segunda-feira, 15 de setembro de 2008

Ainda sobre o café em Timor Leste

De conversas que pude manter com várias pessoas envolvidas, de uma forma ou de outra, na produção de café em Timor Leste sintetizo alguma conclusões provisórias:

a) dado o preço (relativamente baixo) do café no mercado internacional não é fácil a exploração empresarial do mesmo já que os custos de operação são grandes, nomeadamente devido ao facto de não ser possível mecanizar a colheita devido ao acidentado do terreno;

b) para esta falta de rentabilidade contribui também o facto de uma parte (não necessariamente pequena...) da colheita efectuada manualmente ser "desviada" do proprietário dos terrenos para os que colhem as cerejas...

c) outro aspecto importante é o facto de a qualidade não ser maior devido a erros no próprio processo de colheita já que, contrariamente ao que acontecia "noutros tempos", não há pessoal vigilante que impeça quem faz a apanha dos frutos de simplesmente "derriçar" todo o ramo independentemente do estado de maturação dos frutos. A prática correcta seria colher apenas os frutos maduros e deixar a amadurecer os que não atingiram um bom estado de maturação. Comparem-se, por exemplo, as duas imagens abaixo, em que a primeira é um exemplo do que "não" se deve fazer (repare-se na grande mistura de frutos verdes, pouco maduros e maduros):


d) parte importante da produção nacional é exportada (nomeadamente para a Indonésia) com um estado de transformação reduzido. Há espaço para aumentar a incorporação de trabalho nacional nessa produção, aumentando o seu valor. Há (pelo menos) uma firma a trabalhar nesse sentido. A Elsa Cafés, de investidores timorenses, que pretendem chegar à fase de torrefacção

e) dado o que fica acima e a preocupação de melhorar o rendimento dos cultivadores de café, a aposta fundamental deve ser colocada no apoio à melhoria da produção dos agricultores familiares. A "cooperação agrícola" portuguesa tem tido um papel fundamental neste domínio mas há muito, muito, ainda por fazer, nomeadamente quanto à renovação de parte do cafezal por plantas mais produtivas. E aí o Estado timorense tem um papel importante a desempenhar já que há que encontrar uma solução para manter o rendimento dos agricultores durante o período em que essa renovação, nomeadamente por poda radical e enxertia com variedades mais produtivas (vd entrada abaixo), é feita. Caramba! Afinal o café é a única verdadeira produção nacional... Sim, porque o petróleo vem do fundo do mar...

f) do que fica no ponto anterior não se deve deduzir que não há espaço para a agricultura empresarial de café. Claro que sim e ela deve ser também apoiada com medidas que permitam melhorar as condições em que tais empresas operam. A melhoria das plantas utilizadas é uma delas mas não a única. Algum tipo de alteração de algumas práticas sociais erradas é igualmente necessária, embora se reconheça que não é fácil actuar neste domínio sem que se caia em acusações de "colonialismo"!...

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