sábado, 14 de maio de 2011

Afinal em que ficamos: são 20% ou 0,4%?

Em comunicado recente do Secretário de Estado da Presidência do Conselho de Ministros e porta-voz oficial do Governo diz-se a certa altura:


Por todas as razões (não podemos, não devemos e, principalmente, não queremos), não nos queremos imiscuir num debate entre agentes políticos de Timor Leste mas porque existe um erro sobre a interpretação do termo "quintil", permitimo-nos abordar aqui o assunto na sua dimensão exclusivamente económica.
Repare-se que na transcrição acima do comunicado se diz que "em Dili apenas 0,4% dos cidadãos se enquadram no grupo mais desfavorecido, o dos 20% mais pobres". Isto é e se bem entendemos a frase, fala-se de "cidadãos" e de "pobres". Mas os pobres também são cidadãos, também são pessoas. Por isso se está a dizer, na prática, que os 20% da população... são iguais a 0,4% da população! Ou entendi mal?
Isto, manifestamente, não deve corresponder à verdade pois quando se fala de distribuição de rendimento ou de riqueza o que está em causa é a relação entre duas variáveis: população, por um lado, e rendimento (fluxo) ou riqueza (stock), por outro.
Veja-se o que se refere no texto abaixo retirado das lições de Carlos Barros sobre o assunto:


Temos, pois, que os quintis dividem a população em 5 grupos de 20% desta e indicam a percentagem de rendimento ou de riqueza que cabe a cada um deles. Isto parece fazer mais sentido.


Um outro indicador muito usado quando se estuda a distribuição de rendimento ou de riqueza é a proporção entre o rendimento recebido ou a riqueza detida pelo grupo dos 20% mais ricos da população e o rendimento auferido ou a riqueza controlada pelos 20% mais pobres.


"The income quintile share ratio or the S80/S20 ratio is a measure of the inequality of income distribution. It is calculated as the ratio of total income received by the 20 % of the population with the highest income (the top quintile) to that received by the 20 % of the population with the lowest income (the bottom quintile). "


Cremos que esta definição do Eurostast da Comissão Europeia também confirma a interpretação acima sobre o conteúdo dos quintis quando usados na análise da repartição do rendimento ou da riqueza.

3 comentários:

Anónimo disse...

Caro Prof.

Esse porta voz ou é estupido ou é do Sporting, há uns anos em Cabo Verde a Lucrécia, conversava com habitantes locais e um dizia que agora Cabo Verde já estava muito desenvolvido, porque toda a gente andava calçada, será que é o mesmo que esse atrasado mental quer dizer para Timor Leste??

Beijinhos da Querida Lucrécia

Anónimo disse...

"em Dili apenas 0,4% dos cidadãos se enquadram no grupo mais desfavorecido, o dos 20% mais pobres".

Sr Prof. penso que e uma questao de interpretacao e da minha parte nao venho nenhuma contradicao. Da-me a entender que aqui os 0,4% refere-se a percentagem da populacao DE DILI que enquadram no grupo dos 20% mais desfavorecidos a NIVEL NACIONAL (so pode ser e so assim faz sentido).

Seria erroneo interpretarmos o "grupo dos 20% mais desfavorecidos" como sendo 20% da populacao de Dili uma vez que estamos a falar sobre sobre um estudo nacional.

Alem do mais o Jose Teixeira tambem menciona 'riqueza'. Estara ele a referir-se a riqueza de Dili ou riqueza nacional? Obviamente que tambem nacional.

Idealmente a fraze do Sr Agio podia ser mais clara mas mesmo assim facilmente se pode deduzir que ele esta a demonstrar que em Dili somente 0,4% da populacao esta incluida no grupo dos 20% dos mais desfavorecidos a nivel nacional dai ele ver tal percentagem de forma positiva uma vez que Dili ja teve 150 mil refugiados, cerca de 10% da populacao nacional.

E somente a minha modesta opiniao.

A. M. de Almeida Serra disse...

Ao anónimo:
Não sei qual a interpretação a dar mas os dados que conheço do inquérito em causa não deixam dúvidas de que se trata de uma análise distrito a distrito. Sendo assim, a interpretação que dá à do Sr. Porta Voz do Governo não me parece plausível.
Mas, como termina o seu comentário (que agradeço) "é [também] somente a minha modesta opinião".