As medidas que têm vindo a ser anunciadas pelo Governo de Timor Leste na área económica fazem-me alinhar dois (ou três) pensamentos sobre as principais linhas de força do que tem sido feito:
1 - parece existir uma nítida preferência por uma política de concessão de subsídios e similares à esquerda e à direita muito influenciada por aquilo que foi a vivência de muitas pessoas em Timor durante a administração colonial indonésia. A política então seguida --- mas que, genericamente falando, a Indonésia já pôs de parte há alguns anos, nomeadamente desde a crise de 1997-98 --- de prática de preços subsidiados e outras formas de enviesamento dos preços de mercado parece ser o grande quadro de referência de muitas das opções recentes de política económica;
2 - curiosamente, esta opção "casa" bem com uma outra linha de força que parece evidente: a de que se está perante uma política económica mais influenciada pela "economia política" do funcionamento da família alargada do que pelos ditames modernos da economia e da "boa governação". De facto, fica-se com a ideia de que o Estado está a assumir cada vez mais o papel do "pai" de família que tem a algibeira a transbordar de dinheiro e que vai dando umas notas aos filhos, aos primos, aos primos dos primos, aos cunhados da avó do primo, etc.
Note-se que este processo cria uma dependência em relação ao Estado que, para além de, a prazo, não ser nada salutar, faz, mais uma vez, lembrar o "racionale" da colonização indonésia: à falta de empregos efectivamente produtivos o Estado indonésio escancarou as portas da administração pública aos timorenses numa tentativa de, tornando-os dependentes dele, "comprar" a sua "solidariedade" com o colonizador.
3 - não menos preocupante parece ser uma certa linha de continuidade em relação ao passado recente e ao que está, desde há muito, identificado como tendo ocorrido e estando a ocorrer em muitos outros países: um certo (elevado?) nível de urban bias, isto é, de enviesamento da política económica a favor das cidades e em detrimento das zonas rurais porque determinada essencialmente por "urbanos" com pouca sensibilidade para os problemas do mundo rural --- até porque não serão os "rurais" que irão atirar pedras no próximo momento de instabilidade. A política de subsidiar o arroz é um exemplo desse urban bias (quem são os principais consumidores de arroz subsidiado? Quem são os principais prejudicados por não se deixar o aumento do preço do arroz reflectir-se na alteração dos padrões de consumo a favor de bens agrícolas nacionais como o milho, a batata e outros?)
PS - nesta linha há alguma coisa a dizer sobre a recente polémica suscitada pelo Governo por causa da Timor Telecom. Fica para depois.
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