quarta-feira, 28 de maio de 2008

Sobre a evolução recente do preço do petróleo bruto

O FMI-Fundo Monetário Internacional publicou recentemente um dos seus working papers em que aborda a questão da evolução dos preços do petróleo desde o ano 2000. Aconselhamos vivamente a sua leitura --- pelo menos do seu "palavreado", já que ele consta também de um tratamento matemático de valores que não está ao alcance da generalidade dos leitores.

Para facilitar a divulgação das suas principais conclusões resolvemos transcrever (abaixo, devidamente traduzido para português) as partes mais importantes do texto, da autoria de Noureddine Krichene.

Noureddine Krichene

Crude Oil Prices: Trends and Forecast

IMF Working Paper WP/08/133

http://www.imf.org/external/pubs/ft/wp/2008/wp08133.pdf


I. INTRODUÇÃO

Mantendo uma subida persistente desde o início de 2003 e tendo batido um novo recorde de 120 USD/barril em Abril/2008, os preços do petróleo bruto mantêm-se sob grande pressão e parece não terem limites; o seu ritmo rápido de crescimento pode-se tornar inflacionista por levar ao aumento dos outros preços e pode provocar uma desaceleração do crescimento económico mundial.

Ainda mais preocupante, as recentes subidas do preço dos preços do petróleo estão a ocorrer no meio de uma tendência para a subida dos preços das restantes matérias primas, de instabilidade no mercado habitacional, das bolsas de valores e dos mercados de crédito e de depreciação das taxas de câmbio [do dólar americano].

O rápido crescimento dos preços das matérias primas [commodities], incluindo o petróleo, pode ser visto como um efeito atrasado das políticas monetárias excessivamente expansionistas do período 2001-04, quando as principais taxas de juro foram empurradas para baixo até níveis nunca vistos desde a II Grande Guerra. Tal política expansionista levou a um crescimento económico mundial rápido e, consequentemente, a um aumento da procura por petróleo e pelas commodities não-petrolíferas. Dado que a oferta de petróleo e de outras matérias primas é rígida ou cresce a um ritmo inferior ao da procura, o excesso de procura resultou em inflação dos preços. Com as taxas de juro reais a tornarem-se baixas ou negativas, a pressão na procura real e, por consequência, no mercado do petróleo pode não abrandar. O “relaxamento” da política monetária no período de Agosto 2007 a Março de 2008 desencadeou imediatamente uma nova espiral de subida dos preços das matérias primas e de depreciação da moeda [do dólar].

(…)

II. EVOLUÇÃO RECENTE DOS PREÇOS DO PETRÓLEO

No nosso estudo analisámos os dados sobre o preço do petróleo light nos mercados de futuros desde 4 de Janeiro de 2000 até 29 de Outubro de 2007, os quais estão representados no gráfico abaixo.

O comportamento dos preços mostra claramente dois padrões diferentes: uma relativa estabilidade durante o período desde o início de Janeiro de 2000 até Abril de 2003, com uma média de cerca de 27 USD/barril; e uma subida forte dos preços desde aquela última data até ao final do período analisado (i.e., Maio/2003 a Outubro/2007), com os preços a subirem progressivamente até aos 96 USD/barril em Outubro/2007 e não mostrando qualquer tendência a estabilizarem em torno da média.

Esta tendência de aumento tornou-se previsível e na subida mais longa de preços do pós-Guerra [II Grande Guerra]. As subidas anteriores duraram em média dois a três anos mas a actual já ultrapassou os 4 anos.


VIII. CONCLUSÕES

Este texto demonstrou que entre o início de 2000 e Abril de 2003 os preços do petróleo evoluíram num sentido ligeiramente negativo com uma procura de petróleo moderadamente crescente. Tal cenário poderá ser restaurado desde que seja adoptada uma política monetária de contenção. (...) Se a oferta de petróleo se tornar regressiva, o crescimento económico será impedido e a pressão sobre o preço do petróleo irá acelerar-se.

Restaurar a estabilidade no mercado do petróleo é essencial para um crescimento económico durável e para a estabilidade de preços. O ímpeto para o crescimento dos preços vem do lado da política monetária. Esta não pode ser utilizada como panaceia para todos os males. Diferentes tipos de problemas económicos deverão ser defrontados com instrumentos bem definidos e soluções apropriadas. Por exemplo, défices da balança de pagamentos poderão ser melhor e mais rapidamente resolvidos através do enfoque monetário da balança de pagamentos que consiste da redução do financiamento dos défices público e privados através da fixação de limites ao crédito.

Da mesma forma, a competitividade externa pode ser alcançada de uma forma mais duradoura através de ganhos de produtividade, redução de custos e inovação tecnológica e não através da redução da taxa de câmbio nominal [depreciação]. A depreciação da moeda pode não restaurar a competitividade externa no contexto de uma política monetária expansionista. Para ser eficaz, a depreciação da moeda tem de ser apoiada por uma política monetária restritiva. Uma condução correcta e segura da política monetária é um pré-requisito para um crescimento económico estável.

Em resumo, o preço do petróleo é uma das principais variáveis económicas. (...) uma política monetária prudente pode ser necessária para alcançar a estabilidade dos preços do petróleo no longo prazo.

1 comentário:

Augusto Lança disse...

Exmos. Srs.
Muito útil o vosso sítio, sem dúvida. Poderiam incluir alguma informação actualizada sobre a economia do café de TL ?
Obrigado
Augusto Lança (www.timor-agricola.blogspot.com)