sábado, 9 de abril de 2011

"E como se chega aos 5% em TL?"

Há dias, num comentário a uma das entradas do blogue, um leitor fazia a pergunta que intitula esta entrada.
Como podem calcular, não podemos aqui dar senão uma resposta genérica ou, melhor, enunciar alguns princípios genéricos para uma política de redução da taxa de inflação em Timor Leste.

O primeiro passo de uma resposta é identificar quais são os determinantes da taxa de inflação. No nosso caso, eles são vários. Tentemos identificar alguns deles.
A primeira realidade a constatar é que há determinantes de natureza interna e outros de natureza externa. Comecemos por estes últimos.
Como sabemos a estrutura do consumo em Timor Leste (quer privado quer público) inclui uma quantidade apreciável de produtos importados: ele é o arroz, ele é o petróleo (combustíveis), ele é/são tantas e tantas outras coisas importadas da Indonésia, de Singapura, da Austrália (os principais países fornecedores de Timor Leste). Portanto, se os preços sobem na Indonésia é natural que o preço a que os fornecedores daquele país vendem aos importadores timorenses aumente também. A taxa de inflação na Indonésia em 2010 foi de cerca de 6%, muito próxima da do nosso país.

Além disso, os preços pagos ao estrangeiro dependem também da evolução da taxa de câmbio do dólar. Ora, este tem-se desvalorizado (nomeadamente face à rupia e ao dólar australiano) e por isso é agora preciso dar mais dólares para comprar, por exemplo, os mesmos 20 milhões de rupias em produtos indonésios.

Por outro lado, se a subida do preço do petróleo é boa para Timor Leste porque aumenta --- e não é pouco... --- as receitas petrolíferas, também é má porque aumentou muito o preço dos combustíveis que temos de pagar. Só nestes primeiros meses do ano a subida já vai em quase 20%! Ora o preço dos combstíveis é muito importante economica e psicologicamente.
Economicamente porque o preço dos transportes aumenta e, nomeadamente em Dili, estes são importantes no orçamento de muitas famílias por causa da subida dos preços das viagens de mikrolete e da gasolina/gasóleo usado nos carros, táxis e motos.
Mas esta subida é também importante psicologicamente porque infelizmente, há alguns (muitos?) vendedores que se aproveitam deste aumento para aumentar os seus próprios preços na mesma proporção. Ora, na estrutura de custos dos produtos os combustíveis podem representar, por exemplo, apenas 10%. Isso significa que se a gasolina aumentar 20 centavos os vendedores de outros produtos têm tendência a aumentar os seus preços também em 20 centavos ou mais quando, na realidade, deviam aumentar apenas 2 centavos...
Mais... Devido a uma certa rigidez do comportamento dos vendedores (e dos compradores...), eles tendem a passar um preço de 50 centavos para 1 dólar em vez de o passar para 52 centavos ou para 60. Ora, quando se passa um preço de 50 centavos para 1 dólar o preço aumenta 100% ! Se passasse de 50 para 60 centavos o aumento seria apenas de 20%. Estamos convencidos que este tipo de comportamento tem mais importância do que pensamos na nossa taxa de inflação e sua variação.

Resultado: há várias explicações externas para a subida dos preços em Timor Leste. O aumento do preço do arroz também é resultado da evolução do preço internacional deste cereal mas a verdade é que o aumento que se verificou se deve principalmente ao fim da política de subsidirar esse preço. Com o seu fim o arroz praticamente regressou ao valor de mercado que deveria ter.

Uma consequência de tudo o que fica acima no que toca à luta contra a inflação é o de que é preciso estarmos conscientes de que parte dela é "importada", determinada por factores externos que resultam do facto de a nossa economia ser extrememente aberta e dependente dos preços noutros países --- que nós, evidentemente, não controlamos.
"Moral da história": mesmo que usemos uma política anti inflacionista podemos não conseguir alcançar o nosso objectivo de baixa da taxa de inflação para valores mais "aceitáveis" (por exemplo, cerca de 3-4%).

CONTINUA NO PRÓXIMO "EPISÓDIO"... :-)

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