A Direcção Nacional de Estatística publicou recentemente os dados sobre o Índice de Preços em Dezembro de 2012 em Dili.
O IPC (todos os grupos; base Dez2001=100) foi de 213,6. Deste valor resulta que:
a) a taxa mensal de inflação em Dezembro foi de 3,8% (face a Novembro anterior), exactamente o mesmo verificado em Dezembro de 2011. Este valor, tão elevado, resulta da pressão normal naquela época do ano (Natal; Fim de Ano);
b) a taxa homóloga (Dezembro de 2012 relativamente a Dezembro de 2011) foi de 11,7%, o que representa uma descida significativa em relação aos 17,4% de Dezembro de 2011;
c) porém, a taxa média anual de 2012, a taxa mais correcta para medir a inflação já que usa dados dos vários meses do ano e não apenas de um mês como no caso da taxa homóloga, foi de 11,8%, o que representa apenas uma ligeira (?) descida face aos 13,5% de 2011.
Estas taxas, nomeadamente a taxa homóloga, são muito elevadas --- a vizinha Indonésia, por exemplo, tem uma taxa homóloga de 4,6%, a Malásia 2%, as Filipinas 3,5% e o Camboja 4% --- e representam custos elevados para os consumidores com rendimentos fixos (salários, pensões e similares) pois perdem poder de compra.
Se "desagregarmos" as taxas de inflação por tipo de produtos verificamos que os produtos do grupo "cereais, raízes e seus produtos", onde se inclui um elemento básico da alimentação e que representa uma percentagem muito significativa do consumos dos agregados mais pobres (o arroz), viram os seus preços subir, em média, 20,9% em 2012.
Se em vez de usarmos a taxa "global" usarmos esta para "deflacionar" os rendimentos, isso significa que os grupos sociais mais pobres são os que defrontam taxas de inflação mais altas na maioria dos produtos que consomem. E por isso os mais pobres são... os que empobrecem ainda mais que a média.
Por tudo isto é urgente definir uma política económica (orçamental e monetária) que contribua para a redução da inflação. Isso só pode acontecer se a sua redução for um objectivo explícito da política económica e não apenas uma consequência (mais ou menos marginal) de outras políticas.
Talvez fosse interessante pensar na possibilidade de todos se entenderem para, numa primeira fase e a médio prazo (2-3 anos?) trazer a inflação para níveis mais "aceitáveis" tendo em consideração o ritmo de crescimento da economia. Uma taxa próxima da que actualmente se verifica na Indonésia (cerca de 4,5%) seria uma meta plausível para a inflação em Timor-Leste.
Isto não poderá deixar de exigir alguma "contenção" nos gastos públicos, seleccionando-se criteriosamente os que deveriam ser priorizados e adiando a concretização de outros.
Uma nota final: o Governo, no seu OGE2013, fixou como meta para a inflação o valor de 7,6%, uma descida de cerca de 4 pontos percentuais face à taxa homóloga de 2012. Cálculos nossos dizem-nos que o valor final da taxa talvez não divirja muito deste mas, cuidadosos, talvez apostássemos mais no intervalo [8%,9%]. O futuro o dirá...
E desse futuro fazem parte muitos elementos como o facto de a execução orçamental poder ficar abaixo do previsto, a saída da ONU trazer algum efeito de redução (nem que seja psicológica) da pressão sobre os preços e, last not least, o simples facto de os preços já estarem algo elevados significarem que os aumentos de preços correrem o risco de reduzir mais significativamente a procura, levando a alguma contenção de alguns operadores económicos.
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