segunda-feira, 5 de abril de 2010

Ainda a propósito das declarações de Jeff Sachs

Já referi abaixo o essencial das considerações (parte delas muito críticas) em relação às recentes declarações do Jeffrey Sachs sobre a economia de Timor Leste. Um indivíduo com o nome dele não pode cair na fraqueza de, por um punhado de dólares, ir a um país de que quase nunca ouviu falar para fazer uma visita de turista --- meia dúzia de dias ... E será que saíu do hotel e dos gabinetes?!... ---, falar com "A" e "B", apanhar umas ideias no ar e "zás, trás, catrapás, pás, pás!..." "aqui têm a receita para o vosso desenvolvimento". E se o levarem a sério e as coisas correrem para o torto? É que não era a primeira vez... (vidé algumas críticas ao seu trabalho aqui e aqui).

Será que tomou consciência, por exemplo, das dificuldades de execução orçamental? E será que existe capacidade para gastar anualmente muito mais do que está a ser gasto sem desperdício significativo de recursos? E quais as consequências de uma eventual "explosão" de gastos públicos sobre o resto da economia, nomeadamente em termos de inflação e de (ainda maior) desequilíbrio na balança comercial?
Alguma moderação nas palavras teria sido (muito) bem vinda...
E a propósito: sabendo-se que o Primeiro-Ministro está a elaborar as linhas de força do plano de desenvolvimento para os próximos 20 anos, será que quem convidou Sachs (não sei quem foi) não teve como objectivo (encapotado?!...) enviar "recados" ao PM e ao governo?

Na passagem fulgurante de Jeff Sachs pelo país é curioso que nada tenho sido dito sobre um sector que considero fundamental e que, no curto-médio prazo, pode dinamizar mais a produção nacional --- e não a da Indonésia... --- do que alguns dos investimentos de que Sachs falou: o da habitação e do saneamento básico no contexto de um verdadeiro reordenamento do território --- particularmente em cidades como Dili e Baucau mas também em algumas outras capitais de distrito (Maliana, Aileu, Lospalos e Suai só para citar algumas).

É sabido que o sector da habitação --- para quando uma política habitacional "casada" com uma política de reordenamento do território e de saneamento básico naquelas duas cidades, pelo menos? --- é dos que têm uma menor componente importada e que geram mais emprego quer na fase de construção quer na de decoração (mobiliário, etc). É também um sector que pode dar trabalho a muitas pequenas e médias empresas de timorenses, assim ajudando o empresariado nacional a "crescer", melhorando tecnica e financeiramente.
Fundamental para evitar que tudo fique entregue a uma série de "patos bravos" que repliquem no país o que se fez em Portugal com as famosas "casas tipo maison com janelas tipo fenêtre" e forradas por fora com azulejos de casa de banho --- cujo equivalente em Dili é o uso do verdinho e do amarelinho nas pinturas exteriores de que nem o gradeamento do palãcio presidencial escapou... --- é que sejam organizados gabinetes de arquitectura que definam alguns tipos-padrão de habitações cujos planos deverão ser disponibilizados gratuitamente. Tais gabinetes terão, muito provavelmente, de ser inicialmente assessorados por técnicos estrangeiros.
Para garantir que a contrução segue mínimos de qualidade o Estado poderá dar alguns incentivos, nomeadamente encarregando-se do financiamento de parte das despesas de ordenamento do espaço a construir (arruamentos, esgotos, etc).

Porque esperam?

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