sexta-feira, 28 de dezembro de 2012

Novo Índice de Preços no Consumidor e taxa de inflação

Contrariamente ao que tem sido hábito, a Direcção Nacional de Estatística de Timor Leste não divulgou dados sobre o Índice de Preços no Consumidor relativo ao mês de Novembro e aparentemente não o irá fazer para o mês de Dezembro a não ser em Janeiro.
Nessa ocasião a DNE espera lançar o há muito esperado IPC com uma base mais actual, o inquérito às despesas familiares de 2011. Será um avanço significativo face ao que tem sido usado até agora, o desactualizado IPC com 2001=100. Uma das principais alterações metodológicas a introduzir é a modificação do peso das várias rubricas das despesas das famílias.


Do que fica acima resulta que não podemos apresentar aqui e agora, como temos feito todos os meses, o valor da taxa de inflação em Dili em Novembro e em Dezembro de 2012.
Resta-nos recordar os principais dados de Outubro passado: nesse mês a taxa homóloga foi de 11,5% e a média anual era de 12,5%, contra os 13,5% do ano de 2011. Sabendo-se que há uma tendência para uma subida sazonal dos preços no final do ano por causa do início da época das chuvas e das "festas" do Natal e ano novo, não nos admiraria que o actual IPC (2001=100) venha a registar uma taxa média anual não muito abaixo da verificada no ano passado.

quinta-feira, 20 de dezembro de 2012

OGE 2013 de Timor Leste

Através do site do La'o Hamutuk tomei cotacto com as primeiras informações disponíveis sobre o Orçamento Geral do Estado de Timor Leste para 2013 e da comparação com os anos desde a [restauração da ] Independência.

 
A primeira conclusão é a de que, de certa forma como se esperava --- era imppossível manter o ritmo de crescimento das despesas dos últimos anos e as associadas à electrificação do país estavam, em parte, já previstas e efectuadas ---, o valor global do orçamento não diverge muito significativamente do de 2012.
 
 
 
A imagem acima mostra que o nível de excução de despesas do Fundo de Infraestruturas para algumas das "grandes obras" previstas ficou significativamene longe do estimado sendo provável que a redução das verbas a retirar do Fundo Petrolífero para financiar o OGE de 2013 corresponda à utilização de valores não utilizados este ano mas autorizados pelo Parlamento Nacional.
Até ao fim de Outubro passado tinham sido transferido para a conta do Estado cerca de mil milhões de USD dos 1500 milhões autorizados pelo Parlamento quando aprovou o OGE 2012. Mesmo que parte desta diferença venha a ser efectivamente gasta por conta deste último OGE, deve sobrar dinheiro para ajudar a financiar o de 2013.
 
É possível que a decisão de manter o valor do OGE sensivelmente no mesmo nível do anterior tenha alguma justificação na tentativa de "arrefecer" um pouco a economia de modo a permitir uma baixa da taxa de inflação (13,5% em 2011 e provavelmente cerca de 12% em 2012). Oxalá se consiga baixar os valores desta.
 


sábado, 1 de dezembro de 2012

10 princípios (da OCDE) a observar nas compras pelo Estado (public procurement) para eduzir os riscos de corrupção

Navegando na internet dei com esta publicação da OCDE-Organização para a Cooperação e o Desenvolvimento Económico, uma organização internacional com sede em Paris:

 
 
Nela são enumerados 10 princípios para melhorar o "procurement" do Estado de modo a reduzir os riscos de corrupção (clicar nas imagens para as aumentar e tornar legíveis):
 



O livro desenvolve estas ideias principais.

segunda-feira, 26 de novembro de 2012

Recordando algumas coisas sobre o Fundo Petrolífero


Once upon a time, já lá vão quase 15 anos, convenci o Conselho Científico do ISEG/UTL (leia-se: Instituto Superior de Economia e Gestão da Universidade Técnica de Lisboa), onde sempre dei aulas, a criar a disciplina de "Economia Asiática" na licenciatura em Economia. Mais tarde foi criada no Mestrado em Desenvolvimento e Cooperação Internacional do Instituto a disciplina de "Economia da Ásia-Pacífico". Ambas foram por leccionadas por mim até que me reformei, há cerca de 2 anos. Tenho orgulho no facto de estas serem --- não sei se continuam a ser mas creio que sim... ---, no mundo que fala português,  as únicas disciplinas exclusivamente dedicadas ao estudo da Ásia numa perspectiva económica (mas não economicista já que se "vagueia" também pelos terrenos da História, da Sociologia e da Política).

Ora, a minha colega que me subsituíu na docência da disciplina caíu na asneira :-) de me convidar a dar uma aula sobre Timor Leste. Foi ao preparar essa aula que fui olhar para a "história" do Fundo Petrolífero e dei com o que segue abaixo.

Da documentação preparada pelo então Governo da RDTL, liderado por Mari Alkatiri, para a campanha de informação sobre o Fundo constam alguns gráficos interessantes que resolvi recuperar e comparar com a realidade da época e actual (em termos de valores estatísticos).
Tenho para mim que na interpretação da História é necessário ter presente o contexto da época e não tentar lê-la apenas com os olhos de hoje e isso ajuda a explicar o (sabe-se hoje mas não se sabia na altura...) (excessivo) conservadorismo das estimativas efectuadas.
O gráfico abaixo traça o perfil do que então (2005) se esperava que viesse a ser a evolução das receitas petrolíferas poupadas em cada ano no Fundo e das despesas do Estado através do Orçamento.


Repare-se que o gráfico (que está em valores reais --- i.e., sem inflação --- enquanto os valores efectivamente verificados estão em valores nominais e, por isso, não estritamente comparáveis) aponta para despesas, cerca de 2010, da ordem dos 120 milhões de USD em cada ano e em receitas a acumular anualmente de cerca de 300 milhões, mais milhão, menos milhão.
A realidade, que consta do quadro abaixo, foi, no entanto e felizmente, bem diferente. E o Governo também... Isto é: as estimativas feitas originalmente foram "muitissíssimo" (para "citar" um amigo meu...) conservadoras mas isso justifica-se quer por uma opção deliberada e explicitada devido à conhecida grande instabilidade do preço do petróleo quer com o facto de na época o preço do petróleo e do gás ser muito inferior ao que se veio a verificar (em meados de 2005, quando as estimativas foram efectuadas, o preço médio do petróleo bruto andava pelos cerca de 45-50 USD/barril (um ano antes andava pelos 35...) e 5 anos depois, após a grande subida e queda de 2008, rondava os 75 USD/barril (em meados deste ano andava pelo 100-105).


Por sua vez, as despesas públicas foram efectivamente as que constam do quadro abaixo: dos cerca de 120 milhões estimados em 2005 "saltou-se" para os 600 de 2009, os 750 de 2010 e os 1000 em 2011. Ai se os criadores originais soubessem o que se iria passar no futuro!...


Da documentação referida acima elaborada em 2005 consta também o esquema abaixo ilustrativo da relação entre o Fundo Petrolífero e o financiamento do Orçamento Geral do Estado (OGE). Note-se que a estimativa para o ano de 2007/08 (na altura os anos fiscais eram assim) era de que as receitas petrolíferas a serem canalizadas para o Fundo Petrolífero seriam de cerca de 130 milhões de USD e a transferência para o OGE de 76 milhões (59% das receitas petrolíferas do ano).
A realidade foi bem diferente: no ano civil de 2007 foram registados cerca de 1300 milhões de receitas e as transferências para o OGE foram de 300 milhões (23%).

 

quarta-feira, 21 de novembro de 2012

O que vai acontecer ao preço da energia? Ouviste, Timor Leste?!...

O Samsung Economic Research Institute, uma das instituições mais credenciadas de investigação económica da Coreia (do Sul, claro...) publicou recentemente um boletim que inclui um artigo muito interessante intitulado Is commodity super-cycle ending?. A resposta do artigo aponta para um mais ou menos claro "sim", ainda que ele seja mais claro nuns casos (numas commodities) do que noutros.

 
Como se pode verificar pelo gráfico acima parece estar-se a atingir o "pico" do actual ciclo de subida de preços das matérias primas, que começou em 1997-98. Desde então os preços das commodities têm aumentado sistematicamente mas, passados cerca de 15 anos, parece que há sinais de que a subida parou e vai começar um ciclo, relativamente longo (o anterior durou cerca de 17-18 anos), de descida dos preços.
 
A Timor Leste interessa-lhe fundamentalmente o que se irá passar no conjunto dos preços da energia e, em particular, do petróleo bruto (crude) e do gás natural. O gráfico abaixo ilustra o que se passou até agora e "dá um cheirinho" do que está para acontecer.
Como se pode verificar, a descida do preço do gás natural começou nos finais da década passada e o artigo defende que há vários factores que apontam para que a tendência do futuro próximo vá no mesmo sentido. O mesmo acontecerá ao petróleo bruto.
 
 
Neste caso, a previsível intensificação da extração do petróleo a partir dos chamados xistos betuminosos (shale oil), em que países como os Estados Unidos e, pricipalmente, a China são muito ricos vai, provavelmente, pressionar os preços no sentido da sua redução embora outros factores (ex: aumento do grau de urbanização na China) "joguem" em sentido contrário. O balanço final parece ser, porém, no sentido da baixa do preço do petróleo.

Quanto ao gás natural --- a maior riqueza de Timor Leste ---, as perspectivas parecem ser igualmente "razoavelmente más"... em boa parte por causa do gás de origem betuminosa. O mapa abaixo dá uma ideia das zonas do globo mais ricas neste tipo de gás natural. Como se pode verificar, países como os Estados Unidos, o Canadá, o Brasil e a China têm grandes reservas e a aposta que este último país está a fazer no aumento da sua produção pode resultar numa descida do preço do gás natural a nível mundial.


Se se vier a confirmar a tendência para os ciclos de descida de preços de 15-18 anos, então Timor Leste tem que "se cuidar" não só em relação às receitas a obter da zona de Bayu-Undan, a única actualmente em exploração, mas também do Greater Sunrise, cuja exploração parece estar a ser "empurrada" para o período de preços mais baixos. Olho vivo!...

Ainda sobre a inflação

 
Já referimos que a taxa homóloga de inflação em Dili, em Outubro, foi de 11,5%. No quadro abaixo podem ver-se as mesmas taxas em alguns dos grupos de produtos que constituem o "cabaz de compras" que serve de base ao cálculo do IPC.
 

segunda-feira, 19 de novembro de 2012

Agora sobre a educação...

A mesma fonte indicada nas entradas anetriores publica também os dados abaixo sobre a educação. Mais uma vez compare-se a situação de Timor Leste com a de outros países do Sudeste Asiático.

 
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Quer no ensino primário quer no secundário o número de alunos por turma é muito superior ao da maioria dos países, com as consequências que se adivinham na qualidade do ensino. Sabendo-se como os investimentos no ensino levam muito tempo a frutificar, paee evidente a recomendação: invista-se (muito) mais na formação de docentes para aqueles dois gaus de ensino. Há que reconhecer, no entanto, que, nomeadamente nos últimos anos, o esforço levado a cabo tem sido grande. Mas parece que precisa de ser ainda maior. "Lalais, lalais!"


Dados sobre gastos com a saúde em Timor Leste

As estatísticas recentemente publicadas pela ESCAP (vd entrada anterior) têm os seguintes dados sobre as despesas com saúde nos países da região. A título comparativo publicam-se abaixo os valores para o Sudeste Asiático, incluindo Timor Leste.
 
Confira você mesmo a posição de Timor Leste no contexto da região. Note-se, por exemplo, que só Myanmar (Birmânia) gasta menos, em percentagem das despesas públicas, com o sector da saúde. Por exemplo, o Laos gasta 5,9%, a Indonésia 7,8% e o Camboja 10,5%. O Vietname gasta o mesmo que a Indonésia: 7,8%.
Naturalmente que estas diferenças correspondem a diferentes opções e hierarquias de objectivos por parte das autoridades nacionais da cada país.

Estatísticas de Timor Leste e não só

A Comissão Económica das Nações Unidas para a Ásia-Pacífico (UNESCAP na sua sigla em inglês) publicou recentemente o seu anuário estatístico com dados sobre vários agregados para os países da região, incluindo Timor Leste, o que permite compara este com outros países.
Veja aqui essa informação sob a forma de ficheiros de EXCEL.
Além disso estão disponíveis "perfis" estatísticos por país, entre os quais o de Timor Leste (em PDF).

Inflação homóloga em Outubro (em Dili): 11,5%

A Direcção Nacional de Estatística divulgou recentemente os dados sobre o Índice de Preços no Consumidor (IPC) em Dili bem como sobre a taxa de inflação que se verificou naquele mês.
O IPC atingiu o valor 201,8 (base Dezembro 2001 = 100, o que significa que, em média, os preços em Dili são agora o dobro do que eram no mês base), depois de ter começado o ano nos 193,8 e de em Setembro ter sido de 199,7.
Estes valores significam que a taxa de inflação homóloga em Outubro (OUT12 vs OUT11) foi de 11,5%, com uma taxa mensal de 1,1%, a mesma de Setembro e a segunda mais alta do ano depois dos 1,4% de Janeiro deste ano.
Este valor da taxa homóloga significa também que ela tem estado a aumentar pois em Junho passado foi de 11%. Como tradicionalmente os preços tendem a aumentar mais rapidamente no último trimestre do ano devido ao início da época das chuvas e à pressão dos gastos no final do ano, é provável que a taxa homóloga continue a aumentar (até mais rapidamente) até ao fim do ano, levando-a à zona dos 12%. Mais coisa menos coisa...


A taxa média anual, por sua vez, atingiu em Outubro os 12,5%. Recorde-se que este valor corresponde à diferença entre a média do IPC dos últimos 12 meses com a média correspondente dos valores do IPC nos12 meses anteriores (Out10-Out11).
Em 2011 a taxa média anual foi de 13,5%.

segunda-feira, 29 de outubro de 2012

Dia Mundial da Poupança

 

Ora suponhamos...
... que um banco comercial em Timor Leste resolve criar uma conta de poupança com esta finalidade e que a remunera com uma taxa de juro bem mais generosa do que o habitual (cerca de 1%...) --- apesar de não ser uma taxa muito alta e, principalmente, de continuar a ser uma taxa de juro real negativa devido ao alto valor da taxa de inflação (provavelmente 12% em 2012).
A contrapartida da taxa mais alta pode ser o compromisso de que ela só será paga se o depositante se comprometer a "alimentar" o depósito regularmente e a levantar o dinheiro apenas para pagamento de custos de educação e não antes de decorrido um período mínimo --- por exemplo 2 ou 3 anos...
Suponhamos que abrimos a conta com 200 dólares e que se assume o compromisso de depositar 10 dólares todos os meses.
Ao fim de cinco anos investiram-se/depositaram-se 800 USD e recebeu-se um juro de 78,79 USD. O total a receber  será então de 878,79 USD a serem usados, por exemplo, no pagamento de estudos universitários.

 

Outro exemplo: um depósito inicial do mesmo montante e um depósito semestral de 100 USD. O depósito seria apenas por 3 anos.


O total a receber no final dos 3 anos seria de 841,64 USD. Se o depósito fosse a 5 anos o saldo final a receber seria de um pouco mais de 1.300 USD.

segunda-feira, 15 de outubro de 2012

Veremos até onde chega a burrice humana...

(Pelo menos a de certos ministros...)

O Fundo Monetário internacional acaba de publicar as suas estimativas para a evolução da economia mundial (e de muitas economias em particular) para o próximo ano, 2013. Veja-se uma síntese no quadro abaixo:


Por ele se pode verificar que se espera agora que em 2013 a taxa de crescimento do produto mundial esteja 0,3 pontos percentuais abaixo do que se esperava há ainda poucos meses (Julho passado).
De notar que, como é usual, algumas economias vão ser mais afectadas do que outras. É o caso, por exemplo, da Espanha, com cuja economia a portuguesa está hoje tão interligada, "engripando-se" a nossa quando a espanhola começa no "funga-funga".
A própria Alemanha, o "motor" da Europa, vai sofrer uma "talhada" de 0,5 pontos percentuais no seu crescimento entre 2012 e 2013. Esta é também a média da "queda" da área Euro em que Portugal se insere.
E face a este panorama "desastroso" da economia internacional (europeia) o que fazem os nossos governantes máximos? Assobiam para o ar e teimosamente apostam em afundar o país até um nível nunca visto (e muito menos sonhado) em vez de aproveitarem o argumento da evolução da economia internacional para aliviarem um pouco o sacrifício a que está exposto todo um povo. De certeza certezinha que quando se fazem eleições é para dar aos governantes a possibilidade de fazerem todos os dislates que querem à revelia de todas as suas promessas eleitorais? Não me parece...

Ao princípio ainda pensei que o Ministro das Finanças e a sombra que paira atrás dele, qual "emplastro" do Porto --- refiro-me ao primeiro ministro, claro... --- eram "apenas" ignorantes, "voire même" burros. Mas agora começo a pensar seriamente se não estão a entrar por um caminho em que podem ser acusados de um monstruoso "crime de lesa Pátria". E por muitas gerações... E ninguém tuge nem muge?!... O que andam a fazer os outros órgãos de soberania?!... Simplesmente encolhendo os ombros e assobiando para o lado porque "eles" foram eleitos para governar? Há pois foram! Para governar e não para desgovernar de tal forma que estão a empurrar meio mundo para fora do país. Nunca vi! Nunca esperei ver... É incrível que se veja e que ninguém faça nada... A não ser comprar mais carros blindados, não vá o diabo tece-las...
É preciso gritar bem alto: o Rei vai nu!... É que pelos vistos não há pior "Salazar" que um que tenha sido eleito... soît disant democraticamente. Como dizia o meu pai (esta é a versão soft, não se assustem): "vão-se catar!..."

domingo, 14 de outubro de 2012

Dados estatísticos do FMI sobre Timor Leste, Out2012



Uma moeda única, como o Euro, para o Sudeste Asiático (and beyond)?

Em reunião dos ministros das Finanças da ASEM (que reune os países da ASEAN/Sudeste Asiático) realizada ontem voltou a vir "à baila" o assunto da criação de uma moeda única para a região.
Face ao facto de Timor Leste NÃO ter moeda própria e considerando a experiência do Euro --- em que os pequenos países parece terem mais difuldades que os outros em suportar as consequências de uma política de moeda única para um espaço economicamente tão diversificado ---, este é um tema muito interessante a seguir no futuro. Veja-se aqui o link para a notícia.

quarta-feira, 10 de outubro de 2012

Estimativa do FMI para a inflação em Timor Leste em 2012: 12%

O FMI acaba de publicar, a propósito da realização neste próximo fim de semana, em Tóquio, da sua conferência anual conjunta com o Banco Mundial, o seu World Economic Outlook do Outono.
Na base de dados estatísticos que o acompanha, a previsão para a inflação em Timor Leste para 2012 é de 12% --- um pouco menor que os 13,5% de 2011 e a exigir alguma reflexão sobre a hierarquia dos objectivos da política económica no país ou, pelo menos, uma melhor articulação entre os objectivos "crescimento da produção" e "estabilidade dos preços".
Note-se que aqueles valores indicam que quem não viu alterado o seu rendimento de base nos últimos dois anos perdeu, no conjunto, um pouco mais de 1/4 do poder de compra que tinha no início de 2011... 25%!

sexta-feira, 28 de setembro de 2012

História (ou "estorinha"?) do emblema do Banco Central de Timor-Leste

O texto que se reproduz abaixo conta a história da escolha de um karau como símbolo do Banco Central de Timor-Leste (BCTL).
O que ele não diz é que o búfalo fixado no logo existe mesmo (existirá ainda?) e foi retratado perto de Laleia, numa curva da estrada junto da planície que antecede aquela povoação para quem se dirige de Baucau para Dili.
 


quinta-feira, 27 de setembro de 2012

Ainda a taxa de inflação

No gráfico abaixo pode ver-se a evolução da taxa homóloga de inflação em Dili entre os meses de Agosto de 2011 e Agosto de 2012, quando esta atingiu os 11,3%, apenas 1 ponto percentual menos que no mês homólogo do ano passado.


O conjunto dos produtos alimentares, em que a população gasta, em média, quase 57% do seu rendimento gasto em consumos, subiram 12,4%. Os vegetais e as frutas terão subido, respectivamente, 14,1% e 14,5%, respectivamente.

A manter-se a tendência e contando com alguma aceleração da subida de preços que se verifica normalmente no último trimestre do ano é possível que a taxa homóloga de Dezembro deste ano se situe nos cerca de 12-13% (mais coisa, menos coisa...), o que é, sem dúvida, uma significativa melhoria face aos 17,4% de Dezembro de 2011.
Mas ainda assim preocupante pelo que significa de importante perda de poder de compra da população, particularmente da de menores rendimentos, um verdadeiro "imposto" sobre estes. Nestas situações de inflação rápida há sempre uma importante tranferência de rendimentos dos mais pobres, usualmente com rendimentos fixos (salários, pensões, subsídios e similares), para os mais ricos, cujos rendimentos tendem a aumentar ainda mais...
Uma aparente (?) indiferença perante esta leitura "social" da inflação que se nota em alguns decisores de política económica é preocupante, como se fizessem um simples encolher de ombros perante algo que parece entender-se como sendo "apenas" um azar, sabe-se lá se com origem no diabo ou nalgum antepassado mais "retorcido" que resolveu estender a sua maldição aos que por cá andam por não terem pago o resto do seu barlaque...
Não! Não é "azar" nenhum! É o resultado de uma deficiente hierarquização dos objectivos da política económica.

segunda-feira, 24 de setembro de 2012

Inflação homóloga de Agosto/12: 11,3%

A Direcção Nacional de Estatística acaba de divulgar os valores dos Índices de Preços no Consumidor em Agosto passado.
Deles se deduz que a taxa mensal de inflação foi então de 0,4%, mais 0,1 pontos percentuais que o valor de Julho e o dobro da de Agosto do ano passado.
Por sua vez a taxa homóloga passou dos 11,1% em Julho para 11,3% em Agosto, numa demonstração de uma pequena aceleração da inflação.

A estimativa da taxa de inflação média anual passou agora para 10,6%. Este valor resulta do uso dos valores observados até agora e das médias mensais de cada um dos quatro últimos meses dos anos entre 2002 e 2011. Se usarmos apenas estas médias dos anos 2010 e 2011 a taxa média anual (estimada) passa para 11,3%, um valor igual ao da taxa homóloga actual.

"Educação financeira", "inclusão financeira" e outros "palavrões"

Vem esta pequena nota a propósito de uma conversa mantida há tempos com um amigo a propósito das enormes filas que durante os últimos dias de cada mês e os primeiros dias do mês seguinte quase bloqueiam o acesso aos balcões de alguns bancos em Dili durante pelo menos uns dez dias.
Dizia-me ele que embora muitas pessoas já estejam familiarizadas com o uso das "ATM-Automatic Teller Machines" (vulgo, para os portugueses, "caixas multibanco"), há ainda uma imensa maioria que quer é levantar o dinheiro todo que lhe "pinga" na conta logo que ele por lá aparece nem que seja preciso passar, como passam, horas a fio nas filas para levantarem o seu dinheiro "entupindo" completamente os serviços de alguns bancos.
Independente de saber se estes têm ou não a obrigação de estar preparados para estas circunstâncias, que se repetem todos os meses e são, por isso, previsíveis abrindo "caixas/balcões" suplementares nesses dias de modo a assegurar que nenhum cliente esteja, por exemplo, mais de meia-hora ou uma hora na fila, parece estarmos, isso sim, perante um caso evidente de falta de "educação financeira" da população.
Aliás, foram-me relatadas situações de pessoas que levantam a maioria do seu dinheiro nas ATM mas como fica lá um "restinho" --- por exemplo 17 dólares... --- que as máquinas não "dão", as pessoas enfrentam horas nas filas só para levantar esse pequeno montante --- eventualente com medo que ele se "esfume" a favor do banco onde tem a conta bancária aberta.

Tenho para mim, pois, que há em Timor Leste um espaço enorme para a "educação financeira" da população. Na medida do possível este blogue tem procurado contribuir para isso mas parece que é preciso "vir ainda mais atrás", a conceitos e procedimentos do sistema financeiro ainda mais elementares. Vamos a isso... :-)

Recordemos, para começar, o significado do termo "educação financeira" como consta de um relatório do Banco Central do Brasil (pg24):


Esta educação é quase uma condição prévia mas aumenta também com o aumento da "inclusão financeira" da população, "o processo de efectivo acesso e uso pela população de serviços financeiros adptados à suas necessidades, contribuindo para a sua qualidade de vida", tal como consta da citação abaixo retirada do mesmo relatório (pg 8):


Sabendo-se que o sistema financeiro do país, particularmente o sistem bancário, é ainda relativamente pouco complexo e de reduzida dimensão, aqui está uma área onde muito há a fazer quer pelo Banco Central de Timor-Leste quer pelos bancos comerciais existentes ou a criar quer por outras entidades financeiras (ex: instituições fornecedoras de micro-crédito mas não só).

quinta-feira, 13 de setembro de 2012

Parabéns, BCTL!

Faz hoje um ano estavamos todos, aqui no Banco Central de Timor-Leste, a comemorar o nascimento deste por transformação nele da então Autoridade Bancária e de Pagamentos do país.
Para quem, como eu, faz por estes dias dez anos (tchiiiii! tanto tempo!...) de "casa", aquele foi um momento especial.
É certo que nesses dez anos nem sempre estive presente mas no cômputo geral e se as minhas contas "de cabeça" não me enganam, devo ter, provavelmente, mais tempo em Timor Leste do que em Portugal.

Ao longo deste ano muita coisa foi feita e alguma (pouca, na verdade) ficou por fazer relativamente ao que era o programa de trabalhos planeado. Pena que, por razões desconhecidas, o Governo não tenha completado a sua parte do processo: a nomeação de um número suficiente de membros do Conselho de Administração do Banco que o tornasse plenamente operacional. Ficou-se pela nomeação do Governador e nada mais. Helas!...

Para comemorar o 1º aniversário do Banco este decidiu publicar uma análise da evolução da economia nacional durante, sensivelmente, o período de existência do Banco.
É esse documento que, naturalmente, não é nem pretende ser uma análise exaustiva da evolução recente da economia nacional, que podem encontrar aqui.


quarta-feira, 29 de agosto de 2012

Inflação (homóloga) em Julho em Dili: 11,1%

A meio deste mês a Direcção Nacional de Estatística de Timor Leste divulgou o valor do Índice de Preços no Consumidor para Julho em Dili. Esse valor foi de 196,8 contra os 196,3 de Junho, o que representa um aumento mensal de 0,3%. Recorde-se que a base 100 é de Dezembro de 2001, o que significa que desde então os preços terão subido, em média, 96,8%.

A taxa homóloga de inflação foi de 11,1%, contra os 11% de Junho e os 13,2% de Julho do ano passado.
A taxa média, por sua vez, passou de 13,3% em Junho para 13,1%. Em Janeiro esta taxa era de 14,3%.
Pelas nossas estimativas de Junho passado, a taxa média de inflação em 2012 poderá situar-se no intervalo 12-13%. Com os dados de Julho e recordando mais uma vez que o segundo semestre, particularmente o último trimestre do ano, costuma ver aumentos significativos dos preços não temos grandes motivos para alterar a previsão. A alterar talvez seja só um niquinho, para a encostar ao limite inferior daquele intervalo ou, mesmo um pouco menos. Mas pouquinho!... :-)

sexta-feira, 24 de agosto de 2012

Lá, cá, em toda a parte? Construção de estradas e corrupção "legal"

As recentes declarações do Presidente Taur Matan Ruak/José Carlos de Vasconcelos a propósito da publicitação da sua declaração de riqueza fizeram-me ir à busca, na net, de material sobre "economia da corrupção". É um tema que sempre me interessou, particularmente desde que há uma boa dúzia de anos uma aluna minha defendeu, sob minha orientação, uma tese de Mestrado sobre a corrupção no Quénia, onde tinha vivido em "menina e moça".

Em resultado da busca cheguei a uma tese de Doutoramento defendida em 2003 na Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), no Brasiuuuuu!
No documento chamou-nos logo a atenção um ponto interessante: o do custo das obras rodoviárias naquele Estado do Sul do Brasil. Daí que tenha decidido simplesmente copiar para aqui, sob a forma de duas imagens das páginas (253 e 254) em que o assunto é abordado, o que o autor diz sobre ele.


sexta-feira, 17 de agosto de 2012

A envolvente externa da inflação em Timor Leste

Numa "nota" como esta não é possível falarmos de TODOS os factores que influenciam a evolução da inflação em Timor Leste. Mas podemos falar de alguns, nomeadamente os factores externos.

Alguns observadores tendem a enfatizar a importância dos factores externos sobre a dos de natureza interna na justificação da inflação no país. Estamos em crer, no entanto, que PRESENTEMENTE os factores internos são mais importantes que os externos. O que se segue serve, quanto a nós, para uma demonstração, ainda que parcial, do que afirmamos.
Vejamos o que se passa com quatro dos factores externos que influenciam os preços em Timor Leste: a taxa de inflação na Indonésia e a taxa de câmbio da rupia face ao USD (não esquecer que o vizinho do lado é responsável pelo fornecimento de cerca de 1/3 das importações de TL), a evolução do preço do petróleo bruto e a evolução do preço do arroz no mercado internacional.

Quanto à taxa de inflação na Indonésia, ela situa-se actualmente (Julho/12), segundo o banco central do país, nos cerca de 4,56%. Em Timor Leste a taxa correspondente (a homóloga) situava-se em 11% (Junho/12 e não Julho). Em 2011 a taxa homóloga de Dezembro, na Indonésia, foi de 3,8% e em Timor Leste de... 17,4%.

Taxa de inflação na Indonésia

Quanto à taxa de câmbio da rupia indonésia face ao USD ela teve o seguinte comportamento nos últimos 24 meses:

Como se pode verificar, entre Julho de 2011 e Julho de 2012 a taxa de câmbio média passou de cerca de 8500 IDR por USD para cerca de 9500 IDR/USD. Isto é, cada dólar americano "paga" agora 9500 rupias quando há um ano apenas "pagava" "apenas" 8500. Isto é, a rupia desvalorizou-se significativamente nos últimos 12 meses ...

...e por isso o USD tem agora um poder aquisitivo bem maior do que tinha há um ano atrás (cerca de 12% superior). O resultado é que os produtos comprados na Indonésia são agora mais baratos.
Note-se que os importadores podem não ter "repassado" integralmente para os consumidores em Timor Leste esta evolução favorável mas se assim foi isso significa que os mecanismos de mercado em Timor Leste ainda "deixam muito a desejar"... Uma certa falta de concorrência, que se faz sentir também nos mercados de outros produtos em TL, pode ser parte da justificação para isto.

Relativamente à evolução do preço do petróleo bruto nos últimos doze meses, ela foi a representada no gráfico abaixo:



Como se pode verificar, o preço oscilou ao longo do ano mas o preço no final do período não era muito diferente do preço no início deste.
Note-se que o que interessaria mais analizar nem seria este preço mas sim o dos combustíveis no consumidor mas infelizmente não dispomos desta série estatística.
Tal como noutros mercados há a impressão de que estes preços estão proporcionalmente mais altos do que os do crude em momentos anteriores. O que pode significar, no caso de TL, que os preços de compra dos refinados no mercado internacional estão proporcionalmente mais altos do que no passado (o que é verdade) e que há algum poder de oligopólio por parte dos importadores timorenses que lhes permite, mais uma vez por falta de concorrência, praticar preços mais altos.

Finalmente, o preço do arroz no mercado internacional também conheceu uma evolução favorável pois, como consta de documento da FAO sobre a evolução dos preços deste cereal (Rice Market Monitor de Julho passado), o arroz do Vietname 25% viu o preço médio do período Jan-Jul/2012 baixar quase 12% relativamente ao equivalente no período homólogo do ano anterior (de 437 USD/ton para 387 USD/ton).

Cremos que os dados anteriores justificam que se afirme que os factores externos até foram, no seu conjunto, relativamente favoráveis a uma descida da inflação mais nítida do que a que se registou até agora em Timor Leste, confirmando, até prova em contrário, a hipótese de, na verdade, serem actualmente factores internos, mais que os externos, a condicionar a evolução da inflação no país. "Cherchez la femme!..." :-)

sexta-feira, 3 de agosto de 2012

Ciclos político-económicos e o combate à inflação em Timor Leste

Um ramo (?) da Economia e da Política Económica interessa-se pela evolução da situação económica conjuntural (= curto prazo) de um país "olhando-a" na sua articulação com os ciclos políticos, particularmente os ciclos entre duas eleições legislativas (ver aqui um texto sobre o assunto).
Genericamente, as concepções sobre a existência de ciclos político-económicos sugerem que os políticos tendem a ser mais "mãos largas" com as despesas públicas algum tempo antes da realização de eleições (para as ganhar, claro...) e que esse facto tende a gerar situações de inflação que são combatidas nos primeiros anos após as eleições pois, ganhas estas, os políticos tendem a "cair na real" e a adoptarem medidas de contracção da economia para provocarem a baixa da taxa de inflação antes que esta atinja valores mais altos e dificilmente controláveis.

Vem isto a propósito do fim do recente ciclo eleitoral em Timor Leste. Depois de dois anos de "mãos largas" na gestão das finanças públicas para satisfazer os anseios de muitos grupos sociais --- o que estará, em parte, na origem da subida da taxa de inflação até aos níveis referidos nas "entradas" anteriores --- e dar cumprimento a promessas eleitorais antigas, será natural que o próximo governo, ganhas as eleições, adopte medidas de controlo dos gastos públicos como forma de ajudar a combater a alta taxa de inflação que se verifica no país, com as consequências que isso tem para o aumento da desigualdade social e redução do nível de vida... de muitos que elegeram os partidos representados no novo governo.

"Recado" ou "wishful thinking"? Nem eu sei... :-)

Custar ou pagar?

O La'o Hamutuk publicou recentemente uma nota sobre "Infrastructure for Timor-Leste's people". O tom geral é de crítica da opção governamental de, a avaliar pelos recursos financeiros afectados aos diversos sectores nos Orçamentos de Estado, dar mais importância às infraestrutras físicas (central electrica de Hera, etc) que aos gastos no factor humano (educação, saúde).
Mas o que queremos salientar no escrito do LH é a seguinte parte: "Better design, procurement and project management can improve the value Timor-Leste gets for its money (experts tell us that road projects here cost twice as much as similar ones in Indonesia or the Philippines)".

Este --- nomeadamente a parte entre parenteses e com ênfase acrescentada --- é um aspecto essencial. De facto, já outros especialistas no sector me disseram que o que o Estado paga em Timor pelas obras nas estradas é muito mais que o que deveria pagar. Isto é: o Estado paga muito mais que o que custa efectivamente a construção/reabilitação das estradas. Esta distinção entre o que custa e o que é pago pelo Estado é essencial. É este um dos principais mecanismos do que poderíamos designar como uma certa forma de "corrupção legal" (a juntar à ilegal...): os empreiteiros "inflacionam" os preços porque sabem que o Estado tem dinheiro para pagar e os burocratas, (na melhor das hipóteses) sem meios de controlo do que é justo pagar ou não, pagam.
Mais: uma fez feita a alocação de recursos passa a haver uma como que "aliança objectiva perversa" entre empreiteiros e burocratas: os primeiros, porque sabem que o Estado tem dinheiro para gastar e dotados de um certo poder de "oligopólio", inflacionam os preços e os burocratas, interessados principalmente em aumentar a taxa de excução do Orçamento de Estado para que no próximo as dotações ao seu dispor não sejam reduzidas, pagam alegremente... (cala-te boca!...)
Até dá vontade de perguntar se, no fundo, quem "faz" uma parte significativa do OGE não são os empreiteiros ao pedirem 100 por aquilo que custa efectivamente 50 ou 60 e não o Governo...

Lembro-me, a propósito, de uma vez ter tido uma conversa com uma pessoa com responsabilidades no ramo em que lhe disse do meu convencimento de que o Governo estaria, em muitos casos e provavelmente, a pagar cerca do dobro do que seria justo pelas obras que incluia no OGE. A resposta veio pronta: "o dobro ou mais!...". E não se faz nada para reduzir este desperdício?

Resultado de tudo isto: com um OGE mais baixo será possível, cremos, fazer o mesmo (ou mais...) do que se faz. Daí a necessidade, salientada pelo La'o Hamutuk, de "um melhor desenho/estruturação, procedimentos de compras e gestão dos projectos". Talvez o recurso a alguns empréstimos externos bonificados efectuados por organismos internacionais de apoio ao desenvolvimento (cooperações nacionais, Banco Mundial, Banco Asiático de Desenvolvimento, etc) ajude a melhorar estes aspectos.

Nota: por "oligopólio" entende-se uma forma de funcionamento dos mercados em que os "produtores" (neste caso os empreiteiros) se servem do domínio que têm sobre a "oferta" para aumentarem artificialmente os preços praticados, obtendo assim um sobrelucro "imoral"

quarta-feira, 1 de agosto de 2012

Mais um pouco sobre a inflação em Timor Leste

Na última entrada referimos que a taxa média anual de inflação em Dili era, em Junho passado (i.e., a variação média dos preços entre a média do IPC no período Jul11-Jun12 relativamente à do período Jul10-Jun11), de 13,3%, apenas ligeiramente abaixo do valor de todo o ano de 2011. Note-se que, como é usual fazer-se para eliminar o efeito das oscilações que por vezes se verificam no mercado de habitação, a taxa de inflação média anual do "total sem habitação" é ainda mais elevada, situando-se em Junho/12 nos 13,9% contra os 14,2% do ano passado.

Em Janeiro a taxa média anual total tinha sido de 14,3%, pelo que se está numa (lenta) descida da mesma que, como referimos, a poderá levar a ficar dentro do intervalo 12-13% para todo o ano de 2012. Oxalá nos enganemos e que ela venha (significativamente) para baixo deste intervalo

Mas quais os tipos de produtos que são os principais responsáveis por esta elevada taxa de inflação? Como o peso dos produtos alimentares no cálcuo do IPC (Índice de Preços no Consumidor) é muito alto (56,7%), é natural que sejam estes os "culpados" da situação actual. Os 14,5% de taxa média anual da "alimentação" são, pois, determinantes na taxa total.
Dentro da alimentação verificamos que as frutas (32,9%), os vegetais (22,8%) e a carne e seus derivados (20,5%) são, pelo seu peso no cabaz (15,3 pontos percentuais no seu conjunto), os principais "culpados" desta subida dos preços.
Os transportes (3,2% do cabaz), que incluem o preço dos combustíveis, conheceram, por sua vez, uma taxa média anual de inflação de 17,5% em Junho/12.

Note-se que uma parte importante dos produtos alimentares --- que vimos serem os principais "responsáveis" pela alta taxa de inflação em Timor Leste --- são de origem nacional e não importada. Parece confirmar-se, pois, que a actual inflação é principalmente "nacional", mais que "importada" (que também existe, claro). Como dissemos noutro local, isto remete, com grande probabilidade, para um aparente "excesso" de procura interna relativamente à oferta --- por sua vez resultado de um relativo "excesso" de dinheiro em circulação provocado por um "excesso" de gastos do Estado.
A ser assim, como parece, e face às conhecidas limitações da política monetária no combate à inflação em países sem moeda própria é à política orçamental (gastos do Estado) que cabe um papel importante na luta contra a inflação e moderação na subida dos preços. Agora que está para nascer o próximo governo seria bom que ele tivesse em consideração este facto. Pelo menos mais do que, pelos vistos, teve até agora... Isto é, uma política orçamental, "aqui e agora", tem de ter em consideração não apenas o "amanhã" (as evidentes necessidades de desenvolvimento) mas também o "hoje" (o controlo da inflação). Caso contrário quase se poderá dizer que se está a tirar com uma mão o que se dá com a outra... É que, a verificar-se a taxa de inflação que se estima, isto significa que quem não viu os seus rendimentos aumentados em 2011 e 2012 vai perder, no conjuntos dos dois anos, cerca de 1/4 do seu poder de compra. Uiiiiii!...

Uma nota final que é quase um post scriptum: as limitações referidas da política monetária num país sem moeda própria não desparecerão automaticamente, como por milagre, se o país, qualquer que ele seja, passar a emitir a sua própria moeda. De facto, o mais certo é que o país que crie uma moeda própria precise, simultaneamente e pelo menos durante um período que não será curto, de uma política cambial relativamente "dura", que limite as oscilações da sua taxa de câmbio, o que limitará fortemente o recurso à política monetária como instrumento de luta contra a inflação. Os instrumentos estarão lá mas quase não poderão ser utilizados para não comprometer a taxa de câmbio da moeda nacional entretanto criada.

segunda-feira, 30 de julho de 2012

Inflação homóloga em Junho: 11%

Segundo os dados da Direcção Nacional de Estatística o Índice de Preços no Consumidor (IPC), em Dili, atingiu os 196,3, depois de no mês anterior ter sido de 195,9.
Estes valores significam que a subida de preços no mês foi de 0,2% relativamente a Maio e que a taxa homóloga (JUN12 vs JUN11) foi de 11%.
O cálculo da taxa média --- a mais usada pelos economistas e pelas organizações internacionais para medir a taxa de inflação de um país já que compara a média dos IPC dos últimos 12 meses com a dos 12 meses anteriores --- permite chegar à conclusão de que, a meio deste ano, se estava com 13,3%, apenas 0,2 pontos percentuais abaixo dos 13,5% do ano de 2011.
Cálculos que temos vindo a efectuar tentando perspectivar o que será a taxa média de inflação em 2012 e que usam médias das taxas mensais de anos anteriores permitem concluir que ela será, este ano, de cerca de 10,2-10,5%. Porém, considerando a evolução destas taxas no primeiro semestre e o seu valor em Junho passado (os já referidos 13,3%), é provável que ela seja superior às estimativas usando médias mensais de anos anteriores porque esta é "deflacionada" por se uarem nos cálculos anos em que a taxa de inflação foi muito baixa, ao contrário do que acontece agora.
Então qual será o valor da taxa média de inflação para todo o ano de 2012? Considerando que no último trimestre há uma tendência para o aumento do ritmo da inflação, não nos admiraremos se em Dezembro deste ano ela ficar dentro do intervalo 12-13%. "A ver vamos", como diz o cego... :-)

quinta-feira, 28 de junho de 2012

Cadê o Fundo Petrolífero? Dados estatísticos sobre o FP

No site do Banco Central de Timor-Leste é possível encontrar disponíveis todos os relatórios trimestrais e mensais publicados pelo Departamento do Fundo Petrolífero sobre o andamento das contas deste. Veja-se abaixo o último relatório mensal publicado, referente a Abril passado, e dois gráficos sobre a evolução das contas do Fundo.


Recorde-se que o total das receitas petrolíferas recebidas até agora pelo Fundo rondou os cerca de 12,2 mil milhões de USD (entre o seu início em Setembro de 2005 e Março passado), tendo sido transferidos ao longo dos anos para financiamento dos vários Orçamentos Gerais do Estado um total de cerca de 3,1 mil milhões de USD, cerca de 1/4 das receitas totais encaixadas durante a vida do FP.

Do relatório mensal de Abril acima resulta que cerca de 16% do capital do Fundo Petrolífero está hoje representado por acções de grandes empresas internacionais. Antes da alteração da lei do FP, que agora permite (mas, claro, não obriga!) que esta percentagem atinja os 50%, o investimento neste tipo de títulos foi, durante muitos anos, virtualmente inexistente, sendo, durante a maior parte do tempo, todo o capital representado por títulos do Tesouro dos Estados Unidos.

quarta-feira, 27 de junho de 2012

Inflação homóloga em Maio/2012: 11,2%

Segundo dados divulgados pela Direcção Nacional de Estatística de Timor Leste, a taxa mensal de inflação em Maio passado foi de 0,3%, resultando num aumento da taxa homóloga desse mês (Maio/2012 relativamente a Maio/2011) de 11% para 11,2%. Esta alteração não modifica as estimativas para a taxa média anual da inflação em 2012, que se deve situar nos cerca de 10,5% --- "mais coisa menos coisa".... :-). Recorde-se que em 2011 ela foi de 13,5%.

quarta-feira, 6 de junho de 2012

Inflação volta a aumentar

Segundo os dados da Direcção Nacional de Estatística a taxa de inflação mensal em Abril em Dili foi de 0,8%, contra os -0,7% de Fevereiro e os 0,7% de Março/2012. Em resultado desta subida, a taxa homóloga (Abril/2012 vs Abril/2011) passou de 10,1% em Março para 11% em Abril.
Considerando várias hipóteses acerca da possível evolução futura das taxas mensais de inflação, a previsão é agora de que a taxa média anual de 2012 seja de cerca de ]10,2%;10,5%[.
A evolução nos restantes meses do ano dirá se estes valores se confirmam ou não. A confirmarem-se representarão uma ligeira descida relativamente à taxa de inflação de 2011 mas será, ainda, uma taxa (demasiado) alta e bem acima das previsões iniciais do Governo e do FMI.

sábado, 2 de junho de 2012

PIB de Timor Leste: com e sem petróleo

É sabido que Timor Leste depende muito, particularmente para financiar os Gastos do Estado, das receitas da exploração de gás e petróleo no Mar de Timor, que o separa da Austrália.
No gráfico abaixo podem ver-se representados os valores do Produto Interno Bruto do país se incluirmos ou não a produção petrolífera e que afecta pricipalmente as exportações do país.
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A coluna a amarelo representa o PIB com petróleo (e gás) e a coluna azul claro o PIB sem se contabilizar a riqueza petrolífera. Para o ano de 2010, por exemplo, os valores são, respectivamente, de 4131 milhões de USD e 875 milhões, com aquele valor a representar quase o quíntuplo deste (na realidade 4,7 vezes).

De notar ainda, no gráfico, que desde 2007 o valor dos gastos do Estado/Governo ultrapassam o valor do PIB. Estranho mas resultante da forma como é calculado este agregado, em que as importações entram "a descontar", com sinal negativo.
Estas incluem, segundo as contas nacionais, quer as importações de bens quer as de serviços, sendo as destes mais elevadas que as de bens por neles terem sido incluídos os gastos com a construção da central eléctrica de Hera (um "serviço" prestado pela empresa construtora ao Estado timorense).

sexta-feira, 1 de junho de 2012

Mistério...

O preço do petróleo bruto desceu, desde há cerca de um mês, quase 20 dólares em cada barril. Alguém pode explicar porque é que os preços dos combustíveis em Timor Leste "não tugem nem mugem". Isto é: não descem nem que a vaca tussa?!...

quinta-feira, 31 de maio de 2012

Mais sobre as Contas Nacionais de Timor Leste

Os gráficos abaixo apresentam a evolução do PIB não petrolílero (non-oil) e mão UN (non-UN) de Timor Leste entre 2004 e 2010 a preços constantes de 2010.



Como se pode verificar, nos últimos anos houve um forte crescimento da participação do Estado na economia (de 45% para 70%), tal como do peso das importações (de cerca de 60% para cerca de 100%), que têm no final do período um valor quase igual ao do total do PIB. Estas importações de bens e serviços entram a "descontar" no cálculo do PIB (PIB = Consumo das famílias + Gastos do Estado + Investimento + Exportações - Importações).
Verificou-se também um importante aumento do valor e do peso do investimento mas a maior parte dele foi da iniciativa do Estado. De facto, no final do período (2010) o sector público foi responsável por cerca de 300 milhões de USD de investimentos enquanto que as empresas (sector não petrolífero) terão investido naquele ano apenas 95 milhões e as famílias 23 milhões.
Por sua vez, os consumos público e das famílias são quase iguais.

terça-feira, 29 de maio de 2012

A economia de Timor Leste aos olhos do Banco Mundial

No dia 23 de Maio passado o Banco Mundial publicou um update do seu relatório sobre a economia (e as economias) da Ásia Pacífico. 
As páginas (2) sobre Timor Leste estão abaixo.


sábado, 19 de maio de 2012

Produção petrolífera no "Mar de Timor": mais gás que petróleo

As Contas Nacionais recentemente publicadas discriminam, neste caso para 2010, o tipo de produção do Mar de Timor:

quinta-feira, 17 de maio de 2012

Mais Contas Nacionais... Uma síntese para 2010


Nota: NPISH = organizações não governamentais...

quarta-feira, 16 de maio de 2012

Ó pra elas!... :-) (as Contas Nacionais)

Os dois volumes (em inglês) das Contas Nacionais de Timor Leste para o período 2004-2010 publicados pela Direcção Nacional de Estatística estão disponíveis no "site" da mesma aqui:
vol I: dados estatísticos
vol II: metodologia

Boa!... :-)

Mais Contas Nacionais...