que foi prosseguida a partir de meados do ano? Dificilmente não estará, o que significa que uma parte (importante? Cremos que sim) dos recursos colocados em circulação ao abrigo dos mais diversos pagamentos a vários grupos sociais ("deslocados internos", "peticionários", etc) acabou por ser "escoada" para o estrangeiro sob a forma de importação de automóveis, motorizadas e outros veículos. Só não se importaram kudas a motor porque ainda não há... Esta evolução já era de esperar.
Note-se que este grande aumento de importação de veículos a motor é um "presente envenenado" para o futuro pois faz aumentar, no curto e a médio-longo prazos, o consumo de combustíveis... importados. O que agrava ainda mais a "fatura petrolífera" do país.
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A terceira rubrica mais importante nas importações foi a dos cereais, em que se inclui o arroz. Os quase 18 milhões de USD (quase 9% do total) que se gastaram resultam, em boa parte, da subida do preço do arroz no mercado internacional, que atingiu o seu máximo em Maio passado (772 USD/Ton; 365 em Janeiro e 320 em Novembro). Note-se que só estas importações correspondem a quase o dobro do total das exportações!
Note-se no gráfico abaixo a grande instabilidade dos valores mensais, que deve estar associada ao "tempo"/momento em que são assinados os contratos do Governo com os importadores e as decisões de importação destes.
Infelizmente não temos dados que nos permitam testar a hipótese de Timor Leste estar, EVENTUALMENTE, a pagar mais pelo arroz importado do que o necessário devido ao facto de os contratos entre o governo e os abastecedores serem efectuados num momento em que os preços no mercado internacional estão mais altos, sendo depois a compra por estes efectuada algum tempo depois, quando o preço já desceu, como tem vindo a acontecer desde Maio passado. Os importadores de arroz "do Governo" poderão (sublinho a palavra "poderão"), pois, estar a beneficiar do facto de fazerem contratos com o Governo num período em que o preço internacional está mais alto do que aquele que depois vão pagar aos produtores. Um exemplo: se entre o momento do contrato e o momento em que o importador assina o seu contrato com o fornecedor decorrer um prazo de 2 meses, isso significa, tomando o exemplo de Julho e Setembro passados, que o arroz "caíu" entretanto quase 100 USD por tonelada que reverte a favor do importador timorense... Tema a aprofundar...
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Infelizmente também não temos --- ai a distância!... --- informações sobre a evolução dos preços do arroz nacional para ver se ele tem tido nos mercados do país (nomeadamente de Dili) um comportamento semelhante ao do mercado internacional e do arroz "do Governo".
Sabendo-se, porém, a grande rigidez (na subida e na descida) que os preços de bens nacionais costumam apresentar devido a uma boa dose de "ilusão monetária" dos agentes económicos, não nos custa admitir como muito provável que o diferencial entre o preço do arroz importado e do arroz produzido internamente é agora ainda maior do que era há alguns meses atrás. O que é um desincentivo aos agricultores nacionais tanto maior quanto o mercado está fundamentalmente a absorver arroz "do Governo", agora ainda mais barato. Na verdade mais barato do que o preço do arroz quando toda esta "bagunça" com os seus preços começou...
3 comentários:
Senhor Professor Serra.
Acho que e altura de comecarmos a exportar em Timor, lideres caducos.
Talvez seja um bom negocio e ajude a contrabalancar.Estou a pensar a exportar moscas aqui na Australia, pois no verao sao uma peste.
Um seu leitor atento.
Le Mau Dick
Exportar moscas não dá para viver... :-)
Aqui em Portugal descobri há algumas semanas que há uma localidade de nome "Venda das Pulgas"! Não faço ideia quem são os compradores!
"Venda das pulgas..." e me familiar.
So podem ser os meus compadres alentejanos.Desde o 25 de Abril de 1974 tem-se visto muito consanco
(deve ser da sarna)
Um abraco
Le Mau Dick
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