terça-feira, 21 de abril de 2009

Sortudos!... Mas...

Os "sortudos" são os bancos privados que operam em Timor Leste.
De facto e ao contrário do que acontece hoje em dia com os seus parceiros de outros países --- incluindo Portugal... --- a banca privada no país tem um "problema": o do excesso de liquidez, o de "ter dinheiro a mais".
O gráfico abaixo ilustra o que se passa: o volume de empréstimos concedidos pela banca é muito inferior ao montante dos depósitos disponíveis.


O negócio bancário é, como se sabe, o de servir de intermediário entre quem tem recursos (financeiros) em excesso e quem necessita deles para "tocar adiante" a sua actividade económica ou adquirir certos bens ou serviços (crédito à habitação, crédito ao consumo, etc). Por isso e para que o negócio bancário seja rentável, o desejável é que o volume de empréstimos se aproxime o mais possível do volume de depósitos. Por vezes, mesmo, os bancos chegam a obter recursos junto de outros bancos do país ou do estrangeiro para poderem emprestar aos seus clientes.
Em Timor, porém, a banca comercial, pelos mas diversos motivos, não consegue aplicar em empréstimos uma parte significativa dos depósitos que recebe e assim vê-se forçada a, para o "prejuízo" não ser tão grande, depositar ela própria parte desses recursos em bancos estrangeiros que lhes proporcionam, assim, uma rendazita graças aos juros que recebem. Note-se que estes depósitos no exterior, porque agora ficam ao dispor dos bancos de outro país, acabam por ser uma forma indirecta de financiar estes permitindo-lhes conceder um volume maior de empréstimos nas suas economias nacionais.
Isto significa, portanto, que Timor está a financiar, em parte, as economias de outros países... Que tal?!...

Mas o que permite que tal aconteça --- um país pobre a emprestar a ricos... ? Um aspecto importante da resposta é o facto de tudo isto significar que o sector privado timorense é (olha a novidade!...) extremamente fraco e incapaz de aproveitar os recursos que estão à sua disposição. Esta "fraqueza" tem várias dimensões, sendo duas delas (interligadas) (i) a falta de recursos próprios para financiar parte dos investimentos, a falta de "empreendorismo" e falta de capacidades de gestão, por um lado; e, (ii) em muitos casos, a falta das chamadas "garantias reais" (nomedamente títulos de propriedade sobre bens, incluindo terra) que possam ser penhoradas pela banca para garantirem o retornos dos recursos emprestados.

Mas numa outra perspectiva (ainda mais macroeconómica?), o diferencial entre recursos disponíveis na banca e os empréstimos que ela concede --- isto é, o excesso de liquidez dos bancos --- tem uma consequência que importa realçar. É que, a manterem-se as coisas assim, mesmo que existisse uma moeda nacional e o banco central tivesse aos seus dispor os instrumentos de política monetária que estão usualmente disponíveis nos países com moeda própria, a eficácia de tal política tenderia a ser, muito provavelmente, limitada.
De facto, um dos instrumentos essenciais dos bancos centrais com moeda própria é o exercício de um certo controlo (indirecto) dos recursos aos dispor da banca comercial e do custo destes através de políticas apropriadas.
Ora, se a banca privada tem a sua própria fonte de recursos --- os depósitos dos seus clientes --- e estes são muito excentários em relação às suas "reais" necessidades para conceder empréstimos isto significa que ela será relativamente independente do banco central --- o "emprestador de último recurso" --- e haverá uma tendência a essa banca privada ficar mais ou menos imune à política monetária, deixando esta com uma eficácia mais que duvidosa para controlar a economia.

2 comentários:

Anónimo disse...

Permita-me um ponto de vista diferente:
Dado o risco do país ser ainda elevado, sejam riscos políticos sociais legais judiciais juridicos policiais desportivos e o diabo a 4, senao por que carga de agua anda a ONU e a GNR por aquelas bandas, claramente que tudo isto servira de desculpa para que se pratiquem taxas de juro abusivas, ate mesmo em alturas de crise... qual e o negocio q suporta taxas que andam entre os 10 e 20 porcento?

Imaginemos precisamente esse mesmo cenário, em que a banca de facto concede emprestimos a um nivel acima dos seus depositos, e que era obrigada a recorrer ao banco central. num cenario com os mesmos riscos qual seria a taxa de juro? mais baixa ou mais alta? sera que se assim fosse a concorrencia nao seria maior na banca? sera que o servico nao seria melhor? sera que o preco pago pelo servico nao seria menor?

e mais qual e o criterio utilizado para a cedencia de credito? quais os parametros? serao os mesmos q por ex em portugal?

h correia disse...

Realmente é preocupante (não para os bancos) a estagnação dos empréstimos, ao contrário do que acontece com os depósitos.