Este "Adeus, FMI!..." tem um duplo significado: um mais local, relativo a Timor Leste, e outro mais global, relativo ao papel do Fundo na economia mundial e, em particular, na crise actual.
O primeiro justifica-se porque parece agora certo que o escritório do Fundo em Dili vai ser encerrado, deixando de haver um representante permanente no país, cujos interlocutores fundamentais, tal como em todos os países, são o Ministério das Finanças e o banco central, no caso a ABP.
Note-se que esta despedida não altera significativamente o relacionamento entre a instituição e Timor Leste já que aquela continuará a prestar apoio técnico às instituições timorenses e a acompanhar (agora menos "de perto"...) a evolução da economia do país. A presença de representantes permanentes do Fundo num país não é a situação mais vulgar e justificou-se em Timor Leste por se estar numa fase de construção institucional que está mais ou menos completada nas duas áreas referidas.
Não cremos, por isso, que esta saída do Fundo tenha um significado muito especial. Provavelmente é um misto da constatação daquela evolução institucional e de... desejo de o FMI poupar alguns dólares numa época em que, todos o sabem, as suas finanças não são o que já foram. Mas certamente que não é esta "poupança" que vai fazer o Fundo "enricar"...
O segundo significado é em sentido menos "absoluto" que o primeiro: não se trata de uma despedida, de um "encerramento", mas sim de uma evidente dificuldade em encontrar um papel para a instituição no quadro da presente crise financeira mundial. Alguns, mais mauzinhos, dirão mesmo "cá se fazem, cá se pagam!...".
Na verdade --- e já salientámos isto aqui há algum tempo --- parece evidente que os países "que contam" para tentar encontrar um caminho que nos tire da crise mundial em que se vive "não estão nem aí" para o que o FMI pensa ou deixa de pensar, faz ou deixa de fazer.
O que não deixa de ser uma situação curiosa já que o Fundo teve origem (em 1945) na necessidade de estabelecer um polícia para o sistema financeiro e cambial mundial, na época constituído quase exclusivamente pelos países mais desenvolvidos.
Foi a crise associada ao primeiro choque petrolífero, lá nos idos de '73, que acabou por, em conjugação com o nascimento de algumas dezenas de novos países na década de 60, contribuir para uma alteração significativa do tabuleiro em que se mexia o Fundo, passando a ser especialmente importante para os países em desenvolvimento.
Depois de resolvida (mais ou menos...) a "crise da dívida (externa)" destes países e com o aparecimento de países como a China e a Venezuela como financiadores (quase sem condições) de muitos países em desenvolvimento, o FMI entrou numa fase de alguma "angústia existencial" que parece ter dificuldade em ultrapassar.
Conscientes de que os países menos desenvolvidos tenderão a sofrer também os efeitos da crise financeira actual através de dificuldades em exportar e em se financiarem, o Fundo e os países mais desenvolvidos (os do "Grupo dos 7"/"G7") têm procurado criar "almofadas" que apoiem aqueles países. Estas "almofadas" são novas facilidades financeiras geridas pelo FMI a que os países poderão recorrer e que têm condições de acesso menos restritivas que as anteriormente existentes.
O curioso é que nem assim os países a que elas se destinam lhes "pegam": segundo notícias recentes o programa de 100 mil milhões de USD criado pelo Fundo para apoiar países em desenvolvimento está sem um único candidato! Até o México, cujo Ministro das Finanças foi quadro importante do Fundo disse "não, obrigado!...".
É evidente o esforço que o Fundo tem feito para modificar a "má fama" de que goza devido à forma como lidou com os seus clientes nos momentos em que estes mais precisaram dele mas tais esforços parece não estarem a produzir (ainda?) resultados. Aquela "má fama" deve-se não só às condições que colocou nos programas de estabilização conjuntural e de ajustamento estrutural dos países em desenvolvimento mas também à forma, por vezes com uma boa dose de arrogância e sobranceria, com que a instituição e o seu pessoal se relacionou com as autoridades e os técnicos dos países sem respeitarem devidamente a autonomia de ambos.
É por estas e por outras que o Ministro das Finanças da África do Sul, Trevor Manuel, diz que "o treino e o recrutamento do pessoal do Fundo deve reflectir adequadamente as alterações do papel e do mandato da organização. Mudar a estrutura e funções actuais do Fundo sem diversificar o seu portfolio intelectual [nomeadamente por modificação do seu quadro de pessoal, clarificamos nós] diminuirá a eficácia e relevância da instituição no futuro".
Como diz um autor: "o DNA da instituição tem de ser literalmente renovado!"
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