quarta-feira, 9 de junho de 2010

Qualidade, qualidade, qualidade!... Sabem o que é?!...

Once upon a time, em conversa com um político timorense altamente colocado, eu disse-lhe/sugeri-lhe/"pedi-lhe" que Timor Leste e as suas autoridades tinham de, muito rapidamente, iniciar uma política de (boa) qualidade em todos os domínios, dos mais simples aos mais complexos. "O que vale a pena ser feito vale a pena ser bem feito", tenho eu como lema. Posso não o conseguir e certamente que me falta o "engenho e a arte" para fazer mais e melhor mas que tento, tento.

Vem isto a propósito de notícias que circulam sobre alguma insatisfação do Governo de Timor Leste pela qualidade de muitas obras públicas (principalmente, estradas) que tem financiado. Convenhamos que este é um resultado que não surpreende mas o essencial é encontrar caminhos para "emendar a mão" e implementar, nomeadamente na construção/reparação de estradas, uma política de qualidade que assegure que elas não vão literalmente "por água abaixo" nas primeiras chuvadas.

Três sugestões que não são alternativas mas complementares:

1) a constituição de um organismo público autónomo que se dedique ao planeamento e supervisão da rede rodoviária do país e (muito importante!) que tenha poderes de controlo técnico especializado sobre as obras a efectuar;

2) a criação de uma empresa pública ou, de preferência, com participação do Estado mas aberta a capitais privados, com dimensão suficiente para tomar a seu cargo a realização de algumas das obras de maior dimensão e exigência técnica, incluindo os principais eixos viários.

3) o Estado deve promover a fusão ou, no mínimo, a estreita cooperação entre empresas de modo a que elas ganhem dimensão crítica para terem os técnicos competentes que se tornam necessários. Entregar as obras, mesmo que sejam as de eixos viários secundários, a empresas que não têm capacidade técnica para as realizar é deitar dinheiro à rua (à estrada, neste caso...).

Quer uma quer outra das instituições referidas em 1) e 2) acima devem ter, nos seus primeiros anos de vida, um forte apoio de técnicos e instituições internacionais e devem servir de incentivo e, eventualmente, de pólos de apoio técnico de qualidade a empresas timorenses.
Nos países vizinhos deverá haver, certamente, técnicos qualificados disponíveis para prestar essa ajuda e, para além de algumas cooperações bilaterais (Brasil, Portugal, Austrália, etc), há organizações internacionais que podem prestar apoio especializado (incluindo na formação on the job) na assistência técnica na construção e na formação de técnicos timorenses competentes. Uma delas é a World Road Association, mais conhecida por PIARC.

Recordo que, pelos planos conhecidos do Governo, o país vai entrar numa fase importante de construção de infraestruturas. Timor Leste não se pode dar ao luxo de deixar essas obras --- pelo menos as mais importantes --- "passarem ao lado" das empresas timorenses, devendo estas ser ANTECIPADAMENTE preparadas e assistidas no sentido de captarem parte do valor a ser criado.

Caso contrário esta fase não vai ser aproveitada para formação de empresários e técnicos timorenses e para deixar no país uma parte importante dos recursos a gastar. Repetindo o dito de um amigo meu, se não se prepararem ANTECIPADAMENTE as instituições nacionais (públicas, privadas ou público-privadas) para participarem nesse esforço de infraestruturação do país, veremos o dinheiro "entrar pela costa sul e sair pela costa norte"...

O planeamento estratégico deve ser isto: PLANEAR, programar as coisas dando-lhes uma organização que permita maximizar os benefícios do país e reduzir os custos a suportar. Como eu costumo dizer aos meus alunos, tão ou mais importante que ter os recursos (capital, recursos humanos, técnicos) para implementar qualquer projecto é necessário, indispensável, ter uma boa organização para o fazer: o cozinheiro é tão ou mais importante que os ingredientes do cozinhado...

3 comentários:

José António Cabrita disse...

Sábias palavras, Professor. Se não fosse parecer impertinente, perguntava-lhe o que lhe respondeu o tal timorense a quem o Professor sugeriu isto!...

Um abraço, do
José António Cabrita

Anónimo disse...

Atenção: a sugestão foi em relação à política de qualidade e não especificamente em relação à questão das infraestruturas.
A resposta foi de concordância mas embora ele, como diz um amigo meu, viva "no sovaco do poder", não manda nada... Helas!... :-)
ASerra

Anónimo disse...

Caro Prof.

Efectivamente é triste ver a degradação das estradas e pontes de TL e ninguém ter capacidade para mudar a situação. O povo passa mal e sem as estradas em condição razoável é impossivel desenvolver o pais.
O Sr. Alexandre Gusmão até já trocou a carreta pela Padióla e é vê-lo em campanha eleitoral de Padióla. O país já vai de Padióla.