quarta-feira, 23 de dezembro de 2009

Dili the Singapore way...

A propósito da campanha que decorreu hoje em Dili para a limpeza da cidade lembrei-me das campanhas organizadas pelo governo de Singapura ao longo dos anos e que caracterizam de forma muito especial o "Singapore way of public education"....

O texto abaixo é um retrato de como foi organizada uma das primeiras campanhas na cidade-estado, bem conhecida pelo facto de ser a "fine city" --- recordamos que a palavra inglesa "fine" tem o duplo significado de fina/bonita e de... multa!

Campanha “Mantenha Singapura Limpa”
Por Chia, Joshua Yeong Jia escrita em 2006-05-08
National Library Board Singapura
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A Campanha “Mantenha Singapura Limpa” foi um dos primeiros programas de educação pública do país montados pelo governo. Lançado pelo então primeiro-ministro Lee Kuan Yew, em 1 de Outubro de 1968, a campanha, que se estendeu ao longo de todo um mês, visou tornar Singapura a cidade mais limpa e mais verde na região, fazendo face ao problema do lixo provocado por descuido.
A campanha estendeu-se a todos os estratos da sociedade, dos empregadores às donas de casa e às crianças. Ela procurou incutir nos cidadadãos de Singapura a importância de manter os espaços públicos limpos.
A campanha fez parte de um plano maior de limpeza pública, que incluíu mudanças na legislação de saúde pública, a deslocalização e licenciamento dos vendedores ambulantes e desenvolvimento de sistemas de esgoto e controlo de doenças. O governo acredita que a melhoria das condições ambientais não só melhora a qualidade de vida em Singapura e cultiva o orgulho nacional como também atrai os investidores e turistas estrangeiros .

Comissão da Campanha Nacional
Foi constituída uma comissão da campanha nacional, chefiada pelo então ministro da Saúde, Chua Chin Sian, para organizar a campanha. A comissão foi composta por representantes do governo e vários departamentos oficiais, como o Ministério da Educação, Ministério do Interior e da Defesa, Ministério da Cultura, a polícia, corpo de vigilantes, Departamento de Obras Públicas, Habitação e Desenvolvimento, o Jurong Town Corporation, bem como organizações não-governamentais como a câmaras de comércio, as organizações patronais e sindicais.

Campanha de promoção
Durante o período da campanha, cerca de 350.000 cartazes nas quatro línguas oficiais, bem como panos com informações alusivas à campanha e placas de aviso público, foram exibidos em lugares públicos, como lojas, restaurantes, escritórios, fábricas, centros comunitários, abrigos de autocarros. (...) Foram também organizadas actividades de ensino público e consciencialização pública. (...)

O uso de pressão social foi estendida aos meios de comunicação de massa. Clips de filme e fotografias das instalações sujas e das pessoas envolvidas no acto de atirar lixo para a rua foram divulgadas na imprensa e na televisão. (...)
Para garantir que os bons hábitos são cultivados desde tenra idade, as crianças foram um alvo especial da campanha. Além do projecto do poster e concursos de redacção, os agentes de saúde, inspectores e directores de escolas também deram palestras para estudantes. Os professores foram mobilizados para educarem os estudantes contra o lixo.

Algumas campanhas de Singapura através dos tempos
1968/9: Mantenha Singapura Limpa e Livre de Mosquitos
1970: Mantenha Singapura Limpa e Livre de Poluição
1971: Mantenha Singapura Livre de Poluição
1973: Mantenha a Nossa Água Limpa


In http://infopedia.nl.sg/articles/SIP_1160_2008-12-05.html

Como se pode verificar, tratou-se de uma campanha sistemática, organizada, cobrindo várias dimensões de abordagem do problema e não apenas uma actividade pontual.
Em situações como as do país naquela época, este foi um meio eficaz de resolver um problema importante. Claro que há questões importantes que se colocam relativamente ao relacionamento entre o governo e a população, o uso de métodos "musculados" para enfrentar determinados problemas, da fronteira entre o socialmente admissível e o que, por ter uma forte componente compulsória, se torna quase intolerável senão mesmo algo à margem da própria lei... e por iniciativa de quem deveria ser o principal zelador dela!
Todas essas questões devem ser vistas no quadro da época --- será que tal campanha seria possível HOJE? --- e das próprias tradições culturais --- o que é "possível" face à mentalidade chinesa será admissível noutros quadros de referência cultural? Mais e mais "complicado": será que a questão dos direitos humanos tal como é defendida hoje em dia não tem, ela própria, uma forte componente cultural característica das sociedades ocidentais? Serão eles "direitos naturais"? Dá que pensar, não dá?!...

Mas uma coisa é certa: algo tinha de ser e foi feito --- Singapura é hoje, de facto, a cidade mais limpa e verde que conheço. Mas "tudo o que vale a pena ser feito vale a pena ser bem feito", não é verdade?

PS - para uma visão humorada das campanhas mais "esquisitas" de Singapura veja esta entrada num blog local

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