De um dos documentos recentemente publicado pelo Fundo Monetário Internacional sobre a economia de Timor Leste respigamos a seguinte parte relativa à evolução da taxa de inflação no país, a sua ligação à evolução dos preços internacionais (particularmente do arroz) e à concessão de subsídios:
"Apesar do aumento dos preços da comida, a recente subida dos preços internacionais do arroz foi, até agora, [quase] anulada em Timor Leste porque os subsídios do governo limitaram a transmissão do efeito dessa subida para os consumidores.
"Apesar do aumento dos preços da comida, a recente subida dos preços internacionais do arroz foi, até agora, [quase] anulada em Timor Leste porque os subsídios do governo limitaram a transmissão do efeito dessa subida para os consumidores.
O preço internacional de referência do arroz é o preço do arroz tailandês, que aumentou 200 por cento nos últimos seis meses, para o que contribuiu o facto de vários países da região terem limitado a disponibilidade de arroz no mercado internacional devido a proibições ou limitações impostas às suas exportações.
Porém, em resposta à escassez de arroz e à agitação social com ela relacionada que se verificou no início de 2007, o governo de Timor Leste começou a importar arroz para revenda aos lojistas locais a preços subsidiados. Como o arroz representa 13 por cento do cabaz de consumo de Timor Leste, a inflação seria muito mais alta se se tivesse verificado a completa transmissão aos consumidores do aumento do preço internacional. As estimativas do pessoal do Fundo são de que, se essa transmissão se tivesse verificado, a taxa de inflação dos 12 meses anteriores a Março de 2008 teria sido de 17 por cento, em vez dos 3,7 por cento que são relatados pelas estatísticas oficiais.
Como o stock de arroz importado antes da mais recente subida de preços já acabou, o governo faz frente a um aumento significativo do custo do subsídio concedido ao arroz [Nota: a versão preliminar da revisão orçamental de meio-2008 inclui 64 milhões para compras de arroz, com o subsídio líquido após a venda aos retalhistas de cerca de 20 milhões USD e 7 milhões para distribuição de arroz aos funcionários públicos]. Mesmo assim, se os preços de importação permanecerem aos níveis actuais, estes subsídios podem não ser suficientes para impedir os preços no retalho de aumentarem."
Isto é: na linguagem do FMI (que por vezes necessita de alguma "tradução"...), ele alerta para o facto de se poder estar a gerar uma situação em que, se os preços do mercado internacional de produtos como o arroz continuarem a subir (como se espera), ou o governo aumenta significativamente os subsídios ao preço --- o que, acrescentamos nós, não costuma ter a simpatia das organizações internacionais por alterarem os "sinais ao mercado" que a subida de preços implica --- e/ou vai, apesar deles, continuar a verificar-se uma aceleração da inflação dos preços da alimentação.
Da criação do Fundo de Estabilização Económica e do que sabe dos seus princípios orientadores pode-se deduzir que o governo vai fazer os possíveis para, através da continuação da política de subsídios, tentar evitar ao máximo a subida do preço do arroz no mercado interno, como que "isolando-o" da evolução do mercado internacional. Objectivo declarado: tentar proteger o poder de compra e o acesso a alimentos da camada mais pobre da população.
Cabe aqui chamar a atenção que esta opção tem consequências a médio-longo prazo que não devem ser esquecidas já que o aumento dos preços internacionais, longe de ser um fenómeno conjuntural, de curto prazo, parece ter vindo para ficar.
Não se trata, portanto, de um fenómeno que uma "estabilização" resolva, antes necessitando de medidas estruturais como o incentivo à produção interna de arroz --- que parece estar nas linhas de orientação do governo --- e, mesmo, acrescentamos nós, de alguma revisão da dieta alimentar da população urbanizada do país, nomeadamente incentivando o consumo de bens alimentares produzidos internamente (milho, mandioca, batata, frutas, etc).
A propósito: para quando um programa de televisão ensinando as donas de casa timorenses a cozinharem com base em outros alimentos que não o arroz? :-)
Como o stock de arroz importado antes da mais recente subida de preços já acabou, o governo faz frente a um aumento significativo do custo do subsídio concedido ao arroz [Nota: a versão preliminar da revisão orçamental de meio-2008 inclui 64 milhões para compras de arroz, com o subsídio líquido após a venda aos retalhistas de cerca de 20 milhões USD e 7 milhões para distribuição de arroz aos funcionários públicos]. Mesmo assim, se os preços de importação permanecerem aos níveis actuais, estes subsídios podem não ser suficientes para impedir os preços no retalho de aumentarem."
Isto é: na linguagem do FMI (que por vezes necessita de alguma "tradução"...), ele alerta para o facto de se poder estar a gerar uma situação em que, se os preços do mercado internacional de produtos como o arroz continuarem a subir (como se espera), ou o governo aumenta significativamente os subsídios ao preço --- o que, acrescentamos nós, não costuma ter a simpatia das organizações internacionais por alterarem os "sinais ao mercado" que a subida de preços implica --- e/ou vai, apesar deles, continuar a verificar-se uma aceleração da inflação dos preços da alimentação.
Da criação do Fundo de Estabilização Económica e do que sabe dos seus princípios orientadores pode-se deduzir que o governo vai fazer os possíveis para, através da continuação da política de subsídios, tentar evitar ao máximo a subida do preço do arroz no mercado interno, como que "isolando-o" da evolução do mercado internacional. Objectivo declarado: tentar proteger o poder de compra e o acesso a alimentos da camada mais pobre da população.
Cabe aqui chamar a atenção que esta opção tem consequências a médio-longo prazo que não devem ser esquecidas já que o aumento dos preços internacionais, longe de ser um fenómeno conjuntural, de curto prazo, parece ter vindo para ficar.
Não se trata, portanto, de um fenómeno que uma "estabilização" resolva, antes necessitando de medidas estruturais como o incentivo à produção interna de arroz --- que parece estar nas linhas de orientação do governo --- e, mesmo, acrescentamos nós, de alguma revisão da dieta alimentar da população urbanizada do país, nomeadamente incentivando o consumo de bens alimentares produzidos internamente (milho, mandioca, batata, frutas, etc).
A propósito: para quando um programa de televisão ensinando as donas de casa timorenses a cozinharem com base em outros alimentos que não o arroz? :-)
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