sábado, 3 de outubro de 2009

Estatísticas Monetárias de Timor Leste

A ABP-Autoridade Bancária e de Pagamentos de Timor Leste, o banco central de facto do país, publica regularmente no seu 'sítio' na internet as estatísticas monetárias do país tal como calculadas pela própria instituição. Estão disponíveis agora as referentes ao mês de Agosto passado.

Um dos principais agregados económicos é a massa monetária. Trata-se de uma variável que, devidamente "controlada" pelo banco central de um país com instrumentos apropriados (ex: venda e compra de títulos da dívida pública e outros) pode ajudar a controlar a taxa de inflação, além de ajudar a controlar a taxa de juro no mercado.
Em Timor, como se sabe, não há dívida pública e por isso a ABP quase que não tem controlo sobre a massa monetária --- o que, indirectamente, não pode influenciar nem a taxa de juro (e através dela o investimento privado) nem a taxa de inflação.
Pelos dados disponíveis verifica-se que a oferta monetária em Timor Leste aumentou 14,9% entre Agosto de 2008 e Agosto de 2009, um valor muito superior ao da taxa de inflação verificada no período (que, segundo os dados publicados pela Direcção Nacional de Estatística até terá sido negativa em quase 3% em boa parte devido ao facto de em Agosto do ano passado se terem atingido níveis elevados dos preços de vários produtos fundamentais, como o arroz e os combustíveis; vidé 'entrada' mais abaixo).
Esta diferença entre as taxas de crescimento dos preços e da massa monetária pode ser interpretado com um indicador indirecto de que a taxa de inflação em Timor Leste está mais dependente de factores externos (preços de bens importados) que de factores internos, nomeadamente a variação da massa monetária.



Esclareça-se que a esmagadora maioria da massa monetária tal como calculada pela ABP é constituída pelo conjunto dos depósitos existentes no sistema bancário, particularmente na banca comercial.

Um outro agregado monetário que interessa acompanhar é o volume de crédito à economia, particularmente o crédito do sector bancário ao sector privado do país. A evolução desse agregado entre os meses de Agosto de 2008 e de 2009 figura no gráfico abaixo.
Por ele se pode verificar que, ainda que com oscilações (perfeitamente naturais) ao longo do tempo, há uma tendência crescente do volume de crédito concedido, o que é muito positivo. A taxa de variação do crédito entre os dosi meses homólogos (Agosto) de 2008 e 2009 foi de 7,2%, bem acima da taxa de inflação.


Se compararmos os valores dos depósitos no sistema bancário (a grande fonte de financiamento dos bancos e que lhes permite emprestarem dinheiro a crédito) com os do crédito concedido (cerca de 200 e de 104 milhões de USD, respectivamente, em Agosto passado) concluimos que há um alto nível de liquidez do sistema bancário que lhe permitirá financiar um volume muito maior de projectos de investimento SE APARECEREM PROJECTOS VIÁVEIS. A maior dificuldade para o aumento do crédito parece ser esta e não a escassez de recursos para emrpestar nem, tãopouco, acreditamos, a taxa de juro dos empréstimos.

Quanto a esta, assistiu-se desde o início do ano (pelo menos) a uma sua redução em resultado do facto de um dos bancos, o mais importante na concessão de empréstimos, praticar, ao contrário dos demais, uma taxa de juro variável com a evolução da taxa de juros LIBOR (taxa de juro dos empréstimos interbancários em Londres) em dólares.
Assim, a taxa média de juro para os empréstimos em Timor Leste era de 11,6% no início de 2009 e em Agosto tinha baixado para os 11%, uma redução relativamente reduzida face à verificada nas taxas internacionais que se fica a dever ao facto de na taxa de Timor haver uma componente fixa muito importante. Note-se, porém, quee sta é a taxa média; as melhores empresas/projectos conseguem taxas de juro mais baixas, eventualmente no intervalo dos 8-9%, sensivelmente.
Como a taxa de juros LIBOR tem tendência a estabilizar-se antes de começar a subir proximamente em resultado da reanimação da actividade económica nos países economicamente mais avançados, é provavel que ela só comece a subir mais nitidamente dentro de alguns (poucos...) meses.

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