segunda-feira, 14 de abril de 2014

Volta e meia, meia volta...

... alguém se lembra de atribuir uma parte mais ou menos importante da subida de preços que se verificou há anos à presença de uma forte comunidade estrangeira no país, particularmente de forças militares.

Não digo que essa presença foi mais ou menos "inócua" quanto aos preços em geral mas ela foi, creio, menor do que muitos pensam. Pelo menos quanto à inflação "registada".
E isto porque os preços que eram recolhidos pelos serviços de estatística até ao final da utilização da base DEZ2001=100 (que terminou em DEZ2012) eram usualmente obtidos, pelo menos os que diziam respeito à maioria dos gastos que entravam no cálculo do Índice de Preços no Consumidor (bens alimentares), exclusivamente nos mercados tradicionais da cidade: Taibessi, Becora e Comoro, assinalados no quadro abaixo como T, C e B. Note-se que estes mercados tiveram uma "vida" diferente ao longo do tempo: o de Taibessi foi "substituído" pelo de "Ali laran" na saída sul de Dili, o de Becora quase "morreu" desde a agitação de 2007 e o de Comoro "mudou de casa" há pouco tempo...


Esta selecção de mercados data de meados de 2001 e obedeceu ao princípio de escolher apenas locais de abastecimento tradicional da população timorense da cidade, os referidos mercados. Dessa selecção NÃO constavam, propositadamente, locais frequentados por consumidores estrangeiros.
Recorde-se que na altura, um pouco como agora, os clientes desses mercados eram quase exclusivamente timorenses, podendo contar-se pelos dedos de uma mão os "malais" que os utilizavam para se abastecerem.
O "grande" centro de abastecimento destes era o então único supermercado existente na cidade, o "defunto" "Hello, Mister!...", que devia o nome à ainda hoje vulgar expressão usada pelas crianças para chamar a atenção dos "malais". O supermercado, como se sabe, foi queimado pouco depois da restauração da independência, em incidentes de Dezembro de 2002.

A influência da presença de "malais" é mais de natureza indirecta, pois que muitos deles se instalaram em habitações em que pagam rendas a senhorios timorenses, aumentando assim a disponibilidade de dinheiro junto da comunidade nacional que se repercutiu no aumento da procura e este, por sua vez, no aumento dos preços. A procura da comunidade estrangeira, militar ou civil, por outros serviços (hotéis, aparthotéis, restaurantes) e bens (nomeadamente alguns equipamentos de transporte e para o lar) veio aumentar a circulação monetária que se repercutiu, por sua vez, em alguma pressão sobre os preços.

O "ponto", porém, é que essa presença estrangeira, se é verdade que gerou um aumento da procura e, nesse sentido, alguma pressão sobre os preços, não pode ser considerada, nem de perto nem de longe, como um factor mais importante do que efectivamente é. Como pensamos que já demonstrámos várias vezes, a causa principal da grande aceleração da subida dos preços verificada em 2011 e 2012 foi o "disparar" dos gastos públicos que então se verificou.

Nota 1: no quadro acima são apresentados os preços, em USD, do arroz e da mandioca ao longo do primeiro semestre de 2009 tal como recolhidos nos três grandes mercados da cidade. É com base nesses preços e no peso relativo dos produtos no cabaz de consumo dos consumidores que se calcula a taxa de inflação
Nota 2: repare-se que, como tem acontecido ao longo do tempo, o preço do arroz "local" (nacional) é sistematicamente superior ao do arroz importado. Se tivéssemos uma série mais longa poderíamos verificar que os preços são/eram muito estáveis. Estes dois aspectos --- arroz "local" mais caro que o importado e preços muito rígidos --- mereciam um estudo com bases científicas fortes sobre os seus "quês" e "porquês"...

Sem comentários: