quinta-feira, 26 de abril de 2012

Taxa homóloga de inflação em Março (Dili): 10%

Segundo os dados hoje mesmo divulgados pela Direcção Nacional de Estatística, os preços médios em Dili terão subido cerca de 0,7% relativamente ao mês anterior (Fevereiro), "repondo" em 1,4% a subida desde o início do ano.
Estes valores resultam numa taxa de inflação homóloga (Março de 2012 relativamente a Março de 2011), também em Dili, de 10%, uma nova queda depois de em Janeiro ter sido de 17,7% e em Fevereiro 12,7%.

O IPC fixou-se agora em 193,8 (Dez2001 = 100). Com estes valores e recorrendo à média das taxas mensais desde 2002 até 2011 foi possível estimar que a taxa média de inflação anual em 2012 tenderá a ser de cerca de 10% (9,8%, mais exactamente) --- "tudo o resto mantendo-se igual"....

A evolução futura do Índide de Preços no Consumidor (IPC) e do seu ritmo de variação mensal dirá se este valor se confirmará ou não. Recorde-se que a última estimativa do FMI, publicada na base de dados do seu World Economic Outlook April 2012, é de que esta taxa de inflação (2012) será de cerca de 13%. No Orçamento de 2012 o Governo estimou que a taxa seria de 6%.

quarta-feira, 25 de abril de 2012

As PPP segundo a OCDE: uns quantos princípios a observar

O OCDE-Organização para a Cooperação e o Desenvolvimento Económico, que reúne as economias mais avançadas e tem sede em Paris, publicou há uns anitos (2007) um documento com um conjunto de princípios a observar no estabelecimento de parcerias público-privadas (PPP). Fica abaixo a enumeração desses 24 princípios. A sua leitura não dispensa a do texto original já que nele se traduz "por miúdos" o significado de muitos dos princípios.
A publicação destes princípios aqui não significa que estejamos de acordos com todos e cada um; ela destina-se apenas a informação dos interessados no tema.


Nota: para ler melhor o texto guarde primeiro as imagens e depois faça a leitura a partir delas

terça-feira, 24 de abril de 2012

Olhe, se faz favor!... Foi daí que pediram uma Parceria Público Privada?!...

A propósito de uma notícia recente sobre o debate em Conselho de Ministros do estabelecimento de uma Parceria Público Privada para a construção do porto de Dili em Tíbar (onde? Em Tíbar?!... Esquisito...) creio que é interessante sugerir aos leitores uma "introdução ao estudo das PPP" que pode passar por, para já, três fontes bibliográficas (em português e, num dos casos, referindo-se ao caso de Portugal).
São elas as seguintes:

1 - As PPP em 7 questões
2 - Wikipédia: Parceria Público-Privada
3 - Carlos Moreno: as PPP não são recomendáveis

O último texto é muito interessante porque permite conhecer um pouco mais de perto a experiência portuguesa no assunto. Má experiência, diga-se de passagem, e que tem a vantagem de chamar a atenção para um aspecto interessante: de como uma solução teoricamente boa se pode transformar numa dor de cabeça devido à inépcia do Estado em fazer bons contratos e em, se necessário, os rever quando tal se mostra aconselhável. Será só porque normalmente (?) os "privados" têm melhores advogados que os "públicos" e estes têm artimanhas que fazem com que o que deveria ser uma distribuição mais ou menos equitativa dos riscos do negócio acabe numa divisão desequilibrada destes com o Estado, com este a suportar a maior parte dos riscos e os privados a conseguirem defender, com unhas e dentes, a sua margem de negócio à custa de crescentes transferências do Estado para eles?

Uma última nota de reflexão que é isso mesmo, sem ter, de antemão, uma resposta inequívoca, "na ponta da língua": se admitirmos que as PPP são instrumentos interessantes nos casos em que o Estado não tem os meios financeiros para fazer determinadas obras de interesse público, será que elas são igualmente interessantes --- ou, pelo menos, tão interessantes... --- quando o Estado tem parte significativa dos recursos finaneiros necessários? Não haverá outros "modelos de negócio" mais apropriados a esta situação --- como será o caso de Timor Leste?

PS - já agora espreitem também a entrada da Wikipédia em inglês sobre as PPP aqui

sexta-feira, 20 de abril de 2012

De como pisar os calos ao governo...

... fazendo olhos de carneiro mal morto... :-)

A receita do FMI é: aproveita-se a publicação de um documento geral, relativo à economia mundial e zás: na base de dados anexa pespega-se com um pisar dos calos ao governo... Sim, porque foi isso que o FMI fez ao publicar a sua nova estimativa da taxa de inflação para 2012, em que ela, relativamente a 2011, baixa apenas 0,5 pontos percentuais (de 13,5 para 13%).

É uma forma de dizer que, apesar das recomendações feitas anteriormente (nomeadamente no relatório anual sobre o país), não se está a ver adoptar quaisquer medidas relevantes em termos de queda da taxa de inflação.

Pisam-se os calos ao governo mas fazem-se olhos de carneiro mal morto, como se não se estivesse a dizer nada... Mas está! Claro que está.

quinta-feira, 19 de abril de 2012

Timor Leste no World Economic Outlook, Abril2012, do FMI

O Fundo Monetário Internacional acaba de publicar a edição de Abril de 2012 do seu relatório semestral World Economic Outlook. O anterior era de Setembro passado.
Com ele é publicada uma extensa base de dados estatísticos de todos os membros do Fundo, incluindo Timor Leste.
Sempre interessado no que a instituição diz sobre o país fomos espreitar os dados estatísticos e verificámos que há uma novidade relevante: a estimativa para a taxa de inflação em 2012.

De facto, no número de Setembro passado previa-se para a taxa de inflação deste ano o valor de 6%, valor esse partilhado com o Governo de Timor Leste.
Cinco meses depois, em Fevereiro passado, o Fundo publicou o seu relatório anual de análise da economia de Timor. Nele o Fundo reviu em alta as suas previsões para a taxa de inflação em 2012, passando dos 6% para os 8%.

Agora, dois meses volvidos, nova revisão e desta vez bem "forte": a estimativa passou a ser de 13%, praticamente igual à do ano passado (2011).

Isto é, em 6 meses a estimativa passou dos 6% para os 13%, mais do dobro.

Claro que nos espanta uma revisão tão profunda, pouco usual numa economia cujos dados essenciais já eram conhecidos e cujas alterações verificadas parece não justiticarem tão profunda revisão da estimativa.
Não fazemos esta referência de forma "maldosa" mas sim para sublinhar o que nos parece evidente desde há muito: a "juventude" da economia do Timor Leste independente não dá grandes passibilidades de se fazerem estimativas sobre a inflação com um grau de confiança grande no resultado final. Temos, de facto, de estar sempre dispostos a mudar aquilo que nos parecia correcto há uns meses atrás. A realidade mudou (?) e nós temos que segui-la.

Este número levanta duas questões (pelo menos): em primeiro lugar, saber se a estimativa não será um pouco "esdrúxula"; e em segundo, começar a pensar em "o que fazer" perante uma expectativa do país voltar a ter, como no ano passado, uma taxa de inflação tão elevada.

Quanto ao primeiro ponto, tal como achávamos a estimativa de 8% feita em Fevereiro "baixa" agora tendemos a coçar o alto da cachimónia face à previsão de 13%. Sem "juras" e contando que não haja grandes "catástrofes" do lado da economia internacional (nomeadamente o preço do petróleo e do arroz e a evolução do câmbio do dólar americano face à dos nossos principais parceiros económicos) nem grandes "loucuras" do lado dos gastos públicos para se tentar ganhar eleições (qualquer governo terá tendência a fazer isso, seja ele de que cor seja...), não nos admirava se a taxa de inflação deste ano ficasse dentro do intervalo (ainda largo...) de 9-11%.
A ver vamos...

Quanto ao segundo ponto, têm a palavra os políticos... Mas alguma coisa já ficou dita: nada de "loucuras" nos gastos públicos para ganhar eleições...

sexta-feira, 13 de abril de 2012

Os candidatos presidenciais e a economia

O La'o Hamutuk publicou no seu site as respostas (escritas) dos dois candidatos à segunda volta das eleições presidenciais a um conjunto de perguntas que lhes foram colocadas. Algumas delas "mexem" directamente com aspectos económicos e são essas respostas que reproduzimos abaixo. Aconselhamos, no entanto, a leitura do documento original em Inglês ou em Tetum.

Nota: Para tornar o texto legível clique no botão direito do 'rato' e abra a página num novo separador. Depois faça zoom para aumentar o tamanho da letra. Pode também 'salvar' as imagens e ler depois. Obrigado.

quinta-feira, 12 de abril de 2012

A economia de Timor Leste vista pelo Banco Asiático de Desenvolvimento

O Banco Asiático de Desenvolvimento acaba de publicar o seu relatório anual Asian Development Outlook 2012, sobre a situação económica da Ásia e de vários dos seus países individualmente considerados.
Um deles é Timor Leste. Veja abaixo a análise do país publicada no ADO2012 (pgs 236-238).
Nota: Para tornar o texto legível clique no botão direito do 'rato' e abra a página num novo separador. Depois faça zoom para aumentar o tamanho da letra. Pode também 'salvar' as imagens e ler depois. Obrigado.

segunda-feira, 9 de abril de 2012

Ainda o empréstimo japonês

Desde há muitos anos que nos meios da cooperação para o desenvolvimento se barafusta contra a ajuda "ligada". Esta caracteriza-se por, em muitos projectos apoiados pelos doadores, estes obrigarem ao uso de recursos marteriais e humanos (fornecimentos vários, empresas, consultores) do país doador que assim acaba por, por vezes, ajudar mais as suas próprias empresas e pessoal especializado do que o país beneficiário, que poderia eventualmente comprar mais com o mesmo dinheiro.
Também nós partilhamos dessa ideia genérica mas em certos casos --- eu sei: não devia dizer o que vou dizer... --- quase preferíamos que houvesse alguma "ligação" da ajuda...
Neste caso não se trata verdasdeiramente de ajuda mas de um empréstimo que acabará por ser pago por Timor-Leste e por isso faria (ainda) menos sentido que se impusessem condições ao uso dos recursos do tipo "toma lá o empréstimo mas olha que o dinheiro é para ser usado na contratação de uma empresa japonesa de construção de estradas..." e não para pagar ao amigo do amigo do amigo do X, Y ou Z...
Pois...

O pior é que com a qualidade de muitas estradas que nos habituámos a ver por esse país fora não sei se não abriria aqui uma excepção... Isto é: acho que aqui se jutificaria que houvesse algum tipo de "ligação" do empréstimo em, pelo menos, duas fases essenciais: a da concepção do projecto da estrada Dili-Baucau e estabelecimento do respectivo "caderno de encargos", por um lado, e a fiscalização da obra, por outro... É que o seguro morreu de velho e ando desconfiado que em vários casos o Estado timorense anda a "pagar gato por lebre"... Isto é, a "comer" "gato" vadio e pagar como se fosse "coelho" tenrinho e saboroso...;-) (ai que saudades!...).

Mais uma vez: para ser "politicamente correcto" não deveria dizer o que disse. Mas "prontes"!... Tá dito!...

quinta-feira, 5 de abril de 2012

O empréstimo segundo a cooperação japonesa

A JICA, a organização japonesa para a cooperação internacional de apoio ao desenvolvimento, publicou uma notícia sobre o empréstimo que pode ser lida aqui.
No final do texto está a ficha técnica do empréstimo que esclarece que a taxa de juro é de 0,7% acrescidos de 0,01% de uma taxa de administração/consultoria.
Quanto aos restantes aspectos, confirma-se a duração de 30 anos e o "período de graça" de 10 anos.
O empréstimo não é "ligado" o que significa que poderá ser usado para pagar a qualquer empresa que ganhe o concurso que vier a fazer-se para a construção da estrada Dili-Baucau, não sendo obrigatório que essa empresa seja japonesa.

terça-feira, 3 de abril de 2012

O empréstimo do Japão a Timor-Leste: sim...mas!

Foi assinado há dias um acordo de empréstimo do Japão a Timor Leste para financiar parte significativa dos encargos de (re)construção da estrada entre Dili e Baucau. Ou entre Baucau e Dili...
Já várias vezes me referi aqui às vantagens de o país recorrer --- "com bom gosto e bom senso" = "conta, peso e medida"... --- a empréstimos com taxas de juro bonificadas disponíveis junto de vários financiadores, nomeadamente instituições internacionais de apoio ao desenvolvimento e alguns países. A eles deve vir agregada assistência técnica de qualidade que garanta isso mesmo: qualidade no produto final, i.e. e neste caso, qualidade da estrada a construir de modo a que ela dure anos e não esteja esburacada ao fim de 2-3 épocas de chuva como é hábito...

Parece ser este o caso do empréstimo obtido do Japão. E digo "parece" pois as informações que se têm sobre ele são, por vezes, contraditórias. Ora a taxa de juro é de 1%, ora é de 0,7%, ora é novamente de 1%... Ora é em dólares, ora é em ienes... Em que ficamos?

Se o empréstimo for em dólares (USD), Timor Leste não tem de se preocupar muito com a evolução da taxa de câmbio entre este e o iene (JPY) mas se for em ienes já não é assim. A última versão de tivemos conhecimento sobre esta "estória" é de que o empréstimo é em ienes, cerca de 5,5 mil milhões (ou bilhões, para os mais anglófonos...). Mas se for assim há que ter cuidado com a evolução da taxa de câmbio entre o USD e o JPY pois se este último se valorizar significativamente em relação àquele o que é, aparentemente, um bom negócio (uma taxa de juro de 1%, empréstimo a 30 anos com 10 anos de "período de graça" em que só se pagam juros e não se amortiza capital) pode "virar" um péssimo negócio, fazendo com que os encargos ultrapassem em muito os que resultam de uma taxa de juro de 1% --- podendo mesmo ultrapassar os 5 ou 6%... Ou mais!

O gráfico abaixo representa, em escala invertida para dar uma melhor ideia da apreciação do iene face ao USD, a evolução da taxa de câmbio entre as duas moedas desde 1980 até ao presente. Repare-se, por exemplo, na rápida subida entre meados de 1985 e os fins de 1986 (segunda "coluna" marcada a cinzento). Durante esse curto período o câmbio do iene passou de cerca de 250 ienes por USD para cerca de 150. Actualmente é de 81,7 ienes por dólar, mais ou menos.


Aquela forte apreciação do JPY foi acordada entre os países mais ricos no famoso "acordo do Plaza" de fins de 1985. O "Plaza" é o hotel de Nova York onde decorreram as reuniões e é bem conhecido dos amantes dos filmes "Sózinho em casa" (Home alone) pois um deles passa-se nesse hotel... :-)

Para se ter uma ideia do impacto desta apreciação do iene, os 5,5 mil milhões de JPY do empréstimo a Timor Leste correspondiam, à taxa de 250 JPY/USD, a 22 milhões de USD mas um ano e meio depois, à taxa de 150 JPY/USD, correspondiam a... quase 37 milhões de USD! Ruinoso!
Não se espera para os tempos mais próximos uma tão forte valoriazação do JPY mas, como se pode verificar pelo gráfico, a tendência histórica foi de uma valorização (quase) constante do JPY: como mais facilmente se constata no gráfico abaixo entre meados de 2007 e o presente a taxa "subiu" de cerca de 120 JPY/USD para os actuais cerca de 80. Uma apreciação significativa.


Não se antevê que a apreciação do iene continue ao mesmo ritmo mas convem estar "de olho" na situação. Isto é: como vai ser gerido o risco cambial que envolve este empréstimo a confirmar-se que ele foi feito em ienes e não em USD? Quem o vai fazer? Que precauções foram ou vão ser tomadas para que as coisas "não corram para o torto"? "Bué" de perguntas, não são?

E já agora: as taxas de juro no Japão têm estado muito baixas, sendo mesmo, provavelmente, as mais baixas do mundo desde há alguns anos. No quadro abaixo pode ver-se a actual estrutura das taxas de juro no país segundo os prazos dos empréstimos. Reapare-se, a título indicativo, na última linha do quadro abaixo, a dos "bonds" japoneses a 30 anos. A taxa de juro é de 2%.


Isto é: a taxa de 1% do empréstimo é metade da dos "bonds" japoneses com o mesmo período. O que não é nada mau, antes pelo contrário, mas também não me parece ser motivo para dar pulos e saltos e "embandeirar em arco"!...

Enfim, parece essencial saberem-se, de certezinha absoluta, todos os pormenores do empréstimo. Que, apesar do que fica acima, aplaudo "a mãos ambas" mas me deixa com água na boca para saber mais. Saber tudo... :-)


PS - E já agora: senhores tradutores, parem de traduzir "highway" por "autoestrada"! Parece que o país vai ficar cheio de autoestradas quando vai ficar (?) apenas (e já não é nada mau) com boas estradas. "Autoestrada" é uma "motorway", com (normalmente 4) faixas de rodagem separadas (2 a 2) por separador central e sem cruzamentos; "highway" é uma boa estrada "nacional", com 2 (ou mais) faixas de rodagem, largas, sem separador central e com cruzamentos

segunda-feira, 2 de abril de 2012

Eis alguns quadros "repescados" do documento da CAC referido na "entrada" anterior. Ficam aqui mesmo sem comentários.





Corrupção e desenvolvimento em Timor Leste

Não! Não vamos discorrer aqui sobre o tema mas apenas apresentar o "Sumário Executivo" e as "Conclusões" do inquérito sobre a percepção da corrupção pela população timorense realizado em 2011 pela CAC-Comissão Anti-Corrupção.
Trata-se de um documento extremamente interessante, nomeadamente com várias informações estatísticas sobre os resultados do inquérito e que colocaremos aqui na próxima "entrada" deste blogue.