segunda-feira, 24 de agosto de 2009

Variações sobre o mesmo tema...

A 'entrada' anterior suscitou alguns comentários MUITO interessantes dos leitores (que agradeço) e cuja leitura recomento vivamente. Há, em particular, dois mais extensos que são contribuições preciosas para o tema.
Tal como o é o do leitor que chama a atenção para o facto de estarmos perante usos e costumes muito enraizados na "tradição" timorense e que, por isso, levarão muito tempo até serem alterados significativamente.
Claro que estamos conscientes disso e por isso mesmo é que pensamos que quanto mais cedo se começar a alterar a situação, melhor. O poder político (este ou outro qualquer) e a Igreja bem poderiam começar, mesmo que lentamente, a chamar a atenção para a situação e o "absurdo" que ela representa --- as aspas são, claro, para salientar que não se trata de um verdadeiro absurdo mas sim algo que respeitamos mas que, no entanto, pensamos que deve ser alterado sem esperar que a História faça o seu caminho. Um "empurrãozinho" na História será útil...

O que me espanta --- sem, verdadeiramente, me espantar ... --- é que pessoas que, pela sua vivência (por vezes no exterior do país) estariam aparentemente mais propensas a fugir ao ciclo de "investimentos sociais" que referimos, acabam por se verem também enredadas no processo, tendo dificuldade em romper com os hábitos do passado que tornam as pessoas eternamente "empenhadas até ao pescoço" junto dos seus parentes da família alargada.

Que nem de propósito, chegou recentemente ao meu conhecimento um caso de uma família que vai proceder ao levantamento das ossadas de um pai e de um filho a fim de os colocarem no mesmo terreno e em campas novas.
O "orçamento preliminar" para as cerimónias previstas já vai nos 7000 (sim! Sete mil!) USD. Recordo que o rendimento anual per capita, durante um ano, de cada timorense é, segundo os dados disponíveis, de cerca de 380 USD. Isto é: os custos referidos acima equivalem ao rendimento actual anual de cerca de 18 timorenses... Ou, se o rendimento per capita não variar em termos reais, ao rendimento de um timorense durante 18 anos!

Sem palavras!... Porque estou speechless...

1 comentário:

Anónimo disse...

Os rendimentos das estatisticas (infelizmente) nao tem em conta:
- os inumeros 'projectos' e 'esquemas' realizados para arrecadar mais algum, mesmo que seja a pouco e pouco (5 USD aqui, 10 USD acola... e como o pessoal come pouco e mal consegue guardar para as "festividades" - aproveitando sempre para ir a outras para as quais nao foi convidado; aqui ha muito "penetra" em "casamentos e baptizados" para os quais so deveriam ir os convidados.
- o facto de as tradicoes serem em sentido piramidal, ou seja, o desgracado que tenha a sorte de ser mais afortunado porque se tornou ministro ou ganha mais uns trocos na Irlanda e esmifrado ate ao tutano alimentando a resma de primos e tias em "29o" grau que se lembram de mais uma festarola. Por isso sera possivel que as festas ultrapassem os dividendos anuais de muitos timorenses.
E depois nao tem o sentido da poupanca. Conheco um individuo que recentemente recebeu 3000 USD de um projecto. Vive em pessimas condicoes, tem 10 filhos menores "largados" nas ruas e um rendimento mensal (diz ele) de 400 USD. A primeira coisa que fez foi uma festa com familiares e amigos, com muitas caixas de cerveja (e cada caixa ronda os 30 USD) para celebrar a maquia que tinha ganho.
Outra familia recebeu tambem 5000 USD. E a familia do tal idiota util. A primeira coisa que fizeram foi comprar telemoveis novos e uma playstation... Esses nao fizeram festa.
Acho que a teoria e um pouco "o que e meu e meu, o que e teu e nosso", sobretudo se "tu tens muito" e deves distribuir... Como manda a tradicao.
Nao acredito que a Igreja, ou pelo menos alguns sacerdotes mais influentes, ajudem muito a mudar. Eles sao "amo lulik" (o senhor da fe) e muitos veem de familias de datos/nobres ou liurai que sao quem mais beneficia com os esquemas. So os mais religiosos poderao fazer apelo as escrituras e acabar com os dizimos. Mas como se os padres abencoam (literalmente) as cerimonias de funebres inclusivamente na parte animista (sem se distinguir onde comeca o catolicismo e comeca o animismo)?
Da elite politica talvez comece a emergir algo, porque em contacto com outras realidades e estando, como espero, alguns deles a trabalhar imenso, nao devem estar muito dispostos a frequentemente oferecer dizimos ao primo distante que se calhar ate os denunciou aos militares indonesios (ou as falintil, depende) no tempo"da outra senhora".