Tivemos acesso recentemente a alguns estudos sobre a inflação em Timor Leste e suas causas. Todos reconhecem que a taxa de inflação média anual (e a homóloga) é muito elevada e que é necessário que baixe. E depressinha...
Só que uns tendem a ver a principal causa da elevada inflação na evolução de alguns factores externos e outros, em que me incluo, a chamar a atenção para a crescente importância dos factores internos na subida da inflação.
Um exemplo dos primeiros é o texto abaixo, com o origem no ADB-Asian Development Bank (na verdade assinado pelo seu representante no país) e publicado na edição de Dezembro passado do Pacific Economic Monitor.
Não negamos que numa economia extremamente aberta e dependente das importações como é a de Timor Leste o que se passa nas suas relações económicas internacionais é determinante para a economia nacional. O problema é a importância relativa que elas têm num determinado momento comparativamente com as determinantes mais nacionais, internas à economia (e à política económica) do país.
É aqui que surge a nossa discordância. Se estamos prontos a reconhecer que há uns 2-3 anos atrás a componente "importada" da inflação era mais importante que a componente "interna", hoje estamos convencidos que a importância relativa de ambas se alterou, sendo as causas nacionais (um pouco?) mais importantes que as externas/importadas.
Qual a relevância de saber de quem é a "culpa"? Enorme! O primeiro passo para o sucesso de qualquer política económica é um diagnóstico correcto da situação e determinar se as "culpas" estão "aqui" ou "acoli" é meio caminho andado para a cura... Tal como em qualquer doença: um erro no diagnóstico feito pelo médico e lá vai o doente para os anjinhos... (Credo! Abrenúncio! Vira essa boca para lá!...)
Um argumento do tipo "o aumento do preço do peixe deve-se ao aumento do preço da gasolina" quando nós vemos os pescadores a remarem a toda a força, à mão, os seus "beiros" a 40 ou 50 metros da costa não nos parece um bom argumento. Mesmo que haja uma simultaneidade do aumento de ambos registada na estatística isso não significa que haja uma relação de causalidade. Trata-se apenas de uma coincidência.
Em 2011 os preços deram um "salto significativo" nos primeiros meses do ano, cremos que principalmente devido aos efeitos de uma época das chuvas particularmente rigorosa e não devido ao aumento do preço do petróleo --- mesmo que este não tenha sido irrelevante.
Argumentar que as causas são essencialmente externas (aumento do preço do petróleo; desvalorização do dólar americano, nomeadamente face à rupia indonésia; etc) parece-nos uma interpretação "enviesada" da realidade que (e esse é um dos principais problemas) pode levar os decisores de política económica (particularmente da política orçamental) a um quase "encolher de ombros", como se se tratasse de uma qualquer maldição de Maromak contra a qual nada há a fazer.
Mesmo que tal fosse verdade (i.e., que as causas fossem fundamentalmente externas) a obrigação dos decisores de política económica era/é "não deitar mais achas para a fogueira" ou derramar mais gasolina sobre gasolina a arder...
Ora acreditamos que uma política orçamental demasiado "generosa", com aumento significativo dos gastos públicos (nomeadamente em investimentos cujo produto "não se come"), é NESTE MOMENTO e provavelmente a causa principal da aceleração da inflação a que assistimos nos últimos tempos pois contribuem para um crescente desequilíbrio da procura face à oferta que se "resolve" com aumento das importações e aumento dos preços no nosso país (i.e., com inflação).
A conclusão (e nela estamos com as sugestões do FMI, por exemplo) é a de que é aconselhável uma maior moderação nos gastos públicos. Defender isto NÃO é ser contra o desemvolvimento do país, antes sendo a favor de um desenvolvimento mais equilibrado e socialmente mais justo (todos sabem que a inflação é o pior inimigo das camadas mais pobres), "olhando o futuro" com um horizonte temporal mais largo e não apenas com "óculos de ver ao perto".
Neste contexto, esperamos que o período pré-eleitoral não seja utilizado para "deitar mais lenha na fogueira" com obras e mais obras que, sendo muitas delas necessárias, podem ter um timing mais apropriado no contexto de uma boa gestão macroeconómica. A autêntica "fúria" que detectámos recentemente quer nas ruas de Dili quer noutras estradas em arrancar longos bocados do piso de ruas/estradas que pareciam aguentar mais uns anos não são bom sinal... Será que para tapar decentemente buracos nas mesmas é necessário arrancar tudo?... Huuuummmmm!...
PS - acho que é aproriado relembrarmos ao leitor o que está escrito na coluna mais à esquerda deste blogue sobre o facto de o que aqui fica me responsabiliza só a mim e não, de maneira nenhuma, o meu empregador neste momento, o Banco Central de Timor-Leste. Este tem apenas um porta-voz: o seu Governador. Neste sentido, não dou "recados" de ninguém, que, naturalmente, não precisa de mim para os dar a quem de direito.
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