sexta-feira, 30 de maio de 2008

Ainda sobre o aumento do preço do petróleo (parte 2)

Concluimos aqui a apresentação da tradução do texto de Michael Masters iniciado na entrada com o título semelhante [parte 1] apresentada mais abaixo

"Na imprensa popular a explicação dada para a maioria da subida do preço do petróleo é o aumento da procura de petróleo pela China. De acordo com a DOE a procura de petróleo pela China aumentou de 1,88 para 2,8 mil milhões de barris/ano, um aumento de 920 milhões de barris/ano. Durante o mesmo período de cinco anos a procura pelos “Especuladores nos Índices” quase igualou a da China.

De facto, os “especuladores nos índices” acumularam, através do mercado de “futuros”, o equivalente a 1100 milhões de barris de petróleo, aumentando 8 vezes a sua acumulação desta commodity (...).

Vejamos agora o que se passa nos preços dos alimentos, os quais aumentaram muito nos últimos seis meses.

Quando solicitados a explicarem esta dramática subida dos preços, os economistas respondem, em geral, com a reafectação de uma parte substancial da colheita de milho para a produção de etanol. O que eles esquecem é que os investidores institucionais compraram mais de 2000 milhões de bushel [1 bushel = 35,2 litros) nos últimos 5 anos. Neste momento os Especuladores nos Índices acumularam em “futuros” de milho o necessário para alimentar a indústria de produção de etanol dos Estados Unidos durante um ano. Isto oequivale a produzir 5,3 mil milhões de galões de etanol, o que faria dos EUA o maior produtor mundial de etanol.

Em relação ao trigo, em 2007 os americanos consumiram 2,2 bushels de trigo per capita. Com os actuais 1300 milhões de bushels acumulados pelos Especuladores nos Índices é suficiente para alimentar todos os cidadãos americanos com o pão, as massas e os produtos similares durante os próximos dois anos.

As características da procura dos especuladores dos índices.

A procura de contratos de “futuros” só pode vir de duas fontes: os reais consumidores dos produtos e os especularoes. Este último grupo inclui dos “especuladores tradicionais” e os “especuladores nos índices”. Há cinco anos atrás estes últimos eram uma fracção muito pequena dos mercados de “futuros” das commodities. Hoje, em muitos destes mercados eles são, de longe, os principais operadores. (...)

A procura destes especuladores é muito diferente da dos especuladores tradicionais; ela resulta apenas e só das suas decisões quanto à afectação de recursos para constituição da sua carteira de títulos. Quando um Investidor Institucional decide afectar 2% do seu dinheiro para investir em “futuros” de commodities, por exemplo, ele apresetna-se no mercado com um determinado volume de dinheiro. Não estão preocupados com o preço unitário do bem; irão comprar tantos contratos de “futuros” quantos os que precisarem, seja a que preço for, até que todo o dinheiro que têm disponível para a operação esteja “a trabalhar”. A sua insensibilidade ao preço multiplica o seu impacto nos mercados de matérias primas.

Além disso, os mercados de “futuros” são de muito menor dimensão que os mercados de acções e obrigações; assim sendo, qualquer afectação de muitos milhões de dólares aos mercados de commodities terão um efeito muito maior sobre os preços. Em 2004 o valor total dos contratos de “futuros” existentes para todas as 25 mercadorias do “índice de mercadorias” era de cerca de 180 mil milhões de dólares. Compare-se isto com os cerca de 44 triliões de dólares dos mercados bolsistas a nível mundial, que é 24º vezes a dimensão do de “futuros” de mercadorias. Nesse ano os “Especuladores nos Índices” investiram neste mercado 25 mil milhões, um montante equivalente a 14% do mercado total.

O gráfico acima mostra a dinâmica do que está a acontecer. À medida que o dinheiro é investido nestes mercados de “futuros” de commodities, acontecem duas coisas simultaneamente: os mercados expandem-se e os preços aumentam. Um aspecto particularmente preocupante da procura dos “Especuladores nos Índices” é o de que ela aumenta à medida que os preços aumentam [o que é o inverso da “lei da oferta e da procura”]. Isto explica a taxa cada vez maior a que aumentam os preços dos contratos de “futuros” das commodities (e, por arrastamento, os preços das próprias matérias primas). Preços mais altos atraem cada vez mais “Especuladores nos Índices”, cuja tendência vai ser investir cada vez mais à medida que os preços vão aumentando [e, com isso, provocar novos aumentos de preços, num processo que se “autoalimenta”]. (...)

Pode verificar no quadro acima que os preços aumentaram ainda mais dramaticamente no primeiro trimestre de 2008. Calculamos que os “Especuladores nos Índices” tenham invadido os mercados com 55 mil milhões de dólares apenas nos 52 dias de operação dos mercados que leva o ano desde o seu início. Isto é um aumento de um pouco mais de mil milhões por dia.

Não será plausível que um aumento da procura nos mercados de “futuros” desta dimensão pode justificar muito do grande aumento de preços que se verificou desde o início deste ano?”

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