terça-feira, 2 de dezembro de 2008

Mais sobre o mesmo...

Voltando ao relatório sobre a pobreza, veja-se como a apresentação preparada pelo Banco Mundial sintetiza as informações relativas aos níveis de pobreza em 2001 e em 2007:

Do quadro acima sobressai a conclusão de que a grande subida do valor nacional se ficou a dever, em termos regionais, principalmente ao agravamento da situação no "Centro" (Aileu, Ainaro, Dili, Ermera, Liquiçá, Manufahi e Manatuto) e no Oeste (Bobonaro, Cova Lima e Oecussi) e mais nas zonas urbanas que nas zonas rurais.
Algo à margem deste padrão de agravamento da situação ficaram os distritos mais orientais do país (Lautem, Baucau e Viqueque). Neles a percentagem de pobres aumentou menos de dois pontos percentuais: apenas de 24,7% para 26,5%. As capacidades agrícolas dos três distritos podem ser uma parte --- mas não toda --- da justificação para este comportamento bem diferente do resto do país. Que outras razões podem estar por detrás deste comportamento tão diferente? Aí está uma boa pergunta...

Mas há um outro aspecto que achei curioso. Dei-me ao trabalho de comparar os preços indicados no final do relatório como sendo médias nacionais para vários produtos em Dezembro de 2007 com os preços utilizados para o cálculo do Índice de Preços no Consumidor em Dili. A comparação não foi exaustiva mas chamaram-me a atenção as diferenças significativas que, por vezes, se registam.
Uma delas é a do preço do arroz importado. Segundo o quadro 34 ("Cabaz de bens alimentares por pessoa e por dia, zonas urbanas da região Centro" --- que inclui principalmente Dili) e os dados do IPC-Dili os preços eram então os seguintes (primeiro os do relatório; depois os do IPC; ambos em USD por unidade de medida, normalmente o quilo):
Arroz importado: 0,5035 / 0,43
Mandioca: 0,4979 / 0,35
Carne de vaca ("beef"): 3,012 / 3,50
Galinha: 2,3414 / 2,85
Espinafres: 0,6194 / 0,50
Repolho: 0,5268 / 0,27
'softdrink': 1,0071 / 0,73

Como se pode verificar não há, pelo menos nesta curta amostra, um padrão de comportamento que nos possa levar a dizer que os preços de uma fonte são mais ou menos sistematicamente superiores à de outra.
Mas as diferenças (por exemplo a do arroz) podem ser importantes para explicar porque é que a "linha de pobreza" em 2007 é de 0,88 USD/pessoa/dia. Será que se usarmos os preços do IPC chegamos a valores mais baixos? Ou a valores mais altos?
Aí está uma pista interessante de análise e reflexão... Será que os preços mais elevados --- acompanhados de uma maior inflação --- em Dili são os responsáveis pelo facto de nas zonas urbanas da região centro (maioritariamente Dili) a linha de pobreza ser de 35,03 USD/pessoa/mês, comparados com os apenas 18,66 USD/pessoa/mês das zonas rurais dos distritos mais orientais (os dois extremos em termos de valores das linhas mensais de pobreza)? Estes valores significam que é muito mais caro (quase o dobro!) obter as 2100 calorias/dia para cada pessoa em Dili que em Lautem, por exemplo.
Tudo isto nos remete para uma conclusão que nos parece lógica: o aumento da "pobreza" é, em boa parte, um fenómeno ligado ao aumento do custo de vida (nomeadamente em Dili) comparativamente com o de outras regiões. Uma "solução" para a redução da pobreza pode ser aconselhar as pessoas a regressarem aos seus locais de origem... Irão?

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