Situação internacional vai continuar a condicionar preços em Timor-Leste - Governo
Díli, 12 dez 2022 (Lusa) – A situação internacional, mais do que políticas internas, vai continuar a ser o principal fator determinante do comportamento dos preços em Timor-Leste que no último ano verificaram aumentos significativos, segundo o Governo.
“Já se vê a inflação a estabilizar em alguns países, o que parece também estar a acontecer em Timor-Leste. Contudo, como as causas da inflação são externas (Guerra na Ucrânia e constrangimentos logísticos no comércio internacional), a evolução da inflação vai estar dependente da evolução desses acontecimentos, mais do que dependente de políticas internas”, disse o ministro das Finanças, Rui Gomes, em entrevista à Lusa.
Depois dos efeitos da pandemia, com graves impactos no fornecimento exterior a Timor-Leste – que importa grande parte do que consome – o agravamento da situação económica internacional levou a aumentos significativos de preços este ano.
“O preço dos combustíveis afeta todos os restantes preços, porque é preciso combustível para transportar produtos, para alimentar geradores, etc. Mas, como aconteceu em todo o mundo, também houve algum impacto da reabertura pós covid-19, e dos consumidores começarem a gastar algum do rendimento que foi sendo acumulado durante os confinamentos, o que provocou um desequilíbrio entre a procura e a oferta”, explica o governante.
“Esse efeito está aos poucos a desaparecer e a procura está a normalizar”, notou.
O último relatório do Banco Mundial, divulgado este mês, destacou na sua análise macroeconómica a elevada taxa de inflação do país, a atingir 7,9% em agosto, como “uma das mais altas da região do Pacífico Oriental”.
Os preços de bens alimentares cresceram 8,3%, em parte devido ao aumento dos preços globais dos alimentos, impulsionado por custos mais elevados de transporte e fertilizantes, e preocupações com os impactos das inundações no Paquistão.
“Preços dos produtos alimentares mais elevados colocam o fardo mais pesado nas populações vulneráveis de Timor-Leste”, alertou o Banco Mundial (BM).
“O maior impacto da inflação tem sido sentido no combustível, porque o preço do combustível afeta todos os outros preços, em especial dos produtos alimentares. O apoio aprovado pelo Governo reduziu de certa forma o impacto do aumento do preço do combustível, mas é impossível afastá-lo totalmente”, sublinhou Rui Gomes.
Do lado positivo, a apreciação de cerca de 10% na taxa de câmbio efetivo (REER) tornou as importações mais baratas para Timor-Leste, cuja moeda oficial é o dólar dos Estados Unidos.
“Um dólar americano mais forte pode também ter ajudado a moderar as pressões dos preços”, sublinha o Banco Mundial.
Rui Gomes concorda, admitindo que “a subida do US dólar pode ter ajudado a limitar o aumento da inflação”.
“Por exemplo, a rupia indonésia baixou bastante em relação ao dólar norte-americano, pelo que o preço dos produtos importados da Indonésia não terá subido tanto. É difícil de avaliar, mas é possível que se Timor-Leste tivesse moeda própria, a subida da inflação teria sido mais acentuada”, explicou.
A pressão dos preços é apenas um dos vários desafios que a economia timorense enfrenta.
O PIB per capita continua em valores de há cerca de uma década, fruto do impacto da situação política e da pandemia, que levou a dois anos de recuos no PIB.
Rui Gomes destaca entre os principais desafios o elevado desemprego, a baixa produtividade do setor privado e a alta dependência da economia na atividade do Estado.
Estes riscos, entre os quais se inclui também a falta de proteção social para o setor informal, podem contribuir para agudizar a pobreza já elevada no país, o que “obrigará a mais gastos públicos” e condicionará o crescimento económico e o desenvolvimento social, alertou Rui Gomes.
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