Uma economia não pode dispensar a existência de um sector industrial, por menor que ele seja. O que acontece em Timor Leste é que este sector é virtualmente inexistente. Aliás, isso não é grande novidade para os timorenses, pois não?!... No tempo da administração portuguesa nem se fala e o da administração indonésia também não foi muito melhor... Pelo menos ao ponto de fazer alguma diferença no contexto da produção nacional e no emprego. Uma fábrica têxtil, tal como uma andorinha, não faz a Primavera...
Quais as esperanças de que a situação futura seja significativamente --- sublinho esta última palavra --- diferente da anterior e da presente? Temo ser um pouco pessimista...
Mas é evidente que quer o actual quer os anteriores governos põe/puseram uma forte esperança de que a eventual instalação da fábrica de liquefacção de gás da zona do Greater Sunrise seja o "big push" necessário ao desenvolvimento de um sector industrial timorense digno de nota constituído, entre outras, por empresas de pequena/média dimensão que possam trabalhar articuladas com aquela fábrica. Será uma gota de água face às necessidades de criação de emprego do país até porque estas empresas tenderão a ser, provavelmente, de tecnologia mais desenvolvida e necessitando de um número limitado de empregados. Mas é um princípio.
E só isso? Claro que não. Cremos que um olhar com sentido estratégico para a economia do país e ao que há a fazer nos anos próximos será suficiente para identificar alguns sectores de produção industrial que poderão desenvolver-se. Só um estudo mais aprofundado e que não cabe aqui poderá fazer a sua identificação mas não será difícil imaginar que alguns deles estarão ligados a duas áreas que terão de conhecer um forte desenvolvimento no futuro: a das infraestruturas (rodoviárias, de equipamentos sociais --- incluindo escolas ---, etc) e a da habitação.
Qualquer destas áreas cria uma procura significativa em sectores produtivos que estão perfeitamente ao alcance dos empresários timorenses --- mesmo que com uma "ajudinha" de estrangeiros e, até, do Estado quer enquanto "mestre da banda" (planeador) quer, mesmo, como parceiro de negócio (directamente ou através de um banco de desenvolvimento nacional, por exemplo).
Referimo-nos, nomeadamente, à produção de tijolos, de telhas, de mobiliário, de brita, a empresas de assistência técnica a equipamentos, a pequenas/médias oficinas de metalomecânica e de outros produtos. Particularmente importante será o desenvolvimento de indústrias que sirvam para aumentar o grau de incorporação de trabalho nacional nas produções agrícolas (ex: torrefacção de café, descasque de arroz, óleos vegetais, etc).
Com algum sentido de planeamento, estas indústrias deverão aparecer precedendo ou simultaneamente com o aumento das despesas nestas áreas sob risco de a maior parte destas se "escoarem" para as importações e o impulso à economia nacional ser muito menor.
Só que, tememos, há (pelo menos) um probleminha... A reforma das taxas fiscais que entrou em vigor em 1 de Julho passado torna, quanto a nós, difícil a situação para os potenciais interessados em produzir em Timor Leste algumas destas (e outras) produções. De facto, e particularmente quanto às tarifas aduaneiras, a significativa redução das taxas veio, cremos, incentivar mais a importação (da Indonésia e não só) do que a produção nacional. O futuro o dirá...
Mesmo o argumento de que a descida das taxas alfandegárias era necessária num contexto de futura adesão à ASEAN não colhe já que, liberalizando agora (como disse alguém "too much too soon"), o que se vai negociar verdadeiramente para a ela aderir? Nada de verdadeiramente essencial, temo!... O que é uma péssima estratégia de negociação --- não é, Zacarias?
Os argumentos que defendem a existência de uma certa protecção das chamadas "indústrias nascentes" são verdadeiros, SIM! Qualquer país da Ásia Oriental o testemunha... E não só eles! Como julgam que se desenvolveu a capacidade industral do Brasil? E, mesmo, do Portugal dos anos 50 e, principalmente, 60?
Será tarde para voltar atrás? Infelizmente... Pelo menos para já.
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