A Direcção Nacional de Estatística, serviço integrado no Ministério das Finanças de Timor Leste, divulgou os dados sobre o Índice de Preços no Consumidor (IPC) e a taxa de inflação relativos a Novembro/2011.
O IPC para Dili (base Dez2001=100) para o conjunto de todos os produtos do "cabaz de compras" é 184,3 (isto é: de Dez01 da Nov11, um período de quase 10 anos, os preços subiram 84,3%). O mesmo índice para o conjunto dos produtos alimentares é de 195,3, com a rubrica "cereais, raízes e seus produtos", que inclui maioritariamente o arroz, tendo por índice 225,4.
Destes valores e em comparação com períodos anteriores, resulta que a taxa de inflação mensal em Novembro foi de 1,8% (global), com 1,9% na alimentação. Em Outubro estas taxas tinham sido, respectivamente, 0,9% e 1,6%.
Entre Novembro de 2010 e Novembro passado (taxa homóloga) os preços subiram, em geral, 15,5% e os da alimentação aumentaram 17,3%. Significativo foi o aumento, nesse período, de 45,2% no preço das frutas, que representam, no entanto, apenas 2,1% do conjunto do "cabaz de compras" que serve de base ao cálculo do IPC.
Comparando a média dos IPC dos primeiros 11 meses deste ano com a dos primeiros 11 meses de 2010 (taxa média de inflação) verifica-se que a taxa de inflação foi de 13,1%.
Com base nos valores acima estimamos que a taxa anual (12 meses) de 2011 se venha a fixar no intervalo 13-13,2%, mais do dobro do previsto inicialmente pelo Governo e pelo FMI (6%).
Nunca é demais lembrar que uma taxa de inflação elevada é o principal "imposto sobre os pobres", já que estes não têm, normalmente, como fugir a estes aumentos e concentram uma parte muito significativa das suas despesas em produtos alimentares, que no caso de Timor Leste registaram, como referido acima, um aumento de 17,3% nos últimos 12 meses.
Cremos que só uma maior moderação nos gastos do Estado poderá contribuir para um abrandamento da taxa de inflação já que o Banco Central quase não dispõe de instrumentos de controlo desta.
Quanto à inflação "importada", recorde-se que a taxa de inflação na Indonésia, principal fornecedor das importações de Timor Leste, terá sido em Novembro (taxa homóloga) de 4,2%, bem abaixo dos 15,5% registados em Timor Leste. Note-se que este diferencial de taxas de inflação contribui para a perda de competitividade do país face àquele seu vizinho, dificultando (ainda mais) uma eventual diversificação da economia nacional e o aumento das suas exportações.
Blog sobre Economia e Política Económica do Desenvolvimento, em particular sobre a economia de Timor Leste e aquilo que naquelas pode ser útil ao desenvolvimento económico deste país
terça-feira, 27 de dezembro de 2011
domingo, 11 de dezembro de 2011
Preços na Indonésia
Pelo Asia Pacific Weekly Price Monitor com dados, para a Indonésia, de 28 de Novembro passado soubemos que o preço médio do arroz de qualidade média naquele país tinha sido de cerca de 7714 rupias por kg.
Utlizando a taxa de câmbio daquela data (9033,42 IDR/USD) conclui-se que este valor corresponde a cerca de 0,854 USD. Se multiplicarmos por 35 kgs (peso das sacas de arroz mais consumidas em Timor Leste) obtemos um valor de quase 30 USD/saca, bem mais do que o usualmente pago em Timor Leste.
Os dados acima dão-nos também a variação de preço do arroz durante os últimos 12 meses: +12,2%
Preço internacional do arroz
A organização das Nações Unidas para a alimentação e a agricultura, FAO, publicou recentemente mais um boletim mensal sobre a evolução do preço do arroz em vários mercados internacionais de exportação. Os gráfico e quadro abaixo sintetizam a informação sobre a evolução dos preços nos últimos meses.
Como se pode verificar e é usual, no primeiro semestre do ano, os preços baixarem por o mercado estar bem abastecido com a primeira colheita do ano (civil). Depois, no Verão, os preços aumentam em resultado da rarefacção da oferta enquanto a nova colheita não é feita nos principais países exportadores, nomeadamente os do Sudeste Asiático. O "pico" dos preços foi atingido em Agosto-Setembro e depois estabilizam ou descem quando a segunda colheita do ano começa a aparecer no mercado.
Do quadro resulta, porém, que o índice do preço médio do arroz aumentou cerca de 11% entre o período de Jan-Nov de 2010 e o homólogo de 2011, o que constitui uma pressão sobre a taxa de inflação dos preços nos países consumidores.
Do mesmo boletim, o de Dezembro, não consta informação sobre o preço médio do arroz mais consumido em Timor Leste, o do Vietname 15% (15% de grãos partidos), mas há informação sobre o arroz da mesma proveniência com 5% e 25% de grãos partidos.
O primeiro, de melhor qualidade, custava, por kg, 0,481 USD em Novembro de 2010 e 0,56 em Novembro passado (preços FOB no Vietname). O de 25%, por sua vez, custava 0,452 em Nov2010 e custa agora 0,515 USD/kg (mais 14%).
sábado, 10 de dezembro de 2011
E que tal ir-se pensando em "correcção monetária"?!...
Não há brasileiro que não conheça a espressão "correção monetária". Ela corresponde, no essencial, a "um ajuste feito periodicamente de certos valores na economia tendo por base o valor da inflação de um período, objetivando compensar a perda de valor da moeda." (fonte aqui). Os brasileiros são "especialistas" no assunto porque, durante os anos de hiper-inflação no Brasil (que chegou aos 5000 ao ano!...), a correcção do valor aquisitivo da moeda era essencial.
Alguns desses "valores na economia" são os dos activos das empresas e das famílias e, muito importante, os salários. Esta correcção, que pode ser completa ou não, está institucionalizada em muitas ordens jurídico-económicas e corresponde, por exemplo, a uma actualização das tabelas salariais de um ano para o outro tendo em consideração a taxa de inflação esperada para o ano que se segue ou a experiência passada da inflação.
Isto é especialmente importante para proteger os que recebem rendimentos fixos dos efeitos da inflação, particularmente quando ela é mais alta. Como deverá ser o caso este ano em Timor Leste.
Ora, aparentemente o OGE2012 não prevê uma revisão das tabelas salariais da função pública para tentar proteger o poder de compra dos funcionários do Estado de uma inflação que não deverá andar, em 2011, longe dos 12-13%.
Como o comportamento do Estado neste domínio tende a exercer alguma influência, "por imitação", sobre o mercado (privado) de trabalho, não se antevê que esta correcção venha a verificar-se como um fenómeno generalizado.
Há várias explicações para isto, desde a inexistência de um movimento sindical forte, à "ilusão monetária" que afecta o comportamento de muitos agentes económicos (incluindo o Estado), à falta de sensibilidade para o tema por parte dos decisores económicos e às condições do mercado de trabalho --- com um (enorme) excesso de procura de trabalho face à oferta de postos de trabalho ---, etc.
E no entanto... começar a pensar neste tema e, principalmente, começar a pensar na institucionalização de uma correcção monetária anual em função da taxa de inflação (passada e/ou futura) seria importante para todos pois permitiria, nomeadamente, proteger os rendimentos dos que vivem dos seus salários (e pensões) e, em parte, contribuir para a luta contra a pobreza mas também gerir mais correctamente os recursos do Estado pois evitava que este tivesse, de x em x anos, que aumentar "desmesuradamente" a sua fatura salarial para tentar corrigir, "de uma assentada", o que deveria ter sido corrigido gradualmente. Um exemplo foi o que se passou com o último e mais significativo aumento de salários na Função Pública pois, face ao congelamento dos salários desta entre 2000 e 2008, o Estado viu-se obrigado, de um ano para o outro, a introduzir uma "correcção monetária" dos salários de cerca de 50% e que, mesmo assim, não deve ter chegado para recuperar todo o poder de compra perdido desde que a ONU os fixara.
Este tema da "correcção monetária" e o seu aparentado da "ilusão monetária" é, no fundo, o reflexo da falta de uma pedagogia económica e social que está ainda por fazer no país e que deveria merecer mais atenção das entidades que mais responsabilidades têm nesta área, desde o Governo (áreas económica e da educação, pelo menos) a entidades privadas, como algumas (existentes ou a criar) ONGs - Organizações Não-Governamentais.
Alguns desses "valores na economia" são os dos activos das empresas e das famílias e, muito importante, os salários. Esta correcção, que pode ser completa ou não, está institucionalizada em muitas ordens jurídico-económicas e corresponde, por exemplo, a uma actualização das tabelas salariais de um ano para o outro tendo em consideração a taxa de inflação esperada para o ano que se segue ou a experiência passada da inflação.
Isto é especialmente importante para proteger os que recebem rendimentos fixos dos efeitos da inflação, particularmente quando ela é mais alta. Como deverá ser o caso este ano em Timor Leste.
Ora, aparentemente o OGE2012 não prevê uma revisão das tabelas salariais da função pública para tentar proteger o poder de compra dos funcionários do Estado de uma inflação que não deverá andar, em 2011, longe dos 12-13%.
Como o comportamento do Estado neste domínio tende a exercer alguma influência, "por imitação", sobre o mercado (privado) de trabalho, não se antevê que esta correcção venha a verificar-se como um fenómeno generalizado.
Há várias explicações para isto, desde a inexistência de um movimento sindical forte, à "ilusão monetária" que afecta o comportamento de muitos agentes económicos (incluindo o Estado), à falta de sensibilidade para o tema por parte dos decisores económicos e às condições do mercado de trabalho --- com um (enorme) excesso de procura de trabalho face à oferta de postos de trabalho ---, etc.
E no entanto... começar a pensar neste tema e, principalmente, começar a pensar na institucionalização de uma correcção monetária anual em função da taxa de inflação (passada e/ou futura) seria importante para todos pois permitiria, nomeadamente, proteger os rendimentos dos que vivem dos seus salários (e pensões) e, em parte, contribuir para a luta contra a pobreza mas também gerir mais correctamente os recursos do Estado pois evitava que este tivesse, de x em x anos, que aumentar "desmesuradamente" a sua fatura salarial para tentar corrigir, "de uma assentada", o que deveria ter sido corrigido gradualmente. Um exemplo foi o que se passou com o último e mais significativo aumento de salários na Função Pública pois, face ao congelamento dos salários desta entre 2000 e 2008, o Estado viu-se obrigado, de um ano para o outro, a introduzir uma "correcção monetária" dos salários de cerca de 50% e que, mesmo assim, não deve ter chegado para recuperar todo o poder de compra perdido desde que a ONU os fixara.
Este tema da "correcção monetária" e o seu aparentado da "ilusão monetária" é, no fundo, o reflexo da falta de uma pedagogia económica e social que está ainda por fazer no país e que deveria merecer mais atenção das entidades que mais responsabilidades têm nesta área, desde o Governo (áreas económica e da educação, pelo menos) a entidades privadas, como algumas (existentes ou a criar) ONGs - Organizações Não-Governamentais.
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correcção monetária,
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