Em documento de Maio passado intitulado "Soaring food prices: response to the crisis" o Banco Asiático de Desenvolvimento ("ADB" como é mais conhecido) publicou informação sobre a evolução dos preços do arroz no mercado internacional e os preços no consumidor, por kg, em vários países asiáticos.
Segundo o ABD o preço no mercado mundial aumentou 98% entre Março de 2007 e Março passado (2008). Este valor pode ser comparado com a alteração que se verificou no preço ao consumidor em vários países da região.
Assim, no Bangladesh e no Camboja o aumento do preço no consumidor naquele mesmo período foi de 100%, o que significa que o aumento do preço verificado no mercado internacional foi inteiramente repercutido para os consumidores.
No extremo oposto dos aumentos temos a China, a Índia e a Indonésia, que viram o preço no consumidor aumentar apenas 6%, 9,3% e 8,7%, respectivamente.
O Vietname, grande produtor e exportador do cereal, aumentou os seus preços internos em 17% e as Filipinas em 40% enquanto que o Sri Lanka aumentou 55%.
Timor Leste tinha um preço do kilo de arroz em Abril de 2007 de 0,45 cêntimos (dados da Direcção Nacional de Estatística). Este valor deve ser comparado com outros dois: o de 0,486 cêntimos/kilo que está a ser praticado na venda de arroz importado pelo Governo (que resulta da venda a 17 USD de cada saca de 35 kg) e o de 0,714 cêntimos/kilo que resulta do preço "de mercado" do arroz, aqui representado pelo preço do arroz importado directamente pelos comerciantes e que é de 25 USD/saca.
Se olharmos para estes valores em percentagens, temos que o preço que está a ser praticado na venda do arroz "governamental" representa um aumento de 8% face ao preço de Abril de 2007 e que o preço "de mercado" representa um aumento de cerca de 59%.
Embora não seja esse o verdadeiro custo suportado pelo Governo para praticar tal política de subsisdiar o preço do arroz, o diferencial entre os dois preços referidos é actualmente, para o consumidor, de cerca de 8 USD/saca. O que, se uma família consumir cerca de 1,25 sacas de arroz por mês significa uma poupança de 10 USD/mês. Trata-se de um verba importante para níveis de rendimentos tão baixos como muitos e muitos timorenses têm mas:
a) a manterem-se, como se prevê que venha a acontecer, os actuais níveis de preços internacionais, qual vai ser a reação do Governo? Vai manter mais ou menos eternamente a prática de importar directamente e vender a preço mais baixo que o do mercado (e, acredita-se, que o próprio preço de custo pago pelo Governo)? Quais os custos orçamentais dessa prática? E os custos macroeconómicos?
b) a extensão a todo e qualquer consumidor, independetemente do seu nível de rendimento, do benefício de comprar arroz a breço bonificado vai continuar ou vai-se "afinar" a política de modo a beneficiar apenas e só aqueles que verdadeiramente precisam desse benefício para assegurar um mínimo de consumo alimentar?
c) quais as consequências do prolongamento do tempo deste "enviesamento do sinal do mercado" que é a concessão de um subsídio ao preço sobre o possível aumento da produção interna, que se tornaria viável com um aumento mais substancial do preço de mercado mas que se torna inviável aos preços actuais?
d) o que se pensa fazer para ir convencendo os consumidores timorenses de que não é possível continuarem a consumir as mesmas quantidades de arroz que consomem e a que foram habituados no tempo da administração indonésia por o arroz ser então um alimento barato devido aos fortes subsídios? Os "sinais de mercado" vão agora no sentido de a dieta alimentar ter de se adaptar, consumindo menos arroz e mais milho, mandioca, batata, etc, produtos essencialmente da agricultura nacional e cujo aumento da procura poderia ser uma "benção do céu" para os agricultores timorenses, tão necessitados de realizarem dinheiro vendendo para o mercado. Mas se esse mercado for só (ou principalmente) de produtos importados estarão (continuarão a estar) condenados...
Pense-se nos vários prós e contras das medidas adoptadas e actue-se em conformidade. Por vezes é necessário tomar decisões mais difíceis... mas inevitáveis.
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