Ela veio-me à memória quando vi o quadro abaixo retirado do Timor-Leste Demographic and Health Survey, 2009-10.
Ele representa a distribuição da riqueza de Timor Leste (riqueza definida como abaixo) quer por zonas rurais/urbanas quer por distritos.
A riqueza é, para efeitos do documento referido, definida assim: "Os quintis de riqueza dão-nos uma medida consistente de vários indicadores combinados sobre as receitas e despesas das famílias. Na sua construção é usada informação sobre a propriedade de vários bens de consumo [duradouro] que vão desde ativos como uma televisão, meios de transporte (como bicicletas) e a propriedade de terra ou de animais comuns na agricultura, até características da habitação tal como a fonte da água potável de que dispõe, facilidades de saneamento disponíveis e tipo de materiais usados na construção das casas."
Esclareça-se que os "quintis" são grupos de 20% da população. Assim por exemplo, em relação às zonas urbanas o grupo dos 20% mais pobres tem 4,5% da "riqueza" tal como descrita, enquanto que os 20% mais ricos têm 57,8%". Já no caso das zonas rurais é evidente que nelas predominam os grupos sociais mais pobres
Este resultado é consequência da definição de "riqueza" adoptada e do facto de em Dili os 20% mais "ricos" deterem 71% do total da "riqueza" do distrito. Como neste distrito os 20% mais "pobres" têm apenas 0,4% da "riqueza", o rácio entre os 20% mais "ricos" e os 20% mais "pobres" é enorme: quase 180, que significa que o grupo dos mais "ricos" são quase 180 vezes mais "ricos" que os mais "pobres". Claro que esta é uma medida exagerada derivada da definição adoptada. Por isso, mais que o valor absoluto, interessa aqui realçar o enorme fosso existente entre os dois grupos.
Mas o facto principal a assinalar é, para nós, o significado dos 71% de "riqueza"dos 20% mais ricos de Dili quando comparados com a parte de riqueza dos 20% mais "ricos" nos outros distritos. Este valor "quantifica" aquilo que já sabemos: a existência de um enorme fosso entre as condições de vida na capital face ao resto do país. Claro que o facto o distrito de Dili ser essencialmente urbano, minimanete infraestruturado, enquanto que todos os outros são essencialmente rurais, é importante para o resultado final.
Esta grande discrepância entre Dili e o resto país ("Dili é Timor Leste e o resto é paisagem"...) remete para a necessidade de ser adoptada, urgentemente, uma política de desenvolvimento regional que reduza os desequilíbrios entre as partes constituintes do todo que é Timor Leste.
Por último realcemos o resultado em relação ao total do país que figura na última linha. Como se pode verificar, as percentagens de "riqueza" apropriadas por cada quintil (grupo de 20% da população) são muito aproximadas e o rácio entre os 20% mais "ricos" e os 20% mais pobres é 1. Estes valores significam que, apesar dos valores dentro do distrito de Dili e da evidente macrocefalia deste em relação ao resto do país, há uma grande uniformidade da distribuição da "riqueza" --- ou da "pobreza"?!... --- entre todos os grupos. Alguns diriam que se trata de um caso de "socialização da miséria".
4 comentários:
Muito interessante .... :)dingsh
É interessante que a percentagem de posse de frigoríficos e a percentagem de posse de animais de farme, somados, dão quase 100%.
Tanto na cidade como na "paisagem".
Ou seja, a opção é: em vêz de frigo, tem-se galinhas e porcos no quintal.
Bom, pelo menos é carne frêsca!...
:)
Caro Professor,
Com o estado em que se encontram as Dalan, nem o Professor com o seu Gipinho dos bombeiros se safa e consegue sair de Dili, quanto mais os Timocos, q cada vez mais se concentram na Dili feia e suja.
Beijinhos da Querida Lucrécia
Li o seu comentário ao primeiro quadro. Agora explique-me com é que em viqueque (e outros lados)os 20% mais pobres têm mais de 20% de riqueza? Como é que o rácio de desigualdade é inferior a 1?
Há qq neste quadro errada.
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