domingo, 10 de março de 2013

Posso perguntar uma coisa?

Não é fácil governar mas sempre pensei que se explicassemos as coisas bem explicadinhas, era mais fácil convencer as pessoas da bondade de algumas soluções relativamente a outras. A ideia do "quero, posso e mando" nunca dá grande resultado... Veja-se o que se passa em Portugal, com um governo que, permita-se-me a opinião como cidadão português, apesar de ter apresentado um programa eleitoral implementa quase o seu contrário achando que está legitimado para o fazer... Tenho as minhas dúvidas mas...

Vem isto a propósito da necessidade de, nomeadamente perante problemas mais "bicudos" e/ou com consequências a longo prazo, adoptar uma política da maior transparência sobre as soluções adoptadas.
Isto pode aplicar-se ao comunicado do Conselho de Ministros da RDTL de 11 de Abril do ano passado em que se diz "Tendo em conta a necessidade de um novo porto para Timor-Leste, Tibar surgiu como a melhor opção para a construção destas infra-estruturas necessárias, de modo a diminuir o congestionamento e a reduzir os custos de transporte das cargas."

Pois... Mas surgiu como melhor opção a quem? Em comparação com que lugares alternativos? Quais os critérios de escolha? E em que é que Tibar se mostrou (aparentemente inequivocamente...) melhor que os outros locais? Há uma espécie de "livro branco" sobre a escolha do local? Onde estão os estudos efectuados que desembocaram na solução 'Tibar' como sendo "a melhor opção"? Se houve "opção" houve escolha: entre o quê e o quê, i.e., entre que lugar "x" e lugar "y" --- além do "z"=Tibar?

O importante, sob o ponto de vista de metodologia da política económica, é fazer o diagnóstico da situação, apresentar (por exemplo) três cenários (neste caso locais) alternativos e ver os seus prós e contras, deixando a quem de direito a tarefa da escolha FUNDAMENTADA.

Desconheço a existência desses estudos e a única coisa que tenho à mão são imagens do local e de um ou outro local alternativo.
Deixo-as abaixo. são fotografias tiradas por mim de bordo do avião do voo Bali-Dili em 3 de Setembro passado (tá... Eu sei! É proibido tirar fotos de dentro dos aviões mas como todos fazem... Rssss). Outra é uma imagem do Google Earth das zonas tofografadas.


Zona de Tibar. Notem-se as zonas mais claras, devido à presença de coral e de fundos baixos. O azul mais escuro representa fundos maiores. Note-se também que a zona fica "emparedada" contra a montanha, o que cria dificuldades em dispor de espaços para armazenagem e eventual instalação, na proximidade, quer de serviços de apoio ao porto quer de empresas industriais para quem a proximidado ao porto pode ser fundamental em termos de diminuição de custos.
Tudo isto sem falar da riqueza paisagística do local, dos mais bonitos de Timor Leste, que ficará seriamente comprometida. Esta preocupação ambientalo-paisagística deveria ser fundamental na análise do assunto. Terá sido? Não parece...



Zonas entre Tibar e Liquiçá. Das imagens resulta evidente que se trata de zonas com fundos maiores, facilitando as manobras de acesso e largada do porto. Além disso, trata-se de zonas "abertas", sem limites físicos significativos como os existentes em Tibar.


Imagem do Google. As duas zonas das fotos acima fazem parte deste vasto espaço entre Tibar e Liquiçá. Creio que este espaço tem nítidas vantagens sobre Tibar.

Zona a estudar como alternativa a estas (Tibar e Liquiçá) seria a de Hera-Metinaro mas aí a facilidade de acesso à costa devido à presença de corais e vastas zonas de mangal é menor, parecendo ser factor contra a instalação do porto na região.

Enfim...
 
EM TEMPO: que fique claro que a minha preocupação fundamental é de que qualquer decisão que seja tomada o seja devidamente fundamentada, seguindo os passos das "boas práticas" sobre o "como fazer". "O que vale a pena ser feito vale a pena ser bem feito"! Certo? Mas é evidente que me "fica atravessado na garganta" ver desaparecer um bocado do paraíso como é Tibar...

2 comentários:

A.R.Costa disse...

Gostei muito de ler este texto que revela a atenção do economista e a sensibilidade do marinheiro que, conjuntamente, bem necessários são neste tipo de processo de tomada de decisão. Desejo a continuação do seu bom trabalho nessa bela ilha.

Anónimo disse...

A resposta esta no registo de terras e propriedades.