O TLN (TimorLorosaeNação) dá conta de uma notícia publicada pelo jornal australiano The Australian sobre um relatório (não publicado) do Banco Mundial sobre Timor Leste. Os links para a notícia são os seguintes: TLN (em português) e The Australian (o original em inglês). A imagem abaixo, que deve clicar para a tornar legível, é da notícia original.
Esperemos que, dadas as considerações feitas, o Banco Mundial confirme ou infirme o teor da notícia --- nomeadamente publicando o alegado relatório. É que se ela corresponde à verdade nua e crua então "alguma coisa vai mal no reino da Dinamarca", tanto mais que são conhecidas as relações de grande proximidade profissional entre o Banco e o seu representante em Dili, António Franco, e a titular da pasta das Finanças, Emília Pires.
Blog sobre Economia e Política Económica do Desenvolvimento, em particular sobre a economia de Timor Leste e aquilo que naquelas pode ser útil ao desenvolvimento económico deste país
quarta-feira, 29 de abril de 2009
sábado, 25 de abril de 2009
Comentário a um comentário
Quis um leitor anónimo tecer um comentário à nossa entrada de há alguns dias sobre a evolução dos depósitos e dos empréstimos em Timor Leste de acordo com as últimas estatísticas monetárias disponíveis.
Transcrevo abaixo apenas uma parte desse comentário, a que me parece mais relevante para a resposta que se seguirá:
"Imaginemos precisamente esse mesmo cenário, em que a banca de facto concede empréstimos a um nível acima dos seus depósitos, e que era obrigada a recorrer ao banco central. num cenário com os mesmos riscos qual seria a taxa de juro? mais baixa ou mais alta? será que se assim fosse a concorrência não seria maior na banca? será que o serviço não seria melhor? será que o preço pago pelo serviço não seria menor?
e mais qual e o critério utilizado para a cedência de credito? quais os parâmetros? serão os mesmos q por ex em Portugal?"
Vejamos alguns aspectos.
Não é fácil responder com "certezas absolutas" às questões colocadas. Mas é possível tentar "adivinhar" algumas linhas de força tendenciais...
A taxa de juro activa --- aquela que os bancos cobram aos seus clientes, em oposição à taxa passiva, que é aquela que pagam pelos depósitos --- depende essencialmente, em circunstâncias (aproximadamente) normais, do custo do dinheiro que, em média, o banco tem de pagar pelos recursos que utiliza, da taxa de risco de cada negócio e da rentabilidade que o banco pretende obter do seu próprio negócio. Admitindo que esta será uma taxa "normal" e não especulativa, o essencial será, pois, o custo do dinheiro e a taxa de risco do negócio a quem se vai conceder o empréstimo --- isto é, a capacidade de ele ser bem sucedido e de o empresário devolver o dinheiro do empréstimo ao banco.
Quanto ao custo do dinheiro, ele é determinado pelas taxas passivas --- isto é e como referi pela taxa média paga pelos depósitos dos clientes, normalmente baixa --- e pela taxa a pagar pelo dinheiro pedido a outros, seja o banco central seja a banca internacional. Se a taxa fixada pelo primeiro poderá ter em consideração os seus objectivos para a política monetária, o que é certo é que não poderá abstrair-se do "custo (internacional) do dinheiro".
Ora este será determinado principalmente pelo risco-país de Timor Leste que, se for elevado, dará origem à cobrança de taxas de juro elevadas. Claro que quanto mais o país tiver de se endividar no exterior maior será a taxa de juro que terá de pagar. Isso mesmo está a acontecer agora com os empréstimos pedidos pela República Portuguesa e pela banca comercial nacional no mercado internacional de capitais.
Mas as taxas de juro dependem não só das condições em que os bancos se financiam mas também do risco do negócio que vão apoiar.
Ora, parece-me, que aqui é que estará um ponto fundamental de diferenciação entre empresários nacionais e empresários estrangeiros actuando em Timor. Os empresários nacionais tenderão, devido a condições estruturais do país --- incluindo o do nível de desenvolvimento dos próprios empresários timorenses ---, a oferecer à banca comercial garantias (as chamadas "garantias reais" ou outras) muito menores que os empresários estrangeiros. Ora, os parâmetros de decisão dos bancos em relação aos empréstimos são iguais em todos o mundo: o banco não é uma agência de beneficência; é um negócio que é, por um lado, como outro qualquer mas que, por outro, é específico pois depende muito da garantia de o banco vir a receber, mais tarde, o dinheiro que emprestou. Os critérios de concessão de empréstimos são, pois, iguais em toda a parte, seja em Portugal ou no Sudão! Ou em Timor!
Genericamente falando, se houver mais bancos haverá mais concorrência. Mas não estamos a falar de situações "genéricas" mas sim de uma situação concreta, a de Timor, em que o número de bancos e o mercado para empréstimos tenderão a ser sempre relativamente reduzidos. Por isso é que essa concorrência poderá, quando muito, beneficiar os melhores empresários, que oferecem mais garantias de retorno do dinheiro emprestado. Era isso que acontecia em Moçambique quando, há alguns anos atrás, tive de estudar a situação do sistema bancário do país. Os bancos concorriam entre si para atraírem bons clientes e estes jogavam com a situação pondo os bancos a baixar as taxas de juro dos empréstimos que lhes concediam. Mas esse bons clientes, ligados a bons projectos, boas garantias reais e boa capacidade de retorno do investimento eram, em 99,9% dos casos... empresários/empresas estrangeiras. Que, além do mais, tinham a possibilidade de se endividarem nos seus países de origem ou, até e no caso de Moçambique, na África do Sul, com taxas de juro muito mais vantajosas. Isto é: os bancos moçambicanos, para obterem bons clientes, tinham de praticar, a estes, taxas de juro comparáveis com as internacionais. Para os empresários moçambicanos, com dificuldade em obter empréstimos no exterior, menor capacidade de gestão, etc, etc, etc, as taxas de juro eram significativamente superiores --- 2 a 2,5 vezes superiores!
O meu ponto é o de que, tendencialmente e se passar a existir um "risco país" mais elevado --- ele próprio incorporando um risco de eventual desvalorização da moeda nacional ---, os empresários timorenses podem vir a deparar-se com uma situação semelhante à que tiveram de defrontar os empresários moçambicanos: o dinheiro, para eles, ser muito mais caro que para outros, dificultando o desenvolvimento dos seus negócios.
Claro que uma solução (sempre parcial) para este problema poderia ser a criação de um banco nacional "de desenvolvimento" cujos parâmetros de actuação não fossem apenas os utilizados pela banca comercial "normal".
Mas aqui é preciso muito cuidado pois ou há (muito!) fortes garantias de essa instituição --- que não poderá deixar de ter um forte envolvimento do Estado no seu capital e/ou na concessão de bonificações às taxas de juro --- ser bem gerida e não sujeita a esquemas de corrupção e/ou de favorecimento de determinados empresários em detrimento de outros por critérios não-económicos --- p.ex., políticos --- ou então estaremos numa situação em que será "pior a emenda que o soneto".
Transcrevo abaixo apenas uma parte desse comentário, a que me parece mais relevante para a resposta que se seguirá:
"Imaginemos precisamente esse mesmo cenário, em que a banca de facto concede empréstimos a um nível acima dos seus depósitos, e que era obrigada a recorrer ao banco central. num cenário com os mesmos riscos qual seria a taxa de juro? mais baixa ou mais alta? será que se assim fosse a concorrência não seria maior na banca? será que o serviço não seria melhor? será que o preço pago pelo serviço não seria menor?
e mais qual e o critério utilizado para a cedência de credito? quais os parâmetros? serão os mesmos q por ex em Portugal?"
Vejamos alguns aspectos.
Não é fácil responder com "certezas absolutas" às questões colocadas. Mas é possível tentar "adivinhar" algumas linhas de força tendenciais...
A taxa de juro activa --- aquela que os bancos cobram aos seus clientes, em oposição à taxa passiva, que é aquela que pagam pelos depósitos --- depende essencialmente, em circunstâncias (aproximadamente) normais, do custo do dinheiro que, em média, o banco tem de pagar pelos recursos que utiliza, da taxa de risco de cada negócio e da rentabilidade que o banco pretende obter do seu próprio negócio. Admitindo que esta será uma taxa "normal" e não especulativa, o essencial será, pois, o custo do dinheiro e a taxa de risco do negócio a quem se vai conceder o empréstimo --- isto é, a capacidade de ele ser bem sucedido e de o empresário devolver o dinheiro do empréstimo ao banco.
Quanto ao custo do dinheiro, ele é determinado pelas taxas passivas --- isto é e como referi pela taxa média paga pelos depósitos dos clientes, normalmente baixa --- e pela taxa a pagar pelo dinheiro pedido a outros, seja o banco central seja a banca internacional. Se a taxa fixada pelo primeiro poderá ter em consideração os seus objectivos para a política monetária, o que é certo é que não poderá abstrair-se do "custo (internacional) do dinheiro".
Ora este será determinado principalmente pelo risco-país de Timor Leste que, se for elevado, dará origem à cobrança de taxas de juro elevadas. Claro que quanto mais o país tiver de se endividar no exterior maior será a taxa de juro que terá de pagar. Isso mesmo está a acontecer agora com os empréstimos pedidos pela República Portuguesa e pela banca comercial nacional no mercado internacional de capitais.
Mas as taxas de juro dependem não só das condições em que os bancos se financiam mas também do risco do negócio que vão apoiar.
Ora, parece-me, que aqui é que estará um ponto fundamental de diferenciação entre empresários nacionais e empresários estrangeiros actuando em Timor. Os empresários nacionais tenderão, devido a condições estruturais do país --- incluindo o do nível de desenvolvimento dos próprios empresários timorenses ---, a oferecer à banca comercial garantias (as chamadas "garantias reais" ou outras) muito menores que os empresários estrangeiros. Ora, os parâmetros de decisão dos bancos em relação aos empréstimos são iguais em todos o mundo: o banco não é uma agência de beneficência; é um negócio que é, por um lado, como outro qualquer mas que, por outro, é específico pois depende muito da garantia de o banco vir a receber, mais tarde, o dinheiro que emprestou. Os critérios de concessão de empréstimos são, pois, iguais em toda a parte, seja em Portugal ou no Sudão! Ou em Timor!
Genericamente falando, se houver mais bancos haverá mais concorrência. Mas não estamos a falar de situações "genéricas" mas sim de uma situação concreta, a de Timor, em que o número de bancos e o mercado para empréstimos tenderão a ser sempre relativamente reduzidos. Por isso é que essa concorrência poderá, quando muito, beneficiar os melhores empresários, que oferecem mais garantias de retorno do dinheiro emprestado. Era isso que acontecia em Moçambique quando, há alguns anos atrás, tive de estudar a situação do sistema bancário do país. Os bancos concorriam entre si para atraírem bons clientes e estes jogavam com a situação pondo os bancos a baixar as taxas de juro dos empréstimos que lhes concediam. Mas esse bons clientes, ligados a bons projectos, boas garantias reais e boa capacidade de retorno do investimento eram, em 99,9% dos casos... empresários/empresas estrangeiras. Que, além do mais, tinham a possibilidade de se endividarem nos seus países de origem ou, até e no caso de Moçambique, na África do Sul, com taxas de juro muito mais vantajosas. Isto é: os bancos moçambicanos, para obterem bons clientes, tinham de praticar, a estes, taxas de juro comparáveis com as internacionais. Para os empresários moçambicanos, com dificuldade em obter empréstimos no exterior, menor capacidade de gestão, etc, etc, etc, as taxas de juro eram significativamente superiores --- 2 a 2,5 vezes superiores!
O meu ponto é o de que, tendencialmente e se passar a existir um "risco país" mais elevado --- ele próprio incorporando um risco de eventual desvalorização da moeda nacional ---, os empresários timorenses podem vir a deparar-se com uma situação semelhante à que tiveram de defrontar os empresários moçambicanos: o dinheiro, para eles, ser muito mais caro que para outros, dificultando o desenvolvimento dos seus negócios.
Claro que uma solução (sempre parcial) para este problema poderia ser a criação de um banco nacional "de desenvolvimento" cujos parâmetros de actuação não fossem apenas os utilizados pela banca comercial "normal".
Mas aqui é preciso muito cuidado pois ou há (muito!) fortes garantias de essa instituição --- que não poderá deixar de ter um forte envolvimento do Estado no seu capital e/ou na concessão de bonificações às taxas de juro --- ser bem gerida e não sujeita a esquemas de corrupção e/ou de favorecimento de determinados empresários em detrimento de outros por critérios não-económicos --- p.ex., políticos --- ou então estaremos numa situação em que será "pior a emenda que o soneto".
sexta-feira, 24 de abril de 2009
O que querem primeiro? As boas ou as más notícias?
Se não decidem, decido eu: comecemos pelas más!
O FMI acaba de publicar a edição da primavera (Abril) do seu World Economic Outlook, seguramente a sua principal publicação de análise e prospectiva da evolução da economia mundial.
O quadro abaixo sintetiza as suas projecções mais recentes e refere também as diferenças entre elas e as anteriores, publicadas em Janeiro passado e que, por sua vez, reviam em baixa outras efectuadas em Novembro de 2008.
Como se pode verificar, o panorama económico mundial para 2009 é cada vez mais sombrio pois se admite agora que a produção global vai ter um crescimento negativo de -1,3% quando em Janeiro se admitia que ela crescesse 0,5% --- o que era, já de si, uma previsão "miserável" face aos 2,2% de Novembro/08 ...
Uma recuperação do crescimento para terreno positivo só se verificará em 2010, quando se espera (agora...) que o produto mundial aumente 1,9%, ainda assim bem longe dos 3% para esse ano que se previam há 3 meses atrás.
Claro que o maior "trambolhão" no crescimento vai ser o das economias mais avançadas, com uma quebra (em 2009) de 3,8% relativamente a 2008 e um "crescimento zero" em 2010.
Esta queda da produção deve ser vista em articulação com a enoooooorme queda que se vai verificar no comércio mundial. De facto, as importações das economias mais avançadas deverão sofrer uma queda de 12,1% (e as exportações ainda maior: -13,5%).
É esta queda do comércio mundial, particularmente das economias avançadas, que servirá de "motor de transmissão" de efeito para as economias em desenvolvimento, que verão as suas exportações baixarem 6,4% em relação ao ano passado.
Vamos à(s) boa(s) notícia(s) --- para Timor Leste...? Ela é de que o preço médio do petróleo, que se estimava em Janeiro vir a ser de 50 USD/barril em 2009 e de 60 USD/barril em 2010, deve sofrer, segundo as últimas estimativas do FMI, um ligeiro aumento para 52 USD/barril em 2009 e para 62,5 USD/barril em 2010.
Naturalmente que estas previsões são boa notícia para o Fundo Petrolífero de Timor Leste e para o "rendimento sustentável" que vai financiar o OGE. Mas atenção: é uma boa notícia face às perspectivas existentes há 3 meses atrás. Porque a verdade é que a estimativa de 52USD/barril continua a estar abaixo das que estiveram na base do cálculo do "rendimento sustentável" e do OGE de 2009 quando este foi elaborado inicialmente.
Veremos como o Governo lida com esta evolução do preço médio do petróleo na (inevitável) revisão orçamental que costuma ser feita a meio do ano.
O FMI acaba de publicar a edição da primavera (Abril) do seu World Economic Outlook, seguramente a sua principal publicação de análise e prospectiva da evolução da economia mundial.
O quadro abaixo sintetiza as suas projecções mais recentes e refere também as diferenças entre elas e as anteriores, publicadas em Janeiro passado e que, por sua vez, reviam em baixa outras efectuadas em Novembro de 2008.
Como se pode verificar, o panorama económico mundial para 2009 é cada vez mais sombrio pois se admite agora que a produção global vai ter um crescimento negativo de -1,3% quando em Janeiro se admitia que ela crescesse 0,5% --- o que era, já de si, uma previsão "miserável" face aos 2,2% de Novembro/08 ...
Uma recuperação do crescimento para terreno positivo só se verificará em 2010, quando se espera (agora...) que o produto mundial aumente 1,9%, ainda assim bem longe dos 3% para esse ano que se previam há 3 meses atrás.
Claro que o maior "trambolhão" no crescimento vai ser o das economias mais avançadas, com uma quebra (em 2009) de 3,8% relativamente a 2008 e um "crescimento zero" em 2010.
Esta queda da produção deve ser vista em articulação com a enoooooorme queda que se vai verificar no comércio mundial. De facto, as importações das economias mais avançadas deverão sofrer uma queda de 12,1% (e as exportações ainda maior: -13,5%).
É esta queda do comércio mundial, particularmente das economias avançadas, que servirá de "motor de transmissão" de efeito para as economias em desenvolvimento, que verão as suas exportações baixarem 6,4% em relação ao ano passado.
Vamos à(s) boa(s) notícia(s) --- para Timor Leste...? Ela é de que o preço médio do petróleo, que se estimava em Janeiro vir a ser de 50 USD/barril em 2009 e de 60 USD/barril em 2010, deve sofrer, segundo as últimas estimativas do FMI, um ligeiro aumento para 52 USD/barril em 2009 e para 62,5 USD/barril em 2010.
Naturalmente que estas previsões são boa notícia para o Fundo Petrolífero de Timor Leste e para o "rendimento sustentável" que vai financiar o OGE. Mas atenção: é uma boa notícia face às perspectivas existentes há 3 meses atrás. Porque a verdade é que a estimativa de 52USD/barril continua a estar abaixo das que estiveram na base do cálculo do "rendimento sustentável" e do OGE de 2009 quando este foi elaborado inicialmente.
Veremos como o Governo lida com esta evolução do preço médio do petróleo na (inevitável) revisão orçamental que costuma ser feita a meio do ano.
terça-feira, 21 de abril de 2009
Sortudos!... Mas...
Os "sortudos" são os bancos privados que operam em Timor Leste.
De facto e ao contrário do que acontece hoje em dia com os seus parceiros de outros países --- incluindo Portugal... --- a banca privada no país tem um "problema": o do excesso de liquidez, o de "ter dinheiro a mais".
O gráfico abaixo ilustra o que se passa: o volume de empréstimos concedidos pela banca é muito inferior ao montante dos depósitos disponíveis.
O negócio bancário é, como se sabe, o de servir de intermediário entre quem tem recursos (financeiros) em excesso e quem necessita deles para "tocar adiante" a sua actividade económica ou adquirir certos bens ou serviços (crédito à habitação, crédito ao consumo, etc). Por isso e para que o negócio bancário seja rentável, o desejável é que o volume de empréstimos se aproxime o mais possível do volume de depósitos. Por vezes, mesmo, os bancos chegam a obter recursos junto de outros bancos do país ou do estrangeiro para poderem emprestar aos seus clientes.
Em Timor, porém, a banca comercial, pelos mas diversos motivos, não consegue aplicar em empréstimos uma parte significativa dos depósitos que recebe e assim vê-se forçada a, para o "prejuízo" não ser tão grande, depositar ela própria parte desses recursos em bancos estrangeiros que lhes proporcionam, assim, uma rendazita graças aos juros que recebem. Note-se que estes depósitos no exterior, porque agora ficam ao dispor dos bancos de outro país, acabam por ser uma forma indirecta de financiar estes permitindo-lhes conceder um volume maior de empréstimos nas suas economias nacionais.
Isto significa, portanto, que Timor está a financiar, em parte, as economias de outros países... Que tal?!...
Mas o que permite que tal aconteça --- um país pobre a emprestar a ricos... ? Um aspecto importante da resposta é o facto de tudo isto significar que o sector privado timorense é (olha a novidade!...) extremamente fraco e incapaz de aproveitar os recursos que estão à sua disposição. Esta "fraqueza" tem várias dimensões, sendo duas delas (interligadas) (i) a falta de recursos próprios para financiar parte dos investimentos, a falta de "empreendorismo" e falta de capacidades de gestão, por um lado; e, (ii) em muitos casos, a falta das chamadas "garantias reais" (nomedamente títulos de propriedade sobre bens, incluindo terra) que possam ser penhoradas pela banca para garantirem o retornos dos recursos emprestados.
Mas numa outra perspectiva (ainda mais macroeconómica?), o diferencial entre recursos disponíveis na banca e os empréstimos que ela concede --- isto é, o excesso de liquidez dos bancos --- tem uma consequência que importa realçar. É que, a manterem-se as coisas assim, mesmo que existisse uma moeda nacional e o banco central tivesse aos seus dispor os instrumentos de política monetária que estão usualmente disponíveis nos países com moeda própria, a eficácia de tal política tenderia a ser, muito provavelmente, limitada.
De facto, um dos instrumentos essenciais dos bancos centrais com moeda própria é o exercício de um certo controlo (indirecto) dos recursos aos dispor da banca comercial e do custo destes através de políticas apropriadas.
Ora, se a banca privada tem a sua própria fonte de recursos --- os depósitos dos seus clientes --- e estes são muito excentários em relação às suas "reais" necessidades para conceder empréstimos isto significa que ela será relativamente independente do banco central --- o "emprestador de último recurso" --- e haverá uma tendência a essa banca privada ficar mais ou menos imune à política monetária, deixando esta com uma eficácia mais que duvidosa para controlar a economia.
De facto e ao contrário do que acontece hoje em dia com os seus parceiros de outros países --- incluindo Portugal... --- a banca privada no país tem um "problema": o do excesso de liquidez, o de "ter dinheiro a mais".
O gráfico abaixo ilustra o que se passa: o volume de empréstimos concedidos pela banca é muito inferior ao montante dos depósitos disponíveis.
O negócio bancário é, como se sabe, o de servir de intermediário entre quem tem recursos (financeiros) em excesso e quem necessita deles para "tocar adiante" a sua actividade económica ou adquirir certos bens ou serviços (crédito à habitação, crédito ao consumo, etc). Por isso e para que o negócio bancário seja rentável, o desejável é que o volume de empréstimos se aproxime o mais possível do volume de depósitos. Por vezes, mesmo, os bancos chegam a obter recursos junto de outros bancos do país ou do estrangeiro para poderem emprestar aos seus clientes.
Em Timor, porém, a banca comercial, pelos mas diversos motivos, não consegue aplicar em empréstimos uma parte significativa dos depósitos que recebe e assim vê-se forçada a, para o "prejuízo" não ser tão grande, depositar ela própria parte desses recursos em bancos estrangeiros que lhes proporcionam, assim, uma rendazita graças aos juros que recebem. Note-se que estes depósitos no exterior, porque agora ficam ao dispor dos bancos de outro país, acabam por ser uma forma indirecta de financiar estes permitindo-lhes conceder um volume maior de empréstimos nas suas economias nacionais.
Isto significa, portanto, que Timor está a financiar, em parte, as economias de outros países... Que tal?!...
Mas o que permite que tal aconteça --- um país pobre a emprestar a ricos... ? Um aspecto importante da resposta é o facto de tudo isto significar que o sector privado timorense é (olha a novidade!...) extremamente fraco e incapaz de aproveitar os recursos que estão à sua disposição. Esta "fraqueza" tem várias dimensões, sendo duas delas (interligadas) (i) a falta de recursos próprios para financiar parte dos investimentos, a falta de "empreendorismo" e falta de capacidades de gestão, por um lado; e, (ii) em muitos casos, a falta das chamadas "garantias reais" (nomedamente títulos de propriedade sobre bens, incluindo terra) que possam ser penhoradas pela banca para garantirem o retornos dos recursos emprestados.
Mas numa outra perspectiva (ainda mais macroeconómica?), o diferencial entre recursos disponíveis na banca e os empréstimos que ela concede --- isto é, o excesso de liquidez dos bancos --- tem uma consequência que importa realçar. É que, a manterem-se as coisas assim, mesmo que existisse uma moeda nacional e o banco central tivesse aos seus dispor os instrumentos de política monetária que estão usualmente disponíveis nos países com moeda própria, a eficácia de tal política tenderia a ser, muito provavelmente, limitada.
De facto, um dos instrumentos essenciais dos bancos centrais com moeda própria é o exercício de um certo controlo (indirecto) dos recursos aos dispor da banca comercial e do custo destes através de políticas apropriadas.
Ora, se a banca privada tem a sua própria fonte de recursos --- os depósitos dos seus clientes --- e estes são muito excentários em relação às suas "reais" necessidades para conceder empréstimos isto significa que ela será relativamente independente do banco central --- o "emprestador de último recurso" --- e haverá uma tendência a essa banca privada ficar mais ou menos imune à política monetária, deixando esta com uma eficácia mais que duvidosa para controlar a economia.
sábado, 11 de abril de 2009
Lendo e relendo os documentos do encontro de doadores
Aviso desde já que o título acima é enganador pois o que segue abaixo não é sobre TODOS os documentos mas sim apenas sobre o do Banco Mundial, com breves referências ao do Governo e ao do FMI.
Ao ler o documento três ideias me assaltaram desde logo: a primeira é a de que o relatório do Governo --- pelo menos aquele a que tive acesso e está disponível aqui --- parece o relatório do Banco e o do Banco Mundial parece o do Governo pelas linhas de orientação que traça para o futuro e mesmo pelos comentários que faz ao passado... Esquisito, não?
A segunda ideia foi a de que, com a habitual linguagem de "dar uma no cravo e outra na ferradura" tão ao gosto das instituições internacionais, os comentários que tece à política económica do Governo poderão ser considerados como não sendo muito "leves" (isto para não os considerar relativamente duros apesar dos elogios com que começa o texto em obediência ao sacrossanto princípio de que é bom "passar a mão pelo pelo" aos governos em exercício).
Finalmente, a terceira ideia foi perguntar-me onde estava o Banco quando o Governo, pelos vistos numa atitude que o Banco agora olha algo criticamente, decidiu aumentar tão significativamente os gastos públicos (o mesmo, aliás, se pode dizer do FMI). Na época não consta que tivessem tornado públicos comentários aconselhando maior prudência. Mas pode ter sido distracção minha...
Notei também o nítido exagero, quase populista e pouco próprio de uma organização com as responsabilidades do Banco, de invocar um argumento do tipo "se a despesa continuasse a aumentar 25% ao ano e se os preços do petróleo estabilizassem, a médio prazo, nos cerca de 60 USD/barril --- o que não é impossível --- então o Fundo Petrolífero estaria completamente esvaziado dentro de 8 a 10 anos" já que tal hipótese (aumentar todos os anos os gastos em 25%) é absolutamente impensável não só por questões relacionadas com o seu financiamento com também com a incapacidade de gerir EFICAZMENTE a aplicação de tais recursos.
Mas a verdade é que serve de um bom alerta para o cuidado que é necessário ter (pelo menos) de ora em diante na gestão das receitas petrolíferas e, consequentemente, das despesas a efectuar. Neste sentido, são de sublinhar os "avisos" deixados pelo documento do FMI quanto à futura revisão da Lei do Fundo Petrolífero, que, nitidamente, aconselha ser a menor possível.
É agora (ainda mais) evidente que o OGE de 2009 terá de ser revisto profundamente e não só, como refere o FMI, para o ajustar aos preços (mais baixos) a pagar pelo Governo. Na verdade a descida de preços é "apenas" em relação aos gastos em combustível e em arroz "do Governo", já que a maioria dos demais terá, provavelmente, tendência para aumentar e não para diminuir.
A revisão do OGE deverá ter em linha de conta a descida significativa que se irá verificar no "rendimento sustentável" por as contas deste terem sido efectuadas ao preço médio do petróleo de 60 USD/barril quando as últimas estimativas para esse preço são de cerca de 45 USD/barril. O Banco e o FMI estimam que a quebra de receitas petrolíferas neste ano será de cerca de 60-66% das cobradas (excepcionalmente!) no ano passado.
O que será "cortado" no Orçamento? Considerando que em relação a uma parte importante das despesas correntes (p.ex. salários e pensões) foram assumidos compromissos que não poderão deixar de ser cumpridos, fica pouca (?) coisa para "emagrecer" o Orçamento. Provavelmente (inevitavelmente?) iremos ver uma redução da compra de bens e serviços e um reescalonamento de despesas de investimento em infraestruturas. Uma delas poderá ser a definição de um outro timing de instalação das polémicas centrais térmicas a óleo pesado.
Veremos.
Ao ler o documento três ideias me assaltaram desde logo: a primeira é a de que o relatório do Governo --- pelo menos aquele a que tive acesso e está disponível aqui --- parece o relatório do Banco e o do Banco Mundial parece o do Governo pelas linhas de orientação que traça para o futuro e mesmo pelos comentários que faz ao passado... Esquisito, não?
A segunda ideia foi a de que, com a habitual linguagem de "dar uma no cravo e outra na ferradura" tão ao gosto das instituições internacionais, os comentários que tece à política económica do Governo poderão ser considerados como não sendo muito "leves" (isto para não os considerar relativamente duros apesar dos elogios com que começa o texto em obediência ao sacrossanto princípio de que é bom "passar a mão pelo pelo" aos governos em exercício).
Finalmente, a terceira ideia foi perguntar-me onde estava o Banco quando o Governo, pelos vistos numa atitude que o Banco agora olha algo criticamente, decidiu aumentar tão significativamente os gastos públicos (o mesmo, aliás, se pode dizer do FMI). Na época não consta que tivessem tornado públicos comentários aconselhando maior prudência. Mas pode ter sido distracção minha...
Notei também o nítido exagero, quase populista e pouco próprio de uma organização com as responsabilidades do Banco, de invocar um argumento do tipo "se a despesa continuasse a aumentar 25% ao ano e se os preços do petróleo estabilizassem, a médio prazo, nos cerca de 60 USD/barril --- o que não é impossível --- então o Fundo Petrolífero estaria completamente esvaziado dentro de 8 a 10 anos" já que tal hipótese (aumentar todos os anos os gastos em 25%) é absolutamente impensável não só por questões relacionadas com o seu financiamento com também com a incapacidade de gerir EFICAZMENTE a aplicação de tais recursos.
Mas a verdade é que serve de um bom alerta para o cuidado que é necessário ter (pelo menos) de ora em diante na gestão das receitas petrolíferas e, consequentemente, das despesas a efectuar. Neste sentido, são de sublinhar os "avisos" deixados pelo documento do FMI quanto à futura revisão da Lei do Fundo Petrolífero, que, nitidamente, aconselha ser a menor possível.
É agora (ainda mais) evidente que o OGE de 2009 terá de ser revisto profundamente e não só, como refere o FMI, para o ajustar aos preços (mais baixos) a pagar pelo Governo. Na verdade a descida de preços é "apenas" em relação aos gastos em combustível e em arroz "do Governo", já que a maioria dos demais terá, provavelmente, tendência para aumentar e não para diminuir.
A revisão do OGE deverá ter em linha de conta a descida significativa que se irá verificar no "rendimento sustentável" por as contas deste terem sido efectuadas ao preço médio do petróleo de 60 USD/barril quando as últimas estimativas para esse preço são de cerca de 45 USD/barril. O Banco e o FMI estimam que a quebra de receitas petrolíferas neste ano será de cerca de 60-66% das cobradas (excepcionalmente!) no ano passado.
O que será "cortado" no Orçamento? Considerando que em relação a uma parte importante das despesas correntes (p.ex. salários e pensões) foram assumidos compromissos que não poderão deixar de ser cumpridos, fica pouca (?) coisa para "emagrecer" o Orçamento. Provavelmente (inevitavelmente?) iremos ver uma redução da compra de bens e serviços e um reescalonamento de despesas de investimento em infraestruturas. Uma delas poderá ser a definição de um outro timing de instalação das polémicas centrais térmicas a óleo pesado.
Veremos.
Etiquetas:
Banco Mundial,
doadores,
FMI,
OGE
sexta-feira, 10 de abril de 2009
O que eles disseram...
Numa das 'entradas' de ontem estabelecemos um link para o InfoTimor e, neste, para alguns dos documentos apresentados na reunião dos "parceiros de desenvolvimento" que decorreu na semana passada.
Os textos estão em inglês e creio serem acessíveis a muitos dos leitores mas para aqueles que têm mais dificuldade na leitura dos mesmos aqui ficam traduções parciais dos mesmos.
Na impossibilidade de traduzir todos os textos, ficam aqui partes do que o Banco Mundial e o FMI escreveram. Dos seus textos seleccionámos aquelas partes em que se referem mais explicitamente à política de despesa pública e à sua relação com as receitas petrolíferas --- e ao Fundo Petrolífero.
Do texto do Banco Mundial:
"[Durante o ano passado] o Governo fez um trabalho notável. Foi feito um tremendo progresso [em várias áreas relacionadas com a segurança e estabilidade do país] e Timor Leste apresenta hoje ao fundo uma face diferente e mais calma. A chave foi definir um programa forte, realizável e focalizar a acção executiva na sua execução. Numa economia em grande parte dirigida pelos gastos do Estado, as despesas em dinheiro triplicaram no período entre 2006/7 e 2008 e o estímulo fiscal que resultou da [maior] disponibilidade de dinheiro trouxe consigo um crescimento de 11 a 12 por cento do PIB da economia não-petrolífera. Este resultado no passado foi uma grande realização e merece a nossa admiração. Estaria errado se sugerisse que a estabilidade está agora garantida ou que o esforço de estabilização deveria ser posto de lado mas [a verdade] é que é agora possível falarmos sobre estratégia de desenvolvimento e preocuparmo-nos com coisas como a sustentabilidade fiscal --- assunto que não era tão pertinente no ano passado. Infelizmente para Timor Leste, entretanto, o mundo além fronteiras mudou dramaticamente e isto traz desafios novos e mal-vindos para o país. A crise financeira global precipitou uma queda da actividade económica mundial não testemunhada desde meados do século passado. Todos os países serão, de uma forma ou de outra, afectados. Em Timor Leste testemunhamos uma queda alarmante dos preços do petróleo e dos rendimentos que ele proporciona ao país. Estes podem baixar este ano até apenas um terço do que foram no ano passado [i.e., uma queda de 2/3 – AS]. O Orçamento de 2009 foi formulado antes de se ter feito sentir o pleno impacto do declínio do preço do petróleo. Ele propõe um aumento de despesa de cerca de 25% comparado com o que foi gasto no último ano.
As perspectivas de evolução do preço do petróleo, entretanto, estão a obrigar o Governo a questionar esta rápida taxa de expansão fiscal. Só para ilustrar o que eu quero dizer: se a despesa continuasse a aumentar 25% ao ano e se os preços do petróleo estabilizassem, a médio prazo, nos cerca de 60 USD/barril --- o que não é impossível --- então o Fundo Petrolífero estaria completamente esvaziado dentro de 8 a 10 anos a menos que novos campos petrolíferos começassem a ser explorados até então. Eu não estou a falar aqui de uma situação em que se ultrapassasse o Rendimento Sustentável mas sim do esgotamento total da principal fonte de poupanças e riqueza do país [em condições normais]. Oito a dez anos, acrescentaria, não é praticamente tempo nenhum quando se fala de desenvolvimento e não é, certamente, suficientemente longo para que o rendimento de origem não-petrolífera substitua o resultante da exploração do petróleo. É melhor nem pensar no que aconteceria em tal cenário.
Estou certo de que este Governo não prosseguiria um tal percurso tão desleixado. O meu ponto é que tempos diferentes exigem soluções/aproximações diferentes. É por isso o estabelecimento de um quadro geral estratégico para o médio prazo é tão importante."
Do documento do FMI:
"3 - Timor-Leste esteve isolado de muitos dos efeitos da crise financeira mas não deixou de ser afectado.Como os rendimentos do petróleo representam cerca de 95% das receitas do Governo, o país está altamente exposto aos preços do petróleo, que desceram significativamente tal como a economia em geral. Aos preços actuais, estima-se que as receitas de petróleo de Timor-Leste caiam cerca de 60% relativamente ao nível de 2008, quando preço médio foi de cerca de 100 USD/barril. O Fundo Petrolífero serviu de almofada ao impacto dos preços mais baixos mas se eles continuarem aos níveis actuais isso significará um importante constrangimento ao orçamento. O Orçamento de 2009, cujo valor estava bem acima do valor sustentável com um aumento previsto para as despesas de 25% relativamente aos gastos efectivamente realizados no ano anterior, já estava bem acima do desejável quando o petróleo estava 60 USD/barril. Neste momento a despesa deveria ser reduzida no mínimo para reflectir os preços mais baixos dos bens importados pelo governo. Sem ajustamento, o Orçamento de 2009 implicará um défice fiscal de mais de 100% do PIB não-petrolífero, maior que os 97% estimados para 2008.
4 - Um mau ambiente económico mundial enfatiza o desafio de assegurar um crescimento sustentável e a redução da pobreza. Devido aos preços mais altos do petróleo, Timor-Leste foi capaz de mais que quadruplicar a despesa pública em apenas dois anos e mesmo assim ainda deixou dinheiro suficiente para deixar o Fundo Petrolífero com 4,2 mil milhões de USD no fim de 2008. Esta despesa ajudou a fazer face a necessidades urgentes de curto prazo e a estimular a economia. Na verdade, fervilhando de actividade, Dili mudou a um ponto em que é difícil reconhecê-la. Mas o crescimento económico não se pode basear em aumentos muito rápidos dos gastos do governo. Dados os actuais preços do petróleo as despesas públicas terão que ser fortemente controladas para evitar esvaziar as poupanças efectuadas até agora. Isto, por sua vez, realça a necessidade para hierarquizar/priorizar as despesas públicas e de obter delas mais pelo mesmo dinheiro.
7 - Acima de tudo o Fundo de Petróleo tem que ser visto como uma base fundamental da sã administração dos recursos do país. Enfatizando a transparência e a sustentabilidade, o Fundo de Petróleo ajuda a proteger o país contra a “maldição do petróleo” que afligiu tantos países ricos em recursos naturais. Devido à sua política conservadora de investir em títulos do Tesouro do Governo norte-americano, o Fundo teve um retorno de 6,9% em 2008. Este foi um bom resultado num ano onde a maioria das classes de activos [financeiros] tiveram quedas significativas. Uma maior diversificação da carteira de títulos parece possível e deve ser cuidadosamente ponderada. Quando a Lei do Fundo Petrolífero for alterada [em 2010] para acomodar uma nova estratégia de investimento sugerimos fortemente que as autoridades mantenham os princípios básicos da Lei actual. Haverá sempre pressão para gastar mais e a lei actual tem em si mesma mecanismos de flexibilidade, mas ignorar ou debilitar o quadro geral da Lei existente não é no interesse de longo prazo do país."
Os textos estão em inglês e creio serem acessíveis a muitos dos leitores mas para aqueles que têm mais dificuldade na leitura dos mesmos aqui ficam traduções parciais dos mesmos.
Na impossibilidade de traduzir todos os textos, ficam aqui partes do que o Banco Mundial e o FMI escreveram. Dos seus textos seleccionámos aquelas partes em que se referem mais explicitamente à política de despesa pública e à sua relação com as receitas petrolíferas --- e ao Fundo Petrolífero.
Do texto do Banco Mundial:
"[Durante o ano passado] o Governo fez um trabalho notável. Foi feito um tremendo progresso [em várias áreas relacionadas com a segurança e estabilidade do país] e Timor Leste apresenta hoje ao fundo uma face diferente e mais calma. A chave foi definir um programa forte, realizável e focalizar a acção executiva na sua execução. Numa economia em grande parte dirigida pelos gastos do Estado, as despesas em dinheiro triplicaram no período entre 2006/7 e 2008 e o estímulo fiscal que resultou da [maior] disponibilidade de dinheiro trouxe consigo um crescimento de 11 a 12 por cento do PIB da economia não-petrolífera. Este resultado no passado foi uma grande realização e merece a nossa admiração. Estaria errado se sugerisse que a estabilidade está agora garantida ou que o esforço de estabilização deveria ser posto de lado mas [a verdade] é que é agora possível falarmos sobre estratégia de desenvolvimento e preocuparmo-nos com coisas como a sustentabilidade fiscal --- assunto que não era tão pertinente no ano passado. Infelizmente para Timor Leste, entretanto, o mundo além fronteiras mudou dramaticamente e isto traz desafios novos e mal-vindos para o país. A crise financeira global precipitou uma queda da actividade económica mundial não testemunhada desde meados do século passado. Todos os países serão, de uma forma ou de outra, afectados. Em Timor Leste testemunhamos uma queda alarmante dos preços do petróleo e dos rendimentos que ele proporciona ao país. Estes podem baixar este ano até apenas um terço do que foram no ano passado [i.e., uma queda de 2/3 – AS]. O Orçamento de 2009 foi formulado antes de se ter feito sentir o pleno impacto do declínio do preço do petróleo. Ele propõe um aumento de despesa de cerca de 25% comparado com o que foi gasto no último ano.
As perspectivas de evolução do preço do petróleo, entretanto, estão a obrigar o Governo a questionar esta rápida taxa de expansão fiscal. Só para ilustrar o que eu quero dizer: se a despesa continuasse a aumentar 25% ao ano e se os preços do petróleo estabilizassem, a médio prazo, nos cerca de 60 USD/barril --- o que não é impossível --- então o Fundo Petrolífero estaria completamente esvaziado dentro de 8 a 10 anos a menos que novos campos petrolíferos começassem a ser explorados até então. Eu não estou a falar aqui de uma situação em que se ultrapassasse o Rendimento Sustentável mas sim do esgotamento total da principal fonte de poupanças e riqueza do país [em condições normais]. Oito a dez anos, acrescentaria, não é praticamente tempo nenhum quando se fala de desenvolvimento e não é, certamente, suficientemente longo para que o rendimento de origem não-petrolífera substitua o resultante da exploração do petróleo. É melhor nem pensar no que aconteceria em tal cenário.
Estou certo de que este Governo não prosseguiria um tal percurso tão desleixado. O meu ponto é que tempos diferentes exigem soluções/aproximações diferentes. É por isso o estabelecimento de um quadro geral estratégico para o médio prazo é tão importante."
Do documento do FMI:
"3 - Timor-Leste esteve isolado de muitos dos efeitos da crise financeira mas não deixou de ser afectado.Como os rendimentos do petróleo representam cerca de 95% das receitas do Governo, o país está altamente exposto aos preços do petróleo, que desceram significativamente tal como a economia em geral. Aos preços actuais, estima-se que as receitas de petróleo de Timor-Leste caiam cerca de 60% relativamente ao nível de 2008, quando preço médio foi de cerca de 100 USD/barril. O Fundo Petrolífero serviu de almofada ao impacto dos preços mais baixos mas se eles continuarem aos níveis actuais isso significará um importante constrangimento ao orçamento. O Orçamento de 2009, cujo valor estava bem acima do valor sustentável com um aumento previsto para as despesas de 25% relativamente aos gastos efectivamente realizados no ano anterior, já estava bem acima do desejável quando o petróleo estava 60 USD/barril. Neste momento a despesa deveria ser reduzida no mínimo para reflectir os preços mais baixos dos bens importados pelo governo. Sem ajustamento, o Orçamento de 2009 implicará um défice fiscal de mais de 100% do PIB não-petrolífero, maior que os 97% estimados para 2008.
4 - Um mau ambiente económico mundial enfatiza o desafio de assegurar um crescimento sustentável e a redução da pobreza. Devido aos preços mais altos do petróleo, Timor-Leste foi capaz de mais que quadruplicar a despesa pública em apenas dois anos e mesmo assim ainda deixou dinheiro suficiente para deixar o Fundo Petrolífero com 4,2 mil milhões de USD no fim de 2008. Esta despesa ajudou a fazer face a necessidades urgentes de curto prazo e a estimular a economia. Na verdade, fervilhando de actividade, Dili mudou a um ponto em que é difícil reconhecê-la. Mas o crescimento económico não se pode basear em aumentos muito rápidos dos gastos do governo. Dados os actuais preços do petróleo as despesas públicas terão que ser fortemente controladas para evitar esvaziar as poupanças efectuadas até agora. Isto, por sua vez, realça a necessidade para hierarquizar/priorizar as despesas públicas e de obter delas mais pelo mesmo dinheiro.
7 - Acima de tudo o Fundo de Petróleo tem que ser visto como uma base fundamental da sã administração dos recursos do país. Enfatizando a transparência e a sustentabilidade, o Fundo de Petróleo ajuda a proteger o país contra a “maldição do petróleo” que afligiu tantos países ricos em recursos naturais. Devido à sua política conservadora de investir em títulos do Tesouro do Governo norte-americano, o Fundo teve um retorno de 6,9% em 2008. Este foi um bom resultado num ano onde a maioria das classes de activos [financeiros] tiveram quedas significativas. Uma maior diversificação da carteira de títulos parece possível e deve ser cuidadosamente ponderada. Quando a Lei do Fundo Petrolífero for alterada [em 2010] para acomodar uma nova estratégia de investimento sugerimos fortemente que as autoridades mantenham os princípios básicos da Lei actual. Haverá sempre pressão para gastar mais e a lei actual tem em si mesma mecanismos de flexibilidade, mas ignorar ou debilitar o quadro geral da Lei existente não é no interesse de longo prazo do país."
quinta-feira, 9 de abril de 2009
A cara da ajuda a Timor Leste em 2008
Do relatório do Governo à reunião de doadores destacamos a seguinte informação sobre a ajuda prestada ao país em 2008, num total de 223 milhões USD (clicar nas imagens para as aumentar):
Documentos da Conferência de Parceiros de Desenvolvimento
Acesse aqui, no Infotimor, alguns dos documentos apresentados na conferência de doadores de Timor Leste que decorreu há uma semana em Dili.
Estão disponíveis, para já pelo menos, os documentos do Governo, do Banco Mundial, do FMI, da Espanha e da China. Dadas as características dos seus autores serão especialmente interessantes os três primeiros.
Os comentários "seguem dentro de momentos", i.e., durante os próximos dias.
Estão disponíveis, para já pelo menos, os documentos do Governo, do Banco Mundial, do FMI, da Espanha e da China. Dadas as características dos seus autores serão especialmente interessantes os três primeiros.
Os comentários "seguem dentro de momentos", i.e., durante os próximos dias.
Evolução do valor das importações em 2008
Segundo dados divulgados pela Direcção Nacional de Estatística a evolução do valor mensal das importações de Timor Leste durante o ano de 2008 foi como se ilustra no gráfico abaixo.
Note-se a evolução "em escada" ao longo do tempo, com a média dos últimos 3 meses do ano a trepar para mais do dobro da média dos primeiros 5 meses --- e isto apesar da queda significativa do preço dos combustíveis e do arroz.
Esta é uma evolução usual em situações de mais rápido crescimento económico e no caso de Timor Leste é também, certamente, um sinal desta aceleração. Porém, ela será mais "virtuosa" ou menos "virtuosa" conforme a estrutura das importações: se o aumento se dever a maiores importações de bens de investimento é "virtuosa" na medida em que significa instalação de capacidade produtiva que virá a ser utilizada no futuro para produzir mais bens de origem nacional --- ao mesmo tempo que aumenta o emprego, por exemplo.
Se as importações forem essencialmente de bens de consumo o seu (muito) rápido crescimento significa que se estão a gastar recursos nacionais sem que isso contribua para uma aceleração do crescimento futuro. Infelizmente parece ser este o caso de Timor Leste: a taxa de crescimento das importações reflecte principalmente uma forte aceleração do consumo (privado e público).
Por isso quando alguns observadores, nomeadamente de organizações internacionais, "embandeiram em arco" com uma taxa de crescimento que uns dizem ter sido de 10% e outros de 12,5% é bom "temperar" o entusiasmo perguntando o que é que, na despesa nacional (uma forma de medir o produto nacional), cresceu efectivamente. É que há crescimentos e crescimentos.
Note-se a evolução "em escada" ao longo do tempo, com a média dos últimos 3 meses do ano a trepar para mais do dobro da média dos primeiros 5 meses --- e isto apesar da queda significativa do preço dos combustíveis e do arroz.
Esta é uma evolução usual em situações de mais rápido crescimento económico e no caso de Timor Leste é também, certamente, um sinal desta aceleração. Porém, ela será mais "virtuosa" ou menos "virtuosa" conforme a estrutura das importações: se o aumento se dever a maiores importações de bens de investimento é "virtuosa" na medida em que significa instalação de capacidade produtiva que virá a ser utilizada no futuro para produzir mais bens de origem nacional --- ao mesmo tempo que aumenta o emprego, por exemplo.
Se as importações forem essencialmente de bens de consumo o seu (muito) rápido crescimento significa que se estão a gastar recursos nacionais sem que isso contribua para uma aceleração do crescimento futuro. Infelizmente parece ser este o caso de Timor Leste: a taxa de crescimento das importações reflecte principalmente uma forte aceleração do consumo (privado e público).
Por isso quando alguns observadores, nomeadamente de organizações internacionais, "embandeiram em arco" com uma taxa de crescimento que uns dizem ter sido de 10% e outros de 12,5% é bom "temperar" o entusiasmo perguntando o que é que, na despesa nacional (uma forma de medir o produto nacional), cresceu efectivamente. É que há crescimentos e crescimentos.
quarta-feira, 8 de abril de 2009
Taxa de inflação
Há pelo menos duas formas de medir a taxa de inflação anual: a chamada taxa média, que usa a média de doze meses comparada com a dos 12 meses anteriores e a taxa homóloga, mais simples de calcular e que compara apenas a variação dos preços entre um determinado mês e o seu homólogo do ano anterior. Neste caso poderemos dizer que a taxa homóloga de Dezembro de um ano corresponde à taxa de inflação desse ano já que compara o índice de preços de Dezembro de um ano com o de Dezembro do ano anterior. Em Timor Leste a taxa anual que usualmente é divulgada é a taxa homóloga e não a taxa média.
O gráfico abaixo ilustra a evolução das taxas homólogas entre Janeiro de 2006 e Dezembro de 2008. Os valores assinalados a vermelho num quadrado amarelo correspondem, pois, às taxas (homólogas) de inflação dos anos 2006, 2007 e 2008.
A última taxa correspondente que foi divulgada foi a de Janeiro deste ano: 6,5%. Isto é: a taxa de variação dos preços entre Janeiro do ano passado e Janeiro deste ano foi, em média, 6,5%.
Uma análise mais "fina" permitiria concluir que na variação dos preços tem um papel fundamental a de bens importados, mais que a de bens produzidos em Timor Leste, pelo que a inflação no país é fundamentalmente "importada", particularmente pela variação dos preços de alguns bens como os produtos petrolíferos (gasolina, gasóleo) e o arroz, sujeitos a grandes oscilações no mercado mundial em 2007 e 2008.
O "pico" de taxa de inflação homóloga registou-se em Fevereiro de 2007, com 17,9%. Isto deve-se ao facto de esta taxa incorporar em si a grande variação de preços (8,8% de um mês para outro) registada em Fevereiro de 2006 em resultado da instabilidade político-social então vivida.
Já agora acrescente-se que o IPC-Índice de Preços no Consumidor (cuja variação serve de base ao cálculo da taxa de inflação) foi de 125,6 em Dezembro de 2006, 136,4 no mês homólogo de 2007 e de 146,6 em Dezembro de 2008. Como a sua base é Dezembro de 2001 = 100, isto significa que entre este último ano e Dezembro do ano passado (sete anos) os preços aumentaram, em média, quase 47%. Contas "redondas": 50%.
Foi esse o montante da perda de poder de compra dos rendimentos durante esse período. Um aumento dos salários ou outros rendimentos em Janeiro passado que repusesse esse poder ao nível do de Dez/01 deveria ter sido de cerca de 50%. Todos os aumentos superiores a esta percentagem significam um aumento do poder de compra real face ao fim de 2001.
De quanto foi o aumento dos seus rendimentos desde este último mês? :-)
O gráfico abaixo ilustra a evolução das taxas homólogas entre Janeiro de 2006 e Dezembro de 2008. Os valores assinalados a vermelho num quadrado amarelo correspondem, pois, às taxas (homólogas) de inflação dos anos 2006, 2007 e 2008.
A última taxa correspondente que foi divulgada foi a de Janeiro deste ano: 6,5%. Isto é: a taxa de variação dos preços entre Janeiro do ano passado e Janeiro deste ano foi, em média, 6,5%.
Uma análise mais "fina" permitiria concluir que na variação dos preços tem um papel fundamental a de bens importados, mais que a de bens produzidos em Timor Leste, pelo que a inflação no país é fundamentalmente "importada", particularmente pela variação dos preços de alguns bens como os produtos petrolíferos (gasolina, gasóleo) e o arroz, sujeitos a grandes oscilações no mercado mundial em 2007 e 2008.
O "pico" de taxa de inflação homóloga registou-se em Fevereiro de 2007, com 17,9%. Isto deve-se ao facto de esta taxa incorporar em si a grande variação de preços (8,8% de um mês para outro) registada em Fevereiro de 2006 em resultado da instabilidade político-social então vivida.
Já agora acrescente-se que o IPC-Índice de Preços no Consumidor (cuja variação serve de base ao cálculo da taxa de inflação) foi de 125,6 em Dezembro de 2006, 136,4 no mês homólogo de 2007 e de 146,6 em Dezembro de 2008. Como a sua base é Dezembro de 2001 = 100, isto significa que entre este último ano e Dezembro do ano passado (sete anos) os preços aumentaram, em média, quase 47%. Contas "redondas": 50%.
Foi esse o montante da perda de poder de compra dos rendimentos durante esse período. Um aumento dos salários ou outros rendimentos em Janeiro passado que repusesse esse poder ao nível do de Dez/01 deveria ter sido de cerca de 50%. Todos os aumentos superiores a esta percentagem significam um aumento do poder de compra real face ao fim de 2001.
De quanto foi o aumento dos seus rendimentos desde este último mês? :-)
domingo, 5 de abril de 2009
"Prontes"!... Já parei de rir...
Desculpem o ar um pouco menos sério que o habitual mas desta vez vai assim mesmo...
Isto porque me fartei de rir com o que o jornalista (?) da FORBES escreveu sobre o Fundo Petrolífero e a forma como é gerido, nomeadamente pelo seu Director Executivo. Os comentários são, pois, à notícia em si e não sobre o Fundo --- melhor: apenas indirectamente serão sobre o Fundo.
A imaginação de certos "jornalistas" para "comporem o ramalhete" e fazerem de uma "estória" um romance é incrível! Este, pelo que escreveu, é dos que envergonha a profissão...
Mas vamos ao comentário quase "ponto por ponto".
A notícia começa logo pela "informação" de que o escritório do Director Executivo "fica por detrás do edifício desmoronado do Banco Central". Desmoronadíssimo, como se demonstra pela foto abaixo, tirada no fim de Agosto do ano passado. E não consta que entretanto tenha havido nenhum tremor de terra ou uma explosão que o tenham desmoronado... Endoidou!...
E o que dizer de o escritório ser compartilhado "com mais quatro colegas E ALGUNS FRANGOS E CABRAS QUE APARECEM NAS INSTALAÇÕES"?!... Esta é de uma pessoa se escangalhar a rir!... Os frangos, como "avoam", ainda vá que não vá... Mas as cabras? Como passariam o muro alto que cerca as instalações? E se ousassem passar pela entrada principal eram logo "promovidas" a "tukir"!... Não! Não há nem nunca houve frangos e cabras nas redondezas... Só os que aparecem, já confeccionados, nas festas que, de quando em vez, se organizam.
Mas a risota não pára aqui...
Adiante surge esta "pérola": "os políticos novatos estão tão absorvidos pelas infinitas lutas de poder que não conseguem chegar a um acordo sobre como investir os lucros provindos do petróleo e do gás do Mar de Timor"!... O homem --- seria um insulto para os que o são chamar-lhe jornalista... --- nem percebeu que há uma Lei do Fundo Petrolífero desde 2005 e que nela se estabelecem os princípios orientadores da aplicação dos recursos financeiros do Fundo! Esses princípios são complementados com orientações emanadas do Ministério das Finanças do país que são fundamentadas com pareceres de um conselho consultivo para o investimento --- e, agora, de uma empresa financeira de renome internacional, a JPMorgan.
Isto é: ao contrário do que o escrevinhador quer fazer crer, o Fundo tem regras de gestão bem definidas --- basta consultá-las nos vários documentos sobre o assunto disponíveis na página web do banco central de Timor Leste --- e são elas, e não a Autoridade Bancária e de Pagamentos (o banco central) e, muito menos, o director executivo do Fundo enquanto enxota os frangos e as cabras, que determinam, no essencial, qual a forma de aplicar os recursos financeiros existentes. A margem de manobra da Autoridade é, aqui, muito reduzida.
Por isso, a afirmação de que "Alves Maria e o seus colegas parecem génios financeiros" é "música"... Mas uma coisa é certa e quero que fique aqui bem clara: ele e os seus colegas (e eles vão desculpar-me se enfatizar o papel dele) são o exemplo de uma (relativamente jovem) geração de funcionários timorenses que, espalhados por aqui e por ali, têm aproveitado bem as possibilidades de formação que lhes têm sido proporcionadas e têm, com grande espírito de dedicação, sabido elevar cada vez mais a qualidade do funcionamento das suas respectivas instituições. O banco central, em geral, é um exemplo disso (eu sei: sou suspeito por trabalhar com eles mas o que fica dito é a verdade! Nua e crua).
Também é verdade que o Fundo Petrolífero apresentou em 2008 resultados melhores que muitos outros, com mais pretensões porque com mais recursos financeiros e humanos, mas isso deve-se em boa parte ao facto de, por imposição legal (Lei do Fundo Petrolífero, que já vem do tempo do primeiro governo constitucional) ou do Ministério das Finanças, ele ter todos os seus recursos aplicados em Fundos do Tesouro norte-americano enquanto que os outros têm uma carteira de títulos recheada de acções de empresas cujas cotações na bolsa de valores, devido à crise mundial , se "afundou" significativamente trazendo o rendimento de alguns "fundos soberanos" como o FP para terreno negativo.
No meio de tanta asneira escrita pelo escriba da FORBES há duas coisas que se salvam... Uma é a da transparência das contas do Fundo Petrolífero e respectiva divulgação. Este foi, aliás, o item que mais terá contribuido para que o FP tivesse sido classificado em terceiro lugar numa escala elaborada há algum tempo, "perdendo" apenas para os fundos da Noruega e da Nova Zelândia e ficando muitos pontos à frente do de Singapura, por exemplo.
A outra referência que merece ser sublinhada e que reforça o que foi dito atrás sobre a dedicação de alguns funcionários das novas gerações é a que é feita aos sacrifícios que eles fizeram durante a convulsão político-social de 2006. É certamente caso único no mundo que funcionários saíssem, por vezes com problemas de insegurança, dos campos de refugiados em que foram obrigados a viver temporariamente para irem para o banco central gerirem muitas centenas de milhões de dólares! Por vezes "com a roupa do corpo" e de xanatas...
É, certamente, um exagero lembrar aqui a velha frase de Churchill sobre os aviadores ingleses que fizeram frente à aviação alemã na "batalha de Inglaterra" --- "nunca tantos deveram tanto a tão poucos" --- mas por alguma razão me lembrei dessa frase aqui e agora...
Fiquemos por aqui...
Isto porque me fartei de rir com o que o jornalista (?) da FORBES escreveu sobre o Fundo Petrolífero e a forma como é gerido, nomeadamente pelo seu Director Executivo. Os comentários são, pois, à notícia em si e não sobre o Fundo --- melhor: apenas indirectamente serão sobre o Fundo.
A imaginação de certos "jornalistas" para "comporem o ramalhete" e fazerem de uma "estória" um romance é incrível! Este, pelo que escreveu, é dos que envergonha a profissão...
Mas vamos ao comentário quase "ponto por ponto".
A notícia começa logo pela "informação" de que o escritório do Director Executivo "fica por detrás do edifício desmoronado do Banco Central". Desmoronadíssimo, como se demonstra pela foto abaixo, tirada no fim de Agosto do ano passado. E não consta que entretanto tenha havido nenhum tremor de terra ou uma explosão que o tenham desmoronado... Endoidou!...
E o que dizer de o escritório ser compartilhado "com mais quatro colegas E ALGUNS FRANGOS E CABRAS QUE APARECEM NAS INSTALAÇÕES"?!... Esta é de uma pessoa se escangalhar a rir!... Os frangos, como "avoam", ainda vá que não vá... Mas as cabras? Como passariam o muro alto que cerca as instalações? E se ousassem passar pela entrada principal eram logo "promovidas" a "tukir"!... Não! Não há nem nunca houve frangos e cabras nas redondezas... Só os que aparecem, já confeccionados, nas festas que, de quando em vez, se organizam.
Mas a risota não pára aqui...
Adiante surge esta "pérola": "os políticos novatos estão tão absorvidos pelas infinitas lutas de poder que não conseguem chegar a um acordo sobre como investir os lucros provindos do petróleo e do gás do Mar de Timor"!... O homem --- seria um insulto para os que o são chamar-lhe jornalista... --- nem percebeu que há uma Lei do Fundo Petrolífero desde 2005 e que nela se estabelecem os princípios orientadores da aplicação dos recursos financeiros do Fundo! Esses princípios são complementados com orientações emanadas do Ministério das Finanças do país que são fundamentadas com pareceres de um conselho consultivo para o investimento --- e, agora, de uma empresa financeira de renome internacional, a JPMorgan.
Isto é: ao contrário do que o escrevinhador quer fazer crer, o Fundo tem regras de gestão bem definidas --- basta consultá-las nos vários documentos sobre o assunto disponíveis na página web do banco central de Timor Leste --- e são elas, e não a Autoridade Bancária e de Pagamentos (o banco central) e, muito menos, o director executivo do Fundo enquanto enxota os frangos e as cabras, que determinam, no essencial, qual a forma de aplicar os recursos financeiros existentes. A margem de manobra da Autoridade é, aqui, muito reduzida.
Por isso, a afirmação de que "Alves Maria e o seus colegas parecem génios financeiros" é "música"... Mas uma coisa é certa e quero que fique aqui bem clara: ele e os seus colegas (e eles vão desculpar-me se enfatizar o papel dele) são o exemplo de uma (relativamente jovem) geração de funcionários timorenses que, espalhados por aqui e por ali, têm aproveitado bem as possibilidades de formação que lhes têm sido proporcionadas e têm, com grande espírito de dedicação, sabido elevar cada vez mais a qualidade do funcionamento das suas respectivas instituições. O banco central, em geral, é um exemplo disso (eu sei: sou suspeito por trabalhar com eles mas o que fica dito é a verdade! Nua e crua).
Também é verdade que o Fundo Petrolífero apresentou em 2008 resultados melhores que muitos outros, com mais pretensões porque com mais recursos financeiros e humanos, mas isso deve-se em boa parte ao facto de, por imposição legal (Lei do Fundo Petrolífero, que já vem do tempo do primeiro governo constitucional) ou do Ministério das Finanças, ele ter todos os seus recursos aplicados em Fundos do Tesouro norte-americano enquanto que os outros têm uma carteira de títulos recheada de acções de empresas cujas cotações na bolsa de valores, devido à crise mundial , se "afundou" significativamente trazendo o rendimento de alguns "fundos soberanos" como o FP para terreno negativo.
No meio de tanta asneira escrita pelo escriba da FORBES há duas coisas que se salvam... Uma é a da transparência das contas do Fundo Petrolífero e respectiva divulgação. Este foi, aliás, o item que mais terá contribuido para que o FP tivesse sido classificado em terceiro lugar numa escala elaborada há algum tempo, "perdendo" apenas para os fundos da Noruega e da Nova Zelândia e ficando muitos pontos à frente do de Singapura, por exemplo.
A outra referência que merece ser sublinhada e que reforça o que foi dito atrás sobre a dedicação de alguns funcionários das novas gerações é a que é feita aos sacrifícios que eles fizeram durante a convulsão político-social de 2006. É certamente caso único no mundo que funcionários saíssem, por vezes com problemas de insegurança, dos campos de refugiados em que foram obrigados a viver temporariamente para irem para o banco central gerirem muitas centenas de milhões de dólares! Por vezes "com a roupa do corpo" e de xanatas...
É, certamente, um exagero lembrar aqui a velha frase de Churchill sobre os aviadores ingleses que fizeram frente à aviação alemã na "batalha de Inglaterra" --- "nunca tantos deveram tanto a tão poucos" --- mas por alguma razão me lembrei dessa frase aqui e agora...
Fiquemos por aqui...
sábado, 4 de abril de 2009
Calma! Primeiro deixem-me parar de rir...
... depois de ter lido a notícia da FORBES sobre o Fundo Petrolífero tal como publicada no TLN... :-)
Depois comento!
Depois comento!
Subscrever:
Mensagens (Atom)