Em declarações recentes veiculadas pela imprensa Agio Pereira terá dito que
“Timor-Leste é um exemplo perfeito [de Estado frágil e dos efeitos da ajuda internacional]. Apesar de terem sido gastos milhares de milhões de dólares no desenvolvimento do país desde a independência, provenientes de parceiros de desenvolvimento e da própria riqueza petrolífera recém-adquirida, a pobreza aumentou para o dobro entre 2001 e 2007"
Isto, a ser tomado pelo seu valor facial --- que não pode ser pois a pobreza NÃO aumentou para o dobro mas sim de cerca de 40% para cerca de 50% segundo as estatísticas ---, denota uma enoooooormeeeee ineficiência da ajuda internacional e, mesmo, das políticas internas de combate à pobreza.
Porém, há que não pôr de parte uma segunda ou, mesmo, uma terceira hipótese: a de que as contas foram mal feitas... Ou que houve uma combinação das duas coisas...
Eu, pessoalmente, acho tão esquisita esta evolução que tendo a acreditar mais que as contas foram mal feitas --- ou pouco "bem feitas"... --- em algum momento do tempo. Provavelmente os dados do primeiro inquérito (de 2001) estão subavaliados e na ocasião a pobreza era muito maior do que o que os números mostram.
Um documento do Banco Mundial sobre a pobreza em Timor Leste em 1999 (sob administração indonésia) diz textualmente que
"1. Este anexo contém uma perspectiva geral da pobreza em Timor Leste, com base
em dados indonésios recolhidos até 1999.
2. Durante 1999, 56% da população timorense estava classificada como pobre,
implicando que cerca de 500.000 pessoas viviam em pobreza." (vd aqui)
Como é possível que dos 56% de 1999 se tenha passado aos 40% de 2001 depois do que se passou? Isto é: há aqui qualquer coisa que não bate certo...
Em contrapartida, estarão os dados de 2007 sobreavaliados? Se compararmos as metodologias seguidas num caso e noutro a resposta é clara: o inquérito de 2007 (e os seus resultados) são muito mais credíveis dos que os do início da década.
Mas há uma outra situação que pode ter inflenciado os resultados dos inquéritos: ambos foram efectuados depois de situações traumáticas muito fortes: o primeiro após a violência de 1999 e o segundo depois da de 2006 e quando algumas zonas do país estavam ainda pejadas de campos de refugiados.
Isto é: situações conjunturais podem ter influenciado significativamente as respostas dos inquiridos.
Mas o que é mais relevante é que a pobreza é muita --- fará realmente diferença que seja 50% ou 40%?!... --- e se concentra principalmente nas zonas rurais do país. Ora, os dados dos inquéritos querem, pelo menos, dizer uma coisa: que a política de desenvolvimento rural não está a resultar... O que nos leva à pergunta seguinte: será que está a haver MESMO uma política de desenvolvimento rural?
Tenho para mim que "Roma e Pavia não se fizeram num dia" e por isso admito que uma estratégia de desenvolvimento rural possa/deva ser "casada" com uma de desenvolvimento regional através, or exemplo e para já, da definição de uma zona piloto em que se proceda a um desenvolvimento integrado e se aprenda a lidar com o assunto de forma a posteriormente estender a experiência ao resto do país.
O que exige, provavelmente, a definição de um órgão gozando de alguma autonomia e que tenha poderes "substraídos" a vários ministérios (pois... Esse vai ser um dos problemas: convencer os Ministros...) de modo a poder desenvolver uma política efectivamente integrada de desenvolvimento (rural e regional). Um exemplo --- outros podem ser imaginados --- seria uma associação dos distritos de Manatuto, Baucau e Viqueque.
Querem experimentar?
2 comentários:
Absolutamente concordo com a proposta de um dezenvolvimento mais integrado e mais reuqsitos para funcionar o projecto. ... o problema e que os politicos falam mais duma estrategia de longo termo quando em practica dao pouco interesse ao estabelecer um aliserce forte para construir os maravilosos sonhos que estao a ser a agenda do desenvolvimento
"A pobreza aumentou sim, de acordo com o levantamento/estudo do PNUD que não criou nada desde que este Governo assumiu as rédeas. Havia pouca circulação de USD - dólar americano nas zonas rurais, havia muito baixo poder de compra, havia aumentou de quem tem dinheiro mas o 'gini' índex que havia distribuição de bens/recursos apontava para pouca equidade, justa distribuição de riquezas/bens, etc...
Por isso havendo um estudo agora desde Agosto 2007 ate 2010, seguramente que tudo esta melhor. Basta ver Timor Telecom como indicador; hoje anuncia que 'ja somos 300 mil' utentes e precisamente porque este governo tornou possível dólares americanos nas zonas isoladas, rurais, via pensões para os Veteranos, idosos e aleijados, e órfãos e viúvas, é que TT consegue aumentar os seus utentes."
Depende bastante do "galho" em que cada um se empoleira...
O que anda o PNUD a fazer? Ou melhor, o que é que não faz?
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