sexta-feira, 1 de maio de 2009

Olhando por alto as contas do Estado...

... tal como figuram na 'entrada' abaixo e recorrendo a informação de outros anos para alguma comparação --- que pena que a conta do OGE não traga estes elementos comparativos... --- chega-se à conclusão que, (muito?) grosso modo, a despesa de 2008 terá sido o dobro da do ano anterior.
Senão vejamos.
O último relatório do FMI que se encontra publicado (o de 2008) informa-nos que as despesas públicas terão sido de cerca de 104 milhões de USD no ano fiscal 2005/06 e de 190 milhões em 2006/07. Mais, estima que as despesas na segunda metade de 2007, já da responsabilidade do actual governo e ao abrigo da revisão orçamental a que procedeu após a sua tomada de posse, foi de cerca de 149 milhões (as verbas incluem as despesas orçamentadas em anos anteriores e pagas posteriormente, os famosos "carry over").
Se, numa estimativa grosseira das despesas no primeiro semestre de 2007, dividirmos ao meio a do ano 2006/07 e adicionarmos a do segundo semestre indicada acima teremos, para 2007, um total de despesas de, contas "redondas", 240 a 250 milhões de dólares.
Ora, se o total das despesas efectivamente pagas por caixa em 2008 foi, tal como referido no texto abaixo extraído do relatório de execução do 4º trimestre do OGE de 2008, de mais de 550 milhões de USD, então a despesa de 2008 terá sido mais do dobro da do ano anterior. Um aumento desta ordem de grandeza não é comum em parte nenhuma do mundo.


Porque em termos de contabilidade nacional os gastos públicos são uma das componentes da despesa nacional e esta supõe-se ser igual ao produto (o famoso PIB), uma subida tão significativa dos gastos justifica, só por si, uma aceleração substancial da taxa de crescimento do PIB. No mesmo sentido, se não for possível --- dificilmente será... --- repetir em 2009 o crescimento das despesas públicas verifiado em 2008, será natural virmos a assistir a uma queda, nítida, da taxa de crescimento do PIB em 2009.

Mas há uma outra óptica que interessa referir. É a de que um aumento tão significativo da "procura" interna --- a que há que adicionar a aceleração do crescimento do consumo das famílias derivada do aumento dos rendimentos destas por causa dos subsídios pagos e dos aumentos salariais --- tenderá a ser satisfeito por uma e/ou por outra de duas "ofertas": a "interna" (a produção nacional) e a "externa" (as importações).
Como a capacidade produtiva interna é reduzida e muito rígida (exactamente por ser reduzida), a resposta a um tão grande aumento da "procura" interna só pode vir --- ou, melhor, tenderá a vir principalmente --- da "oferta externa", isto é, das importações. Foi o que aconteceu: estas "dispararam"!... Dizem-no as estatísticas do comércio externo e já o anteviam as estatísticas dos navios entrados no porto de Dili e as fotos de uns quantos pairando ao largo à espera de vez para descarregarem (o pior é só descarregam; não carregam...).

Na verdade as importações não são o único "escape" do aumento da procura interna não satisfeito por produção nacional. Há outro: a inflação! Se há mais dinheiro, que dá para comprar mais 20 mangas, e se só há mais 5 mangas, claro que os vendedores vão aproveitar a situação e vender mais caro as suas mangas (nao são essas! São as comestíveis!...).
A pressão inflacionista também aí está e só não é maior porque é fácil e barato --- nomeadamente porque as tarifas alfandegárias são "uma tuta e meia" --- importar da Indonésia (a maior parte), de Singapura (fonte inesgotável de pópós usados), da Austrália (que belos iogurtes...), etc.
Na verdade a pressão também só não é maior porque em muitos casos os vendedores nacionais ainda não conhecem a lei da oferta e da procura... Ai se conhecessem!...

1 comentário:

h correia disse...

Por ocasião do arroz subsidiado e de outros subsídios ou doações que este Governo tem distribuido generosamente, eu já tinha alertado para a possível pressão inflacionista e para o aumento das importações, resultantes desse súbito aumento do poder de compra.

Sabendo que esse dinheiro não vai circular internamente nem criar valor por meio de investimentos, é no mínimo ingénuo afirmar (como alguém afirmou noutro blog) que quanto mais "execução orçamental" (leia-se despesa), melhor.

Eu sou leigo na matéria, mas entendo que "orçamento" é o que prevemos e "execução orçamental" é o que temos. Apenas isso. Outra coisa completamente diferente é a despesa pública, cujo aumento não implica automaticamente um crescimento da economia ou uma melhoria dos índices de desenvolvimento.

É que "despesa" e "investimento" não são necessariamente sinónimos...