domingo, 24 de abril de 2011

Mais sobre a inflação em Timor Leste

Em entrada anterior mostrámos a recente evolução dos preços em Timor Leste tal como detectada pelo Índice de Preços no Consumidor (IPC). Da consulta dos dados publicados pela Direcção Nacional de Estatística conclui-se que entre Março de 2010 e Março de 2011 os preços em Dili subiram em média, cerca de 14,1%.
Para a rápida subida da taxa de inflação e para o seu valor absoluto, que já preocupa muita gente, contribuiram, acima de tudo, as variações dos preços da alimentação, que atingiram os 17,3%.
Ora, o grupo de produtos alimentares representa cerca de 60% do cabaz de compras em que se baseia o cálculo do IPC.
O gráfico abaixo dá ideia da evolução dos preços alimentares (total e subgrupos) nos últimos 6 meses em Dili.


Note-se que nos anos passados se verificou, ainda que com excepções, uma tendência para os preços subirem principalmente no mês de Dezembro devido às festas da época, ao esgotamento de algumas reservas alimentares e ao efeito da época das chuvas, com redução da produção agrícola em alguns casos.
O que é novo (?) agora é que esses aumentos foram maiores em Fevereiro e em Março. Maiores e muito elevados! Aumentos de 4,2-4,5% num só mês são aumentos preocupantes.
Esperemos que a tendência "arrefeça" mas parece-me que, com esta evolução, a média de inflação de 6% em 2011 prevista pelo FMI está definitivamente (?) comprometida. Alguns cálculos muito empíricos remetem essa taxa para a zona dos 10 ou mesmo 11%. Esperemos que as piores previsões não se confirmem. Nunca desejámos tanto estar enganados...

Explicações para isto? São múltiplas, como já alinhavámos noutras entradas. Mas notei que a carne, por exemplo, subiu recentemente nos mercados de 5 para 6 dólares o kilo. Ora isto é um aumento de 20%! Será que a estrutura de custos se alterou assim tanto para justificar tal aumento? Cremos que não.
O que está em causa é, acreditamos, a combinação de vários factores sendo dois deles mais psicológicos que económicos. Por um lado, a significativa subida do preço dos combustíveis terá incentivado os vendedores de (alguns) outros produtos a aproveitarem a "boleia" e aumentarem (significativamente) os seus preços.
Segundo, creio que se verifica um factor já por mim referido várias vezes. O "salto" por cima de preços intermédios. Porque é que o preço não passou de 5 para 5,25 ou 5,50 usd/kg e passou directamente para os 6 usd/kg? Cremos que há aqui um comportamento "irracional" dos vendedores --- contra o qual os consumidores estão "desarmados" --- que os leva a preferir notas em vez de moedas e, dentro destas, a maior (50 centavos) em vez das menores. Os preços de uma papaia são ou 1 usd ou 2 usd, dependendo do tamanho/"peso a olho"... Porque não são umas a 1 USD e outras --- que são, muitas vezes, pouco maiores --- a 1,50 USD?
Há aqui muito espaço para campanhas de informação do público, dando-lhe "armas" para se defender de uma prática que faz subir os preços além do economicamente razoável.

5 comentários:

Anónimo disse...

Na parte das carnes e de outros produtos calculo que esteja relacionado com a subida, sem parar, do dólar australiano. Muita da carne no sudeste asiático vem da Austrália e da Nova Zelândia.

In the past week it reached $1.07 against the US dollar, and there is talk of it crossing the psychologically important threshold of $1.10 over the next six months.

Since the currency floated in December 1983, it has never reached such heights.

"Up and up the Aussie dollar goes,' says Stephen Long, the ABC's economics correspondent, "where it stops, nobody knows."

It has been a remarkable turnaround. At the time of the Sydney Olympics in 2000, a US dollar was buying two of its Australian equivalent. In the past year alone, it has gained 15% against the US dollar.

Needless to say, the rise of the Australian dollar partly reflects the slump in the value of the greenback - what might be called a push factor.

The high Australian dollar is hammering the local tourism industry.

After her high profile visit in December, which was largely financed by the sector, the Australian tourism industry hoped to cash in on the Oprah effect.


Tourism has been one of the hardest hit sectors due to the strong currency
But the dollar effect is more profound. At both the luxury and backpacker ends of the market, operators are being hit hard.

Some cruise companies are reporting that business is 60% down, and that the massive discounts they are having to offer is hitting the bottom line.

The same is true of hostel owners, because backpackers are either tightening their belts or are being put off coming.

For the tourism industry, it is a double whammy, since so many Australians who might normally holiday at home are looking to travel abroad.

[b]For Australian exporters as well, the soaring dollar is undermining their competitiveness, and eating into their margins.[/b]

The exception is the resources sector. There are two broad reasons for this. First, the seemingly insatiable global demand for iron ore and coal, especially from China. Second, many of Australia's commodity exports are priced in US dollars.

A. M. de Almeida Serra disse...

Não, não está! As carnes vendidas nos mercados de Dili, em condições higiénicas indiscritíveis, são "karaus" bem nacionais!

Anónimo disse...

Quanto terá subido num local onde os internacionais fazem as suas compras?

Algumas vezes os preços têm a tendência para follow the leader. Herd mentality.

Mas sim, lá higiénicas as carnes são. :)

Jeremias Macuácua disse...

Caro anónimo,
O seu ponto sobre a evolução dos preços da carne consumida pelos internacionais é um bom ponto. Infelizmente não emos registos dessa evolução.
Talvez por isso pensamos que se trata de dois mercados separados, em que a influência sobre a evolução do preço da carne nos mercados tradicionais vem mais do "contágio" com outros preços nacionais (ou "nacionais") como os dos vegetais e da gasolina --- "Os transportes da montanha para cá estão mais caros, senhor!" --- do que o "contágio" dos preços dos bens consumidos preferencialmente por "internacionais".
Mas isto é a gente a pensar a modos de que, né?!...

Anónimo disse...

Seria interessante seguir a evolução da inflação também num dos supermercados "internacionais" uma vez que os malais também fazem parte da economia de Timor-Leste e existe um número cada vez maior de Timorenses a comprar nesses supermercados.

Saberiamos quanto sobe os locais e quanto sobe para os internacionais.

Uma versão mais macro da inflação em TImor-Leste.