No "post" anterior indagámos sobre algumas das componentes do Índice de Preços no Consumidor cujo comportamento, mais estável em termos das suas taxas de variação (ex: arroz e vegetais, duas componentes fundamentais do "cabaz de compras" usado para cálculo do IPC), ajudam a compreender melhor o que se passou.
Como referi numa outra "entrada" a baixa da taxa de inflação explica-se "matematicamente" pelo facto de ela ser agora calculada (taxa homóloga) relativamente a índices que já estão no "patamar" de lento crescimento.
Uma das razões mais "profundas" dadas como causa do surto inflacionário dos últimos anos, particularmente os anos de 2011 e de 2012 (taxas homólogas de Dezembro:17,4% e 11,7%, respectivamente) foi o grande aumento das despesas públicas então verificado.
Note-se que o que interessa nestas é o valor que entra efectivamente na economia através dos pagamentos efectuados pelo Estado, mais que o valor dos respectivos Orçamentos, já que a taxa de execução destes é, por vezes, limitada (por exemplo, 76% em 2013).
Ora, os valores dos Orçamentos e dos pagamentos efectuados nestes últimos anos foram como segue (valores em milhões de USD):
2010: OGE: 838; pago: 760; taxa de inflação homóloga de Dezembro: 9,2%
2011: OGE: 1306; pago: 1097; idem: 17,4%
2012: OGE: 1807; pago: 1198; idem: 11,7%
2013: OGE: 1650; pago: 1083; idem: 4,0%
Parece evidente que a "explosão" de gastos reais (+44%) em 2011 relativamente a 2010 foi o "detonador" da subida rápida dos preços que então se verificou. A força de inércia da subida dos preços "alimentada" pelo (ainda que ligeiro) acréscimo de gastos em 2012 ajudou a manter a taxa de inflação em dois dígitos mas já, nitidamente, "perdendo gás"... Esta "perda de gás", de "momentum", continuou no ano seguinte (2013) ajudada com a descida dos gastos realmente efectuados pelo Estado em quase 10%.
Uma certa "racionalidade económica" dos vários agentes envolvidos e, acredito, o convencimento de muitos de que se tinham atingido patamares de preços que começavam a, devido à perda de poder de compra que implicaram (os salários, por exemplo, terão perdido cerca de 40% do seu poder de compra em 3 anos!), ser incomportáveis para a maioria dos consumidores, levando a quedas da quantidade (senão mesmo também da qualidade...) de consumo, incluindo alimentar.
Tudo isto, creio, está na base de uma crescente moderação das subidas dos preços --- mas subidas... --- que acabaram por, ao longo do tempo, conduzir à queda da taxa homóloga (e também da taxa média, agora em cerca de 9% ou mesmo menos) de inflação.
Tudo se passou um pouco como quando se dispara uma bala (de canhão, neste caso...): feito o disparo (em 2011), a bala subiu muito mas depois, à medida que o tempo e o espaço aumentavam, foi perdendo força e começou a cair... Até quase se "estatelar" no chão...
"Tenho dito"!... ;)