O dia da comemoração da independência não é, provavelmente, a melhor ocasião para pensar em coisas sérias. Festa é festa...
Mas não resisto à tentação de pensar um pouco sobre o tema desta 'entrada', cujo subtítulo ou título alternativo poderia ser perfeitamente "E agora?!..."
Quer este quer os anteriores governos têm feito fincapé na exigência de que a fábrica de liquefacção do gás do Greater Sunrise seja instalada na costa sul do país, confiando que ela será o motor do processo de desenvolvimento do país. E aqui surge-me a pergunta provocatória: será mesmo? E se não for?!... Ou for apenas temporariamente?!... Sim, que na vida quase tudo é efémero...
A pergunta pode parecer estranha dados os enormes investimentos previstos para as instalações a construir. Ok! 'tá bem, mas... Quanto tempo serão usadas essas instalações? 25 anos? 30 anos? Qual a garantia de que, terminado o prazo de exploração do gás no Greater Sunrise Timor Leste não venha a ficar senão com um enorme "elefante branco" sem utilização alternativa?
E quais são as perspectivas de criação de empregos PARA TIMORENSES nas instalações? Recordo que estamos perante um investimento essencialmente capital-intensivo, que ocupará certamente relativamente pouca mão de obra comparativamente ao capital fixo envolvido. E face à falta de mão de obra especializada no país --- eu sei! não há mal que sempre dure... --- o que se pode esperar como criação de emprego directo e, mesmo, indirecto?
Desempenhando um pouco a função de "advogado do diabo" --- utilíssima, aliás!... ---, gostava de ver estas perguntas respondidas sem paixão.
Mais: sendo função dos economistas e dos políticos pensar em cenários alternativos e em "first best" e "second best", haverá soluções alternativas à implantação desta indústria em Timor Leste? Seria viável, em negociações que teriam de ser sempre "duras", exigir que, a não ser instalada a fábrica em Timor Leste, a empresa promotora do investimento fosse obrigada a contribuir para o desenvolvimento do país por outra forma? Por exemplo: responsabilizando-a pela mobilização de investimentos no país em montante a definir? Investimentos, por exemplo, em produção e distribuição de energia, infraestruturas várias (estradas, escolas técnicas, etc), empresas que produzam para o mercado interno e, pricipalmente, para o mercado externo. Será que estes investimentos não serão mais vantajosos (e de vida útil maior) para o país do que instalações que têm uma vida relativamente reduzida no tempo? E quando esta fábrica fechar e todas as que lhe estão a montante e, eventualmente, a juzante acabarem também por fechar? Timor Leste fica com o quê? Ferro velho?
Enfim, vamos deitar contas à vida com um horizonte de muito longo prazo e não apenas de "meia dúzia" de anos?!... E se hoje não é bom dia para isso amanhã pode ser.
2 comentários:
Professor,
obrigado por, uma vez mais, insistir em pôr-nos a pensar em Timor. Por favor, queira continuar, porque nunca é demais. Podem ser poucos, mas alguns hão-de ouvir!
Um abraço timor, do
José António Cabrita
Por falar em futuro... afinal parece que nao andam a dormir...
O grupo português Martifer está a proceder ao estudo do potencial de Timor-Leste em energias renováveis, devendo entregar o relatório final em Maio de 2010, anunciou hoje o porta-voz do governo timorense, Ágio Pereira
O relatório preliminar já entregue pela empresa portuguesa, que desde 2008 está a fazer levantamentos em Timor-Leste, avança que o país possui um grande potencial nas áreas da energia hidroeléctrica, energia eólica, biomassa, energia geotérmica, energia fotovoltaica, biogás e combustíveis renováveis.
De acordo com o porta-voz do governo estão a ser identificadas opções no que toca a fontes energéticas, sendo necessário efectuar estudos complementares para determinar quais as fontes mais viáveis em cada área.
A secretaria de Estado da Política Energética compilou já também informações detalhadas a respeito do potencial de diversas fontes de energia acessíveis e não poluentes e os dados serão incorporados «numa Política Nacional Energética abrangente».
O governo avançou entretanto com alguns projectos na área das renováveis, para fornecer energia a comunidades isoladas, através do Plano de Electrificação Rural, abarcando o uso de biogás, mini-hídricas, fotovoltaico e biocombustível, com o envolvimento directo das autoridades locais.
No biogás existem presentemente seis unidades contentoras de gás, entre os 10 e os 20 metros cúbicos, uma unidade com 75 metros cúbicos, e uma unidade com 142 metros cúbicos, servindo 219 famílias.
Em Loihuno está a ser construída uma mini-hídrica que deverá estar concluída até ao final do ano e que servirá 50 a 100 famílias, segundo estimativas do governo.
No que toca à energia solar foram instaladas 2.143 unidades solares, para iluminar igual número de famílias, com capacidade entre os 40 e os 50 watts, durante 5 horas por noite, e ainda três unidades para alimentar televisões via satélite em aldeias.
Quanto ao biocombustível estão a ser constituídos grupos cooperativos de cultivo e produção para as destilarias, estando uma já a funcionar, com capacidade para produzir 1500 litros.
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