E o que se passou foi uma situação que não é muito vulgar mas que acontece. Vejamos o que aconteceu.
O quadro e o gráfico abaixo dizem-nos que no último trimestre de 2012 houve uma subida significativa dos preços, muito maior do que nos trimestres anteriores. De facto, enquanto que no segundo e terceiro trimestres os preços subiram 1,3% e 1,7%, respectivamente, no último trimestre a subida foi de 7%. O "salto" a meio do gráfico ilustra isso mesmo.
Ora, o que se passou é que depois desse "salto" do final de 2012 os preços voltaram a crescer a um ritmo mais lento, na verdade ainda mais lento que antes do "salto". Isto terá explicações quer de natureza estatística quer de natureza económica.
A de natureza estatística tem que ver com o facto de no final de 2012 os preços estavam significativamente altos e como a base do cálculo das variações seguintes era alta, elas apareceram como sendo mais baixas.
Além disso, admite-se que a alteração do IPC e do método do seu cálculo, supostamente mais correcto agora que anteriormente a Janeiro de 2013, tenha também "culpas no cartório" ao permitir medir a inflação de forma mais correcta. Ter-se-á eliminado ou, pelo menos reduzido significativamente um certo "desvio" inflacionista da forma anterior de cálculo das variações dos preços.
Mas há também explicações económicas ainda que não disponhamos neste momento de dados estatísticos oficiais que o comprovem: a principal explicação é que terá havido ao longo de 2012 um progressivo abrandamento da actividade económica ilustrado pelo gráfico abaixo retirado do último relatório do FMI, de Dezembro passado.
Note-se que alguns observadores, usando alguns indicadores parciais sobre a evolução da actividade económica em Timor Leste, admitem que esta tenha caído ainda mais, para uma zona em que o crescimento se situará nos cerca de 4-5% em 2013. São valores a confirmar ou infirmar mais tarde mas seja como for parece evidente que a queda da actividade económica --- a que não será estranha uma queda nos gastos públicos derivada, nomeadamente, de uma fraca execução do Orçamento do Fundo de Infraestruturas (pouco mais de 50% do orçamentado) --- terá sido uma das causas da (fortíssima) queda da inflação para níveis (4%/ano) que se podem considerar "normais" para um país em desenvolvimento como Timor Leste.
Esta evolução, há muito "exigida" por muitos --- baixa dos gastos públicos para provocar uma baixa da taxa de inflação ---, pode lançar uma outra perspectiva sobre a própria taxa de execução orçamental (75,7% no conjunto do OGE13 e 50,5% no orçamento de infraestruturas). De facto, é possível a interpretação de que a taxa de execução do Fundo de Infraestruturas não se ficou a dever apenas falta de capacidade de execução de projectos pelo Estado/Governo. Ela pode ter sido, na verdade, um resultado desejado e prosseguido como forma de lutar contra a inflação.
Seja como for, parece que, a continuarmos assim, o Governo está de parabéns: a "hidra" parece ter sido dominada. Resta saber se eventuais tentativas de fazer acelerar o crescimento não irão fazer descarrilar novamente o comboio...