quinta-feira, 29 de maio de 2008

Ainda sobre o aumento do preço do petróleo (parte 1)

"Navegando" na net dei com um documento que reproduz uma intervenção recente de um especialista (Michael Masters) numa das comissões do Senado dos Estados Unidos. O documento pode ser consultado na íntegra (e aconselho a que quem se interessa por estas coisas o faça mesmo) clicando aqui.
Para facilitar a leitura dos que dominam menos bem o inglês aqui vai uma tradução parcial (para português... Tetum lahia... :-) ) do texto. Em próximas entradas apresentaremos o resto das partes mais relevantes. O que se segue é, pois, do autor dos comentários (M.Masters) e não do 'bloguista'...

"Fez-me a pergunta "estão os Investidores Institucionais a contribuir para a inflação dos preços dos alimentos e da energia?” A minha resposta inequívoca é "SIM". Neste testemunho eu irei explicar que os Investidores Institucionais são um, se não os principais, factores que afectam hoje os preços das commodities [matérias primas]. Evidentemente, há muitos factores que contribuem para a determinação dos preços nos mercados de commodities; o que eu vou aqui realçar é um factor em rápido crescimento --- e no entanto, negligenciado --- e que representa um problema que pode ser rapidamente corrigido através de legislação e políticas apropriadas.

Os preços das commodities, no conjunto, aumentaram nos últimos cinco anos que em qualquer outro período da história dos EUA. Vimos picos de subidas de preços das mercadorias ocorrerem no passado em consequência de crises de oferta, tal como durante o embargo árabe ao petróleo de 1973. Hoje, porém e ao contrário do que nos episódios anteriores de subidas dos preços, a oferta é suficiente: não há filas nas bombas de gasolina e há muita comida nas prateleiras.

Se a oferta é adequada --- como foi aqui demonstrado por outros que testemunharam perante este Comité --- e os preços continuam a subir então é porque a procura está a aumentar. Mas como se pode explicar um aumento contínuo da procura quando os preços das commodities duplicaram ou triplicaram nos últimos cinco anos? [o normal é a procura baixar quando os preços aumentam – AS]

[Tal acontece porque] O que estamos a sofrer é um choque da procura vinda de uma nova categoria de participantes nos mercados de futuros das commodities: os Investidores Institucionais. Esta designação abrange os Fundos de Pensões das empresas e públicos, os Fundos Soberanos [Sovereign Wealth Funds; ex: o Fundo Petrolífero de Timor Leste], fundos das Universidades e outros investidores institucionais. No seu conjunto, estes investidores representam hoje, em média, uma parte muito mais importante dos contratos de futuros das matérias primas do que quaisquer outros participantes nos respectivos mercados.

Estes agentes, a quem chamarei “especuladores dos índices”, afectam uma parte das suas carteiras de recursos a “investimentos” nos mercados de futuros das commodities e comportam-se de uma maneira muito diferente da dos especuladores tradicionais que semrpe existiram em todos os mercados. Refiro-me a eles como especuladores de “Índices” por causa da sua estratégia de investimentos; eles distribuem uma parte dos seus recursos em dólares pelos cerca de 25 mercados de futuros existentes e de acordo com Índices conhecidos --- o Standard & Poors – Goldman Sachs Commodity Index e o Dow Jones – AIG Commodity Index.

Gostaria de dar alguma informação complementar sobre como apareceram este tipo de “investidores”.

No início da presente década alguns investidores institucionais, que sofreram perdas significativas com a crise das bolsas de 2000-2002, começaram a olhar para os mercados de “futuros” de commodities como uma nova categoria de “activos” susceptíveis de serem utilizados para investimento. Embora estes mercados sempre tivessem tido alguns especuladores, nunca tinham tido como agentes a participar nas suas operações grandes instituições de investimento [financeiro] que os consideravam como susceptíveis de serem objecto de investimento em larga escala. As commodities pareciam atractivas {a estes investidores] porque tinham estado historicamente “não correlacionadas”, querendo isto dizer que tinham um funcionamento autónomo face ao comportamento usual dos mercados de acções e de Títulos de Tesouro [que “dançam” em conjunto].Os principais consultores financeiros, que aconselham as grandes instituições financeiras quanto às suas estratégias de afectação de recursos, sugeriram pela primeira vez que estes investidores poderiam “comprar e manter” “futuros” de commodities da mesma forma que até aí tinham tido apenas acções e bonds [obrigações].

A procura pelos “Especuladores nos Índices” está a tornar os preços cada vez mais altos

Hoje os “Especuladores nos Índices” estão a colocar biliões de dólares nos mercados de “futuros” das matérias primas, especulando em que os preços irão aumentar ainda mais. O gráfico abaixo mostra que os activos aplicados nas transacções de commodities subiram de 13 biliões [mil milhões] no fim de 2003 para 260 biliões em Março de 2008 e os preços das matérias primas que compõem os índices subiram uma média de 183% nestes cinco anos!


De acordo com a CFTC [US Commodity Futures Trading Comission] e participantes nos mercados de compra e venda no curto prazo [spot markets] os preços dos “futuros” das commodities são o padrão [benchmark] para os preços de matérias primas e por isso quando os Especuladores nos Índices empurram os preços para cima os efeitos são sentidos imediatamente nos preços para entregas a curto prazo das mercadorias físicas e à economia real. Isto é: há uma ligação directa entre os preços de “futuros” das commodities e os preços que os vossos eleitores estão a pagar por bens essenciais." [continua]

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